Esta semana foi marcada por dois eventos
que parecem não ter relação mas ao final almejaram o mesmo: a vitória dos
agressores e a submissão das vítimas.
No domingo passado, a agência Reuters
publicou um artigo titulado: “Papa: a Ucrânia deveria ter a ‘coragem de
bandeira branca’ nas negociações”. A Reuters estava relatando as observações que
o Papa Francisco havia feito numa entrevista dada em fevereiro para a emissora
suíça RSI sobre a guerra na Ucrânia. Enquanto a Rússia de Putin se recusa a
retirar as suas forças do país que invadiu sem provocação há dois anos, o
presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, diz que “embora queira a paz, não
desistirá de nenhuma parte do território ucraniano”.
Na entrevista, o papa teria dito: “...acho
que o mais forte é aquele que olha para a situação, pensa no povo, e tem a
coragem da bandeira branca e negocia.” Surpreendente.
Em vez de se concentrar em encontrar maneiras
para forçar a mão ensanguentada de Putin para ele parar a sua agressão, o papa
gostaria de ver a vítima, a Ucrânia, de joelhos, se rendendo.
Em outra parte da entrevista falando da
guerra entre Israel e o Hamas, Francisco disse: ‘Negociar nunca é uma rendição’.
O papa, que tem 87 anos ainda era um jovem quando a Inglaterra, a França e a
Italia “negociaram” com os nazistas e acabaram entregando à Hitler os Sudetos
que faziam parte da antiga Checoslováquia. Na época, o sorridente Chamberlain
saiu das “negociações” se gabando que a guerra havia sido evitada. Não demorou
um ano e a Alemanha atacou a Polonia começando a Segunda Grande Guerra.
Falando sobre a guerra entre Israel e o
Hamas, Francisco disse: ‘Negociar nunca é uma rendição’. Em Israel sabemos bem
demais o que significa “negociar com o Hamas”.
O papa também tem idade suficiente para
saber das consequências do apaziguamento.
Por outro lado, os ataques do partido
democrático americano a Israel chegaram na estratosfera na quinta-feira quando
o líder do Senado, Chuck Schumer, falando no plenário, atacou o
primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, com a guerra ainda em curso.
Numa interferência sem precedente na política de um país independente e
soberano, Schumer apelou por novas eleições em Israel declarando que Netanyahu tinha
“perdido o rumo” e que ele estaria “muito disposto a tolerar o custo civil em
Gaza.” Ele disse que “como apoiador vitalício de Israel, tornou-se claro para ele
que a coligação Netanyahu já não se adapta às necessidades de Israel depois de
7 de Outubro”, e acusou Netanyahu de continuar a lutar em Gaza por sua
sobrevivência política. Biden por seu lado chamou a campanha militar de Israel
de “exagerada” e acusou Netanyahu de usar a ajuda humanitária como “moeda de
troca”. Estas declarações vieram logo após o vazamento de um relatório da
inteligência americana sobre ameaças à segurança nacional, que tratava de
avaliações sobre Israel.
Está patente que o partido democrata está
cada vez mais preocupado com o impacto que a guerra em Gaza está tendo nas
pesquisas de preferência de voto para as próximas eleições presidenciais americanas.
Os democratas precisam desesperadamente que Israel declare que aceitará a
solução de dois estados depois que a guerra acabar. Mas ao que parece, os dois
estados a que se referen são Michigan e Minnesota que abrigam uma comunidade
árabe expressiva.
A posição de Israel em resposta foi categórica.
‘Aqueles que elegem o primeiro-ministro de Israel são os cidadãos de Israel e
mais ninguém”. “Israel não é um protetorado dos EUA, mas um país independente e
democrático cujos cidadãos são quem elegem o governo. Esperamos que os nossos
amigos ajam para derrubar o regime terrorista do Hamas e não o governo eleito de
Israel”.
O relatório vazado afirma que a
“viabilidade do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como líder, bem como a sua
coligação governamental .... podem estar em dúvida”. Um governo diferente e
mais moderado é uma possibilidade.”
