Apareceu em um dos meus grupos de WhatsApp, a opinião publicada no jornal O Estado de São Paulo, o Estadão, de ontem, titulada “Gaza: Um Abismo Moral Para Israel”. Lendo o artigo, lembrei do que astronautas descrevem quando vêem o planeta Terra do espaço: que não há fronteiras, não há guerras, só uma linda bola azul.
Sempre me surpreende quando renomadas
publicações, milhares de milhas longe do conflito, se acham no direito de
julgar esta ou aquela parte, com base na torrente de informações, muitas fake,
algumas verdadeiras, todas infalivelmente com agendas ideológicas, que escondem
a verdade e levam à conclusões erradas e perigosas. Sim. Há uma diferença entre
fato e opinião e ninguém pode distorcer os fatos para provar sua opinião.
E isso aconteceu com o editorial do
Estadão.
De acordo com o jornal, a morte por
pisoteamento de dezenas de palestinos em Gaza é de total responsabilidade de
Israel porque Israel está ocupando o norte da Faixa onde ocorreu a tragédia.
Vamos lá! De acordo com o direito
internacional, nenhum país, quando atacado, tem qualquer obrigação de enviar
“ajuda humanitária” para o seu agressor. Alguém viu qualquer comboio de
centenas de caminhões ucranianos sendo entregues para ajudar a Russia? Absurdo
não é? Mas aparentemente não é no caso de Israel. Há anos, centenas de containers
entram em Gaza diariamente com todo o tipo de ajuda humanitária. E ela vai
diretamente para as mãos do Hamas que, fato, foi eleito democraticamente pelo
povo de Gaza para governá-los. E isso - outro fato – apesar de Israel ser
diariamente bombardeada com mísseis vindos da Faixa.
O Hamas então vende a ajuda humanitária ao
povo de Gaza a preços exorbitantes, enchendo seus bolsos para que seus líderes
tenham uma vida de marajá no Qatar. Somente na semana passada, Israel explodiu
os portões de dois armazéns do Hamas que estava repleto de alimentos e remédios
deixando o povo entrar para pegar os produtos.
Agora, Israel escolheu o horário das 4 da manhã para
entregar a ajuda humanitária, precisamente para evitar tumulto. Mas a
informação da entrega vazou, e centenas de palestinos se dirigiram para o
corredor criado por Israel para fazer a entrega. Os motoristas egipcios dos
caminhões foram quase mortos e várias pessoas foram pisoteadas. Isso não é a
culpa de Israel. É a culpa do Hamas.
Aqueles que hoje criticam Israel claramente
esqueceram que havia um cessar-fogo com o Hamas em vigor até a manhã de 7 de Outubro,
quando milhares de terroristas invadiram Israel, assassinando, decapitando, estuprando
e mutilando centenas de Israelenses. Os terroristas sequestraram mais
de 240 pessoas, idosos, bebês, mulheres, jovens, crianças, 134 das quais ainda estão mantidas como reféns.
Mas aí o Estadão faz uma série de perguntas:
“o que Israel está fazendo para abrigar os civis em campos de refugiados,
garantir os suprimentos ou reabilitar hospitais destruidos?
Primeiro, Israel não destruiu nenhum
hospital. Destruiu sim os tuneis e armazéns de armas que estavam em baixo
deles. Ainda, médicos de Israel foram enviados a vários deles para fazer um
levantamento dos equipamentos e medicamentos em falta. Só no Al-Shifah,
Israel transferiu dezenas de encubadoras para prematuros. Sobre os suprimentos,
desde o começo da guerra, Israel transferiu 274 mil 540 toneladas em mais de 15
mil caminhões. Foram 180 mil toneladas de alimentos, 25 mil toneladas de água, 18 mil toneladas de
suprimentos médicos, 31 mil toneladas de abrigos, 170 tanques de gasolina e mais
de 300 tanques de gás de cozinha. Quanto mesmo a Ucrania enviou em ajuda para a Russia?
E porque o Estadão não pergunta como é que
ainda há campos de refugiados em Gaza? Eles não estão na terra deles? Não
deveriam estar assentados depois de 3-4 gerações?
Outra pérola: “o que Israel está fazendo para arquitetar um mínimo de ordem e resguardar direitos civis e humanos da população nos territórios ocupados?” Desde quando países em guerra devem procurar resguardar os "direitos civis" da população inimiga? Quando isso jamais foi feito na História? Que direitos civis são estes? Direito de voto? Eles já votaram e escolheram o Hamas.
Aliás, de acordo com o instituto de pesquisa
palestino, se hoje houvesse eleições, o Hamas ganharia de longe em todos os
lugares, inclusive na Judeia e Samária. Para resguardar os direitos humanos é
muito simples: antes de atacar qualquer lugar, Israel envia milhões de
panfletos em árabe avisando os civis para saírem do local; faz milhares de
telefonemas para os moradores de Gaza com instruções para não se ferirem.
