Em 1979
quando ainda estava na escola no Brasil, a Globo transmitiu a série Holocausto
com a Merryl Streep. Na época, ela gerou muita controvérsia porque apesar de
não ser gráfica, deixava muito pouco para a imaginação, as atrocidades
cometidas pelos nazistas.
Lembro que
subindo as escadas para a classe, ouvi um grupinho de alunos comentando sobre a
série quando um deles, de modo zombeteiro, disse que a série havia sido
encomendada por judeus para que se sentisse peninha deles.
Não vou falar
aqui sobre o antissemitismo que senti crescendo no Brasil. Mas vou falar sobre
o ódio desenfreado contra os judeus e Israel no mundo inteiro que está
ocorrendo agora, há apenas uma semana do massacre, do pogrom.
Aqui no rádio
não posso compartilhar as imagens. Mas o fato é que as imagens do pogrom da semana
passada em Israel são extraordinariamente
difíceis de ver. Corpos carbonizados, bebês crivados de balas, mulheres idosas
baleadas na cabeça. As profundezas da depravação do Hamas,
a completa falta de humanidade, são impossíveis de compreender.
E, no entanto, depois de repórteres terem relatado o
genocídio que viram em um
dos kibutzim com dezenas de crianças brutalmente assassinadas, a resposta de alguns leitores
não foi de horror e
repulsa, mas sim de escárnio e incredulidade.
Isto foi particularmente evidente no X,
ou Twitter que se transformou numa fossa para os piores exemplos de seres
humanos, onde alguns zombaram dos repórteres e duvidaram da veracidade das
reportagens.
Se estas
reações tivessem ficado no X, vá lá. Mas até canais tradicionais entraram no
barco. O correspondente chefe de política da BBC John Sergeant defendeu a
política de chamar o Hamas de grupo militante e não de grupo terrorista. O
canal France 24 em inglês se concentrou nas preparações de Israel para a
guerra, nas vítimas palestinas e na geopolítica regional. Outros canais deram
prioridade aos protestos palestinos ao redor do mundo em Estocolmo, Barcelona,
Londres e Paris.
E pior. O
mundo acadêmico desceu no fundo da fossa. A celebrada Harvard permitiu que sua
organização de estudantes declarasse que “toda a responsabilidade por toda e
qualquer violência resta completamente sobre Israel”. O corpo de estudantes da
Columbia University declarou um “dia de resistência” e elogiou o ataque do
Hamas como “um ato legítimo de resistência à ocupação”.
Em resposta a todo este veneno, Israel violou uma prática de longa
data.
Desde sempre, Israel tem se recusado à exibir os corpos mutilados, os membros
decepados ou as poças de sangue das vítimas do terror palestino. Há
algo no judaísmo que se chama kavod hamet – a dignidade dos mortos.
Desta vez, porém, Israel sentiu que não tinha escolha. Na
quinta-feira, o governo enviou à mídia três fotos: duas de pequenos corpos
queimados e enegrecidos e uma terceira de um pequeno corpo coberto de sangue.
Mas isso não foi suficiente para os antissemitas.
Houve sugestões que as fotos só mostraram as crianças queimadas até a morte,
mas não decapitadas. Muitos chegaram a sugerir que as fotos eram falsas, geradas por inteligência
artificial.
Um discurso
nojento mas revelador.
Nos acostumamos com a rejeição do mundo das atrocidades cometidas contra nós. É
só ver a quantidade daqueles que negam o Holocausto, especialmente no mundo
árabe. Além de sofrermos as atrocidades, somos humilhados, tendo que provar que
os horrores que nos fizeram passar realmente ocorreram.
O que testemunhamos nos últimos dias é exatamente
isso.
Já há aqueles que negam
que crianças judias foram assassinadas de formas horríveis pelo Hamas. A divulgação das fotos foi necessária
para dissipar quaisquer dúvidas remanescentes em pessoas razoáveis mas, como
era de se esperar, não conseguiu silenciar aqueles que questionaram as
reportagens por ódio e
desdém.
A lição aqui é que é
muito importante todos nós travarmos a guerra da informação. Não importa se
estamos em Israel, na Europa, Estados Unidos ou Brasil. Temos que combater as mentiras e a
desinformação e contar a versão verdadeira da história. Fazer isso ajuda a
fortalecer a legitimidade internacional das ações de Israel.
Mas, no final das contas, há alguns – muitos deles simples
antissemitas – que nunca serão convencidos, porque simplesmente não querem
ser. Para eles, o Estado Judeu está sempre errado, nada do que fizer será certo
e nenhuma prova – incluindo fotos de bebes e crianças judias mortas – os fará mudar de ideia. Tentar
mudar as mentes daqueles que estão cegos pelo ódio e imunes à realidade é um
desperdício do nosso fôlego e recursos.
Depois de transmitir uma reportagem sobre a morte e
destruição em Kfar Aza no sábado, que incluía imagens horríveis de casas
destruídas e relatos de corpos profanados, o âncora do Canal 12, Danny
Kushmaro, explicou por que ele mostrou essas imagens.
