Sunday, February 17, 2013

A Responsabilidade da Mídia e o Prisioneiro X - 17/02/2002


Esta semana foi cheia de acontecimentos no mundo. Além do Carnaval no Brasil, o Papa inconcivelmente resignou, um ato que vai contra tudo o que a Igreja acredita. O líder da oposição na Tunisia foi assassinado mergulhando o país outra vez no caos. Ahmadinejad foi recebido com todas as honras no Egito mas o Irã deixou claro que não só não irá negociar com os Estados Unidos ou permitir inspeções mas anunciou o aumento do número de centrífugas para enriquecer urânio. Os massacres continuaram na Síria. Além disso, alguns segredos vieram à tona. Numa justiça poética, os países que baniram ou estão para banir o abatimento ritual da carne kosher descobriram que estão consumindo carne de cavalo e burro como se fosse bife.

Mas o que monopolizou as manchetes ao redor do mundo foi um segredo guardado por Israel sobre um dos seus agentes. Eu não sei sobre vocês, mas eu fico muito mais tranquila sabendo que o Mossad está trabalhando para impedir que o Irã se torne uma potência nuclear, que a Hezbollah adquira as armas químicas da Síria e que aonde houver judeus no mundo haverá um olho atento.

Em 2010, o prisioneiro X, como ele próprio quis ser chamado, se suicidou na prisão Ayalon em Ramle. Ben Zygier era o seu nome e sua estória foi tanto um escândalo como uma tragédia.

Foi uma tragédia porque Zygier era um jovem australiano sionista que aos 19 anos fez Alyiah, serviu o exército e depois foi trabalhar para o Mossad. Pelo que foi divulgado pela televisão australiana, Zygier esteve em lugares como o Irã, a Síria, Líbano e Jordânia.

Alguma coisa saiu errado e ele foi preso em Israel. Não se sabe se ele cometeu traição, se ele estava prestes a faze-lo ou se foi algo completamente diverso. O que se sabe é que ele teve dois advogados que o representaram até a Suprema Corte de Israel, que ele recusou fazer um acordo com a promotoria e que o governo da Australia foi notificado que um cidadão seu estava preso em Israel. Também sabemos que para proteger sua esposa e filhas em Israel e seus pais na Australia, ele concordara em ser referido através de um pseudônimo.

É também importante saber que depois de sua morte, nem a familia, nem os advogados processaram o Estado por negligência, como é comum em casos de suicidio em prisões.

A pergunta é porque só agora ficamos sabendo dele? Vamos lembrar que não é sempre que a mídia age altruisticamente ou somente para defender o direito do público de “saber”. A grande maioria procura o escândalo para ganhar prêmios e reconhecimento.

É claro que há a liberdade de imprensa e que a transparência ajuda a melhorar a sociedade e os governos. Nenhum de nós deve aceitar tacitamente que numa democracia do século XXI alguém possa ser preso, morrer na prisão e desaparecer da face da terra sem ninguém saber a respeito.   

Mas o que estamos vendo são membros da oposição de Israel e da mídia mais interessados em atacar o governo e a promover sua agenda política do que pedir medidas para impedir que outros casos como este ocorram no futuro.

Nesta era em que vivemos com tantas ameaças, a guerra contra o terror e contra estados que o patrocinam, a imprensa deve agir responsavelmente medindo as consequencias que uma notícia desta pode causar. 

Certamente deve haver um tremendo montante de informações que, se vierem à tona, podem causar muito dano a Israel e a seus aliados, incluindo os Estados Unidos. Israel tem uma lei de censura precisamente para não deixar que informações que possam ser prejudiciais à sua segurança nacional venham a público.

Todo jornalista deve questionar qual contribuição a informação que ele quer noticiar trará para a sociedade. Esta notícia já destruiu a família. Zygier deixou uma esposa e duas filhas pequenas em Israel que terão seu nome manchado para sempre tenha ele feito algo ou não. Questões de negligência serão levantadas contra o Estado sobre sua supervisão do prisioneiro.

Quando se trata de Israel, sabemos que a intenção da mídia é quase sempre causar dano ao estado judeu.

