Esta semana, judeus de todo o mundo comemoram o 83º aniversário da Kristallnacht, "A Noite dos Cristais", lembrando as janelas das lojas e casas de judeus que foram destruídas durante a noite de 9 a 10 de novembro de 1938. A maioria das sinagogas em toda a Alemanha, Áustria e Sudetos da Tchecoslováquia que tinham sido anexados pela Alemanha, foram saqueadas e incendiadas naquela noite. Milhares de negócios pertencentes a judeus foram danificadas e 30 mil homens judeus foram enviados para campos de concentração.
Somente na
Alemanha, desencadeando
seu ódio infernal, os alemães destruíram 267 sinagogas, atacaram 7
mil negócios pertencentes
a judeus e prenderam
dezenas de milhares de homens judeus que foram enviados para campos de concentração,
tudo no decorrer de algumas horas.
Achavamos que
nunca mais. Nunca mais o mundo desceria para um lodo tão profundo. Mas em menos
de 100 anos, os judeus estão experimentando um ressurgimento do antissemitismo
que está causando arrepios nos últimos sobreviventes daquela era terrível. Portas
de sinagogas estão sendo reforçadas, empresas judaicas atacadas, monumentos
judaicos desfigurados, cemitérios vandalizados. Adultos e crianças têm o
cuidado de não usar nada que possa identificá-los como judeus, e aqueles que o
fazem correm o risco de ataques verbais e até físicos. Isso está acontecendo em
toda a Europa e também nos EUA.
Membros da Antifa, a organização que se diz supostamente antifascista, são
conhecidos por apoiar o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções)
anti-Israel. E na Alemanha, onde o antissemitismo foi suprimido após a
derrota do regime nazista, este ódio está novamente levantando sua cabeça
monstruosa.
Na recente eleição para o governo, o
Partido AfD (Alternativa para a Alemanha) obteve 10,3% dos votos. É um partido
político de direita que se opõe à União Europeia e à imigração,
especialmente a imigração de muçulmanos. Mas, como sabemos, esses sentimentos têm
uma facilidade
enorme para se estenderem
aos judeus.
Sua plataforma nacionalista extremamente popular, fez com que até partidos moderados
normalizassem posições de extrema direita.
Hoje mais do
que nunca, e por causa deste ressurgimento do antissemitismo, a recordação da Noite dos
Cristais, que serviu de
prelúdio ao Holocausto, deve evocar solenidade e reflexão e lembrar a todos nós, o horror único
perpetrado pela Alemanha e seus colaboradores contra o povo judeu.
Mas, em vez de inclinar a cabeça em respeito nesta data, há muitos que preferem banalizar a memória do Holocausto em vez de
dignificá-la.
Apenas nos últimos dias, uma ampla
gama de pessoas em todo o mundo fez comparações ao Holocausto, com um abandono tão revoltante
que beira a pura inanidade.
Este é um insulto não apenas à história, mas especialmente
aos 6 milhões de judeus que foram assassinados. E não podemos permitir que isto
continue.
Tome, por exemplo, nada menos que o Arcebispo de Canterbury,
Justin Welby, cuja família - por parte de pai - é judia. Em uma entrevista à BBC na
conferência de Mudança Climática da ONU em Glasgow, ele insinuou que o
aquecimento global é potencialmente pior do que o genocídio nazista, dizendo
que os líderes que não abordarem as questões ambientais serão vistos pelas futuras
gerações “em termos muito mais fortes do que falamos hoje dos políticos da
década de 1930, dos políticos que ignoraram o que estava acontecendo na Alemanha
nazista”. Além disso, ele
afirmou
que, a mudança climática
"permitirá um genocídio em uma escala infinitamente maior".
Depois que seus comentários provocaram uma tempestade de
indignação, Welby tuitou um pedido de desculpas, observando corretamente que
"nunca é certo fazer comparações com as atrocidades cometidas
pelos nazistas, e que
sentia “muito pela
ofensa causada aos judeus por essas palavras."
Mas isso
levanta a questão: por que ele sentiu a necessidade de fazer referência ao
Holocausto, que não tem nada a ver com as emissões de carbono na sociedade
moderna?
Do outro lado
do oceano, aqui no estado do Kansas, um nível semelhante de insensibilidade foi
exibido quando a memória do Holocausto foi explorada por oponentes de um
mandato de vacina federal nos termos mais vergonhosos.
Falando ao
Comitê de Saúde da legislatura estadual do Kansas, o líder trabalhista Cornell
Beard comparou o tratamento dispensado aos que se negam a tomar a vacina, aos
judeus europeus no século anterior. Beard disse aos legisladores que “basicamente,
estamos dizendo que você que não tomou a vacina, é o judeu moderno”, e que “você
vai usar essa estrela ... e não nos importamos se você reclamar ou não”.
