Você sempre
pode contar com Joe Biden para fazer uma grande gafe e mandar uma mensagem
errada para amigos e inimigos.
Somente nesta
semana, em sua viagem à Polonia, e falando com seus aliados na OTAN, foram pelo
menos três. Primeiro, ele afirmou que as sanções contra a Rússia nunca tiveram
e não têm o objetivo de dissuasão. Alguém tem que enviar o memorando para sua
administração, porque da Vice Kamala Harris até os porta-vozes da Casa Branca,
do Pentágono e do Departamento de Defesa, a mensagem é exatamente a oposta. As
sanções foram impostas para dissuadir a Rússia de continuar com sua investida contra
a Ucrânia.
Depois, em
seu encontro com as tropas americanas na Polonia, Biden disse aos soldados que
eles iriam ver como os Ucranianos estavam lutando e a devastação dos
refugiados, insinuando que eles iriam entrar na Ucrânia, algo que a administração
americana nega categoricamente. E aí ontem à tarde, Biden terminou seu discurso
dizendo que Putin não poderia continuar no poder, efetivamente pedindo uma
mudança de governo na Rússia. Imediatamente seus porta-vozes correram para
negar, e “explicar” o que o presidente quis dizer.
Esta foi uma
declaração chocante de Biden e é sem precedentes na história diplomática entre
os Estados Unidos e a Rússia.
Estas e
outras gafes só mostram a fraqueza do governo americano prontificando outros
tiranos do mundo a agirem. Nesta semana Kim Jon Un da Coréia do Norte, testou
um novo míssil balístico intercontinental que voou 1,100 km, caindo nas águas territoriais
do Japão. O míssil voou mais de uma hora sem ser interceptado.
A China está
se segurando para não agir em relação a Taiwan, mas as advertências americanas
sobre não ajudar a Rússia, foram completamente ignoradas por Beijing. A China
está não só adquirindo petróleo, carvão e outras fontes de energia da Rússia,
mas está fornecendo drones e assistindo os russos em localizarem os drones
ucranianos.
O Irã, por
seu lado, e em meio às absurdas negociações em Viena – que tem a Rússia ainda representando
os Estados Unidos - para ressuscitar o acordo nuclear, mandou seus capangas no
Iêmen, os Houthis, atacarem outra vez a Arabia Saudita. A refinaria e os depósitos
de petróleo da Aramco na cidade de Jedda foram alvejados por uma barragem de drones
que os deixaram em chamas. Logo os Houthis declararam um cessar-fogo, tentando
impedir uma retaliação, clamando a aproximação do mês do Ramadan. Este ataque é
um sinal de que o pior ainda está por vir.
Toda esta
instabilidade, no entanto, trouxe Israel para a frente da liderança no Oriente
Médio. Hoje, o Estado judeu está sediando uma cúpula histórica com ministros de
relações exteriores de 4 países árabes e o americano Antony Blinken. Os
Emirados Arabes, o Egito, o Marrocos e Bahrain se encontrarão no kibutz Sde
Boker para discutirem a situação no mundo e o que fazer com o Irã. Até ontem à
noite a Jordânia não tinha respondido ao convite.
O razoável, o
racional aqui seria suspender estas negociações dementes com o Irã, por causa
do conflito na Ucrânia. Mas não. Ainda ontem, o principal diplomata da UE,
Josep Borrell, disse que o Irã e as potências mundiais estão "muito
perto" de um acordo sobre a retomada do JCPOA de 2015, que restringiria o
programa nuclear de Teerã em troca do levantamento das sanções econômicas.
Entre outras
o Irã exige a remoção da designação de organização terrorista dos EUA contra
sua Guarda Revolucionária Islâmica. A Guarda Revolucionária do Irã é a pior
organização terrorista do mundo hoje, financiando, fornecendo armas e
treinamento para nada menos que a Hezbollah, o Hamas e o Jihad Islâmico, as milicias
paramilitares do Iraque, o governo da Síria e os insurgentes Houthis no Iêmen.
Todos os países que circundam e fazem fronteira com o bloco árabe sunita liderado
pela Arabia Saudita.
Um ataque
conjunto orquestrado pelo Irã desestabilizaria não só o Oriente Médio, mas o
mundo inteiro, cortando o fornecimento de petróleo e deixando Israel
completamente vulnerável com o inimigo não a milhares de km mas às suas portas.
