Sunday, March 27, 2022

A Estratégia da OTAN na Ucrania - 27/03/2022

 

Você sempre pode contar com Joe Biden para fazer uma grande gafe e mandar uma mensagem errada para amigos e inimigos.

Somente nesta semana, em sua viagem à Polonia, e falando com seus aliados na OTAN, foram pelo menos três. Primeiro, ele afirmou que as sanções contra a Rússia nunca tiveram e não têm o objetivo de dissuasão. Alguém tem que enviar o memorando para sua administração, porque da Vice Kamala Harris até os porta-vozes da Casa Branca, do Pentágono e do Departamento de Defesa, a mensagem é exatamente a oposta. As sanções foram impostas para dissuadir a Rússia de continuar com sua investida contra a Ucrânia.

Depois, em seu encontro com as tropas americanas na Polonia, Biden disse aos soldados que eles iriam ver como os Ucranianos estavam lutando e a devastação dos refugiados, insinuando que eles iriam entrar na Ucrânia, algo que a administração americana nega categoricamente. E aí ontem à tarde, Biden terminou seu discurso dizendo que Putin não poderia continuar no poder, efetivamente pedindo uma mudança de governo na Rússia. Imediatamente seus porta-vozes correram para negar, e “explicar” o que o presidente quis dizer.

Esta foi uma declaração chocante de Biden e é sem precedentes na história diplomática entre os Estados Unidos e a Rússia.  

Estas e outras gafes só mostram a fraqueza do governo americano prontificando outros tiranos do mundo a agirem. Nesta semana Kim Jon Un da Coréia do Norte, testou um novo míssil balístico intercontinental que voou 1,100 km, caindo nas águas territoriais do Japão. O míssil voou mais de uma hora sem ser interceptado.

A China está se segurando para não agir em relação a Taiwan, mas as advertências americanas sobre não ajudar a Rússia, foram completamente ignoradas por Beijing. A China está não só adquirindo petróleo, carvão e outras fontes de energia da Rússia, mas está fornecendo drones e assistindo os russos em localizarem os drones ucranianos.

O Irã, por seu lado, e em meio às absurdas negociações em Viena – que tem a Rússia ainda representando os Estados Unidos - para ressuscitar o acordo nuclear, mandou seus capangas no Iêmen, os Houthis, atacarem outra vez a Arabia Saudita. A refinaria e os depósitos de petróleo da Aramco na cidade de Jedda foram alvejados por uma barragem de drones que os deixaram em chamas. Logo os Houthis declararam um cessar-fogo, tentando impedir uma retaliação, clamando a aproximação do mês do Ramadan. Este ataque é um sinal de que o pior ainda está por vir.

Toda esta instabilidade, no entanto, trouxe Israel para a frente da liderança no Oriente Médio. Hoje, o Estado judeu está sediando uma cúpula histórica com ministros de relações exteriores de 4 países árabes e o americano Antony Blinken. Os Emirados Arabes, o Egito, o Marrocos e Bahrain se encontrarão no kibutz Sde Boker para discutirem a situação no mundo e o que fazer com o Irã. Até ontem à noite a Jordânia não tinha respondido ao convite.

O razoável, o racional aqui seria suspender estas negociações dementes com o Irã, por causa do conflito na Ucrânia. Mas não. Ainda ontem, o principal diplomata da UE, Josep Borrell, disse que o Irã e as potências mundiais estão "muito perto" de um acordo sobre a retomada do JCPOA de 2015, que restringiria o programa nuclear de Teerã em troca do levantamento das sanções econômicas.

Entre outras o Irã exige a remoção da designação de organização terrorista dos EUA contra sua Guarda Revolucionária Islâmica. A Guarda Revolucionária do Irã é a pior organização terrorista do mundo hoje, financiando, fornecendo armas e treinamento para nada menos que a Hezbollah, o Hamas e o Jihad Islâmico, as milicias paramilitares do Iraque, o governo da Síria e os insurgentes Houthis no Iêmen. Todos os países que circundam e fazem fronteira com o bloco árabe sunita liderado pela Arabia Saudita.

Um ataque conjunto orquestrado pelo Irã desestabilizaria não só o Oriente Médio, mas o mundo inteiro, cortando o fornecimento de petróleo e deixando Israel completamente vulnerável com o inimigo não a milhares de km mas às suas portas.

E o mesmo acontecerá se Putin ganhar esta guerra infeliz ou se ela se arrastar indefinidamente. A Ucrânia é uma das maiores produtoras de trigo do mundo e o conflito não permite a preparação da terra e a plantação deste ano. Não só o preço da gasolina se tornará impraticável, mas o da farinha, do pão, atingindo as populações mais vulneráveis, mais pobres ao redor do mundo.  