Para que Israel e outros governos ocidentais sejam efetivos em defenderem seus países e cidadãos muito trabalho deve ser feito longe dos olhos públicos. O segredo é um dos pilares da guerra contra o terrorismo sejam os ataques de drones americanos contra a Al-Qaida, operações contra as usinas e cientistas do Irã, ou a eliminação de líderes terroristas como Imad Mughniyah e Mahmoud Al-Mabhouh.

O mesmo se aplica ao prisioneiro X. Julgando os fatos, houve perigo para a segurança de Israel e suas ações podem ter tido ramificações para operações futuras.

A mídia israelense disse que a revelação dos movimentos de Zygier no Irã, Síria e Líbano pode ter causado consequencias muito significativas para o trabalho que Israel está fazendo nestes países. As autoridades locais estão provavelmente checando todos que o acompanharam ou tiveram contato com ele. O potencial de dano para a segurança de Israel é tão real que a própria Suprema Corte, defensora máxima da liberdade de expressão, se convenceu que uma ordem de silêncio era necessária neste caso provavelmente para proteger a vida de outros agentes e informantes.

Como disse, ninguém deve aceitar que um homem seja preso, morra na cadeia e desapareça sem que tomemos conhecimento. Mas precisamos lembrar que quando uma democracia age de modo aparentemente não-democrático, esta decisão não é tomada leviana ou arbitrariamente.

É simplesmente o preço que sociedades como Israel, os Estados Unidos e outras democracias têm que pagar para serem vitoriosos em sua eterna guerra contra o terrorismo.


Sunday, February 10, 2013

A Europa e a Hezbollah - 10/02/2013


O comportamento da Europa é além da compreensão. Como continuamente se recusa a ver o óbvio e como até interesses políticos mínimos se sobrepujam à verdade – sem qualquer vergonha. E enfim, quando um de seus membros não tem outra escolha a não ser falar a verdade, é criticado e ostracizado.

Este é o caso da Bulgaria. Na semana passada seu ministro do interior Tsvetan Tsvetanov colocou a culpa do ataque terrorista contra um ônibus de turistas em Burgas em julho do ano passado inteiramente sobre a Hezbollah.

A investigação e a distribuição das conclusões finais do ataque que matou cinco israelenses e o motorista búlgaro têm inundado o noticiário do país nos últimos dias.

Assen Agov, um parlamentar búlgaro declarou que “já que pessoas morreram em solo Europeu, a Hezbollah deve ser declarada uma organização terrorista”.

Imediatamente após a publicação dos resultados da investigação, os veículos de mídia social foram inundados com declarações anti-semitas e anti-Estados Unidos, acusando o governo de Sofia de se curvar ao lobby judaico e à pressão americana.

Há anos que Israel vem pedindo à União Européia para designar a Hezbollah como  grupo terrorista e com isso tornar ilegal o envio de milhões de euros que o grupo consegue angariar na Europa todos os anos.

Desde 2005 a Hezbollah está incluida na lista de grupos terroristas dos Estados Unidos. O novo secretário de estado americano John Kerry disse que agora que evidências esmagadoras mostram o envolvimento do grupo neste ataque terrorista, “a Europa deve enviar uma mensagem clara que a Hezbollah não poderá continuar suas ações desprezíveis sem impunidade”.

O conselheiro sênior em contra-terrorismo de Obama, John Brennan, também disse que a Europa deve agir contra a infraestrutura financeira da Hezbollah para evitar ataques futuros.

E qual foi a resposta da Europa a todo este furor? A chefe da política exterior da União Européia, Catherine Ashton, declarou que é preciso “meditar sobre o resultado da investigação”! Bem profundo.

A realidade é que a Europa não dá a mínima para a longa lista de atrocidades e crimes perpetrados pela Hezbollah, inclusive os mais recentes massacres da oposição e de civis na Síria.

