Sunday, April 24, 2011

Prestem Atenção na Síria - 24/04/2011

Como estamos vendo, a situação na Siria está degringolando a cada dia. Na sexta-feira mais de 100 pessoas foram mortas por atiradores de elite do governo. Eles alvejaram familiares e amigos que acompanhavam os funerais de manifestantes mortos em protestos contra o governo.


Só agora o governo de Bashar Assad recebeu uma reprovação oficial do governo americano. Obama chamou o tiroteio nos funerais de escandalosos e acusou a Síria de buscar ajuda do Irã para reprimir a maioria sunita do país. Na noite passada, a polícia invadiu centenas de moradias na capital Damasco prendendo pessoas sob a acusação de se oporem ao governo.

Bashar Assad acha que o povo é idiota. Ele anuncia a remoção da lei de emergência que proibia protestos, somente para substitui-la por outra lei que faz a mesma coisa. E ainda joga a culpa da intranquilidade em Israel, no Mossad, na Al-Jazeera e outros elementos externos. Mas ninguém na Síria acredita mais nisso.

Os jornalistas foram todos expulsos e as notícias que temos vêm de indivíduos que com muita dificuldade, conseguem colocar informações e videos em sites como o Facebook, Twitter e Youtube.

Isto posto, pequenas informações contidas no material vazado pelo Wikileaks deveriam preocupar israelenses e na verdade, todos no Oriente Médio e no mundo.

Há uma semana atrás, foi publicada uma pequena nota no Jerusalem Post que dizia que em 2007 a Síria havia apontado para Israel mísseis de longo alcance com ogivas carregadas de armas químicas, depois da destruição de um de seus reatores nucleares. E mais nada. Como se esta informação não tivesse qualquer significado.

Outra informação vazada pelo Wikileaks foi a estimativa da capacidade militar da Hezbollah pelo Mossad. Nada, nenhum veículo de mídia pareceu se interessar no dantesco número de mísseis de curto e longo alcance armazenados no sul do Líbano.

De acordo com estes documentos, membros da inteligência americana e israelense se encontraram em novembro de 2009 e suas conclusões foram publicadas em quatro documentos separados enviados da embaixada americana em Israel para Washington.

Neles está a informação de que o Mossad está convencido que a Hezbollah, apoiada pela Síria e o Irã, num próximo round de hostilidades, estaria determinada a lançar 400 a 600 mísseis por dia em Israel, 100 dos quais em Tel Aviv. Esta guerra, de acordo com as estimativas dos peritos israelenses, poderá durar 2 meses. Isto perfaz entre 24 e 36 mil mísseis, 6 mil dos quais a serem lançados contra Tel Aviv especificamente.

Como o Hamas irá se comportar nesta próxima guerra é uma complicação que não foi discutida nestes documentos e adicionam mais um fator de preocupação. Estas não são especulações ou previsões do final dos tempos que podemos jogar para a pilha de curiosidades. Elas se tornam hoje muito mais relevantes pela fragilidade do governo de Bashar Assad e suas tentativas desesperadas de se manter no poder.

Os documentos vazados consistentemente reafirmam as alegações de que a Síria tem fornecido mísseis balísticos, inclusive Scuds para a Hizbollah. Também há a informação de que a Korea do Norte está contribuindo com o arsenal, fornecendo sistemas de mísseis para a Síria e o Irã, que por sua vez são despachados para o Hamas e a Hizbullah.

A conclusão é que no contexto da Síria, Assad está sentado num arsenal particularmente grande e perigoso. Tanto o pai, Hafez como o filho Bashar Assad sempre mantiveram um nível de contenção que manteve a calma na fronteira entre Israel e a Síria. O que eles fizeram, no entanto, foi transferir a violência para o sul do Líbano e para Gaza depois da evacuação em 2005. Em outras palavras, enquanto o regime de Assad propriamente evitava qualquer confronto com Israel, estava ativamente promovendo a guerra em outros lugares.

É em parte por causa desta capacidade que a Síria tem de criar confrontos que os Estados Unidos talvez tenham se mantido calados sobre a remoção de Bashar Assad do governo. A sabedoria convencional de Washington diz que um governo estável na Síria ajudaria a saída das tropas americanas do Iraque.

Mas se assumirmos por um momento que Assad não irá sobreviver esta onda de protestos, nas mãos de quem irá cair este formidável arsenal de armas e mísseis?