Por outro lado, Putin é um bully irracional que quer ganhar a qualquer custo. Ele não se importa com sanções econômicas ou com o fato de que mais de 450 empresas estrangeiras tenham saído da Rússia. Do alto de sua arrogância, ele achou que tomaria Kyiv em três dias. O mundo também achou isso e esperou. Ninguém contou com a vontade do povo ucraniano. E dado que as armas convencionais da Rússia ainda são limitadas e dadas as consideráveis ​​perdas de soldados, Putin pode recorrer por desespero ao uso de armas nucleares táticas que são a mãe de todas as catástrofes. Este é o pior de todos os cenários possíveis.

O problema é encontrar uma solução razoável para acabar com o conflito. Zelensky já fez algumas concessões como desistir de se juntar à OTAN e de se manter como país neutro. Ele também demonstrou flexibilidade sobre as regiões com populações russas de Donbass. Mas isso não freou Putin. Parece que somente uma completa capitulação seria suficiente para ele. E isso está fora de cogitação hoje para os ucranianos.

Qualquer solução que agrade a Putin não será nem justa nem moralmente correta, mas deve ser ponderada contra a contínua destruição maciça e perda de dezenas, senão centenas, de milhares de vidas. Em contrapartida, ninguém até agora levantou a possibilidade de a Ucrânia ganhar a guerra e hoje, no seu 32º dia, temos que começar a levar isto em consideração. Por que não fornecer tudo o que os ucranianos estão pedindo para se defenderem???

Qualquer guerra, independentemente das causas e circunstâncias, é trágica. E a tragédia aumenta enquanto as potencias do mundo discutem o que fazer em vez de agirem. Mas embora os ucranianos continuem a sofrer inimaginavelmente, o grande perdedor aqui é a Rússia e Putin em particular. O povo russo, que está sofrendo agudamente com as sanções, mais cedo ou mais tarde descobrirá a escala de destruição e morte que Putin infligiu a um vizinho pacífico, que muitos russos acreditam compartilhar a história e cultura. É incompreensível para muitos como seu líder, que tem invocado essa afinidade com a Ucrânia, travaria uma guerra tão impiedosa contra homens, mulheres e crianças inocentes e dizimaria suas cidades em um grau nunca visto desde a Segunda Guerra Mundial. Putin sabe disso; ele pessoalmente está encaixotado e precisa desesperadamente de uma saída que o mundo ainda parece estar tentando encontrar para ele.

Na cúpula entre os chefes de estado da OTAN que ocorreu esta semana, além de um comprometimento em enviar armas e equipamento para a Ucrânia, não houve menção a qualquer tipo de resposta de suas forças armadas ao uso de armas de destruição em massa. Só que isso seria inaceitável e mudaria o cenário mundial. A OTAN não quis arriscar declarar que daria uma resposta rápida, decisiva e dolorosa, o que tornaria a Rússia um estado falido e pária, e ele, Putin, seria pessoalmente acusado de crimes de guerra. Mais uma mostra de fraqueza e falta de estratégia do Ocidente para lidar com a Rússia.

O único resultado deste conflito que podemos ver hoje é o realinhamento de países, precipitando a criação de uma realidade completamente nova, nunca imaginada há apenas um mês.

De qualquer forma, Putin será lembrado como o déspota russo que não apenas falhou em restaurar o sonho do Império Russo, mas também destruiu selvagemente a posição internacional do seu país, da qual ele poderá nunca se recuperar.

O Ocidente deve aprender uma lição convincente com esta guerra horrível e permanecer unido, vigilante, militarmente preparado e tornar-se independente da Rússia. O urso russo ainda estará à espreita, mas não ousará ameaçar o Ocidente sabendo que o aguardará apenas uma derrota humilhante e custosa.

Zelensky teve razão ao dizer que “você pode mediar entre países, mas não entre o bem e o mal”. E todos nós precisamos lembrar que o vilão aqui é Vladimir Putin.

 

 

Sunday, March 20, 2022

O Apaziguamento e Promessas de Terroristas - 20/03/2022

Neville Chamberlain era um homem bom, e quando morreu, Winston Churchill – que substituiu Chamberlain como primeiro-ministro britânico – o elogiou na Câmara dos Comuns. Foi um discurso gracioso que deu voz ao fato de que Chamberlain tinha boas intenções. Mas, como Churchill observou: “Coube a Neville Chamberlain em uma das maiores crises do mundo ser contrariado pelos acontecimentos, ser decepcionado em suas esperanças e ser enganado e ludibriado por um homem perverso”.

