Sunday, January 19, 2025

Um Tempo Para Rir e Um Tempo Para Chorar - 19/01/2025

 Até as 11:30 da manhã de hoje, o Hamas não tinha entregado a lista das 3 reféns que iria soltar hoje mostrando que o grupo não havia modificado o seu modus operandi. Quando Israel declarou que não haveria cessar-fogo e começou a bombardear alvos do Hamas, ele transferiu a lista das três reféns civis. Finalmente, ouvimos que Romi Gonen de 24 anos, a inglesa Emily Damari de 28 anos e Doron Steinbrecher de 32 anos deverão ser soltas hoje. Sem dúvida, Israel aprendeu com as solturas anteriores.

Mas para o povo de Gaza, eles já são os vitoriosos. Videos de Khan Iunis mostram o comércio aberto, muitas pessoas nas ruas, e ao que podemos ver, muito bem alimentados. Muito diferente das centenas de milhares de pessoas do Sudão que estão sim morrendo de fome, mas que o mundo não poderia se importar menos, porque não há judeus para culpar.

O modus operandi do Hamas inclui infligir o máximo de dor e angústia ao país e especialmente às famílias dos reféns. E não sei se iremos ver as reféns até 4 da tarde, a hora combinada. Não vamos ficar surpresos se elas não retornarem não às 4, não às 5, não às 8. Talvez às 2 da manhã, como das outras vezes.

Infelizmente, Israel foi obrigada a um acordo com o diabo. E ele não é conhecido por manter sua palavra. Não vamos esquecer que estamos lidando com um grupo sanguinário, terrorista, sem consciência, com uma cultura que chega a cultuar o estupro, a tortura, o sequestro e a decapitação de bebês e idosos.

Mas é nestas horas que lembramos das palavras do rei Salomão no Kohelet, o livro de Eclesiastes que diz “para tudo há um tempo”. “Um tempo para chorar, e um tempo para rir, um tempo para lamentar e um tempo para dançar”. Mas o que fazer com dias como o de hoje, em que o tempo para chorar, rir, lamentar e dançar ocorrem todos ao mesmo tempo? O que fazer com todas estas emoções que sentimos de uma vez?

Há alegria, sem dúvida. Depois de quase 500 dias em cativeiro, os reféns começarão a voltar para casa. Ao mesmo tempo, há desespero pois não sabemos quem voltará vivo e quem será entregue num caixão. Sentimos alívio e queremos rir com as famílias que se reunirão com seus entes queridos e uma profunda tristeza por aqueles que irão enterrar os seus. E hoje é apenas o primeiro dia de várias semanas nesta montanha russa.

Outra alegria misturada com tristeza que recebemos hoje, foi a notícia de que o exército resgatara o corpo de Oron Shaul, um soldado que foi morto e seu corpo sequestrado em julho de 2014 junto com o corpo de outro soldado, Hadar Goldin. 10 anos depois, o irmão de Oron disse que finalmente a família pôde respirar na esperança de dar ao seu irmão, um enterro digno em Israel.

Não existe um bom acordo com o Hamas. Contra os 97 reféns, a maioria deles mortos, Israel terá que libertar milhares de terroristas palestinos, inclusive para Jerusalem do Leste e Judeia e Samaria, muitos deles por crimes horrendos de terem assassinado famílias inteiras. Isso não é justiça. E mesmo que Israel tenha sido atacada em 7 de outubro e sofrido a megaatrocidade da tortura, estupro e finalmente o assassinato de 1.200 pessoas e sofrido o sequestro de cerca de 250 de seus cidadãos e visitantes, é Israel que deve pagar o preço nesta troca.

Já passamos por isso em 2011 com Gilad Shalit que foi trocado por mais de mil palestinos assassinos, incluindo Yahia Sinwar, o cabeça do massacre de 7 de outubro. Por isso sabemos que as lágrimas de alegria e alívio com os retornos logo darão lugar à amargura de ver as imagens de palestinos assassinos, libertados e recebidos de volta como heróis. O coração se rasgará com a dor que isso deverá causar aos familiares das vítimas destes terroristas.

