Isso
porque – apesar de meses de advertências – a Rússia foi em frente com seu
ataque sem medo das consequências. O mundo, sem aprender com a história,
novamente perdeu seu tempo com o apaziguamento inútil de um líder selvagem que
não dá qualquer valor à vida humana, e que se considera o novo Czar da Rússia.
Até
a semana passada, o ministério das relações exteriores russo negava qualquer
invasão, falando da paranoia do ocidente, afirmando estar apenas fazendo “exercícios”
na fronteira. E o mundo não se moveu.
A coisa
mais extraordinária sobre este ataque à Ucrânia é que foi feito sem sequer um ultimato
ou qualquer razão. As absurdas desculpas que Putin usou dizendo que o ataque
era para defender a Ucrânia da expansão da OTAN ou proteger os ucranianos da “nazificação”
e “genocídio” quando o próprio presidente da Ucrânia é judeu, foram imediatamente
descartadas pelo ocidente.
Mas
o pior é que a Rússia atacou também sem medo de repercussões. Desde o início, a
Europa e os Estados Unidos deixaram claro que não enviariam tropas. A Alemanha
fez um gesto grotesco de enviar mil capacetes para a Ucrânia. Aproveitando a
deixa, em uma transmissão inusitada no primeiro dia da invasão, Putin ameaçou qualquer
um que interferisse. Ele declarou que “quem tentar nos impedir, ou criar
ameaças ao nosso país, ao nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será
imediata. E irá gerar consequências que nunca encontraram em sua história”.
E
vindo de um louco como Putin, esta ameaça deve ser levada a sério. Ele não só
tem um arsenal nuclear imenso, mas tem um exército equipado e treinado.
Em
12 de julho do ano passado, Putin publicou uma tese intitulada “Sobre a Unidade
Histórica dos Russos e Ucranianos”, no qual ele afirma que os russos,
ucranianos e bielorrussos são um só povo, pertencentes à nação russa. Ele nega
a existência da Ucrânia como uma nação independente. Ninguém no Ocidente condenou
esta publicação e outra importante lição histórica foi perdida: tiranos sempre
contam exatamente o que eles pretendem fazer, exatamente como Hitler o fez, com
o Mein Kampf, publicado 14 anos antes dele invadir a Polonia.
E
apesar do inusitado apoio mundial à Ucrânia, há ainda alguns que defendem as
ações de Putin, com argumentos descabidos e mentirosos.
Ouvi
um “professor” dizer que Putin estava justificado já que a OTAN o estava
ameaçando. Isto é uma asneira. A OTAN é um tratado de defesa que diz que um
ataque a um é um ataque a todos. Países precisam pedir para se juntarem à OTAN.
E sim, depois da queda do muro de Berlin, a OTAN, que tinha 16 países, recebeu
outros 14 países, todos saídos da esfera de influência da falecida União
Soviética.
Há
uma razão pela qual estes estados pediram para serem membros da OTAN: porque
eles não querem nunca mais ficar embaixo da bota Russa. A Finlândia e a Suécia
que não são membros da OTAN, vendo o que Putin está fazendo, já pediram para se
unirem à organização. Ao que Putin respondeu que eles iriam pagar caro se o
fizessem. Que direito tem Putin de ditar a países independentes se eles podem
ou não assinar algum tratado? Claramente não é a OTAN que está ameaçando Putin,
mas justamente o contrário.
Outros
afirmam que russos e ucranianos são um mesmo povo. Nem Putin acredita nisso, já
que ele mesmo, como oficial da KGB, sabia do programa que durante décadas
tentou suprimir a língua e cultura ucranianas e de outros países subjugados por
Stalin. E se isso fosse verdade, os ucranianos estariam recebendo seus irmãos russos
de braços abertos e não com coquetéis Molotov.
Putin
é um megalomaníaco que se preparou bem para esta incursão, mas talvez não
calculou bem suas consequências. Ele já está com quase 70 anos e no poder desde
1999. Ele quer entrar para a história como aquele que restaurou a grandeza territorial
da Rússia. Para ele, o maior desastre do Século XX foi o colapso da União
Soviética.
Outra
justificativa que ouvi foi o fato de a Ucrânia ter um grande arsenal nuclear e isso
faz a Rússia se sentir ameaçada. Sim, até 1994 a Ucrânia tinha um arsenal
nuclear. Só que naquele ano, através do Memorando de Budapest, ela concordou em
entregar tudo em troca de “seguranças” de que sua independência, soberania e
fronteiras seriam respeitadas pela Rússia. Mentira. A Rússia invadiu e
anexou a península da Criméia em 2014 e o mundo nada fez. O tom de
arrependimento não poderia ser mais claro na voz do deputado ucraniano Alexey
Goncharenko ao relembrar como seu país desistiu de armas nucleares em troca de
garantias de “segurança” da Rússia.
Agora,
se perceberem, toda vez que os Estados Unidos têm um governo fraco, um governo
democrata mais preocupado com o aquecimento global do que a segurança nacional,
Putin avança.