E o mesmo
acontecerá se Putin ganhar esta guerra infeliz ou se ela se arrastar indefinidamente.
A Ucrânia é uma das maiores produtoras de trigo do mundo e o conflito não
permite a preparação da terra e a plantação deste ano. Não só o preço da gasolina
se tornará impraticável, mas o da farinha, do pão, atingindo as populações mais
vulneráveis, mais pobres ao redor do mundo.
Por outro
lado, Putin é um bully irracional que quer ganhar a qualquer custo. Ele não se
importa com sanções econômicas ou com o fato de que mais de 450 empresas
estrangeiras tenham saído da Rússia. Do alto de sua arrogância, ele achou que
tomaria Kyiv em três dias. O mundo também achou isso e esperou. Ninguém contou
com a vontade do povo ucraniano. E dado que as armas convencionais da Rússia
ainda são limitadas e dadas as consideráveis perdas de soldados, Putin pode
recorrer por desespero ao uso de armas nucleares táticas que são a mãe de todas
as catástrofes. Este é o pior de todos os cenários possíveis.
O problema é
encontrar uma solução razoável para acabar com o conflito. Zelensky já fez
algumas concessões como desistir de se juntar à OTAN e de se manter como país
neutro. Ele também demonstrou flexibilidade sobre as regiões com populações russas
de Donbass. Mas isso não freou Putin. Parece que somente uma completa capitulação
seria suficiente para ele. E isso está fora de cogitação hoje para os
ucranianos.
Qualquer solução
que agrade a Putin não será nem justa nem moralmente correta, mas deve ser
ponderada contra a contínua destruição maciça e perda de dezenas, senão centenas,
de milhares de vidas. Em contrapartida, ninguém até agora levantou a possibilidade
de a Ucrânia ganhar a guerra e hoje, no seu 32º dia, temos que começar a levar
isto em consideração. Por que não fornecer tudo o que os ucranianos estão
pedindo para se defenderem???
Qualquer
guerra, independentemente das causas e circunstâncias, é trágica. E a tragédia
aumenta enquanto as potencias do mundo discutem o que fazer em vez de agirem.
Mas embora os ucranianos continuem a sofrer inimaginavelmente, o grande
perdedor aqui é a Rússia e Putin em particular. O povo russo, que está sofrendo
agudamente com as sanções, mais cedo ou mais tarde descobrirá a escala de
destruição e morte que Putin infligiu a um vizinho pacífico, que muitos russos
acreditam compartilhar a história e cultura. É incompreensível para muitos como
seu líder, que tem invocado essa afinidade com a Ucrânia, travaria uma guerra
tão impiedosa contra homens, mulheres e crianças inocentes e dizimaria suas
cidades em um grau nunca visto desde a Segunda Guerra Mundial. Putin sabe
disso; ele pessoalmente está encaixotado e precisa desesperadamente de uma
saída que o mundo ainda parece estar tentando encontrar para ele.
Na cúpula
entre os chefes de estado da OTAN que ocorreu esta semana, além de um comprometimento
em enviar armas e equipamento para a Ucrânia, não houve menção a qualquer tipo
de resposta de suas forças armadas ao uso de armas de destruição em massa. Só que
isso seria inaceitável e mudaria o cenário mundial. A OTAN não quis arriscar
declarar que daria uma resposta rápida, decisiva e dolorosa, o que tornaria a
Rússia um estado falido e pária, e ele, Putin, seria pessoalmente acusado de
crimes de guerra. Mais uma mostra de fraqueza e falta de estratégia do Ocidente
para lidar com a Rússia.
O único
resultado deste conflito que podemos ver hoje é o realinhamento de países, precipitando
a criação de uma realidade completamente nova, nunca imaginada há apenas um
mês.
De qualquer forma,
Putin será lembrado como o déspota russo que não apenas falhou em restaurar o
sonho do Império Russo, mas também destruiu selvagemente a posição
internacional do seu país, da qual ele poderá nunca se recuperar.
O Ocidente
deve aprender uma lição convincente com esta guerra horrível e permanecer unido,
vigilante, militarmente preparado e tornar-se independente da Rússia. O urso
russo ainda estará à espreita, mas não ousará ameaçar o Ocidente sabendo que o
aguardará apenas uma derrota humilhante e custosa.
Zelensky teve
razão ao dizer que “você pode mediar entre países, mas não entre o bem e o mal”.
E todos nós precisamos lembrar que o vilão aqui é Vladimir Putin.