Podemos desacreditar alguns detalhes dos textos vazados pelo Wikileaks, mas no seu todo, está claro e evidente que Assad juntou e controla armas particularmente letais. Para Israel, Assad é um inimigo espertamente vil. O perigo está em ele ser suplantado por inimigos ainda mais vis e menos contidos.

Em outras frentes, o ministro egípcio e Secretário Geral da Liga Árabe, Amr Moussa declarou esta semana que os acordos de Camp David com Israel já não valem nada. Uma ação foi instaurada contra Mubarak sobre o fornecimento de gas natural do Egito para Israel e aqueles que protestaram na praça Tahrir em fevereiro e hoje ousam criticar o governo, estão de volta nas cadeias.

Em relação ao Egito, que se manteve um aliado americano durante mais de 30 anos, Obama correu para criticar Mubarak e exigir sua saída. Com a Síria, há um silêncio que incomoda do presidente americano. Ele não sabe o que faz. Ponto. Para um presidente que jurou tirar as tropas americanas do Oriente Médio, não só ele ainda não saiu do Iraque e do Afganistão, como abriu mais uma frente de batalha com a Líbia, numa guerra não declarada.

O presidente Carter ficou com o título de pior presidente dos Estados Unidos de todos os tempos, mas parece que pode muito bem perder este título para Obama. Não querendo fazer qualquer erro, tendo prometido trazer a paz para o Oriente Médio, ele conseguiu criar um tumulto perigosíssimo perdendo a credibilidade da América no processo.

De todos os protestos para mudança de regime que estão em progresso no Oriente Médio, hoje o da Síria é o que traz mais perigo existencial para Israel. Não há muito que o estado judeu possa fazer sobre a luta interna pelo controle na Síria. Mas é essencial que Israel se prepare para consequencias potencialmente alarmantes e desestabilizadoras. O que nós podemos fazer é no mínimo prestar atenção nas notícias.

Monday, April 18, 2011

Israel Cannot Defend Itself - 17/04/2011

Netanyahu disse a líderes europeus esta semana, que as flotilhas de suposta “ajuda humanitária” para Gaza, marcadas para este próximo mês de maio ou começo de junho, deveriam ser barradas. Netanyahu disse que sabia da provocação a acontecer proximamente, para inflamar também esta parte do Oriente Médio.

No ano passado, o mundo condenou Israel por sua reação contra a tentativa dos navios turcos de furarem o bloqueio. Os turcos denunciaram sua ilegalidade, inumanidade, barbarismo, etc. Os habituais suspeitos como as Nações Unidas, países do Terceiro Mundo e os europeus concordaram. A administração Obama se calou.

O bloqueio não é só racional mas perfeitamente legal. O Hamas, que governa Gaza, é um auto-declarado inimigo de Israel – declaração respaldada por mais de 5 mil mísseis e foguetes lançados contra o território israelense nos ultimos 4 anos. Apesar de ter jurado fazer a guerra até que o estado judeu seja destruido, o Hamas reclama ser vítima do bloqueio imposto por Israel para prevenir que ainda mais armas e mísseis sejam lançadas contra ela.

Na segunda guerra mundial, de modo totalmente dentro do direito internacional, os Estados Unidos bloquearam o Japão e a Alemanha. Durante a crise de mísseis em outubro de 1962, a América bloqueou Cuba. Ainda assim, Israel é acusado de ser um criminoso internacional por fazer exatamente o que o venerado presidente Kennedy fez: impôs um bloqueio naval para impedir que o estado hostil de Cuba adquirisse armas letais da União Soviética.

Mas os navios da flotilha não estavam numa missão humanitária? Absolutamente não. Se assim fosse, eles teriam aceito a oferta de Israel para trazer a carga para um porto israelense para ser inspecionada e depois enviada para Gaza, do mesmo modo que 10 mil toneladas de comida, remédios e outra ajuda humanitária entram todas as semanas em Gaza.

E porque a oferta foi recusada? Porque, conforme reconhecido pela própria organizadora da flotilha, Greta Berlin, seu propósito não era o de trazer ajuda humanitária mas de furar o bloqueio, isto é, acabar com o regime de inspeções, o que significaria a possibilidade de embarques ilimitados para Gaza e o embarque ilimitado de armas para o Hamas.

