Hoje, em todo o mundo, é o dia 7 de janeiro. Mas em Israel temos um novo calendário
e hoje é o 93º dia da chacina e do sequestro de centenas de reféns. Esta semana
também lembramos Kfir Bibas, o bebê que foi levado com sua mãe Shiri e seu
irmão Ariel naquele fatídico sábado que deveria comemorar seu primeiro
aniversário.
Nesta semana também
começamos a ler nas sinagogas o segundo livro da Torah, o Exodus. A libertação
e saída dos judeus da escravidão do Egito e sua jornada no deserto, até a
entrada na Terra Prometida com Josué.
E apesar de todos
os milagres que os israelitas testemunharam com as 10 pragas, a abertura do mar
vermelho, eles não cessaram de reclamar, da comida, da água, e finalmente com o
relato dos espiões que disseram que seria impossível vencer os canaanitas da
terra de Israel. Aí D-us disse que aquela geração não entraria na terra mas
ficariam 40 anos no deserto. Muitos interpretaram este decreto como uma
punição. Mas não foi. Ele foi apenas uma consequência inevitável da natureza
humana.
O Rabino Jonathan
Sacks, em seu comentário, descreveu muito bem a situação. Na opinião dele, “É
necessário mais do que alguns dias ou semanas para transformar uma população de
escravos numa nação capaz de lidar com as responsabilidades da liberdade. No
caso dos israelitas, foi necessário uma geração nascida em liberdade,
endurecida pela experiência do deserto, livre de hábitos de servidão. A
liberdade leva tempo e não existem atalhos. Muitas vezes leva muito tempo.
Essa dimensão de
tempo é fundamental para a visão judaica da política e do progresso humano. É
por isso que, na Torá, Moisés diz repetidamente aos adultos para educarem os
seus filhos, para lhes contarem a história do passado, para “lembrarem”. É por
isso que a própria aliança se estende ao longo do tempo – transmitida de uma
geração para a seguinte. Não há, no Judaísmo, nenhuma transformação repentina
da condição humana”.
Essa foi a lição
dos espiões. Os israelitas simplesmente tiveram que encarar o fato de que eles ainda
viviam com a mentalidade de escravos e somente seus filhos, nascidos livres,
poderiam alcançar aquilo para o qual eles próprios não estavam preparados.
Infelizmente, as
democracias do mundo não entendem isso. Que para trazer a liberdade e a
democracia, as pessoas precisam estar prontas para recebe-las. Os Estados
Unidos travaram uma guerra de 20 anos no Iraque e no Afeganistão, para trazer a
eles liberdade e democracia. Ao final, a poderosa América teve que sair aos
tropeços e hoje os Talibãs estão de volta e o Afeganistão voltou ao século VII
e o Iraque virou vassalo dos aiatolás do Irã.
Trazer liberdade e
democracia não é o trabalho de guerras. A única coisa que pode trazê-las é educação,
a reconstrução da sociedade com base nestes valores e a lenta aceitação das responsabilidades
que acompanham estes valores. Infelizmente isso pode levar gerações.
E por que estou falando
isso? Porque em vez de se concentrar em ganhar a guerra contra o Hamas, Israel
está tendo que lidar com a pressão americana e de outros aliados do Ocidente,
para Israel concordar com o que acontecerá no dia seguinte após a guerra.
Anthony Blinken, o secretário de estado americano já declarou que o que Biden
quer ver é a implantação da solução de dois estados, com a união da Judeia e
Samária e Gaza, baixo ao governo da Autoridade Palestina.
Tendo em conta
todas as iniciativas de paz propostas para acabar com o “conflito” entre Israel
e os palestinos ao longo dos últimos 83 anos, somos obrigados a finalmente
reconhecer a realidade de que os palestinos não querem estabelecer o seu
próprio Estado, porque rejeitaram todas as ofertas que Israel fez. Eles querem
tudo ou nada e sem dúvida, não querem fazer a paz com judeus.