O mesmo pode ser dito sobre Joe Biden.

O apaziguamento surge do desejo genuíno de evitar a guerra. Mas, como seu enorme fracasso ficou provado nos anos 30, é impossível confiar na palavra dos tiranos. Hitler era um tirano. Stalin era um tirano. O presidente Xi Jinping da China, que instalou dezenas de campos de concentração que realizam o genocídio dos uigures – enquanto continua a destruição da cultura tibetana e a repressão de Hong Kong – é um tirano. Vladimir Putin é um tirano maligno. O aiatolá Ali Khamenei do Irã tem um longo histórico de caos e ódio – mais um tirano.

O fato de tiranos poderem ser talentosos em suas crueldades não os torna menos malignos ou mais confiáveis ​​– apenas mais perigosos.

Mas Biden com sua visão estreita, não permitirá que os fatos sobre Xi Jinpin, Putin e Khamenei atrapalhem seu novo “acordo” com o Irã, e apesar do Irã ter lançado mísseis em direção à embaixada americana no Curdistão há apenas 2 semanas. Os fanáticos religiosos de Teerã estão ligados a Putin e à agência nuclear estatal russa Rosatom, que tem um contrato para construir outros dois reatores no Irã. Como se um dos maiores de produtores de petróleo e gás natural do mundo precisasse de tantas usinas atômicas para gerar energia. A Rosatom depositará 10 bilhões de dólares nessa parte do “acordo”. Não sabemos qual é a “comissão” de Putin, mas sempre há uma comissão para o tirano.

Xi Jinpin, se recusou a condenar as atrocidades de Putin na Ucrânia. Além disso, se absteve de votar em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando a invasão e ainda pode estar fornecendo armas para os russos apesar das objeções americanas. O trio tem outros parceiros juniores em todo o mundo, como Kim Jong Un na Coreia do Norte e Nicolás Maduro na Venezuela. O que o Ocidente precisa agora, é não os tornar mais fortes.

O iminente “acordo” nuclear com o Irã é incompreensível. Ele nem se refere às atividades do Irã que apoiam o terrorismo em todo o Oriente Médio. O acordo ainda irá provavelmente suspender as sanções ao Irã, removendo as designações terroristas de indivíduos e organizações, inclusive da Guarda Revolucionaria Iraniana, e abrirá caminho para a venda de petróleo iraniano – enchendo o país de petrodólares que irão financiar o desenvolvimento de mísseis balísticos e os grupos terroristas que o Irã apoia em todo o mundo, como o Hamas, a Hezbollah, os Houthis e as milicias iraquianas. Se hoje os tentáculos do Irã podem ser sentidos até na América Latina, o que será depois deste acordo?

Os aliados árabes sunitas como os Emirados e os sauditas veem a América novamente se aproximando do Irã e isso tem um impacto importante. Sem falar de Israel que corre um risco existencial com estes aiatolás lunáticos.

A fraqueza da América é palpável. Biden sinalizou a Putin que a invasão da Ucrânia não seria recebida com uma resposta dura do Ocidente. E isso é o que de fato está acontecendo. Mas a luz verde para Putin foi a saída estabanada, mal planejada e mortífera dos americanos do Afeganistão em agosto do ano passado.  Putin viu aquele fiasco como uma demonstração de covardia e uma indicação de que a América está em declínio.

E não parou por aí. A América chegou a tal ponto de desrespeito próprio, que continua a ter a Rússia, hoje, como sua representante nas tratativas com o Irã. Ninguém acredita que o Irã vai engavetar seu sonho de uma arma nuclear ou cessará repentinamente seu apoio aos grupos terroristas no Oriente Médio. Este acordo trata apenas de chutar a lata rua abaixo – e se Biden e o mundo podem fazer isso agora e não precisam pensar no Irã por algum tempo, que assim seja.

Desde o início da administração de Biden, Israel tem se mantida calada. Ela entendeu que teria que lidar com o Irã sozinha pois Biden quer comprar um Irã sem a bomba nuclear somente até o fim de seu mandato.

Mas na sexta-feira, o primeiro-ministro Naftali Bennett e o ministro das Relações Exteriores Yair Lapid quebraram seu longo silêncio sobre o Irã e advertiram Joe Biden, sobre remover a Guarda Revolucionária Islâmica da lista de organizações terroristas.

“Achamos difícil acreditar que a designação da Guarda Revolucionária como organização terrorista será removida em troca de uma promessa dela não prejudicar a América”, disseram os dois. “A luta contra o terrorismo é global, uma missão compartilhada por todo o mundo.” “Acreditamos que os Estados Unidos não abandonarão seus aliados mais próximos em troca de promessas vazias de terroristas”, eles disseram.