Israel já interceptou duas vezes navios carregados de armas do Irã para Gaza e uma vez para a Hizbullah. O Karine A, com 50 toneladas de armas foi apreendido em 2002; em 2009 o MV Francop foi apreendido pela marinha isrealense com 320 toneladas de armas para a Hizbullah e mais recentemente, em Março deste ano, o navio Vitoria foi apreendido com outras 50 toneladas de armas para o Hamas. E as armas não são rifles e munição. São mísseis C-704, sistemas de radar, morteiros e bases de lançamento de mísseis.

Que país no mundo aceitaria uma situação destas? Mas até mais importante, porque Israel teve que impor um bloqueio? A resposta é muito simples: porque é a única coisa que Israel pode hoje fazer quando todos os outros meios, mais tradicionais de auto-defesa são sistematicamente deslegitimados pela comunidade internacional – meios ativos e de prevenção.

Defesa Preventiva: Um país minusculo, densamente povoado e cercado por estados hostis, Israel teve, nos seus primeiros 50 anos, que travar guerras no território inimigo (como no Sinai e nos Altos do Golan). Quando possível, Israel trocou território pela paz. Mas quando as ofertas de paz foram recusadas, Israel teve que reter uma porção do território para impor uma zona de proteção. Assim, Israel reteve uma pequena porção do sul do Líbano para proteger o norte do país. E Israel decidiu tomar a difícil decisão de incorrer o risco de perdas de seus soldados, para proteger seus centros de população das infindáveis chuvas de mísseis e foguetes e minimizar as perdas de vida de civis palestinos.

Mas frente à insustentável pressão de fora, Israel levantou os braços. O mundo disse aos isralenses que não só a ocupação era ilegal mas estava na raiz de todas as intifadas e agressões árabes contra ela. E assim, se só Israel se retirasse, se só Israel removesse a causa da agressão, isto traria a paz. Terra por Paz? Lembram?

Durante esta última década Israel deu terra – evacuou o sul do Líbano em 2000 e Gaza em 2005. E o que ela ganhou com isto? Uma intensificação das agressões, pesada militarização do inimigo, multiplos sequestros, ataques do seu lado da fronteira e de Gaza ganhou anos de incessantes ataques de mísseis.

O Egito e a Jordania também ganharam terras de Israel pela paz. Só que como estamos vendo, se os líderes mudam, antigos acordos são ignorados. Do lado egípcio, o governo decidiu suspender a barreira que estava construindo para impedir armas de chegarem ao Hamas e o governo da Jordania, esta semana, mostrou que está fraco demais para confrontar os islamicos radicais. Baixo a ameaça de ataques na capital, o rei Abdallah mandou soltar os líderes do movimento salafista, ligado à Al-Qaida.

Defesa ativa: Israel teve então que mudar de tática. Ela teve que agir militarmente para interromper, desmantelar e vencer os mini-estados terroristas estabelecidos no sul do Líbano e em Gaza depois de ter abandonado o território.

E o resultado? A segunda guerra do Líbano em 2006 e a Operação Chumbo Fundido em 2008 e 2009 em Gaza. Ainda assim, Israel e não os terroristas, sofreram uma avalanche de calúnias e opróbios pela mesma comunidade internacional que havia exigido as retiradas, a “terra pela paz”. Ainda pior, o relatório Goldstone, que essencialmente criminalizou as operações defensivas de Israel em Gaza minimizando a causa dessas operações – a não provocada guerra de mísseis do Hamas – efetivamente tirou o direito de Israel de se defender ativamente contra seus declarados inimigos.

Sem uma defesa preventiva ou ativa, Israel só pode usar a mais passiva e inócua de todas as defesas: um bloqueio para simplesmente impedir o rearmamento do inimigo. Mas, enquanto falo aqui a vocês, este meio também está a caminho de ser criminalizado.

Mas se absolutamente nenhum meio de defesa é permissível, o que resta? Nada, absolutamente nada.

Assim, o objetivo final de toda esta infatigável campanha internacional, é o de retirar de Israel qualquer forma legítima de auto-defesa.

O mundo está cansado destes judeus enervantes. Seis milhões deles – e aí vai este número outra vez – agora não na Europa, mas instalados no Mediterrâneo, que repetidamente recusam os convites para o suicidio nacional.

Para eles, o mundo dá constante atenção e não deixa o pior dos massacres em outras partes do mundo o distrairem. Assim, os judeus continuam a ser demonizados, guetoizados (se existe esta palavra em português) e coagidos a não se defenderem, enquanto os anti-sionistas/antisemitas mais comprometidos como o Irã, abertamente preparam uma solução mais final.

