Até as 11:30 da manhã de hoje, o Hamas não tinha entregado a lista das 3 reféns que iria soltar hoje mostrando que o grupo não havia modificado o seu modus operandi. Quando Israel declarou que não haveria cessar-fogo e começou a bombardear alvos do Hamas, ele transferiu a lista das três reféns civis. Finalmente, ouvimos que Romi Gonen de 24 anos, a inglesa Emily Damari de 28 anos e Doron Steinbrecher de 32 anos deverão ser soltas hoje. Sem dúvida, Israel aprendeu com as solturas anteriores.
Mas para o
povo de Gaza, eles já são os vitoriosos. Videos de Khan Iunis mostram o
comércio aberto, muitas pessoas nas ruas, e ao que podemos ver, muito bem
alimentados. Muito diferente das centenas de milhares de pessoas do Sudão que
estão sim morrendo de fome, mas que o mundo não poderia se importar menos,
porque não há judeus para culpar.
O modus
operandi do Hamas inclui infligir o máximo de dor e angústia ao país e
especialmente às famílias dos reféns. E não sei se iremos ver as reféns até 4
da tarde, a hora combinada. Não vamos ficar surpresos se elas não retornarem não
às 4, não às 5, não às 8. Talvez às 2 da manhã, como das outras vezes.
Infelizmente,
Israel foi obrigada a um acordo com o diabo. E ele não é conhecido por manter
sua palavra. Não vamos esquecer que estamos lidando com um grupo sanguinário, terrorista,
sem consciência, com uma cultura que chega a cultuar o
estupro, a tortura, o sequestro e a decapitação de bebês e idosos.
Mas é nestas
horas que lembramos das palavras do rei Salomão no Kohelet, o livro de
Eclesiastes que diz “para tudo há um tempo”. “Um tempo para chorar, e um tempo
para rir, um tempo para lamentar e um tempo para dançar”. Mas o que fazer com
dias como o de hoje, em que o tempo para chorar, rir, lamentar e dançar ocorrem
todos ao mesmo tempo? O que fazer com todas estas emoções que sentimos de uma
vez?
Há alegria,
sem dúvida. Depois de quase 500 dias em cativeiro, os reféns começarão a voltar
para casa. Ao mesmo tempo, há desespero pois não sabemos quem voltará vivo e
quem será entregue num caixão. Sentimos alívio e queremos rir com as famílias
que se reunirão com seus entes queridos e uma profunda tristeza por aqueles que
irão enterrar os seus. E hoje é apenas o primeiro dia de várias semanas nesta
montanha russa.
Outra alegria
misturada com tristeza que recebemos hoje, foi a notícia de que o exército
resgatara o corpo de Oron Shaul, um soldado que foi morto e seu corpo
sequestrado em julho de 2014 junto com o corpo de outro soldado, Hadar Goldin.
10 anos depois, o irmão de Oron disse que finalmente a família pôde respirar na
esperança de dar ao seu irmão, um enterro digno em Israel.
Não existe um
bom acordo com o Hamas. Contra os 97 reféns, a maioria deles mortos, Israel
terá que libertar milhares de terroristas palestinos, inclusive para Jerusalem
do Leste e Judeia e Samaria, muitos deles por crimes horrendos de terem
assassinado famílias inteiras. Isso não é justiça. E mesmo que Israel tenha
sido atacada em 7 de outubro e sofrido a megaatrocidade da tortura, estupro e
finalmente o assassinato de 1.200 pessoas e sofrido o sequestro de cerca de 250 de seus cidadãos e visitantes, é Israel
que deve pagar o preço nesta troca.
Já passamos
por isso em 2011 com Gilad Shalit que foi trocado por mais de mil palestinos
assassinos, incluindo Yahia Sinwar, o cabeça do massacre de 7 de outubro. Por
isso sabemos que as lágrimas de alegria e alívio com os retornos logo darão
lugar à amargura de ver as imagens de palestinos assassinos, libertados e
recebidos de volta como heróis. O coração se rasgará com a dor que isso deverá
causar aos familiares das vítimas destes terroristas.
