Sunday, March 20, 2022

O Apaziguamento e Promessas de Terroristas - 20/03/2022

Neville Chamberlain era um homem bom, e quando morreu, Winston Churchill – que substituiu Chamberlain como primeiro-ministro britânico – o elogiou na Câmara dos Comuns. Foi um discurso gracioso que deu voz ao fato de que Chamberlain tinha boas intenções. Mas, como Churchill observou: “Coube a Neville Chamberlain em uma das maiores crises do mundo ser contrariado pelos acontecimentos, ser decepcionado em suas esperanças e ser enganado e ludibriado por um homem perverso”.

O mesmo pode ser dito sobre Joe Biden.

O apaziguamento surge do desejo genuíno de evitar a guerra. Mas, como seu enorme fracasso ficou provado nos anos 30, é impossível confiar na palavra dos tiranos. Hitler era um tirano. Stalin era um tirano. O presidente Xi Jinping da China, que instalou dezenas de campos de concentração que realizam o genocídio dos uigures – enquanto continua a destruição da cultura tibetana e a repressão de Hong Kong – é um tirano. Vladimir Putin é um tirano maligno. O aiatolá Ali Khamenei do Irã tem um longo histórico de caos e ódio – mais um tirano.

O fato de tiranos poderem ser talentosos em suas crueldades não os torna menos malignos ou mais confiáveis ​​– apenas mais perigosos.

Mas Biden com sua visão estreita, não permitirá que os fatos sobre Xi Jinpin, Putin e Khamenei atrapalhem seu novo “acordo” com o Irã, e apesar do Irã ter lançado mísseis em direção à embaixada americana no Curdistão há apenas 2 semanas. Os fanáticos religiosos de Teerã estão ligados a Putin e à agência nuclear estatal russa Rosatom, que tem um contrato para construir outros dois reatores no Irã. Como se um dos maiores de produtores de petróleo e gás natural do mundo precisasse de tantas usinas atômicas para gerar energia. A Rosatom depositará 10 bilhões de dólares nessa parte do “acordo”. Não sabemos qual é a “comissão” de Putin, mas sempre há uma comissão para o tirano.

Xi Jinpin, se recusou a condenar as atrocidades de Putin na Ucrânia. Além disso, se absteve de votar em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando a invasão e ainda pode estar fornecendo armas para os russos apesar das objeções americanas. O trio tem outros parceiros juniores em todo o mundo, como Kim Jong Un na Coreia do Norte e Nicolás Maduro na Venezuela. O que o Ocidente precisa agora, é não os tornar mais fortes.

O iminente “acordo” nuclear com o Irã é incompreensível. Ele nem se refere às atividades do Irã que apoiam o terrorismo em todo o Oriente Médio. O acordo ainda irá provavelmente suspender as sanções ao Irã, removendo as designações terroristas de indivíduos e organizações, inclusive da Guarda Revolucionaria Iraniana, e abrirá caminho para a venda de petróleo iraniano – enchendo o país de petrodólares que irão financiar o desenvolvimento de mísseis balísticos e os grupos terroristas que o Irã apoia em todo o mundo, como o Hamas, a Hezbollah, os Houthis e as milicias iraquianas. Se hoje os tentáculos do Irã podem ser sentidos até na América Latina, o que será depois deste acordo?

Os aliados árabes sunitas como os Emirados e os sauditas veem a América novamente se aproximando do Irã e isso tem um impacto importante. Sem falar de Israel que corre um risco existencial com estes aiatolás lunáticos.

A fraqueza da América é palpável. Biden sinalizou a Putin que a invasão da Ucrânia não seria recebida com uma resposta dura do Ocidente. E isso é o que de fato está acontecendo. Mas a luz verde para Putin foi a saída estabanada, mal planejada e mortífera dos americanos do Afeganistão em agosto do ano passado.  Putin viu aquele fiasco como uma demonstração de covardia e uma indicação de que a América está em declínio.

E não parou por aí. A América chegou a tal ponto de desrespeito próprio, que continua a ter a Rússia, hoje, como sua representante nas tratativas com o Irã. Ninguém acredita que o Irã vai engavetar seu sonho de uma arma nuclear ou cessará repentinamente seu apoio aos grupos terroristas no Oriente Médio. Este acordo trata apenas de chutar a lata rua abaixo – e se Biden e o mundo podem fazer isso agora e não precisam pensar no Irã por algum tempo, que assim seja.