Israel sacrificou a vida de mais de 500 de seus jovens soldados que já morreram
nesta guerra, para salvar a vida de palestinos. Ou o Estadão acha que Israel não teria a
capacidade de arrasar completamente a Faixa com sua força aérea se quisesse?
E a maior de todas as perguntas: “O que
está fazendo para construir uma paz duradoura com seus vizinhos?” Eu vou fazer
outra pergunta: como podemos obrigar uma pessoa a morar com outra que ela
odeia? Fazemos ela ficar na marra?
O povo elegeu o Hamas por causa de sua proposta política e militar. O artigo 1 de sua constituição declara que “o Hamas é um movimento islâmico palestino de libertação e resistência nacional. O seu objetivo é libertar a Palestina e confrontar o projeto sionista.” Em nenhum momento o objetivo é de construir um estado palestino. O seu artigo 2 descreve o território da Palestina como sendo o território “que se estende desde o rio Jordão, a leste, até ao Mediterrâneo, a oeste, e da fronteira com o Líbano, no norte, até o Mar Vermelho, no sul, é uma unidade territorial integral. Seu artigo 13 diz que “iniciativas diplomáticas, as chamadas soluções pacíficas e conferencias internacionais para encontrar uma solução para o problema palestino contradiz a posição ideológica do Movimento Islamico de Resistencia. Desistir de qualquer parte da terra da Palestina é ignorar parte da fé islâmica”.
E é por isso que um dos líderes do Hamas,
Mousa Abu Marzouk, afirmou que “os túneis subterrâneos construídos na Faixa de
Gaza são para proteger os ‘combatentes’ do Hamas e a responsabilidade de
proteger os civis cabe às Nações Unidas e a Israel”. Tais declarações demonstram
a indiferença dos líderes do Hamas relativamente ao sofrimento do seu próprio
povo fora os bilhões em ajuda internacional que foram para a construção de
túneis e mísseis.
Como é que
se pode começar uma negociação com alguém que tem como ponto de partida para
você é: deite e morra?
Agora, vamos ver o que Israel fez até agora para ter uma paz duradoura com seus vizinhos como o Estadão exige: em 1947 os judeus aceitaram a partilha da região ao lado oeste do rio Jordão para formar dois países: um judeu e um árabe. Os árabes recusaram e juntaram 5 exércitos para destruir o recem-nascido estado. Perderam. E perderam novamente em 1956 e de modo espetacular em 1967 na guerra dos Seis Dias quando perderam a Judeia, Samaria, Gaza, o Sinai, e os Altos do Golã. Na época, Israel ofereceu devolver todos os territórios em troca de reconhecimento e paz. E resposta árabe foi os 3 nãos: não para o reconhecimento, não para negociações e não para a paz. Perderam a guerra de Iom Kippur em 1973.
Israel
então ofereceu os Acordos de Oslo, que criaram a Autoridade Palestina e
aceitaram criar um estado palestino em 5 anos. Mas em resposta Arafat lançou
duas intifadas com milhares de judeus mortos. Em 2005, em mais uma tentativa,
Israel saiu completamente da Faixa de Gaza para experimentar a solução de dois
estados.
Mas em vez de
desenvolverem a Faixa, em 2006 o povo votou no Hamas com base na sua proposta de
guerra e trabalhou febrilmente para transformar a Faixa em uma plataforma de
lançamento de mísseis e base militar com mais de 500 km de túneis. Porque será que nenhum líder mundial ou o Estadão perguntam o que querem os palestinos? Porque o mundo e o Estadão não
querem ouvir. Até agora os palestinos foram consistentes: eles querem tudo e
querem destruir Israel.
Essa é só a
ultima guerra que Yahya Sinwar, um dos mentores do massacre de 7 de Outubro, poderia
acabar em um minuto se libertasse todos os reféns e se rendesse. Mas como
sempre ele está apostando na pressão internacional sobre Israel. Sua esperança é que ela obrigue Israel a
aceitar o fim da guerra e tudo volte como era em 6 de outubro.
Se a
comunidade internacional estiver verdadeiramente interessada em acabar com a
guerra em Gaza, deverá exercer pressão sobre o Hamas e não sobre Israel. E sim,
Israel tem que reocupar a Faixa e começar um processo de desnazificação dos
palestinos, como foi feito na Alemanha e no Japão. E não. Isso não destruirá a
democracia de Israel.
É só o Estadão descer da nave espacial, aterrissando em Israel para ver a realidade.
Infelizmente, o mundo ainda
não compreendeu que o Israel de hoje não é o Israel do 6 de Outubro. Não mais
aceitaremos sermos alvos impunemente. Aprendemos, da maneira mais difícil, mais dolorosa, que
as concessões que fazemos e cessar-fogos que acordamos, têm uma forma
desagradável de explodir na nossa cara.
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