Sunday, December 26, 2021

O Pogrom da Midia - 26/12/2021

 

Há 46 anos, em novembro de 1975, num momento delicado e volátil no Oriente Médio, a ONU adotou a resolução 3379 que equiparou o sionismo ao racismo. Oito anos antes, em 1967, os árabes haviam sofrido sua pior humilhação depois de terem perdido a guerra em apenas 6 dias. Seis anos depois, em 1973, Israel saia vitoriosa da Guerra de Yom Kippur apesar do alto custo pago em vidas.

Entre 1973 e 1975, os países árabes produtores de petróleo impuseram um embargo na sua exportação aos Estados Unidos e a outras nações que apoiaram Israel. E como sabemos, quando se trata de dinheiro, a coisa muda. Para aplacar os árabes, Yasser Arafat, o terrorista fundador e presidente da OLP, foi convidado para falar perante a Assembleia Geral da ONU aonde, contra todos os protocolos, ele veio armado com sua pistola. Em seu discurso Arafat disse sonhar com um estado democrático aonde judeus e muçulmanos viveriam em igualdade de justiça, fraternidade e aonde, judeus que estivessem “hoje vivendo na palestina” se tornariam cidadãos sem discriminação”.

Claramente, a proposta de Arafat era a de abolir Israel por completo. E apesar de defender esta proposta de genocídio, seu discurso foi muito aplaudido pelos 138 delegados da Assembleia Geral. Não demorou muito para que estes delegados aprovassem a infame resolução 3379 e a Assembleia Geral estabelecesse o Comitê para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino, um corpo permanente de Estados membros dedicados a deslegitimar o estado judeu.

Esta foi sem dúvida a pior resolução adotada pela ONU contra Israel. Resoluções anteriores não deixavam qualquer dúvida que o racismo, como forma de discriminação, precisava ser erradicado. E se o sionismo é racismo, Israel, um membro pleno da ONU, também deveria ser erradicada.

Esta mancha das Nações Unidas sobreviveu por 16 anos. Somente em dezembro de 1991, esta resolução que ia contra todos os princípios da ONU, foi finalmente revogada. A União Soviética que apoiava os árabes estava se desintegrando, o tratado de paz entre Israel e o Egito em 1979 havia aberto caminho para outros tratados de paz. E a derrota do Iraque na Primeira Guerra do Golfo enfraquecera os árabes radicais.

Ao revogar a resolução 3379, a ONU determinava que o sionismo não é uma forma de racismo, uma determinação que não fez em relação a nenhum outro movimento nacional. Só que de 1991 até hoje, os adversários de Israel não cessaram seus ataques na ONU. Em maio deste ano, após os ataques do Hamas a Israel, o Conselho de Direitos Humanos estabeleceu uma Comissão de Inquérito responsável por investigar a "discriminação e repressão sistemáticas com base na identidade nacional, étnica, racial ou religiosa" nas áreas palestinas e dentro de Israel, uma linguagem usada para alegar que Israel é acusada de apartheid. Evidentemente, o termo apartheid pretende reintroduzir a equação sionismo é racismo sob um título diferente.

O problema é que estes atores políticos não teriam conseguido estes avanços sem a parceria da mídia que tem cometido verdadeiros pogroms midiáticos contra os judeus e Israel (nas palavras do Dr. Julio Levit Koldorf da Universidade de Zaragoza e Barcelona). E por quê? Porque colocar o dedo na veia antissemita é lucrativo. Hoje a mídia não tem mais como objetivo informar os fatos.

De acordo com o Dr. Koldorf, a mídia rearranja, recompõe as palavras, as imagens para gerar lucro. E o que mais gera lucro é polêmica e controvérsia. E é por isso que o antissemitismo é promovido e, contrariamente a outras formas de racismo, é raramente retirado das plataformas de mídia social. É só olhar para o oceano de comentários antissemitas que leitores deixam nas publicações que obsessivamente difamam o único estado judeu do planeta. Quando uma multitude de pessoas está pronta a linchar qualquer um que tenha a infelicidade de postar um comentário a favor de Israel ou dos judeus, isto é um pogrom.