Surpreendentemente,
nenhum dos legisladores presentes se opôs ou protestou contra a comparação. Parece
que as imagens do Holocausto se tornaram uma ferramenta popular nas mãos
daqueles que se opõem à vacinação COVID-19 em todo o mundo.
No sábado
passado, em Melbourne, Austrália, um manifestante contra as inoculações
obrigatórias vestiu uma réplica do uniforme do campo de concentração e ergueu
uma placa dizendo “a história se repete”. E quando foi confrontado por
transeuntes judeus, ele se recusou a recuar.
Naquele mesmo
dia, na cidade de Novara, no noroeste da Itália, manifestantes também vestiram
uniformes de campo de concentração no estilo nazista e alguns até carregavam
números, uma referência direta à forma de como os judeus foram tatuados pelos
alemães nos campos de extermínio.
Na Holanda,
uma rabina reformista chamada Tamara Benima, causou comoção quando disse em um
discurso que, embora aqueles por trás das restrições ao coronavírus tenham boas
intenções, “como judia, o que aconteceu na Alemanha nazista é um aviso para
mim. Todos os que estavam no poder tinham a melhor das intenções. Também quando
eles declararam os judeus um perigo para a 'saúde pública'. Também quando eles
declararam uma guerra contra o 'vírus' daqueles tempos.” O “vírus” sendo os
judeus. Como se isso fosse alguma coisa que chegasse próximo a ser racional, plausível
ou moral.
Não pense que
referências como estas são inócuas. Esse tipo de declarações apenas banalizam, depreciam
e rebaixam o Holocausto, reduzindo-o a uma mera analogia. Uma analogia que está permitindo o ressurgimento do antissemitismo.
E, claro, inevitavelmente,
o obsceno e o absurdo acabam se encontrando, como quando o treinador do Bristol
Rovers, um time de futebol inglês, lamentou o fraco desempenho de seus
jogadores e a perda de um jogo a “um Holocausto, um pesadelo, um absoluto
desastre."
E outra
coisa. Não deveria ser necessário dizer, mas, aparentemente, é preciso: o
Holocausto não é um ponto de discussão política. Nunca deveria ser.
Mas é. Como o
foi, quando a revista Isto É publicou em sua capa, uma foto de Bolsonaro como
Hitler com os famigerados penteado e bigodinho onde estava escrito “genocida”.
A manchete: “As práticas abomináveis do mercador da morte”. A desculpa da revista foi que o conteúdo
explicava apenas o relatório da CPI da Covid-19 e a “catástrofe perpetrada pelo
presidente e seus asseclas”.
Não me
importa até que a reportagem elogiasse o presidente Bolsonaro. Como sabemos, uma
imagem vale mil palavras e a conotação da capa foi clara. Bolsonaro não encomendou
o vírus chinês. Hitler encomendou os campos de concentração e de extermínio.
Bolsonaro não proibiu a vacinação. Hitler sancionou usar judeus para
experimentos médicos atrozes. No Brasil tivemos 600 mil mortes, dos quais uma certa
porcentagem não divulgada morreu com o vírus e não pelo vírus. Eram pessoas que
tinham outras doenças graves e pegaram a Covid. Hitler construiu uma verdadeira
indústria da morte que assassinou 6 milhões de judeus, homens, mulheres e mais
de um milhão de crianças, incluindo o primo da minha mãe de 9 anos de idade
gaseado junto com sua avó em Auschwitz. Também assassinou meio milhão de Ciganos,
50 mil homossexuais, além de milhares de alemães deficientes que fizeram parte
do programa de eutanásia para eliminar indesejáveis.
Mas em
especial, o Holocausto foi a tentativa sistemática dos alemães e seus colaboradores
de assassinar o povo judeu e apagá-lo da face da terra. Foi o último ato do
mal, a pior atrocidade cometida nos anais da humanidade.
E nem os
políticos, nem a mídia, e nem ativistas têm o direito de invocar sua memória
sagrada em prol de seus interesses políticos.
Portanto, a
todos aqueles que citam caprichosamente o Holocausto, seja em relação às
vacinações COVID, às mudanças climáticas ou ao futebol, eu digo a vocês: parem.
Simplesmente parem.
Não quero
saber de suas boas intenções quando seu objetivo é alcançar algum resultado imediato. Elas não me interessam. Elas não valem nada quando o resultado a longo prazo é a banalização do Holocausto e do que o mundo deveria ter aprendido
com ele. E isso é quase tão ruim quanto negá-lo.
This comment has been removed by a blog administrator.
ReplyDelete