Com
o final do governo Bush e a eleição certa de Obama, ele invadiu a Georgia em
2008, cometendo crimes de guerra e causando mais de 200 mil pessoas a fugirem de
suas casas. Desde 2005 a Georgia quer se unir à OTAN porque acredita que isso seria
uma garantia de estabilidade pois considera a Rússia uma vizinha perigosa. Em
2019, Sergey Lavrov, o ministro do exterior da Rússia fez uma ameaça velada se
a Georgia fosse aceita como membro, apesar de 77% da população da Georgia ter
votado a favor, no referendo sobre a OTAN.
O
mundo, e o povo da Ucrânia até agora surpreenderam Putin. Ele achou que tudo
duraria 2-3 dias. Estamos no 4º dia e os russos não tomaram nenhuma cidade
importante da Ucrânia. Ele também não calculou a condenação em peso à esta
guerra. Ele achou que o mundo daria de ombros como o fez com a Criméia em 2014.
Isto porque Putin tem na mão hoje a chave da energia da Europa e dos Estados
Unidos.
Esta
verdadeira loucura que é a obsessão com o aquecimento global, fez com que Biden
fechasse todas as fontes de energia dos Estados Unidos. Ele suspendeu a
construção do Oleoduto Keystone em seu primeiro dia como presidente, proibiu a prospecção
privada de petróleo e fechou as minas de carvão. Para fazer face à demanda
americana Biden se ajoelhou para a OPEC e para a Rússia exportarem petróleo e gás
para os Estados Unidos. E então, de autossuficiente e até exportadora de
energia, a América passou a ser dependente da Rússia em menos de um ano. E para
não perder a oportunidade, Biden também autorizou o gasoduto entre a Russia e a
Alemanha (Nord Stream 2). A Europa, principalmente a Alemanha é hoje 90% dependente
de energia da Rússia. E isso deu ímpeto a Putin para realizar suas ambições.
Além
disso, Israel e a Grécia haviam assinado um acordo para construir o gasoduto EastMed,
ligando o campo Leviathan ao Aphrodite para fornecer gás natural para a Europa.
Em janeiro, Biden avisou que não mais apoia a construção do gasoduto, sem nem
mesmo consultar Israel ou a Grécia.
Mas
a conduta de Putin foi tão além dos limites, que mesmo atrelados com a Rússia, o
mundo resolveu impor sanções. Mas Putin já sabia que isso iria acontecer e se
preparou. Desde 2014 ele está trabalhando para separar sua economia dos
sistemas ocidentais. Ele antecipou que a maior sanção, o banimento dos grandes
bancos russos do sistema SWIFT que permite transações e pagamentos internacionais
seria usada pelo ocidente. A Rússia então desenvolveu seu próprio sistema e
junto com o sistema chinês ele pode evadir esta sanção.
Outras
sanções podem causar muito desconforto, mas elas demoram para fazer efeito e
isso não evita as mortes de hoje na Ucrânia. Os ucranianos querem ser ucranianos.
Eles não querem ser russos. E é por isso que estamos esta resistência heróica
do povo ucraniano.
Não
se enganem. A Rússia está aproveitando o governo fraco dos Estados Unidos para
impor uma nova ordem mundial no estilo russo, criada por Moscou. Chegou a hora
de darmos um basta porque nossa indiferença fez com que hoje, não é só a
Rússia, mas outros países nem fingem ter algum pretexto para a guerra, eles
apenas invadem. A Turquia invadiu e etnicamente limpou os curdos de Afrin na
Síria e depois atacou outras partes da Síria com impunidade. Não havia chance
de que os curdos pudessem retaliar.
E
isso acontece de novo e de novo. Há impunidade total. O que vemos são países que
aplicam as “regras” e o “conselho de direitos humanos”, aos outros, mas não a eles
próprios. No meio da crise, um dia antes da invasão, a Rússia abriu a sessão do
Conselho de Segurança da ONU para discutir as violações de Israel. Onde está a
ONU hoje em relação à Ucrânia? Não há direitos humanos sendo aplicados; há
apenas países que escolhem bombardear e depois países e pessoas que são
bombardeados.
O
Ocidente acredita na diplomacia como forma de evitar conflito. Mas as soluções
diplomáticas parecem nunca funcionar. A diplomacia é uma casca vazia; as bombas
passam direto por ela; como vimos na Ucrânia. Embora se fale de uma “ordem
internacional baseada em regras”, nenhuma das regras é aplicada.
Biden
disse há dois anos que enfrentaria a Rússia e prometeu no ano passado que os
EUA estariam “de volta” ao cenário mundial. Ele disse durante sua campanha que
“Vladimir Putin não quer que eu seja presidente. Ele não quer que eu seja nosso
candidato... Se você está se perguntando por que – é porque eu sou a única
pessoa neste campo que já esteve de igual para igual com ele.”
Putin
só atacou porque Biden hoje é o presidente. Isso nunca teria acontecido com Trump.
Kyiv está sob ataque, seu presidente Vladimir Zelensky é o alvo número 1 de
Putin. Vamos protestar, parar de comprar a vodka russa e outros produtos e
mandar uma clara mensagem que desta vez o bully sairá com o rabo entre as
pernas.