E está refletido nos incidentes antissemitas que vemos ocorrer na Europa e nos Estados Unidos. Na semana passada, um destes incidentes ocorreu numa escola primaria em Washington DC, capital dos EUA. Uma professora instruiu os alunos a reconstituir cenas do Holocausto.  Ela teria dito a um estudante judeu para fazer o papel de Adolf Hitler e fingir suicídio. Outro aluno foi instruído a fingir que estava em um trem para um campo de concentração e agir como se estivesse morrendo em uma câmara de gás. Quando os alunos da terceira série perguntaram por que os alemães mataram judeus, ela disse que era “Porque os judeus arruinaram o Natal”, relatou o Washington Post.

Todas estas mentiras e difamações penetraram tão profundamente na psique coletiva que a mídia conseguiu instituir falsas premissas como verdades absolutas nos mais altos órgãos diplomáticos globais. Ela conseguiu estabelecer uma relação ilusória do conflito entre Israel e os palestinos, onde o que é tido como realidade é completamente desconectado dos fatos e da história e sem prestar contas a ninguém.

O pogrom midiático não apenas conseguiu estabelecer no inconsciente coletivo a proposição invertida de que os judeus são invasores, colonialistas e assassinos que vieram para privar o antigo povo palestino de sua terra ancestral; mas parece ter causado uma espécie de amnésia coletiva, onde os vários pogroms árabes cometidos contra judeus antes da declaração do estado de Israel, inclusive o massacre de 1929, as guerras de 1948, 1967, 1973 e as subsequentes intifadas nunca existiram. Uma nova realidade que milagrosamente apagou o objetivo antissemita genocida árabe de eliminar o Estado judeu da face da terra exatamente como Arafat “sonhava”.

Tentem alegar que desde sua criação Israel manteve um sistema político democrático e que os seus cidadãos árabes participam plena e ativamente e são representados na Knesset. Que hoje, nada menos do que o partido da Irmandade Muçulmana faz parte do governo. Qualquer argumento que demonstrar a coexistência entre as comunidades judaica e árabe, atirando por terra a alegação de “apartheid” será violentamente combatido.

É inegável que a causa palestina sempre foi a cola que uniu os árabes para sua fortuna e infortúnio. Mas mesmo com a desintegração do pan-arabismo, o pogrom midiático ainda se recusa em responsabilizar os países árabes pela situação dos palestinos. Quando foram eles, sem dúvida, que os arrastaram para as guerras que se seguiram com Israel, que posteriormente perderam.

Uma vez executada a lobotomia nos consumidores de mídia, os culpados são os judeus e Israel. E é por isso que ouvimos nas mais altas esferas, a distorção histórica que o Estado judeu é o único responsável pela situação dos palestinos.

O dano conceitual perpetrado é tão grande que qualquer iniciativa de hasbarah, de relações públicas a favor de Israel, tentando mostrar que a realidade de fato é outra, soa quase ridícula. Mas isso também é resultado de um erro de cálculo por Israel. A atitude judaica inata para conformidade e apaziguamento e a fórmula do “deixe o louco gritar, que ninguém vai ouvi-lo” foi um desastre estratégico absoluto.

O que fazer então? Qual é a resposta judaica a essa perseguição antissemita de palavras e ideias?

Se realmente quisermos adotar uma estratégia revolucionária para conter o pogrom midiático e suas consequências, chegou a hora de nos defendermos e atacarmos ao mesmo tempo. Uma mudança no discurso que hoje é completamente “reativo” em soluções de comunicação proativas, assertivas e à prova de balas, baseadas em fatos incontroversos; não podemos deixar mentiras e descaracterizações serem publicadas sem contestação porque achamos que “não vai adiantar nada responder ou que é pior se causarmos polêmica. Não é.

Não digo que será fácil. Mas somente tomando uma atitude proativa, conseguiremos mudar a corrente deste novo pogrom aos judeus e ao seu Estado, que ocorre dia a dia através de nossos televisores, computadores e celulares.