Foi uma declaração forte que mostrou que Israel não perdeu completamente sua voz na luta contra um outro acordo com o Irã e as concessões que estão sendo discutidas, que só fortalecerão a República Islâmica.

Como na época de Netanyahu, Israel tem que mostrar ao mundo que ela não vai ficar parada esperando o Irã obter uma arma nuclear.  Até agora, Benett e Lapid explicaram seu silêncio como uma estratégia de poder trabalhar com os EUA e a Europa depois da assinatura deste acordo inevitável. Esta é a estratégia dos apaziguadores. Os líderes israelenses precisam mostrar seu descontentamento com estas negociações e que nenhum acordo é inevitável.

E há outra razão mais importante.  Uma das lições que aprendemos com a invasão da Ucrânia é que o Ocidente não está disposto a ir muito longe no caso de um conflito com uma potência nuclear. Putin está literalmente destruindo a Ucrânia. Não só alvos militares, mas escolas, hospitais, universidades, áreas residenciais, tudo. Quando Putin fala para a América pular, Biden pergunta, a que altura? Tudo pelo fato da Rússia ter um poderoso arsenal nuclear.

Isso explica o problema exato com o Irã. Se o mundo está mostrando medo de enfrentar o Irã agora, o que fará quando os aiatolás tiverem armas nucleares?

A resposta é óbvia – Nada. E em vez de confrontar o Irã agora – quando está mais fraco e vulnerável – o mundo quer fazer um acordo que tornará quase impossível fazer qualquer coisa.

É por isso que Israel precisa levantar sua voz agora para impedir que esse acordo aconteça, porque no momento em que ele for assinado, o mundo perderá o interesse e qualquer reclamação ou tentativa de Israel de alertar sobre descumprimentos ou que Teerã está minando a estabilidade regional serão vistas como um incômodo. Em outras palavras, o silêncio é um sinal de fraqueza e não de força.

Israel não tem escolha a não ser permanecer – mesmo por conta própria – como a voz da razão durante este processo. Não é para poder dizer depois “nós avisamos”, mas porque precisa, ainda agora, dar o alerta e explicar quais serão as consequências deste famigerado acordo.

Em setembro de 1938 Chamberlain declarou “paz para o nosso tempo” quando retornou à Inglaterra com o fútil “Acordo de Munique”. Um ano depois, o mundo mergulhava em uma guerra cataclísmica. A nova versão do apaziguamento está armando tardiamente a Ucrânia e ao mesmo tempo, dando poder a Putin (e o paga indiretamente) sobre o acordo com o Irã.

A Ucrânia pode perseverar com a nossa ajuda. A China pode ser dissuadida com demonstrações militares e especialmente a expansão da Marinha Americana no Mar do Sul da China. O Irã deve permanecer um pária até que concorde em desmantelar seu programa nuclear, cesse a terceirização do terrorismo com os Houthis, a Hezbollah e o Hamas e concorde em retornar para a comunidade das nações em paz.

O apaziguamento nunca funcionou. Ele não funcionou para Chamberlain. Ele não funcionará com Putin. E não funcionará para Biden com o Irã.


Sunday, March 13, 2022

A Guerra Que Ele Escolheu - 03/13/2022

Hoje estamos no 18º dia desta insana guerra da Rússia contra a Ucrânia. Durante a noite Putin lançou mísseis na base de Yavoriv que fica a apenas 24 km da fronteira com a Polonia e bases da OTAN. Neste ataque até agora 35 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas.

 Isto é uma escalação importante da violência pois se qualquer míssil entrar no território Polonês isso acionaria a cláusula 5 da OTAN, mobilizando todos os países membros contra a Rússia.

Mas a escalação não ficou aí. Vendo a completa falta de vontade do mundo de entrar em um outro conflito, a China ameaçou ontem qualquer nação que ofereça apoio militar a Taiwan prometendo “as piores consequências”. O discurso foi proferido um dia depois que o presidente chinês Xi Jinping se encontrou com representantes da Austrália na tentativa de reparar as relações internacionais. O ministro da Defesa, Peter Dutton, disse que a Austrália fará “o que puder” para impedir a China de agredir Taiwan. O Ministério da Defesa Nacional da China replicou dizendo que “ninguém e nenhuma força” poderia impedir Pequim de submeter Taiwan ao seu controle.