Desde o início da administração de Biden, Israel tem se mantida calada. Ela entendeu que teria que lidar com o Irã sozinha pois Biden quer comprar um Irã sem a bomba nuclear somente até o fim de seu mandato.

Mas na sexta-feira, o primeiro-ministro Naftali Bennett e o ministro das Relações Exteriores Yair Lapid quebraram seu longo silêncio sobre o Irã e advertiram Joe Biden, sobre remover a Guarda Revolucionária Islâmica da lista de organizações terroristas.

“Achamos difícil acreditar que a designação da Guarda Revolucionária como organização terrorista será removida em troca de uma promessa dela não prejudicar a América”, disseram os dois. “A luta contra o terrorismo é global, uma missão compartilhada por todo o mundo.” “Acreditamos que os Estados Unidos não abandonarão seus aliados mais próximos em troca de promessas vazias de terroristas”, eles disseram.

Foi uma declaração forte que mostrou que Israel não perdeu completamente sua voz na luta contra um outro acordo com o Irã e as concessões que estão sendo discutidas, que só fortalecerão a República Islâmica.

Como na época de Netanyahu, Israel tem que mostrar ao mundo que ela não vai ficar parada esperando o Irã obter uma arma nuclear.  Até agora, Benett e Lapid explicaram seu silêncio como uma estratégia de poder trabalhar com os EUA e a Europa depois da assinatura deste acordo inevitável. Esta é a estratégia dos apaziguadores. Os líderes israelenses precisam mostrar seu descontentamento com estas negociações e que nenhum acordo é inevitável.

E há outra razão mais importante.  Uma das lições que aprendemos com a invasão da Ucrânia é que o Ocidente não está disposto a ir muito longe no caso de um conflito com uma potência nuclear. Putin está literalmente destruindo a Ucrânia. Não só alvos militares, mas escolas, hospitais, universidades, áreas residenciais, tudo. Quando Putin fala para a América pular, Biden pergunta, a que altura? Tudo pelo fato da Rússia ter um poderoso arsenal nuclear.

Isso explica o problema exato com o Irã. Se o mundo está mostrando medo de enfrentar o Irã agora, o que fará quando os aiatolás tiverem armas nucleares?

A resposta é óbvia – Nada. E em vez de confrontar o Irã agora – quando está mais fraco e vulnerável – o mundo quer fazer um acordo que tornará quase impossível fazer qualquer coisa.

É por isso que Israel precisa levantar sua voz agora para impedir que esse acordo aconteça, porque no momento em que ele for assinado, o mundo perderá o interesse e qualquer reclamação ou tentativa de Israel de alertar sobre descumprimentos ou que Teerã está minando a estabilidade regional serão vistas como um incômodo. Em outras palavras, o silêncio é um sinal de fraqueza e não de força.

Israel não tem escolha a não ser permanecer – mesmo por conta própria – como a voz da razão durante este processo. Não é para poder dizer depois “nós avisamos”, mas porque precisa, ainda agora, dar o alerta e explicar quais serão as consequências deste famigerado acordo.

Em setembro de 1938 Chamberlain declarou “paz para o nosso tempo” quando retornou à Inglaterra com o fútil “Acordo de Munique”. Um ano depois, o mundo mergulhava em uma guerra cataclísmica. A nova versão do apaziguamento está armando tardiamente a Ucrânia e ao mesmo tempo, dando poder a Putin (e o paga indiretamente) sobre o acordo com o Irã.

A Ucrânia pode perseverar com a nossa ajuda. A China pode ser dissuadida com demonstrações militares e especialmente a expansão da Marinha Americana no Mar do Sul da China. O Irã deve permanecer um pária até que concorde em desmantelar seu programa nuclear, cesse a terceirização do terrorismo com os Houthis, a Hezbollah e o Hamas e concorde em retornar para a comunidade das nações em paz.

O apaziguamento nunca funcionou. Ele não funcionou para Chamberlain. Ele não funcionará com Putin. E não funcionará para Biden com o Irã.


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