Outro ponto a
ser relevado é fato de que este acordo está plantando as sementes para a
próxima guerra. Ele incentiva a tomada de outros reféns - a única coisa que
parece capaz de forçar a mão de Israel - e permite que o Hamas continue seu
domínio na Faixa de Gaza, controlando o recebimento e distribuição da ajuda
humanitária e quaisquer fundos para reconstrução e continuando a aterrorizar
seu próprio povo.
Por um lado,
ninguém está feliz com este acordo. De acordo com o membro da Knesset Boaz
Bismut, na reunião do gabinete que aprovou o acordo estavam membros que
choraram de desespero pelas vítimas futuras destes terroristas que serão
soltos. Mas por outro lado, ninguém com coração quer que os reféns permaneçam indefinidamente
em cativeiro, mesmo os que já estão mortos. Eles são os nomes e rostos que se
tornaram membros da nossa família nos últimos 15 meses.
O que
flexibilizou o Hamas para entrar neste acordo foi o fator Trump que mais de uma
vez ameaçou/prometeu ao Hamas que haveria "um inferno a pagar" se os
reféns não fossem libertados antes de ele começar seu mandato. Amanhã Trump
receberá o cargo e o Hamas não quis correr o risco de provocar o imprevisível presidente
dos EUA.
E isso mais
uma vez mostra que a única linguagem que terroristas entendem é a força. Embora
o presidente Joe Biden tenha dito os inimigos de Israel "não façam isso",
eles o ignoraram. E se beneficiaram. A insistência em deixar quantidades cada
vez maiores de "ajuda humanitária" entrar em Gaza derrotou o
propósito em vez de derrotar o Hamas. Isso garantiu que o Hamas não tivesse
apenas suprimentos, mas também fundos e controle, vendendo a ajuda por preços
absurdos.
Do lado de
Israel, mais de 400 soldados foram mortos em Gaza desde o início da guerra,
incluindo 15 mortos nas últimas duas semanas. O coração se aperta toda vez que
ouvimos as palavras: "Mutar le'pirsum" ("Foi aprovado para
publicação"), seguido pelos nomes de soldados mortos e fotos de rostos jovens
e sorridentes, muitos que não chegaram aos 20 anos de idade.
O pior é que
podem ter certeza de que, após qualquer acordo de cessar-fogo, os terroristas
explorarão novamente a ausência de uma presença militar israelense e tentarão
restabelecer suas bases em áreas como Beit Hanoun, perto da fronteira de
Israel. Como poderíamos impedir isso?
Isso também
faz parte do preço injusto de um acordo.
Se o mundo
fosse justo, não haveria guerra, reféns, ataques de mísseis, terror – ou
antissemitismo e outras formas de racismo. Ontem, na manhã do Shabbat aqui em
Jerusalem, a sirene mais uma vez soou e tivemos que correr para o abrigo. Mais
uma vez era um míssil balístico dos Houthis que realmente não têm nada a ver
com Israel e continuam a atacar.
Será que os
Houthis também cumprirão este acordo de cessar-fogo em Gaza ou continuarão a
lançar seus mísseis contra Israel e ameaçar o transporte marítimo
internacional? E o que acontecerá no Líbano quando o cessar-fogo de 60 dias
chegar ao fim no final do mês? O que acontecerá com o novo governo sírio que já
está mostrando suas cores jihadistas e islâmicas radicais na nossa fronteira?
A libertação
dos reféns não trará o fim da guerra. Isto sabemos. Mas não tem que ser somente
Israel a travá-la. Aqueles que professam ser defensores dos direitos humanos,
ou compromisso com a justiça, contra a tirania, não deveriam permitir que as
organizações terroristas escapem impunes aos massacres que cometem.
Nos próximos
42 dias — a duração do primeiro estágio do acordo de reféns — imagens em tela
dividida preencherão as telas em todo o país: de voltas emocionantes a funerais
desesperadores, orações de agradecimento e a recitação do kaddish, soldados
deixando Gaza aos terroristas e líderes inimigos se gabando de
"vitória".
Essas imagens
divididas ilustrarão vividamente que alegria e tristeza, orgulho e humilhação,
regozijo e luto não estão confinados a estações separadas; eles frequentemente
se misturam e até colidem. A nação está hoje entrando neste tempo de emoções entrelaçadas,
e não será nada fácil.