Tem mais. O Irã, sentindo-se colocada de lado, lançou 12 mísseis balísticos em direção à embaixada americana em Erbil, capital do Kurdistão no norte do Iraque. Não houve nenhum morto ou ferido mas os Estados Unidos chamaram o ataque “ultrajante”. Para se livrar das condenações, vejam só, o Irã disse que tinha alvejado bases secretas do Mossad.

As cobras levantam a cabeça quando o facão se distancia.

 Este ataque ocorreu justo quando as negociações para ressuscitar o infame acordo nuclear entre o Irã, o Ocidente e a Rússia foram suspensas. É inimaginável que a América estivesse até esta semana sentada lado a lado com a Rússia negociando com o Irã um acordo ainda pior. Um que daria ao Irã a capacidade de desenvolver a bomba nuclear em 3 anos, mísseis balísticos e encher os cofres para sustentar grupos terroristas ao redor do mundo.

A Rússia tentou usar as negociações com o Irã para obter mais concessões dos EUA em relação às sanções contra ela por causa da Ucrânia. Isso irritou o Irã porque os aiatolás querem alívio das suas sanções o mais rápido possível. E agora estão tomando um chapéu da Rússia no último momento. Mas o Irã também está aprendendo com a Rússia sobre como lidar com o Ocidente, já que  a invasão da Ucrânia até agora só demonstrou que há impunidade. Aonde chegamos?

Ontem à noite, o Presidente Trump num rally na Carolina do Sul, disse que durante sua administração, a mídia e os democratas histericamente gritavam que a personalidade dele iria causar a terceira guerra mundial. Trump corretamente afirmou que foi a personalidade dele que justamente manteve o mundo longe de uma guerra. E ele tem razão. E isso cala aqueles que ainda acreditam na conspiração russa para eleger Trump.  Putin não se mexeu um centímetro quando Trump era presidente. E vejam onde estamos hoje com estes dois incompetentes na Casa Branca.

Se olharmos para a história e suas lições, vemos que a Rússia teve várias vitórias decisivas. A vitória sobre Napoleão, um gênio militar com mais de 700 mil soldados, foi tão improvável que se tornou um marco do nacionalismo russo. Foi ela que inspirou a Abertura 1812 de Pyotr Ilyich Tchaikovsky com suas trombetas, sinos e fogos de canhão. A vitória da Rússia sobre a Alemanha nazista também foi um triunfo monumental. Ambas estas vitórias foram obtidas em guerras defensivas e talvez este seja o ponto em comum entre a resiliência russa e a resiliência ucraniana, ao defenderem seu país.

Mas a Rússia também teve algumas derrotas espetaculares, e algumas delas lembram esta aventura de Putin na Ucrânia.

Em 1853, a Rússia invadiu a Crimeia e as terras otomanas na Moldávia e na Romênia de hoje. Esta guerra e terminou com todas as conquistas russas perdidas junto com cerca de 400.000 soldados, enquanto os exércitos britânicos e franceses acampavam em solo russo. Não só a Rússia não conseguiu realizar seu objetivo de guerra, de ser reconhecida como guardiã dos cristãos do Império Otomano, mas seu exército perdeu o status de que gozava desde 1812, como o mais forte do mundo.

Em 1905, a derrota da Rússia para o Japão foi pior quando a Russia enviou uma frota do Mar Báltico até o Extremo Oriente, onde foi rapidamente destruída pelos japoneses. A derrota, a primeira de europeus pelos asiáticos em sete séculos, chocou o mundo e é vista como um prenúncio da queda da Rússia czarista na década seguinte. Mas a Rússia não desistiu de suas ambições.

Mais desconcertante foi o desempenho da Rússia em sua guerra com a Polônia em 1920. Ela foi desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Polônia e ocupação de Kiev na primavera daquele ano, uma ofensiva que foi seguida por um contra-ataque soviético que empurrou os poloneses de volta para a fronteira. Tudo bem até ai. Mas agora superconfiante e esperando usar o impulso para espalhar a revolução comunista para o oeste, Lenin ordenou a invasão da Polônia, sem consultar seu governo e ignorando o conselho de outro militante Leon Trotsky. 

O Exército Vermelho, então avançou para o oeste, apenas para ser detido fora de Varsóvia e depois empurrado para além de sua fronteira original. Foi uma derrota total, tanto militar quanto politicamente para a Russia.A invasão da Finlândia em novembro de 1939 terminou com a vitória técnica dos russos, quando os bravos finlandeses acabaram se rendendo. Psicologicamente, porém, o poderoso Exército Vermelho foi derrotado, tendo perdido em quatro meses quase 200.000 homens, 1.100 tanques e 684 aviões, enquanto os finlandeses, que não tinham tanques, perderam 25.000 homens e 61 aviões. Foi um desempenho terrível por parte de um exército que enviou um milhão de homens para enfrentar apenas 300.000 finlandeses, 80% dos quais eram reservistas.