 

Sunday, December 19, 2021

A Convenção Falha e Mortífera da Solução de Dois Estados - 19/12/2021


Na quinta-feira passada, quatro estudantes da Yeshivah de Homesh na Samaria entraram no carro no final do dia para voltarem para a casa. Na estrada, seu carro foi crivado por balas matando Yehudah Dimentman de 25 anos, pai de uma bebê de apenas alguns meses.

Os dois terroristas foram apreendidos ontem pelas forças de Israel. Mas a dor causada para a família de Yehuda irá durar muitas décadas especialmente para esta menina que crescerá sem o pai.

Dois outros estudantes ficaram feridos. E isso tudo aconteceu simplesmente porque eram quatro judeus num carro com placas israelenses. Yehudah foi morto somente por ser judeu. A mídia internacional pode não estar interessada em reportar o que está acontecendo, mas Israel está há 72 meses - desde novembro de 2015 - sofrendo constantes ataques terroristas. Este foi apenas o último de Ataques que Mahmoud Abbas, o corrupto, assassino e imbecil líder da Autoridade Palestina, chama de “uma revolta pacífica”.

Tão pacífica que ele paga salários milionários para os perpetradores dos ataques e o preço sobe quanto mais dano, mais mortes causar. Imaginem viver numa sociedade onde você é pago se matar civis inocentes e o pagamento aumenta quanto mais horripilante for a chacina. Esta é a Autoridade Palestina.

Num mundo um pouco mais perfeito, uma entidade como esta seria um pária da comunidade internacional. Mas não neste mundo. A Autoridade Palestina é convidada a fazer parte da união das nações, suas resoluções são votadas todos os anos condenando Israel, países desenvolvidos dão a ela milhões de dólares por ano, e correm para ajudá-la quando Israel decide se defender.

Somente em dezembro tivemos vários esfaqueamentos, inclusive um perpetrado por uma menina de 14 anos. Que tipo de incitação, de propaganda um governo faz para levar uma criança a esfaquear um outro ser humano?

Mas surpreendentemente, o governo Biden, através de seu secretário de estado, o energúmeno Anthony Blinken, está mais preocupado em discutir com Israel a violência perpetrada pelos chamados “colonos”. Sua prioridade está no vandalismo de oliveiras e de manifestações judaicas depois de ataques terroristas. O que incomoda e preocupa Biden e Blinken hoje no Oriente Médio, são estes mesmos colonos descendentes da população original, dos judeus da Judéia e Samaria que lutaram contra os impérios assírio, grego e romano.

Isso é tão absurdo como chamar os índios nativos da América de colonos assentadores.

Os árabes que vieram séculos mais tarde, e em especial no fim do século XIX precisamente por causa da imigração judaica que gerou empregos e oportunidades, hoje são tratados como os habitantes originais, e os judeus, os invasores, os colonos. E por causa desta mentira o conflito não chega a uma resolução.

Para muitos na comunidade internacional, a solução é simples: os palestinos exigem independência e, para alcançar a paz, Israel precisa acabar com a ocupação, derrubar os assentamentos e concordar com o estabelecimento de um estado palestino nas linhas de cessar fogo com a Jordânia, traçadas em 1948. Esta é a fórmula internacionalmente aceita de dois estados que a comunidade internacional promete irá dar um futuro melhor tanto para palestinos como para israelenses e o fazer o ódio arraigado sumir como num passe de mágica.

Mas os israelenses, já calejados, não estão comprando mais esta ideia. Uma pesquisa feita pelo Instituto de Estudos de Segurança Nacional mostra que o apoio entre os judeus israelenses à solução de dois estados está em declínio. Entre 2006 e 2016 esse apoio caiu de 71% para 59%.  No ano passado, o índice estava a menos de 53%. E neste ano, os números irão mostrar pela primeira vez neste século, que apenas uma minoria de judeus israelenses apoia a criação de um estado palestino.

Os dados do Instituto também indicam que a maioria dos judeus israelenses que ainda apoiam a solução de dois estados não acredita que ela acontecerá tão cedo. Isso porque essas ideias já foram experimentadas e, até agora, os resultados estão longe de serem encorajadores.