E aí tem o que chamamos de “spin”, a distorção da verdade. Quando questionado, o chefe do contra-terrorismo europeu Gilles de Kerchove disse que primeiro era preciso provar o envolvimento do “braço armado” da Hezbollah e depois a Europa precisava decidir se colocar o grupo na lista de terroristas era “a coisa mais certa” a ser feita. É óbvio que a Europa não está pronta a deixar que fatos interfiram com suas opiniões.

Será que alguém acredita que só porque a Hezbollah tem alguns assentos no parlamento do Líbano, que o seu “braço armado” e seu “braço político” estão em planetas diferentes? Isto foi exatamente o que disse o presidente da Bnei Brit Internacional numa coluna no EUObserver. Daniel Mariaschin ainda disse que a Europa criou esta distorção, para defender sua intransigência em incluir a Hezbollah na lista de grupos terroristas.

Parece que absolutamente nada, nem mesmo o assassinato de inocentes em solo europeu, pode causar a mudança de política na Europa.

O recente envolvimento da Hezbollah na Síria, mostra que ela não é só uma força paramilitar no Líbano mas uma força mercenária que usa seus membros para assegurar a manutenção de Assad no poder e no processo assumir o controle das armas de destruição em massa da Síria.

O próprio vice de Nasrallah, Naim Qassem, rejeitou esta noção quando a Inglaterra decidiu designar o “braço armado” da Hezbollah como grupo terrorista. Em 2009 numa entrevista ao LA Times ele deixou claro que “é a mesma liderança que gerencia o trabalho parlamentar e governamental e que direciona as ações do jihad em sua guerra contra Israel”.

E mesmo assim, a Europa continua a ver a Hezbollah somente como um movimento social do Líbano, parte da estrutura política e social do país e não o que realmente é: o braço terrorista do Irã.

Pior ainda, apesar de várias instituições de “caridade” para as quais a Hezbollah angaria fundos terem sido desmascaradas como fachadas para unidades terroristas, a Europa continua a dizer que o dinheiro é marcado para projetos educacionais e sociais no Líbano. E quem controla isso?

O paradoxo é que enquanto a Europa diz estar fazendo de tudo para impedir o comércio com o Irã e punir membros do governo sírio, ela incentiva a Hezbollah a propagar sua ideologia, a angariar fundos e de participar em transações que ajudam o Irã a evitar os efeitos das sanções.  

A verdade é que não existem duas Hezbollahs. É uma organização com uma liderança. E a Europa deveria se envergonhar em permitir que um grupo terrorista tão letal opere em seu território.

O continente europeu, saturado do sangue dos inocentes parece estar imune às mortes de Burgas. Os europeus insensíveis. É impensável que mesmo um ataque em seu solo não seja suficiente para a Europa fazer o que é certo. O assustador, é pensar o que o seria.


Monday, February 4, 2013

Ataques de Israel à Síria - 03/02/2013


Nesta semana foi noticiado que Israel teria conduzido ataques aéreos contra vários alvos na Síria, um deles, um laboratório de pesquisas de armas químicas num subúrbio de Damasco e outro um comboio que transportava mísseis russos. 

Apesar de se manter calada sobre os ataques, e as forças da ONU estacionadas no sul da Síria negarem terem visto qualquer atividade aérea no local, Israel foi severamente ameaçada pelo Irã que disse que esta invasão do espaço aéreo sírio teria graves consequencias para Tel Aviv.

Uma explosão misteriosa numa cidade remota na fronteira entre a Síria e o Líbano não é uma razão aceitável para ameaçar Tel Aviv. O equivalente a Tel Aviv é Teherã.

O Irã é o pivô da violenta campanha empreendida pelo Hamas e a Hezbollah contra Israel. Em circunstâncias normais, uma ameaça da Síria ou mesmo do Irã seria o suficiente ou até o lançamento de um míssil simbólico do Líbano contra uma área aberta na Galiléia encerraria a questão. Mas na atual situação, isso não é o óbvio.

O maior problema de Israel hoje é a transferência de armas avançadas para a Hezbollah no Líbano. Israel pode até aceitar um míssil isolado mas não o armazenamento de inúmeras armas não- convencionais ou mesmo convencionais de longo alcance na sua fronteira.