Ao contrário do recuo americano do ano passado, o fracasso soviético no Afeganistão refletiu a falência econômica, a decadência social e a morte política de um império moribundo. O medo do poderio militar de Moscou foi quebrado, uma transição mental logo alimentou o sentimento antissoviético no bloco e foi um dos motivos do fim da União Soviética. 

Hoje elementos desses fiascos está ressurgindo à medida que os líderes da Rússia sucumbem novamente ao aventureirismo militar.

Como Lênin quando invadiu a Polônia, Vladimir Putin invadiu a Ucrânia sem consultar ninguém, iludindo-se de que suas tropas seriam bem-vindas, apenas para encontrar uma fúria nacionalista para a qual ele não estava preparado. 

Como Stalin quando atacou a Finlândia, Putin não considerou a capacidade dos ucranianos para lutar e sua prontidão para morrer. Como Brezhnev quando atacou o Afeganistão, Putin não levou em conta suas fraquezas econômicas. Como Nikolai II quando atacou o Japão, Putin não percebeu as limitações de sua força militar. E como Nikolai I quando atacou a Turquia, Putin falhou em avaliar a resposta do mundo exterior.

De maneira mais ampla e mais trágica, Putin não reconhece que as grandes vitórias militares da Rússia foram conquistadas em guerras defensivas. Sua campanha na Ucrania não vai gerar a vontade de lutar no povo russo. De fato, Putin está cortando toda e qualquer informação sobre esta guerra, chegando a criminalizar qualquer um que mostre o que está realmente acontecendo, protestando ou chamando isso de guerra.

Se alguma coisa, os elementos da glória militar da Rússia são agora implantados pela própria Ucrânia que escolheu atacar. Não está claro quanto os ucranianos se prepararam para esta guerra. A julgar por seu fracasso em construir abrigos antiaéreos, eles podem não ter tido uma estratégia preparada. Ainda assim, não importa quando e como nasceu, parece que a Ucrânia agora usa a estratégia que a Rússia usou contra Napoleão.

Napoleão esperava encontrar o exército russo em uma colisão frontal que era sua especialidade. Os russos, no entanto, evitaram tal confronto e, em vez disso, o atraíram para o interior, sobrecarregando seu esforço logístico, e continuamente ferindo suas colunas com ataques de guerrilha.

E é isso que os ucranianos estão fazendo: evitando as batalhas abertas e os combates aéreos para os quais os russos se prepararam. Agora, não importa como essa guerra termine, a Ucrânia demonstrou espírito nacional, desenvoltura militar e sabedoria política suficientes para sugerir que, mesmo para a poderosa Rússia, ela é grande demais para digerir e espinhosa demais para mastigar.

É por isso que há motivos para acreditar que, como os czares de 1853 e 1905, como Lenin em 1920, como Stalin em 1939 e como Brejnev em 1979, Vladimir Putin escolheu travar esta guerra e obterá para a Rússia, novamente outra derrota.

 

 

Sunday, March 6, 2022

Porque Putin Irá Perder a Guerra - 06/03/2022

 

Para pessoas que se importam com a história, para não repetir seus erros, parece ser quase surreal o que está se passando na Ucrânia. Qualquer estudo passageiro dos horrores da Segunda Guerra, ocorrida há meros 77 anos, com suas dezenas de milhões de mortos e as juras de nunca mais, seriam suficientes para dizermos “isso não vai ocorrer outra vez, não durante minha vida, não na Europa”.

Mas aí estamos. Há 11 dias a Rússia invadiu um país perfeitamente soberano, sem qualquer aviso ou provocação, bombardeando indiscriminadamente alvos civis e criando a maior onda de refugiados europeus desde a Segunda Guerra. São já quase um milhão e meio de refugiados. 1/3 deles cruzaram a fronteira da Ucrânia com a Polônia. A maioria são idosos, mulheres e crianças. Eles não sabem para onde irão, quando retornarão e quem encontrarão ao retornar. De uma vida normal, de casa, família, trabalho, planos a concretizar, eles foram empurrados para uma jornada cujo fim é desconhecido.