Uma delas foi o desengajamento de Gaza por Ariel Sharon que continha muitos ingredientes retirados da fórmula internacional e, assim atraiu amplo apoio global. Se Israel encerrasse a ocupação da Faixa, removesse todos os 21 assentamentos de Gaza e recuasse para as linhas de 1948, então, de todas as fronteiras de Israel, o perímetro de Gaza certamente deveria se tornar o mais tranquilo de todos. Na época, Sharon disse que Gaza iria se transformar na Cingapura do Oriente Médio.

Mas as quatro operações militares de Israel em Gaza desde o desengajamento - Chumbo Fundido (2008-09), Pilar de Defesa (2012), Borda Protetora (2014) e Guardiões das Muralhas em maio último - todas contam uma história muito diferente.

Além disso, a sabedoria convencional diria que se o fim da ocupação ocorrida 1967 põe fim ao conflito, como dizem os palestinos, isto quer dizer que antes de 1967, deve ter havido paz. Obviamente, não foi esse o caso.

 

 

Entre maio de 1948, como o nascimento de Israel até 1967, sete exércitos árabes atacaram o estado Judeu, e Yasser Arafat fundou a Fatah em outubro de 1959 e a OLP em 1964 com o objetivo de eliminar Israel.

Ao se concentrar exclusivamente na realidade pós-1967, a comunidade internacional ignora o núcleo essencial do conflito que antecede o controle de Israel sobre a Judeia e Samaria em pelo menos meio século.

Os especialistas em processo de paz Hussein Agha e Robert Malley (ambos simpáticos à causa palestina) escreveram em 2009 que um acordo israelense-palestino exigirá "olhar para além da ocupação; para as questões nascidas em 1948" e apelaram para abordar as causas do conflito, incluindo a “rejeição árabe do recém-nascido estado judeu”.

A relevância de tal abordagem foi demonstrada em um discurso pouco divulgado pelo presidente palestino no último mês de agosto. Falando em Ramallah, Mahmoud Abbas disse que a “narrativa sionista falsifica a verdade e a história, todos os documentos e pesquisas confirmam ser um produto do colonialismo, que planejou e trabalhou para implantar Israel como um corpo estranho a fim de fragmentar esta região e mantê-la fraca."

Nas palavras do líder da Fatah, Israel foi construído na mentira, criada pelo imperialismo, com o objetivo de desmembrar o mundo árabe. Além disso, e ainda surpreendente para muitos, a Autoridade Palestina de Abbas continua a negar o povo judeu e a autenticidade da conexão dos judeus com sua terra natal, rejeitando o próprio conceito de um estado judeu, sejam quais forem as fronteiras.

Em seu famoso discurso na Universidade Bar-Ilan de 2009, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu colocou o reconhecimento palestino de Israel como o Estado-nação do povo judeu como um ingrediente indispensável em qualquer paz futura, argumentando que “a liderança palestina deve se levantar e dizer: 'Basta deste conflito. Reconhecemos o direito do povo judeu a um estado próprio. '”

Claro, Netanyahu foi acusado de deliberadamente criar obstáculos à paz.

Até a ministra das relações exteriores de Israel durante o governo de Ehud Olmert, Tzipi Livni, durante a conferência de paz de Anápolis em 2007, instou a liderança palestina a reconhecer Israel como a casa nacional do povo judeu, vendo isso como um pré-requisito vital em um processo genuíno de reconciliação. Os palestinos se recusaram a fazê-lo.

E aqui está a contradição fundamental: os palestinos exigem que Israel reconheça seu direito à autodeterminação nacional, ao mesmo tempo que se recusam a reconhecer o mesmo direito do povo judeu.

Os palestinos alegam que aceitaram Israel em 1993 como parte dos acordos de Oslo, quando os lados trocaram cartas de reconhecimento mútuo, e isso deveria bastar. Mas reconhecer Israel como um fato não substitui a legitimidade. A Autoridade Palestina, como o Irã, reconhece Israel como um fato, como o câncer é um fato, um câncer que deve ser extirpado.

Em última análise, se o Estado judeu permanece fundamentalmente ilegítimo aos olhos de seus vizinhos palestinos, que tipo de paz eles estão realmente oferecendo a Israel?

