Sunday, February 27, 2022

O Sangue da Ucrânia nas Mãos de Putin ... e do Ocidente - 27/02/2022

 

Hoje é o quarto dia da brutal, injusta, expansionista invasão da Ucrânia pela Rússia. E o fracasso das democracias ocidentais em chegar a um consenso sobre como deter Moscou, alguns dias depois da invasão, mostra que a ordem mundial liderada pelos Estados Unidos está se desfazendo.

Isso porque – apesar de meses de advertências – a Rússia foi em frente com seu ataque sem medo das consequências. O mundo, sem aprender com a história, novamente perdeu seu tempo com o apaziguamento inútil de um líder selvagem que não dá qualquer valor à vida humana, e que se considera o novo Czar da Rússia.

Até a semana passada, o ministério das relações exteriores russo negava qualquer invasão, falando da paranoia do ocidente, afirmando estar apenas fazendo “exercícios” na fronteira. E o mundo não se moveu.

A coisa mais extraordinária sobre este ataque à Ucrânia é que foi feito sem sequer um ultimato ou qualquer razão. As absurdas desculpas que Putin usou dizendo que o ataque era para defender a Ucrânia da expansão da OTAN ou proteger os ucranianos da “nazificação” e “genocídio” quando o próprio presidente da Ucrânia é judeu, foram imediatamente descartadas pelo ocidente.

Mas o pior é que a Rússia atacou também sem medo de repercussões. Desde o início, a Europa e os Estados Unidos deixaram claro que não enviariam tropas. A Alemanha fez um gesto grotesco de enviar mil capacetes para a Ucrânia. Aproveitando a deixa, em uma transmissão inusitada no primeiro dia da invasão, Putin ameaçou qualquer um que interferisse. Ele declarou que “quem tentar nos impedir, ou criar ameaças ao nosso país, ao nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata. E irá gerar consequências que nunca encontraram em sua história”.

E vindo de um louco como Putin, esta ameaça deve ser levada a sério. Ele não só tem um arsenal nuclear imenso, mas tem um exército equipado e treinado.

Em 12 de julho do ano passado, Putin publicou uma tese intitulada “Sobre a Unidade Histórica dos Russos e Ucranianos”, no qual ele afirma que os russos, ucranianos e bielorrussos são um só povo, pertencentes à nação russa. Ele nega a existência da Ucrânia como uma nação independente. Ninguém no Ocidente condenou esta publicação e outra importante lição histórica foi perdida: tiranos sempre contam exatamente o que eles pretendem fazer, exatamente como Hitler o fez, com o Mein Kampf, publicado 14 anos antes dele invadir a Polonia.

E apesar do inusitado apoio mundial à Ucrânia, há ainda alguns que defendem as ações de Putin, com argumentos descabidos e mentirosos.

Ouvi um “professor” dizer que Putin estava justificado já que a OTAN o estava ameaçando. Isto é uma asneira. A OTAN é um tratado de defesa que diz que um ataque a um é um ataque a todos. Países precisam pedir para se juntarem à OTAN. E sim, depois da queda do muro de Berlin, a OTAN, que tinha 16 países, recebeu outros 14 países, todos saídos da esfera de influência da falecida União Soviética.

Há uma razão pela qual estes estados pediram para serem membros da OTAN: porque eles não querem nunca mais ficar embaixo da bota Russa. A Finlândia e a Suécia que não são membros da OTAN, vendo o que Putin está fazendo, já pediram para se unirem à organização. Ao que Putin respondeu que eles iriam pagar caro se o fizessem. Que direito tem Putin de ditar a países independentes se eles podem ou não assinar algum tratado? Claramente não é a OTAN que está ameaçando Putin, mas justamente o contrário.  

Outros afirmam que russos e ucranianos são um mesmo povo. Nem Putin acredita nisso, já que ele mesmo, como oficial da KGB, sabia do programa que durante décadas tentou suprimir a língua e cultura ucranianas e de outros países subjugados por Stalin. E se isso fosse verdade, os ucranianos estariam recebendo seus irmãos russos de braços abertos e não com coquetéis Molotov.

Putin é um megalomaníaco que se preparou bem para esta incursão, mas talvez não calculou bem suas consequências. Ele já está com quase 70 anos e no poder desde 1999. Ele quer entrar para a história como aquele que restaurou a grandeza territorial da Rússia. Para ele, o maior desastre do Século XX foi o colapso da União Soviética.

Outra justificativa que ouvi foi o fato de a Ucrânia ter um grande arsenal nuclear e isso faz a Rússia se sentir ameaçada. Sim, até 1994 a Ucrânia tinha um arsenal nuclear. Só que naquele ano, através do Memorando de Budapest, ela concordou em entregar tudo em troca de “seguranças” de que sua independência, soberania e fronteiras seriam respeitadas pela Rússia. Mentira. A Rússia invadiu e anexou a península da Criméia em 2014 e o mundo nada fez. O tom de arrependimento não poderia ser mais claro na voz do deputado ucraniano Alexey Goncharenko ao relembrar como seu país desistiu de armas nucleares em troca de garantias de “segurança” da Rússia.