Monday, April 11, 2011

O "Cessar-Fogo" Árabe - 11/4/2011

Reportagens típicas da mídia occidental se referem sempre a um “cessar-fogo” relacionado com o interesse do Hamas de reduzir o nível de hostilidades para com Israel. Apesar de conveniente traduzir tudo da mesma maneira, a falha dos veículos de mídia em diferenciarem entre três termos do árabe, todos descritos como “cessar-fogo”, nega ao leitor um componente chave da estória: os laços que amarram a oferta.

A tradução literal do árabe da palavra “cessar fogo” é Waqf Itlaq Al-Nar. O termo foi usado pela Autoridade Palestina para se referir a uma ação unilateral do Hamas que iria parar de atirar contra Israel. Na quinta-feira, o embaixador palestino nas Nações Unidas Ryadh Mansour disse:

“Até aonde sei, o Hamas e seus aliados declararam um cessar-fogo (Waqf Itlaq Al-Nar) e esperamos que todos os lados o respeitem, assim como Israel”.

No entanto, o próprio Hamas não usou este termo. Em seu lugar, usou um termo árabe mais genérico tahdia, que pode ser traduzido como “calma” – denotando um estado geral mantido por ambos os lados do conflito, em vez de uma ação unilateral de uma das partes.

Abu-Ubaida, um porta-voz das Brigadas Al-Qassam do Hamas disse no sábado à noite que

"Não haverá calma (tahdia) com a entidade Sionista"

Um terceiro termo frequentemente utilizado é hudna. Este termo que tem uma pesada conotação islamica significa um cessar-fogo temporário por um pré-determinado e limitado periodo de tempo que pode ser terminado unilateralmente . Arafat comparou os Acordos de Oslo com a trégua feita pelo profeta Maomé em 628 com a tribo árabe dos Quraish que deveria durar 10 anos. As forças islâmicas usaram a paz para se fortalecerem e depois de apenas dois anos derrotaram a tribo dos Quraish. O paralelo re-enfatiza o fato que Arafat via os Acordos de Oslo não como um compromisso para uma reconciliação permanente entre árabes e israelenses, mas como uma manobra tática temporária.

A história se repetindo ...

Sunday, April 10, 2011

"Palestina" e as Instituições Que Importam - 10/04/2011

Depois do horrendo assassinato da familia Fogel em Itamar na Samária, o Hamas mostrou de novo que não há nada abaixo dos palestinos. Na quinta-feira, eles lançaram um míssel anti-tanque num ônibus escolar. Milagrosamente as crianças haviam todas descido exceto por um menino de 16 anos que ainda está em estado crítico.

Apesar deste ataque ter causado escândalo na mídia israelense e aqui nos Estados Unidos, os palestinos não se comoveram. Somente neste final de semana eles lançaram 120 mísseis e morteiros contra Israel: em Beersheva, Ashkelon, Ashdod, Ofakim, Sderot e outras comunidades que ficam próximas à fronteira com Gaza. 5 israelenses se feriram ao procurarem refúgio. A rede elétrica do Kibbutz Eshkol foi atingida.

Em resposta, Israel efetuou 46 incursões aéreas em Gaza matando 20 terroristas do Hamas. Algumas horas atrás, o Hamas declarou estado de emergência na Faixa e pediu um cessar-fogo apesar de seus mandados não pararem de atirar. Mahmoud Abbas é claro, condenou duramente Israel pelos ataques, chamando-os de “massacres”. A sua mídia continua a laudar assassinos e a jurar a destruição do estado judeu. Organizações de Direitos Humanos emitiram relatórios escandalosos sobre a situação na Judéia e Samária com a oposição sendo presa, torturada, jornalistas e ativistas desaparecidos e assim por diante. Em Gaza então, nem se fala. Seguindo o exemplo de Kadafi, Ismail Hanyah decidiu cair pesado sobre qualquer menção de protesto.

Mas apesar de tudo isto, a mensagem do Fundo Monetário Internacional nesta semana que passou é que os palestinos estão prontos para terem um estado! É o que está escrito num relatório sobre a economia da Cisjordânia e Gaza que será apresentado na semana que vem em Bruxelas.