É só ver o que
aconteceu com o desengajamento. Em agosto de 2005, o primeiro-ministro de
Israel, Ariel Sharon, evacuou todas as comunidades judaicas da Faixa de Gaza. Mais
de 8 mil israelenses perderam suas casas, trabalhos, plantações para ver se a
solução de dois estados era possível. Imediatamente após a saída dos judeus, os
palestinos votaram no Hamas e transformaram a Faixa de Gaza no maior reduto
terrorista do mundo. Morreu assim o
derradeiro ramo de oliveira para a paz com os palestinos. Mas não só com eles.
Israel está de fato
lutando em mais de uma frente. Além de Gaza, Israel sofre ataques diários do
sul do Líbano, da Síria, da Judeia e Samaria, do Iraque e até do Iémen, tudo
orquestrado pelo Irã. E é por isso que Israel precisa obter uma vitória
decisiva, um resultado claro em Gaza.
Esta não é uma
guerra que Israel escolheu. No dia 6 de outubro havia um cessar-fogo com o
Hamas. Esta guerra foi imposta a Israel e na esteira de um verdadeiro massacre.
Todos os dias são lidos os nomes dos jovens que morreram na luta em Gaza e no Norte.
Já passamos dos 100 soldados mortos e este é um preço muito alto que um país
tão pequeno como Israel tem que pagar.
E a comunidade
internacional quer que nossos soldados morram para entregar tudo numa bandeja de
prata para o senhor Mahmoud Abbas, que financiava as ações do terrorista Yasser
Arafat, que hoje paga terroristas e suas famílias salários nababescos para
matarem judeus israelenses, que ainda preside a Organização para Libertação da
Palestina, que incita o terrorismo e fala do Hamas como uma entidade legítima? Quem
essa comunidade internacional pensa estar enganando? Acabamos com o Hamas para
ficarmos com a Fatah que é a mesma coisa com outro nome?
E é por essa razão,
que Israel no final dos combates, deve ser vitoriosa e ter o completo controle
da Faixa. Só assim, Israel com a ajuda do resto da comunidade internacional poderá
tentar reverter os efeitos da lavagem cerebral, do ódio, da educação de morte, do
radicalismo islâmico, impostos na população da Faixa há mais de 20 anos. Precisa
nascer uma nova geração livre de tudo isso para haver qualquer chance de paz. Forçar
Israel a parar o combate antes disso, vai garantir a sobrevivência do Hamas e
veremos o mesmo acontecer daqui a 20 anos.
Somente esta
vitória completa conseguirá devolver o poder de dissuasão de Israel, enviando uma
mensagem potente para todos os agentes do Irã e para os próprios aiatolás. E
isso é de interesse não só de Israel mas dos Estados Unidos e também da Europa.
Assim, é importante Israel convencer os Estados Unidos que ao derrotar o Hamas
será preciso criar uma nova realidade em Gaza para não permitir que os
terroristas levantem novamente a cabeça.
E é por isso também
que a fraca e extremamente corrupta Autoridade Palestina não é adequada para
assumir a responsabilidade por Gaza no pós-guerra.
É hora de Israel, dos
Estados Unidos, enfim, de todo o mundo pararem imediatamente de perseguir essa
fantasia de uma solução de dois Estados. Foi este esforço, de obrigar Israel a aguentar
o lançamento de milhares de mísseis no seu território por décadas, de não
escalar o conflito, para tentar chegar na solução de dois Estados que tivemos o
dia mais sangrento da história de Israel.
Até que a
mentalidade mude, até que o sonho de apagar Israel do mapa morra e o sonho de
uma vida melhor, uma vida construtiva e não a busca pela morte governe, nenhuma
solução será possível. Não foi possível com os judeus que saíram do Egito, com
os afegãos baixo ao Talibãs e não será com essa geração de palestinos da Faixa
de Gaza.
Mas talvez seja possível
com seus filhos que ainda estão para nascer.
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