Os refugiados são recebidos na fronteira por voluntários da Polônia e de outros países europeus, que vêm ajudar, com alimentos, produtos básicos e agasalhos. Israel enviou médicos que operam os únicos hospitais de campo nas fronteiras para atender os feridos e exaustos. Muitos andaram dezenas de quilômetros, num frio gélido, outros descem de ônibus numa temperatura de -4 C e tentam decidir o que fazer, com apenas coisas que conseguiram levar na mão. Mas o fluxo também vem da outra direção. Jovens ucranianos estão vindo de todas as partes do mundo, optando por retornar ao seu país para combater os russos.

Com este avanço na Ucrânia, Putin está marchando para seu túmulo. Ele vai sofrer uma derrota histórica. Ele pode até ganhar todas as batalhas, fazer da Ucrânia uma pilha de escombros, mas ele vai perder a guerra. E talvez, tenha chegado a hora do seu julgamento por tantas atrocidades não só as que ele está cometendo hoje, mas as passadas, cometidas para chegar aonde está.

A mídia e especialistas na Rússia ficam repetindo que Putin está com sua saúde mental afetada, que ele não é mais o Putin de antigamente, que está paranoico, e daí por diante. Mas é só olharmos como se deu a ascensão de Putin para vermos que ele é o mesmo. De fato, não mudou nada.

Putin foi um oficial de inteligência estrangeira da KGB por 16 anos até 1991 quando decidiu entrar na política em São Petersburgo. Em 1996, ele se juntou à administração de Boris Yeltsin quando foi brevemente diretor do Serviço de Segurança Federal. Aí, em agosto de 1999, inesperadamente, Yeltsin escolheu o completamente desconhecido Putin, para ser primeiro-ministro. Em dezembro, Yeltsin resignou como Presidente e apoiou Putin para o cargo. O problema é que Putin não era conhecido pelo povo que naquele momento de transição, via oficiais da KGB com muita suspeita.

Aí aconteceram os bombardeamentos dos edifícios residenciais em Moscou nos quais mais de 300 pessoas morreram. Putin jurou chegar aos responsáveis e culpou os Chechenos. Isso permitiu a Putin invadir a Chechênia e destruir qualquer sonho de independência da região. Com isso, Putin foi eleito em 2000 com 53% dos votos e reeleito em 2004.

No entanto, um ex-agente da KGB, Alexander Litvinenko que fugiu para o ocidente, afirmou que o culpado dos bombardeamentos dos edifícios em Moscou era o Serviço de Segurança Federal russo. Litvinenko foi assassinado em Londres em 2006, por dois agentes russos. Antes de morrer, Litvinenko fez a seguinte declaração: “… esta pode ser a hora de dizer uma ou duas coisas sobre a pessoa responsável pela minha condição atual. Você pode conseguir me silenciar, mas esse silêncio tem um preço. Você se mostrou tão bárbaro e implacável quanto alegaram seus críticos mais hostis. Você mostrou que não tem respeito pela vida, liberdade ou qualquer valor civilizado. Você se mostrou indigno de seu cargo, indigno da confiança de homens e mulheres civilizados. Você pode conseguir silenciar um homem, mas o uivo de protesto de todo o mundo repercutirá, Sr. Putin, em seus ouvidos pelo resto de sua vida. Que Deus o perdoe pelo que fez, não apenas a mim, mas à amada Rússia e seu povo.”

O jornalista que entrevistou Litvinenko no programa Dateline da NBC, Paul Joyal foi baleado 4 dias depois que o programa foi ao ar, e quase morreu. No programa ele disse que “uma mensagem tinha sido enviada para qualquer um que falar contra o Kremlin: “se o fizer, não importa quem você é, onde você está, vamos encontra-lo e vamos silencia-lo – da maneira mais horrível possível”.

O sonho de Putin de reconstruir o império russo, começando com a Ucrânia, se baseia na mentira que ele tentou inculcar aos russos, inclusive a seus soldados, de que a Ucrânia não é uma nação real, que os ucranianos não são um povo real e que os habitantes de Kiyv, Kharkiv e Lviv anseiam pelo governo de Moscou. Isso é uma mentira completa – a Ucrânia é uma nação com mais de mil anos de história, e Kiyv já era uma grande metrópole com mais de 600 anos quando Moscou ainda não era uma vila. Mas Putin, contou essa mentira tantas vezes que aparentemente ele mesmo acredita nela.

Ao planejar sua invasão da Ucrânia, Putin contou com três fatores: o primeiro é que militarmente a Rússia é superior à Ucrânia. O segundo, é que a Otan não iria se intrometer. E o terceiro, é que a dependência europeia do petróleo e do gás russo faria com que países como a Alemanha não imporiam sanções rígidas. Com base nesses fatos conhecidos, seu plano era de tomar a Ucrânia rapidamente, decapitar seu governo, estabelecer um regime fantoche em Kiyv e enfrentar as magras sanções ocidentais para as quais ele já estava preparado.