Quando os primeiros-ministros israelenses de esquerda Ehud Barak e Ehud Olmert adotaram propostas que lidavam somente com as questões pós-1967 chegando até mesmo a considerar a redivisão de Jerusalém, isso nunca foi suficiente para a liderança palestina. Se o cerne da disputa é 1948 e não 1967, então realmente não importa quão flexível Israel seja nas negociações, sobre fronteiras finais, ou quantos assentamentos ofereçam extirpar. Ao contrário do que o mundo quer que acreditemos, para os palestinos, o verdadeiro problema não é Shiloh, Kyriat Arba ou Ma’aleh Adumim, mas Tel Aviv, Herzeliya e Ra’anana.

Chegou a hora dos líderes mundiais, da ONU, da mídia, reconhecerem que a fórmula de dois estados é uma convenção já testada como falha e não há qualquer sabedoria em continuar dando muro na mesma ponta de faca. Yehudah Dimentman morreu na quinta-feira por causa dela. 

 

Sunday, December 5, 2021

A Futilidade das Negociações com o Irã - 05/12/2021

 

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse na sexta-feira que a última rodada de negociações nucleares com o Irã foi encerrada porque Teerã não está levando a sério o que precisa fazer para voltar a cumprir o acordo nuclear de 2015.

Blinken, avisou que os Estados Unidos não deixarão o Irã arrastar o processo enquanto continua avançando seu programa nuclear, e que Washington buscará outras opções se o caminho diplomático acabar num beco sem saída. Ele só não disse quais seriam estas “outras opções”. De fato, as negociações indiretas entre os EUA e o Irã foram interrompidas quando, na sexta-feira, os europeus expressaram frustração com as demandas do novo governo de linha dura do Irã.

O acordo de 2015 colocou restrições ao programa nuclear do Irã em troca da flexibilização de algumas sanções internacionais. Em 2018, o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos chamando o acordo de falho, e impôs outras sanções econômicas em Teerã. O Irã então começou a violar abertamente os limites de enriquecimento de uranio e outras restrições.

Um alto funcionário dos EUA alertou no sábado que o tempo estava se esgotando para ressuscitar o acordo e que sua viabilidade dependia da rapidez com a qual o Irã estaria acelerando seu programa nuclear. Só que Teerã continuou e continua avançando o enriquecimento para uso militar mesmo durante as negociações, um movimento que fez até mesmo os defensores do acordo questionarem se estas negociações não são uma perda de tempo.

De fato, a Agência de Notícias do Irã, a Fars perguntou ontem qual é o ponto destas negociações. A verdade é que a mídia iraniana sabe que estas conversas não fazem qualquer sentido e parece que só o Ocidente pensa que há uma razão para estas intermináveis sessões em Viena.

O ministro da Defesa, Benny Gantz, e o chefe do Mossad, David Barnea, devem visitar Washington esta semana para discutir o Irã com as autoridades americanas. O primeiro-ministro Naftali Bennett falou com Blinken na quinta-feira sobre as preocupações de Israel com uma retomada do acordo e a suspensão de sanções.

Ontem a administração Biden publicamente concordou com Israel sobre a necessidade de garantir que o Irã não adquira armas nucleares, mesmo que discorde sobre como chegar lá.

Esta sétima rodada de negociações foi a primeira com delegados enviados pelo novo presidente do Irã, o açougueiro de Teerã, Ebrahim Raisi. Os europeus contaram que a delegação iraniana propôs mudanças radicais no texto que já havia sido cuidadosamente negociado em rodadas anteriores, e que disseram, estava 80% concluído.

“Há mais de cinco meses, o Irã interrompeu as negociações”, disseram autoridades da França, Grã-Bretanha e Alemanha em um comunicado. “Desde então, o Irã acelerou seu programa nuclear. E esta semana, o Irã retrocedeu exigindo ‘grandes mudanças’ no texto”.

A postura intransigente do negociador nuclear iraniano Ali Bagheri Kani é que, pelo fato de ter deixado o acordo, é Washington que deveria dar o primeiro passo, levantando todas as sanções impostas inclusive aquelas não relacionadas às atividades nucleares do Irã.