Pela primeira vez, o Fundo Monetário diz que considera a “Autoridade Palestina apta a conduzir políticas econômicas sadias num futuro estado palestino, dada sua história de reformas sólidas e de instituições nas áreas de finanças públicas e privadas”.

Assim, o Fundo Monetário chegou à mesma conclusão do Banco Mundial que emitiu seu relatório no final do ano passado, dando uma credibilidade ostensiva à campanha da Autoridade Palestina de reconhecimento do estado “Palestina” nas linhas de armistício de 1967, sem o acordo de Israel. Do ponto de vista de Salam Fayad, o primeiro ministro palestino, um economista que trabalhou no Fundo Monetário Internacional, isto é um feito importante.

Mas além do preparo financeiro e econômico que pode ou não ser verdadeiro -pois a Autoridade Palestina conta com bilhões de dólares por ano em ajuda econômica do exterior - estão os palestinos mesmo prontos para um estado? Se a Palestina fosse estabelecida amanhã na Judéia e Samária, que lugar seria?

Vimos alguns indicadores esta semana. Primeiro, o assassinato de Juliano Mer-Khamis, filho de um palestino cristão exilado no Líbano depois da Guerra de 1948 e de mãe judia que teve a família morta no campo de concentração de Buchenvald. Ele havia fundado um teatro em Jenin em 2006 e foi morto por aqueles que se opoem à liberdade artística e ideais democráticos entre os palestinos.

Juliano Mer-Khamis não era nenhum patriota israelense. Mas ele foi morto por ser um homem livre e por encorajar seus irmãos palestinos a se comportarem igual.

Hoje o medo governa as ruas da chamada “Palestina” – não só nas ruas de Gaza do Hamas, mas do louvado Mahmoud Abbas na Judéia e Samária. Esta liderança supostamente moderada da Fatah, está atrás de conseguir um governo de unidade com o Hamas e se ele for alcançado, o resultado com certeza não chegará perto de ser “moderado”.

De acordo com o relatório da organização de direitos humanos Human Rights Watch, também emitido esta semana, a Autoridade Palestina é culpada de uma tremenda supressão da liberdade de imprensa. Jornalistas que trabalham na Judéia e Samária são detidos pela polícia palestina sem justa causa. São agredidos e intimidados. Em um caso, a organização detalhou como um fotógrafo foi preso e mantido em custódia por 24 dias e depois forçado a assinar uma confissão que o incriminava de atividades contra o governo. Um outro jornalista, Khalid Amayreh, disse que foi forçado a dormir num banheiro várias noites, como parte de sua punição por criticar o governo de Mahmoud Abbas na supressão de protestos anti-governo.

O relatório do Human Rights Watch e o assassinato de Mer-Khamis são só dois exemplos do extremismo e da repressão oficial que está acontecendo em uma parte da “Palestina” que deveria ser “moderada”. Os ataques de Gaza são agressões sem provocação da outra parte da “Palestina”.

Uma das lições centrais a ser aprendida da onda de protestos que está cobrindo o Oriente Médio, é que milhões de árabes que viveram todas as suas vidas baixo a regimes repressivos e reacionários, de repente quiseram uma vida melhor para suas familias e uma voz em seu destino. Eles hoje querem as liberdades e liberalidades que existem no ocidente e em Israel. Os levantes no Egito, Tunisia, Líbia e outros lugares, demonstraram também como líderes da Europa e Estados Unidos foram implicados na perpetuação dos regimes de repressão ao apoiarem líderes como Hosni Mubarak, Zine El Abidine Ben Ali e Muamar Kadafi.

A comunidade internacional não pode moralmente impor a criação de um estado palestino antes que as preocupações de segurança de Israel sejam resolvidas, especialmente face a ataques como o de quinta-feira contra o ônibus escolar. Além disso, a comunidade internacional não pode apoiar a criação de um estado palestino antes que as instituições existentes não só suportem uma economia, mas também assegurem a liberdade de imprensa, um sistema judiciário justo e um mínimo de direitos humanos.

Fazer de outro modo será endossar o estabelecimento de mais um regime opressivo e ditatorial na região. Criar tal estado seria uma injustiça com o povo palestino e um perigo enorme para Israel.