Outro ponto a ser relevado é fato de que este acordo está plantando as sementes para a próxima guerra. Ele incentiva a tomada de outros reféns - a única coisa que parece capaz de forçar a mão de Israel - e permite que o Hamas continue seu domínio na Faixa de Gaza, controlando o recebimento e distribuição da ajuda humanitária e quaisquer fundos para reconstrução e continuando a aterrorizar seu próprio povo.

Por um lado, ninguém está feliz com este acordo. De acordo com o membro da Knesset Boaz Bismut, na reunião do gabinete que aprovou o acordo estavam membros que choraram de desespero pelas vítimas futuras destes terroristas que serão soltos. Mas por outro lado, ninguém com coração quer que os reféns permaneçam indefinidamente em cativeiro, mesmo os que já estão mortos. Eles são os nomes e rostos que se tornaram membros da nossa família nos últimos 15 meses.

O que flexibilizou o Hamas para entrar neste acordo foi o fator Trump que mais de uma vez ameaçou/prometeu ao Hamas que haveria "um inferno a pagar" se os reféns não fossem libertados antes de ele começar seu mandato. Amanhã Trump receberá o cargo e o Hamas não quis correr o risco de provocar o imprevisível presidente dos EUA.

E isso mais uma vez mostra que a única linguagem que terroristas entendem é a força. Embora o presidente Joe Biden tenha dito os inimigos de Israel "não façam isso", eles o ignoraram. E se beneficiaram. A insistência em deixar quantidades cada vez maiores de "ajuda humanitária" entrar em Gaza derrotou o propósito em vez de derrotar o Hamas. Isso garantiu que o Hamas não tivesse apenas suprimentos, mas também fundos e controle, vendendo a ajuda por preços absurdos.

Do lado de Israel, mais de 400 soldados foram mortos em Gaza desde o início da guerra, incluindo 15 mortos nas últimas duas semanas. O coração se aperta toda vez que ouvimos as palavras: "Mutar le'pirsum" ("Foi aprovado para publicação"), seguido pelos nomes de soldados mortos e fotos de rostos jovens e sorridentes, muitos que não chegaram aos 20 anos de idade.

O pior é que podem ter certeza de que, após qualquer acordo de cessar-fogo, os terroristas explorarão novamente a ausência de uma presença militar israelense e tentarão restabelecer suas bases em áreas como Beit Hanoun, perto da fronteira de Israel. Como poderíamos impedir isso?

Isso também faz parte do preço injusto de um acordo.

Se o mundo fosse justo, não haveria guerra, reféns, ataques de mísseis, terror – ou antissemitismo e outras formas de racismo. Ontem, na manhã do Shabbat aqui em Jerusalem, a sirene mais uma vez soou e tivemos que correr para o abrigo. Mais uma vez era um míssil balístico dos Houthis que realmente não têm nada a ver com Israel e continuam a atacar.

Será que os Houthis também cumprirão este acordo de cessar-fogo em Gaza ou continuarão a lançar seus mísseis contra Israel e ameaçar o transporte marítimo internacional? E o que acontecerá no Líbano quando o cessar-fogo de 60 dias chegar ao fim no final do mês? O que acontecerá com o novo governo sírio que já está mostrando suas cores jihadistas e islâmicas radicais na nossa fronteira?

A libertação dos reféns não trará o fim da guerra. Isto sabemos. Mas não tem que ser somente Israel a travá-la. Aqueles que professam ser defensores dos direitos humanos, ou compromisso com a justiça, contra a tirania, não deveriam permitir que as organizações terroristas escapem impunes aos massacres que cometem.

Nos próximos 42 dias — a duração do primeiro estágio do acordo de reféns — imagens em tela dividida preencherão as telas em todo o país: de voltas emocionantes a funerais desesperadores, orações de agradecimento e a recitação do kaddish, soldados deixando Gaza aos terroristas e líderes inimigos se gabando de "vitória".

Essas imagens divididas ilustrarão vividamente que alegria e tristeza, orgulho e humilhação, regozijo e luto não estão confinados a estações separadas; eles frequentemente se misturam e até colidem. A nação está hoje entrando neste tempo de emoções entrelaçadas, e não será nada fácil.

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