Bagheri Kani disse à Reuters na segunda-feira que os Estados Unidos e seus aliados ocidentais também devem oferecer garantias ao Irã de que nenhuma nova sanção será imposta no futuro. Imaginem a cara de pau. Os negociadores europeus, por seu lado, estão considerando o acordo original como base, ou seja, se o Irã quiser o alívio das sanções, Teerã deve aceitar voltar aos níveis de enriquecimento de urânio impostos pelas restrições do acordo.

As três potências europeias expressaram "decepção e preocupação" com as novas exigências do Irã e este exercício está provando ser uma total futilidade, só dando tempo ao Irã chegar ao ponto de não retorno.

Em uma entrevista neste final de semana, o Diretor Geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Mariano Grossi, disse que o acordo de 2015 limitava o enriquecimento de urânio a 3.6% que é o máximo necessário para uso civil. Hoje, sua agência tem informações de que o Irã estaria enriquecendo urânio a 60% na usina de Fordow. E este enriquecimento só tem um uso: o de ser a ponte para o enriquecimento a 90% e a confecção de uma bomba nuclear. Grossi também confessou que a Agência Internacional de Energia Atômica está trabalhando numa neblina e logo estará completamente cega sobre as atividades nucleares do Irã.

E aí entra Israel.

Israel teme que os Estados Unidos e a Europa se dobrem e concedam um alívio das sanções sem que o Irã retroceda um centímetro em sua busca pela bomba atômica. Isto seria um desastre para Israel já que muitos dos fundos que o Irã tira de sua economia interna que está em frangalhos vai para suportar a Hezbollah no Líbano, sua presença e atividades militares na Síria, armas para os Houtis no Iêmen e exportar sua revolução islâmica xiita ao redor do mundo.

Enquanto o governo Biden pressiona Israel para cessar as ações contra o Irã para chegar num acordo, o Estado judeu está trabalhando freneticamente em todos os campos para deter ou pelo menos atrasar o programa nuclear iraniano.

No meio do ano passado, ocorreram várias explosões incomuns em instalações sensíveis como em complexos de enriquecimento nuclear, fábricas e gasodutos. Pelo menos dois dos incidentes ocorreram em locais ligados aos programas nucleares e de mísseis iranianos. O jornal The New York Times citou na época um “oficial de inteligência do Oriente Médio” que alegou ter sido Israel que plantou uma bomba na instalação nuclear de Natanz, onde o Irã havia retomado o trabalho em centrífugas avançadas.

Em abril deste ano, uma falta de energia causada por uma explosão deliberadamente planejada, atingiu outra vez, a usina nuclear de Natanz, no que as autoridades iranianas chamaram de um ato de sabotagem que sugeriram ter sido executado por Israel.

E na noite de ontem, uma explosão foi ouvida na área de Badroud que fica a 20 km de Natanz, causando uma avalanche de explicações conflitantes dos oficiais iranianos em Teerã. A TV estatal do Irã correu para declarar que a explosão teria sido de um míssil disparado pela defesa aérea iraniana como parte de um exercício militar sobre a cidade de Natanz, depois que residentes locais tomaram a mídia social relatando uma grande explosão. A TV disse que a defesa aérea disparou o míssil para testar uma força de reação rápida sobre Natanz.

O porta-voz do Exército iraniano, Shahin Taqikhani disse à TV que “esses exercícios são realizados em um ambiente totalmente seguro ... e não há motivo para preocupação”. É bem estranho que eles façam exercícios militares em locais tão sensíveis, que dando errado podem causar uma catástrofe nuclear local.

De qualquer forma, vemos que Israel não está sentada de braços cruzados obedecendo fielmente às ordens de Washington. Sem dúvida, o apoio americano à Israel é importantíssimo. Mas Israel amadureceu o suficiente para saber que a tática de Biden, de apaziguar o Irã para que uma guerra não exploda durante sua presidência, isto é, chutar o abacaxi para a frente, poderá colocar o estado judeu em perigo mortal. Esta tática nunca funcionou. Nunca impediu uma guerra.

Muito menos para Israel que está, desde sua criação, numa guerra existencial, lutando por sua própria sobrevivência.