Sunday, April 3, 2011

O Mea Culpa de Richard Goldstone - 3/4/2011

O tumulto no Oriente Médio continua. Bashar Assad está hoje na posição que Mubarak estava no começo dos protestos no Egito. E está fazendo os mesmos erros, senão pior. Em seu discurso nesta semana, ele se recusou a falar de reformas e logo em seguida disse que substituiria as leis de emergência vigentes há 40 anos por leis anti-terrorismo que poderão ser até pior. Assad é claro, culpa Israel por este desafio aos seus 11 anos de poder e mais de 40 anos de ditadura de sua familia. Os protestos e as mortes continuam mas ninguém nas Nações Unidas ou em qualquer outra organização mundial está sequer mencionando o assunto.

Na Líbia os Estados Unidos entregaram o comando das operações da OTAN para a França e já anunciaram que não mais tomarão parte nas ações para manter o espaço aéreo do país livre. Mas ao dar esta declaração, Obama simplesmente mandou uma mensagem para Kadafi que se ele se mantiver firme, ele poderá reganhar o controle do país. E é exatamente isto o que está acontecendo. Mais uma vez, Obama ignorou as lições passadas da História. Uma delas é “se você atirar no rei, tem que matar o rei”.

No Yemen a situação também está piorando. Em Bahrain, a situação se estabilizou somente com o cerco dos bairros shiitas da ilha e a intervenção militar da Arabia Saudita.

E o Irã continua, nos bastidores, firmando sua posição hegemônica na região. Uma pesquisa entre os países árabes do Golfo Pérsico mostrou que todos eles, sem exceção, acham que o Irã é uma ameaça muito maior que Israel. Interessante é que a “inteligentsia” que cerca Obama e é defendida pela mídia, continua a cometer os mesmos erros de avaliação e tomar lamentáveis decisões que continuam a alienar os aliados e a fortalecer os inimigos dos Estados Unidos.

Obama continua a pressionar Israel por concessões e congelamentos de construções na Judéia e Samária. Mas não há qualquer pressão para o Irã cessar sua atividade nuclear. Obama decidiu bombardear a Líbia baseado numa nova doutrina que ele chama “a responsabilidade de proteger civis”. Mas esta doutrina parece servir somente para a Líbia do petróleo e não para a Costa do Marfim aonde centenas estão sendo massacrados, ou no Sudão, aonde centenas de milhares foram mortos em Darfur.

Obama condenou Mubarak sobre os direitos humanos no Egito, mas se curva ao rei da Arábia Saudita aonde ninguém pode ter uma Bíblia, mulheres não votam ou dirigem e decapitações ocorrem todas as sextas-feiras por crimes como “bruxaria”. Ou a China que prende dissidentes e obriga mulheres a abortarem seus bebês se elas já tiveram sua quota de filhos. O premier chines é recebido na Casa Branca com tapete vermelho e jantar de gala.

Quem Obama acha que está enganando? Para um presidente que baseou sua campanha eleitoral na oposição às guerras no Iraque e Afganistão, ele hoje está em mais guerras contra países árabes que qualquer presidente na história americana. Com a diferença que hoje os Estados Unidos alienaram e perderam seus maiores aliados na região.

E com tudo isto ocorrendo, o juiz Goldstone veio à público num editorial escrito no Washington Post na sexta-feira, para dizer que se arrepende do relatório que leva seu nome. Goldstone acusou Israel de crimes de guerra e possivelmente de crimes contra a humanidade durante a guerra de Gaza em 2008-2009. Parece que Yom Kippur veio cedo para Richard Goldstone.

Apesar do tom de arrependimento deste surpreendente artigo, ele ainda diz que a culpa foi de Israel por não ter colaborado com sua equipe. Mas ele disse que hoje sabe que Israel não alvejou civis de propósito. Netanyahu ontem à noite falou que este relatório deve ser jogado no lixo da história.

Goldstone disse logo no primeiro parágrafo do seu editorial que se ele soubesse na época, o que ele sabe hoje, o relatório teria sido diferente. Como é trágico que um juiz reconhecido como Richard Goldstone tenha perdido sua bússola moral e produzido um documento que causou um dano tão irreversível para Israel. Trágico para o nome dele mas mais trágico ainda para as forças armadas que colocaram suas vidas em perigo para defender seus cidadãos de modo honrável contra o governo assassino e terrorista de Gaza.

E a desculpa esfarrapada que tudo isto foi causado pela falta de cooperação de Israel? Goldstone sabe muito bem que Israel não podia cooperar com esta investigação que havia sido formulada desde o princípio pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas com a clara intenção de sujar o nome de Israel, legitimar seus inimigos e reduzir sua capacidade de defesa em conflitos futuros. A cooperação de Israel somente daria mais credibilidade à parcialidade do Conselho.

