Havia tempo
que Israel não mostrava tudo o que tinha. Mas esta semana foi diferente. Em
face de um ataque iminente do Jihad Islâmico, Israel eliminou a cabeça do grupo
e o planejador deste e de outros ataques ao Estado judeu e aos seus cidadãos. A
bomba que voou pela janela do apartamento que Baha Abu al-Ata mantinha
secretamente na cidade de Gaza fez muito mais do que apenas matar um dos
principais terroristas do Jihad Islâmico. Revelou uma nova e estranha relação
entre Israel e o Hamas e deu um duro golpe ao Irã.
Do ponto de
vista militar, o exercito de Israel fez um trabalho impressionante durante os
dois dias de conflito. O assassinato preciso de Abu al-Ata, que não causou mais
nenhuma outra morte além da dele e de sua esposa foi um grande feito militar. E
o mais importante, Israel deixou claro que mantém sua capacidade de pegar
qualquer terrorista em qualquer lugar e a qualquer tempo.
E Israel não
se ateve somente a Abu al-Ata. Em dois dias eliminou mais de 20 comandantes do
Jihad Islâmico, alguns se movendo em motocicletas e outros em campos, prontos
para lançar mísseis.
O que
contribuiu para o sucesso desta operação foi o fluxo constante de inteligência
de alta qualidade. Hoje, Israel precisa de apenas frações de segundo para
atingir o alvo identificado evitando casualidades desnecessárias.
Mesmo levando
450 mísseis, lançados contra a sua população civil, Israel conseguiu eliminar
praticamente toda a liderança do grupo terrorista, sem sofrer nenhuma morte militar
ou civil. Em qualquer guerra, parte da vitória está em demonstrar resiliência e
coragem. E isso os israelenses mostraram. A fraqueza não é perdoada no Oriente
Médio.
Mas por que
fazer esta operação agora? No final de outubro, o chefe do estado maior de
Israel, tenente-general Aviv Kochavi, disse que a situação no norte e no sul era
tensa e frágil, e havia uma grande possibilidade que ambos os fronts degringolassem
em confronto. Israel estava enfrentando um conjunto complexo de ameaças entre os
vários aliados iranianos e estava aumentando seu ritmo de preparativos.
Já em 30 de
maio último, o Jihad Islâmico declarou em uma entrevista na mídia da Hezbollah,
que poderia disparar 1.000 foguetes por dia. Israel tentou dissuadir Al-Ata, de
atividades hostis. Não conseguiu. Israel então o viu como uma
"bomba-relógio".
Agora sabemos
que um desses preparativos do exército de Israel envolveu Baha Abu al-Ata, que
estava profundamente envolvido na escalada de ataques do Jihad Islâmico contra
Israel.
E aí temos o
Hamas que de fato governa a Faixa de Gaza e a mudança política de Israel para
com o grupo nesta semana que foi impossível de ignorar. Nos últimos 10 anos, Israel praticamente
responsabilizou o Hamas por tudo o que aconteceu em Gaza.
Qualquer míssil
disparado seja pelo Hamas ou pelo Jihad Islâmico sempre obteve a mesma resposta
- um ataque israelense contra o Hamas. Tiros disparados na fronteira recebiam o
mesmo - um ataque contra uma posição do Hamas. Desta vez, porém, Israel não
apenas não atacou o Hamas, mas executou cuidadosamente todos os seus ataques
contra o Jihad Islâmico de maneira que garantisse que ninguém do Hamas fosse
prejudicado e nenhuma estrutura do Hamas fosse danificada.
O raciocínio foi
duplo: por um lado, Israel avaliou corretamente que, se não matasse alguém do
Hamas ou danificasse sua infraestrutura, o governante da Faixa de Gaza
preferiria ficar de fora desta rodada. Isso porque o líder do Hamas desde 2017,
Yahya Al-Sinwar, entendeu que se não atender às necessidades básicas do povo de
Gaza, provocará uma revolução. Assim, ele está mais focado na reconstrução da
economia da Faixa do que no combate a Israel.
Isso não
significa que Sinwar tenha moderado de alguma forma. Ele ainda acredita que
Israel é um inimigo que precisa ser destruído. Mas, pela primeira vez, seus
interesses se alinharam com os de Israel. O Jihad Islâmico e particularmente a
Al-Ata estavam interrompendo estes esforços de Sinwar para alcançar um
cessar-fogo de longo prazo com Israel, o que traria ao Hamas e ao povo de Gaza
um descanso econômico na forma de permissões de trabalho, zonas industriais,
uma nova usina elétrica e malas mensais de dinheiro do Catar. A capacidade de
Israel de conduzir uma operação contra o Jihad Islâmico e isolá-lo, mantendo o
Hamas fora dos combates foi uma conquista extraordinária.
O Jihad
Islâmico possui milhares de foguetes com alcance de até 80 km e é o agente do Irã
em Gaza. Esta não é uma relação de conveniência, como o Hamas tem com o Irã. É
um relacionamento direto. O Irã poderia a qualquer momento ordenar uma ofensiva
dupla contra Israel, no norte pela Hezbollah e no sul com o Jihad Islâmico. A
eliminação de Abu al-Ata junto com outras duas dezenas de membros, as rodadas
de ataques aéreos, a destruição da infraestrutura de terrorismo, de ativos
navais, túneis, de seu quartel-general e plataformas lança-mísseis enviou uma
mensagem não só à liderança e aos operadores do Jihad Islâmico mas diretamente
ao Irã.
A operação
contra o Jihad Islâmico foi assim uma maneira de reduzir as chances de uma
guerra de duas frentes, se e quando houver outra rodada de tensões com o Irã no
norte.
Israel ainda
está tentando combater a presença iraniana e de seus mísseis em outros países
vizinhos. Além de atacar posições da guarda revolucionária iraniana na Síria e
no Líbano, Israel tem feito incursões contra armazéns de mísseis balísticos do
Irã no Iraque.
É preciso
entender que a luta que Israel trava contra o Jihad Islâmico está diretamente
relacionada às crescentes tensões em todo o Oriente Médio. Não funciona no
vácuo.
O maior
problema é que o Jihad Islâmico, apesar de ser uma das forças menores apoiadas
pelo Irã contra Israel, está muito próximo de centros populacionais de Israel. E
possui apenas 5% do número de foguetes que o Hezbollah possui.
Quando
comparado à presença da Guarda Revolucionaria Iraniana na Síria e às bases da
milícia xiita iraquiana, e até à tecnologia que o Irã transferiu para os
houthis no Iêmen, o Jihad Islâmico é menos importante.
Mas quebrar
sua capacidade de ameaçar Israel no caso de uma guerra em duas frentes é
importante; os 450 mísseis que disparou por 48 horas nos dias 12 e 13 de
novembro são 450 mísseis a menos que não mais poderão ser usados.
O Irã usou o
Jihad Islâmico no passado para incomodar e ameaçar Israel e aquecer conflitos
em momentos da escolha de Teerã. Ao atacar Abu al-Ata, Israel virou a mesa nesta
“bomba-relógio” iraniana.
Mas no
contexto maior o que preocupa é a ameaça iraniana no Iraque, na Síria e no
Líbano que cercam a fronteira norte de Israel. Remover o peão do Jihad Islâmico
do tabuleiro foi um movimento muito inteligente mas também importante neste
jogo que prevê um conflito muito maior.
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