“Estamos mostrando essas imagens para mostrar o que aconteceu aqui. Para mostrar quão forte deve ser a
reação de Israel”, disse ele na noite de quarta-feira. “Não
é para ferir a moral, mas sim mostrar que há
necessidade de responder às atrocidades que ocorreram aqui.”
É crucial que o mundo compreenda a crueldade,
a barbárie perpetuada
pelos terroristas do Hamas, muitos dos quais foram soltos
contra Gilad Shalit, para
compreender por que Israel precisa responder com toda a ferocidade e com todo o seu poder contra estes
terroristas.
O problema é que inevitavelmente, à medida que o número de vítimas
aumentar dentro da Faixa de Gaza, incluindo civis, haverá apelos para que Israel
aja “humanitária e proporcionalmente”.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chegou na
quinta-feira a Israel e, após se reunir Netanyahu, fez uma declaração forte de
apoio a Israel que começou com as palavras: “Estou diante de vocês não
apenas como secretário de Estado dos Estados Unidos, mas também como judeu.”
Blinken relatou brevemente a experiência da sua família no
Holocausto e reiterou que os EUA apoiam firmemente Israel, fornecem
apoio material e
reconhecem plenamente seu direito de defesa. “Nenhum país pode ou iria tolerar o massacre dos seus
cidadãos – ou simplesmente regressar às condições que permitiram que isso acontecesse. Israel tem o direito – na
verdade, a obrigação – de se defender e de garantir que isso nunca mais
aconteça”, disse ele.
Em seguida, ele acrescentou um grande
“mas”. Que “a forma como
Israel faz isso é importante”. Blinken disse que a forma como as democracias
travam a guerra é o que as distingue dos terroristas. “É por isso que é tão
importante tomar todas as precauções possíveis para evitar ferir civis”. Ou seja, faça o que for preciso, estamos
do seu lado, mas olhem
lá.
É incrível mas
Israel já mandou panfletos sobre Gaza pedindo para a população sair do norte da
Faixa por razões humanitárias. Só que seus “irmãos” árabes estão fechando suas
fronteiras para estes “civis inocentes”. O Egito e a Jordânia estão esperneando
sobre a situação dos moradores da Faixa, mas não querem nem ouvir em receber
refugiados. E pior: o próprio Hamas está impedindo o deslocamento para usar sua
população como escudo humano.
À medida que Gaza continuar a ser alvejada, é apenas uma questão de tempo até
que o mundo exija de Israel uma resposta “proporcional”. É por isso que, infelizmente, são
necessárias imagens horríveis – para lembrar ao mundo a barbárie que Israel
acabou de viver.
Na quinta-feira, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, durante
uma videoconferência com 31 ministros da OTAN, mostrou imagens sem censura das
atrocidades do Hamas. “Andei de casa em casa e vi os corpos dos nossos pioneiros, sobreviventes do Holocausto,
queimados vivos”, disse ele. “As crianças foram amarradas e baleadas a
queima roupa, na frente dos pais, e os pais na frente dos filhos. Sim, repito – crianças amarradas e
fuziladas. Meninas ainda não adolescentes, foram violentamente
estupradas e raptadas ao
som de aplausos, enquanto o sangue escorria por suas pernas. Moças
foram estupradas coletivamente e depois levadas para
Gaza ou mortas. Um festival de música,
ironicamente pela paz
com os palestinos, com
3.000 jovens, tornou-se um banho de sangue” – com mais de 260 corpos resgatados do local.
Por que as filmagens sem censura e os detalhes explícitos?
Para lembrar ao mundo o que Israel enfrenta e por que deve usar todo o seu
poder de fogo para erradicar o Hamas. Já estamos
ouvindo as vozes que
negam que o Hamas tenha cometido qualquer atrocidade, e essas vozes ficarão
mais altas nos próximos
dias.
É necessário publicar os detalhes e, por mais doloroso que
seja, as imagens do que aconteceu, para que o mundo não pregue a “proporcionalidade” a Israel.
Porque, de qualquer forma, qual seria, uma resposta proporcional por exemplo, à 4 mil
mísseis por dia jogados sobre a população civil? Que proporcionalidade dariam às famílias queimadas vivas, aos bebês decapitados ou a meninas
estupradas?
A resposta de
Israel tem que ser um “basta” final e categórico ao terrorismo. Tem que passar
de exército mais moral do mundo para o mais mortífero do mundo. Não há civis
inocentes do lado de Gaza. Eles elegeram o Hamas e o colocaram nas rédeas da
Faixa. Eles comemoraram os ataques, distribuindo doces e fazendo paradas nas
ruas com os raptados, incluindo com uma refém de 85 anos.
Israel tem
que mudar completamente seu tratamento para com os palestinos. Ela tem que
responder para que o “Nunca Mais”, que juramos após o Holocausto, realmente
nunca mais ocorra. E isso deve ficar claro de uma vez por todas aos nossos
inimigos. Eles merecem uma lição para que nunca mais se atrevam a levantar um
dedo contra Israel.
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