Mas mesmo sem a cooperação de Israel, a verdade sobre o que ocorreu no campo de batalha – a verdade que ele diz que não conhecia – estava disponível para ele na época. Israel forneceu à Goldstone de modo informal, relatórios sobre suas ações e as informações públicas em jornais, revistas, televisão, nunca deixou qualquer dúvida que o Hamas havia provocado a guerra e que estava usando escudos humanos para aumentar a morte de civis. Estas mesmas fontes publicaram os esforços sobrehumanos que o exército de Israel estava fazendo – muito além que qualquer outro exército no mundo – para evitar a morte de civis.

Só agora, 18 meses depois de submeter acusações incendiárias contra Israel, seguidas de várias entrevistas para justificar suas conclusões é que Goldstone retorna com um mea culpa, procurando desfazer o mal causado. Como dizem os rabinos, é como tentar colocar de volta as penas do travesseiro que se rasgou ao vento.

Seria risível, se não fosse tão trágico, que só agora Goldstone reconheça que as alegações contra Israel foram baseadas em mortes e ferimentos de civis para os quais não havia prova. De fato, a única conclusão racional para uma investigação honesta – dadas as provas disponíveis na época, a história de comportamento do Hamas e a tradição moral do exército israelense – é que Israel não agiu para propositalmente alvejar e matar civis palestinos. Mas a investigação de Goldstone não foi honesta.

Infelizmente, esta tardia “reconsideração” de Goldstone não trará publicidade suficiente ou causará qualquer impacto no relatório original que contém as acusações falsas contra Israel. Governos, incluindo aqueles que se dizem amigos de Israel mas que não votaram contra o relatório – não irão correr para pedirem desculpas ao governo ou aos soldados de Israel. Eles não reconsiderarão suas políticas. E não irão expressar confiança na capacidade de Israel de investigar internamente alegações contra seu exército.

Os governantes e as ONGs que usaram o relatório Goldstone como sua “prova” para castigar Israel, não irão agora se voltar e criticar o Hamas. Eles não irão condenar a Autoridade Palestina por usar o relatório como desculpa para a declaração unilateral do seu estado.

Eles não irão exigir que Mahmoud Abbas abandone seus esforços de negociar um governo de unidade com o Hamas, um grupo terrorista que objetiva abertamente a destruição de Israel e como escreveu Goldstone na sexta-feira, “proposital e indiscriminadamente” alveja civis israelenses. A culpa de Israel foi “estabelecida” há muito tempo atrás. E não importa que o homem que certificou esta culpa, queira hoje corrigir esta grande mentira que ele ajudou a cimentar. Tarde demais.

Tarde demais também para as organizações de mídia que enfatizaram em suas primeiras páginas as alegações sem fundamento de crimes de guerra cometidos por Israel. Elas não irão dar qualquer espaço para esta retratação tardia. Ficaria surpresa se víssemos os maiores jornais do mundo seguirem o exemplo de Goldstone e se retratarem das reportagens e análises que declararam Israel um pária da humanidade.

Hoje Goldstone escreve que ele tinha esperança de que “a investigação de Israel sobre o conflito em Gaza iria iniciar uma nova era de equilíbrio no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas – que até então tinha uma parcialidade indubitável contra Israel”. Dada esta história de parcialidade no Conselho, porque será que o juiz concordou em liderar este trabalho sujo com um efeito tão devastador?

Sua investigação teve um efeito tóxico em todos os campos - nos fórums diplomáticos e legais, na mídia, nas universidades e no discurso público mundial. Ele envenenou o nome de Israel. E no campo de batalha, ele prestou uma ajuda imensa aos inimigos do estado judeu, encorajando-os a acreditar que podiam matar israelenses não só com impunidade mas com simpatia e apoio internacional. Goldstone declarou Israel um inimigo imoral, colocando a vida de seus cidadãos em perigo.

Sabe o que? Uma desculpa destas não é suficiente. Ele deve para Israel, no mínimo, daqui para a frente, até o fim de seus dias, trabalhar incessantemente para tentar desfazer o dano que ele causou.

É... Yom Kippur chegou cedo para Richard Goldstone, mas sua demonstração de penitência veio muito tarde demais.