Dado que é rarissimo que uma avaliação da
inteligência americana sobre um outro país chegue a público, ficou claro que o
vazamento foi uma tentativa da administração Biden de interferir na situação
política interna de Israel. E isso é um erro.
É um erro porque é simplesmente uma falta de
tato, é uma falta de respeito um país interferir na política interna de outro,
especialmente de um aliado próximo. Mas Biden não foi o primeiro a ter esta
idéia. Durante décadas, os EUA procuraram fazer pender a balança política em
Israel. Em 1992, o então presidente americano, George H.W. Bush reteve
garantias de empréstimos extremamente necessárias a Israel, sabendo que isso
ajudaria Yitzhak Rabin a derrotar Yitzhak Shamir nas eleições daquele ano.
Em 1996, Bill Clinton fez de tudo, menos
distribuir panfletos para eleger Shimon Peres no lugar de Netanyahu. Em 2022, o
presidente Joe Biden tentou apoiar o então primeiro-ministro Yair Lapid
visitando Israel quatro meses antes das eleições que elegeram Netanyahu.
O problema de tentar interferir nas
eleições de outro país não é apenas o fato de ser errado e gerar ressentimento
–é uma posição paternalista dizer que os Estados Unidos sabem mais sobre o que
é bom para os cidadãos de Israel. Mas, como tem sido o caso cada vez que os EUA
tentaram destituir Netanyahu, o tiro sai invariavelmente pela culatra. Clinton,
Obama e Biden fizeram o que puderam para virar o público contra Netanyahu, mas
em cada caso, seus esforços tiveram o efeito oposto.
Biden também interpretou mal o público
israelense. Numa entrevista à MSNBC, Biden alertou Israel contra entrar em
Rafah. Citando números fornecidos pela própria organização terrorista, o
presidente disse: “Não podemos ter mais 30 mil palestinos mortos como
consequência de perseguir” o Hamas. “Existem outras maneiras… de lidar… com o
trauma causado pelo Hamas.”
Senhor Presidente, Israel não está sacrificando
as vidas dos seus soldados para lidar com “o trauma” de 7 de Outubro. Isto não
é nenhum tipo de terapia psicológica. O objetivo aqui é de evitar outro 7 de Outubro
De destruir as capacidades do Hamas e, ao mesmo tempo, criar uma dissuasão –
que, esperamos, também servirá contra a Hezbollah no Norte. Israel não está procurando
uma cura para um trauma. Está buscando o retorno dos mais de 134 reféns que ainda
permanecem nas mãos dos terroristas.
E saiba que os israelenses são maduros e
inteligentes o suficiente para saberem o que é bom para o seu país,
especialmente depois de futilmente terem tentado de tudo para fazer a paz com
estes terroristas e não precisam da ajuda dos Estados Unidos para escolher seus
líderes. Assim, fiquem fora da política interna de Israel.
E chegou mais uma vez a hora de repetir que
o apaziguamento não funciona. Se cedermos aos agressores – seja Putin, ou as
organizações terroristas apoiadas pelo Irã, não salvamos vidas. Só preparamos o
campo para a próxima rodada de hostilidades.
Cada vez que repreende Israel, Biden cria menos incentivos para o Hamas depor
suas armas e o preço dos reféns aumenta. O aviso de que Israel estaria ultrapassando
certas linhas vermelhas se continuasse a agir, mostra que o presidente dos EUA,
tal como o papa, não conhecem o mapa do Oriente Médio ou sabem o que se passa
diariamente lá. Da mesma forma, a insistência em garantir que quantidades cada
vez maiores de “ajuda humanitária” sejam enviadas para Gaza, onde a maior parte
acaba nas mãos do Hamas, não é forma de acabar com uma guerra; apenas a
alimenta. Seria mais produtivo exigir que o Hamas libertasse os reféns e se
rendesse. Somente hoje Israel foi alvo de dezenas de mísseis de Gaza e do
Líbano.
As bandeiras que os árabes hasteam não são brancas. São vermelhas de
sangue. E o mundo deveria prestar mais atenção. O papa e Biden não estão
sozinhos ao confundir bandeiras brancas com a fumaça negra enquanto o mundo
queima.
No comments:
Post a Comment