Mas havia uma grande incógnita sobre esse plano. Como os americanos aprenderam no Iraque e os soviéticos no Afeganistão, é muito mais fácil conquistar um país do que mantê-lo. Obvio que Putin poderia conquistar a Ucrânia. Mas será que o povo ucraniano simplesmente aceitaria o regime fantoche de Moscou? Putin apostou que sim. Afinal, como ele explicou repetidamente a qualquer pessoa disposta a ouvir, a Ucrânia não é uma nação real, e os ucranianos não são um povo real. Na Chechnia, na Georgia, e na Criméia em 2014, não houve resistência aos invasores russos, e mais importante: o mundo calou. Por que agora seria diferente?

A cada dia que passa, fica mais claro que Putin apostou errado. Desta vez, o mundo se levantou indignado. Empresas privadas como Apple, Google, Nike e hoje os cartões de crédito Visa e Mastercard fecharam suas operações na Rússia. Por seu lado, o povo ucraniano está resistindo de todo coração, conquistando a admiração do mundo inteiro – e vencendo a guerra na mídia. Ontem, cidadãos da primeira cidade tomada por Moscou, Kherson, saíram às ruas armados apenas com bandeiras ucranianas para enfrentar os soldados russos.

Sim. Muitos dias sombrios estão por vir. E os russos ainda podem conquistar toda a Ucrânia. Mas para vencer a guerra, os russos teriam que controlá-la, e isso só é possível com o consentimento do povo ucraniano. E isso parece improvável. Cada tanque russo destruído e cada soldado russo morto aumenta a coragem e a resistência dos ucranianos. E cada ucraniano morto aprofunda o ódio aos invasores russos. O ódio é a mais duradoura das emoções. Mas para nações abusadas, o ódio é um tesouro. Enterrado no fundo do coração, ele pode sustentá-las por gerações. Para restabelecer este seu império russo, Putin precisaria de uma vitória relativamente sem derramamento de sangue que levaria a uma ocupação relativamente sem ódio. Ao derramar cada vez mais sangue ucraniano, Putin garante que seu sonho nunca será realizado.

Não será o nome de Mikhail Gorbachev escrito na certidão de óbito do império russo: será o de Putin. Gorbachev deixou russos e ucranianos se sentindo como irmãos; Putin transformou-os em inimigos e garantiu que a nação ucraniana de agora em diante e para sempre, veja a Rússia como inimiga.

Putin não levou em conta que nações são construídas sobre histórias. Cada dia que passa ele está acrescentando mais histórias que os ucranianos contarão não apenas nos dias sombrios que virão, mas nas próximas décadas e gerações. O presidente que recusou a fugir da capital, dizendo aos EUA que não precisa de uma carona, mas de munição; os soldados da Ilha das Cobras que mandaram um navio de guerra russo “ir se ...” vocês entendem; os civis que tentaram parar os tanques russos sentando-se no seu caminho. O ucraniano que pulou sobre um tanque e fincou nele a bandeira ucraniana. Este é o material com os qual as nações são construídas. Elas são mais fortes e duram mais do que tanques.

As histórias da bravura ucraniana dão determinação não apenas aos ucranianos, mas ao mundo inteiro. Elas dão coragem aos governos das nações europeias, ao governo dos EUA e até mesmo aos cidadãos oprimidos da Rússia. Se os ucranianos se atrevem a parar um tanque com as próprias mãos, o governo alemão pode lhes fornecer alguns mísseis antitanque, o governo americano pode cortar a Rússia do Swift, e os cidadãos russos podem protestar contra essa guerra absurda.

Todos podemos nos inspirar a fazer algo, seja uma doação, receber refugiados ou ajudar na luta online. Não se enganem. A guerra na Ucrânia moldará o futuro do mundo inteiro. Se a tirania e a agressão vencerem, todos sofreremos as consequências. Não é mais possível ficar indiferente ou “neutro” por mais duras que sejam as consequências.

Essa guerra poderá durar muito. Talvez anos. Mas a questão mais importante já foi decidida. Os últimos dias provaram ao mundo inteiro que a Ucrânia é uma nação muito real, que os ucranianos são um povo muito real e que definitivamente não querem viver debaixo de um novo império russo. Seu hino nacional, titulado “A Gloria e a Liberdade da Ucrânia Não Morreu” adotado em 1992 na sua independência da União Soviética diz tudo. A principal questão deixada em aberto é quanto tempo levará para que essa mensagem penetre nas grossas paredes do Kremlin e da cabeça de Putin.