Até a Turquia, que chamou Assad de todos os nomes no dicionário após mísseis da Síria terem caído em seu território, exigiu que Assad retaliasse com um ataque a Israel! Voltamos para este conceito medieval que enquanto muçulmanos estiverem se massacrando uns aos outros, está tudo ok, mas se Israel tomar qualquer atitude, é inaceitável. É o Islão contra os infiéis.

Quando é que este povo irá crescer?

Não irá.

Não enquanto o mundo continuar a apadrinhar este tipo de conduta aceitanda-o como politicamente correta. Exatamente como o fez neste final de semana Ban Ki Moon – secretário-geral da ONU que se disse “gravemente preocupado” com esta possível invasão do espaço aéreo sírio por Israel.

Ele não se disse “gravemente preocupado” quando dezenas de corpos de adultos e crianças foram encontrados numa fossa comum em Aleppo na semana passada.

O fato é que mesmo se não houver retaliação, Israel precisa deixar bem claro ao presidente sírio Bashar Al-Assad e ao líder da Hezbollah, Hassan Nasrallah que não tolerará a transferência de armas como mísseis russos SA-17 terra-ar para o Líbano. Isto é uma linha vermelha. Se não, o norte de Israel será atacado diariamente como o sul do país o é com foguetes vindos de Gaza. Isto é uma receita para uma guerra total, que pode ser evitada se líderes como Ban-Ki-Moon usassem somente de um pouco de integridade em sua retórica.

Em seu discurso de despedida do cargo nesta semana, a secretária de Estado americana Hillary Clinton se disse muito preocupada com o nível de envolvimento do Irã na Síria. Quando começávamos a ter um pouco de esperança que iriamos ver algum endurecimento do governo Obama, seu vice, John Biden convidou os mullas para negociações bilaterais! É realmente de enlouquecer.

Isso sem falar nos interrogatórios de confirmação de Chuck Hagel como Secretário de Defesa esta semana que não teve qualquer vergonha em responder repetidamente: não sei!

Não podemos saber porque o Irã e a Síria decidiram transferir este tipo de armas para o Líbano. Talvez por causa da situação instável na Síria ou aproveitaram o momento de transição do governo de Israel.

Sabiamente Israel se tem mantido neutra em relação à guerra civil na Síria. O mesmo não se pode dizer de Teherã. Assad é o elo que liga o Irã e a Hezbollah no Líbano. Ainda, com toda esta guerra interna derramando nos países vizinhos, a Turquia poderia se aproximar de Israel. Por este aspecto, se Assad caisse seria uma vantagem para Israel.

Mas as coisas não são racionais no Oriente Médio. Vimos a retórica vitriólica do presidente turco, enlouquecido por um estado judeu ter atacado um estado muçulmano mesmo um inimigo seu.

Se estas ações de fato ocorreram, foram sem dúvida o último recurso de Israel. E o que forçou Israel a ter chegado a isso, certamente não irá parar por aí. A Síria tem um arsenal enorme de armamento russo sofisticado, armas químicas e biológicas. Se elas caírem nas mãos dos rebeldes ou forem transferidas para o Líbano, a supremacia aérea de israel poderá ficar seriamente comprometida.

O próprio fato do governo sírio ter decidido transferir seu sistema avançado de armas para a Hezbollah pode forçar o exército de Israel a intervir e frustrar mais esta tentativa do Irã de minar suas defesas.

Israel está ansiosa para evitar uma situação em que ela tenha que invocar repetidamente o “último recurso”. Apesar de não terem havido condenações em massa, líderes mundo afora expressaram seu descontentamento com as ações de Israel. Tanto eles como Netanyahu sabem que se houver outros ataques, o risco da guerra escalar é real.

Mas como no caso do bombardeamento da usina nuclear do Iraque em 1981, largamente condenado pela comunidade internacional, Israel precisa às vezes tomar passos que podem resultar num aquecimento das tensões na região. Para Israel não é meramente um jogo político jogado dentro das regras internacionais. Quando se trata de sua sobrevivência Israel tem que fazer suas próprias regras. Ela não tem outra escolha.