Agora, se perceberem, toda vez que os Estados Unidos têm um governo fraco, um governo democrata mais preocupado com o aquecimento global do que a segurança nacional, Putin avança.

Com o final do governo Bush e a eleição certa de Obama, ele invadiu a Georgia em 2008, cometendo crimes de guerra e causando mais de 200 mil pessoas a fugirem de suas casas. Desde 2005 a Georgia quer se unir à OTAN porque acredita que isso seria uma garantia de estabilidade pois considera a Rússia uma vizinha perigosa. Em 2019, Sergey Lavrov, o ministro do exterior da Rússia fez uma ameaça velada se a Georgia fosse aceita como membro, apesar de 77% da população da Georgia ter votado a favor, no referendo sobre a OTAN.

O mundo, e o povo da Ucrânia até agora surpreenderam Putin. Ele achou que tudo duraria 2-3 dias. Estamos no 4º dia e os russos não tomaram nenhuma cidade importante da Ucrânia. Ele também não calculou a condenação em peso à esta guerra. Ele achou que o mundo daria de ombros como o fez com a Criméia em 2014. Isto porque Putin tem na mão hoje a chave da energia da Europa e dos Estados Unidos.

Esta verdadeira loucura que é a obsessão com o aquecimento global, fez com que Biden fechasse todas as fontes de energia dos Estados Unidos. Ele suspendeu a construção do Oleoduto Keystone em seu primeiro dia como presidente, proibiu a prospecção privada de petróleo e fechou as minas de carvão. Para fazer face à demanda americana Biden se ajoelhou para a OPEC e para a Rússia exportarem petróleo e gás para os Estados Unidos. E então, de autossuficiente e até exportadora de energia, a América passou a ser dependente da Rússia em menos de um ano. E para não perder a oportunidade, Biden também autorizou o gasoduto entre a Russia e a Alemanha (Nord Stream 2). A Europa, principalmente a Alemanha é hoje 90% dependente de energia da Rússia. E isso deu ímpeto a Putin para realizar suas ambições.

Além disso, Israel e a Grécia haviam assinado um acordo para construir o gasoduto EastMed, ligando o campo Leviathan ao Aphrodite para fornecer gás natural para a Europa. Em janeiro, Biden avisou que não mais apoia a construção do gasoduto, sem nem mesmo consultar Israel ou a Grécia.  

Mas a conduta de Putin foi tão além dos limites, que mesmo atrelados com a Rússia, o mundo resolveu impor sanções. Mas Putin já sabia que isso iria acontecer e se preparou. Desde 2014 ele está trabalhando para separar sua economia dos sistemas ocidentais. Ele antecipou que a maior sanção, o banimento dos grandes bancos russos do sistema SWIFT que permite transações e pagamentos internacionais seria usada pelo ocidente. A Rússia então desenvolveu seu próprio sistema e junto com o sistema chinês ele pode evadir esta sanção.

Outras sanções podem causar muito desconforto, mas elas demoram para fazer efeito e isso não evita as mortes de hoje na Ucrânia. Os ucranianos querem ser ucranianos. Eles não querem ser russos. E é por isso que estamos esta resistência heróica do povo ucraniano.

Não se enganem. A Rússia está aproveitando o governo fraco dos Estados Unidos para impor uma nova ordem mundial no estilo russo, criada por Moscou. Chegou a hora de darmos um basta porque nossa indiferença fez com que hoje, não é só a Rússia, mas outros países nem fingem ter algum pretexto para a guerra, eles apenas invadem. A Turquia invadiu e etnicamente limpou os curdos de Afrin na Síria e depois atacou outras partes da Síria com impunidade. Não havia chance de que os curdos pudessem retaliar.

E isso acontece de novo e de novo. Há impunidade total. O que vemos são países que aplicam as “regras” e o “conselho de direitos humanos”, aos outros, mas não a eles próprios. No meio da crise, um dia antes da invasão, a Rússia abriu a sessão do Conselho de Segurança da ONU para discutir as violações de Israel. Onde está a ONU hoje em relação à Ucrânia? Não há direitos humanos sendo aplicados; há apenas países que escolhem bombardear e depois países e pessoas que são bombardeados.

O Ocidente acredita na diplomacia como forma de evitar conflito. Mas as soluções diplomáticas parecem nunca funcionar. A diplomacia é uma casca vazia; as bombas passam direto por ela; como vimos na Ucrânia. Embora se fale de uma “ordem internacional baseada em regras”, nenhuma das regras é aplicada.

Biden disse há dois anos que enfrentaria a Rússia e prometeu no ano passado que os EUA estariam “de volta” ao cenário mundial. Ele disse durante sua campanha que “Vladimir Putin não quer que eu seja presidente. Ele não quer que eu seja nosso candidato... Se você está se perguntando por que – é porque eu sou a única pessoa neste campo que já esteve de igual para igual com ele.”

Putin só atacou porque Biden hoje é o presidente. Isso nunca teria acontecido com Trump. Kyiv está sob ataque, seu presidente Vladimir Zelensky é o alvo número 1 de Putin. Vamos protestar, parar de comprar a vodka russa e outros produtos e mandar uma clara mensagem que desta vez o bully sairá com o rabo entre as pernas.

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