Sunday, October 27, 2013

A Hipocrisia da União Européia - 27/10/2013

Nesta semana que passou, o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas escolheu percorrer a Europa para tentar convencer empresas europeias a cortarem relações econômicas com as comunidades judaicas na Judeia e Samaria e nos bairros de Jerusalém do leste.

Abbas também teria pedido à França para tomar medidas contra centenas de judeus franceses que moram em comunidades localizados além da linha de armistício de 1949. De acordo com o jornal Al-Quds al-Arabi, baseado em Londres, Abbas teria exigido que a França tirasse a cidadania destes franceses e encontrasse outras formas para pressioná-los a abandonarem suas casas e propriedades nestes locais.

Se alguém acha que pedidos como estes são absurdos não está ciente de quanto  receptiva a Europa é à eles.

Em Julho, a União Européia aprovou diretrizes especificamente censurando instituição judaicas e entidades governamentais que operam além das linhas de armistício de 1949. A partir de janeiro de 2014, qualquer subsídio, prêmio ou empréstimo para desenvolvimento científico, tecnológico e intelectual será negado a qualquer instituição judaica localizada além da linha verde.

Esta é a prerrogativa da Europa. Não é a primeira vez que ela aprova leis aplicáveis somente a judeus. Mas isto não foi o suficiente e em setembro, ela conseguiu se rebaixar ainda mais. No meio do mês, cumprindo uma ordem da Suprema Corte de Israel o exército destruiu 250 estruturas ilegais construídas por palestinos no Vale do Jordão. A decisão da Suprema Corte estava em conformidade com os acordos assinados com os palestinos que deu jurisdição à Israel sobre o Vale do Jordão.

Cinco dias depois, ativistas palestinos chegaram ao local carregando tendas. Mas não estavam sós. Estavam acompanhados de diplomatas europeus para lhes dar cobertura diplomática enquanto violavam a lei e os acordos assinados pela OLP. Isto teria sido suficiente para um escândalo mas a coisa foi mais além. A adida cultural do consulado francês em Jerusalém, Marion Castaing decidiu que dar cobertura não era suficiente e decidiu então dar um soco no rosto de um policial israelense. O vídeo está no Youtube e mostra que o soco foi totalmente sem provocação.

Mas em vez de se desculpar com Israel pelo comportamento de diplomatas europeus ajudando palestinos a violarem a lei e a violência física de Castaing, a chefe da política estrangeira da União Européia, Catherine Ashton atacou Israel.

Ela teve a cara de pau de dizer que aquelas tendas haviam sido pagas por contribuintes europeus como “assistência humanitária”, que deplorava sua confiscação e exigia uma explicação de Israel sobre o incidente.

O papel da União Européia em financiar os esforços palestinos para construir ilegalmente no Vale do Jordão e outros lugares não é único. Seu desrespeito à lei de Israel e aos acordos que ela assinou com os palestinos se estende a construções ilegais em toda a Judeia, Samaria e Jerusalém. O que foi diferente desta vez foi não só o fornecimento de cobertura diplomática para a violação da lei mas a prontidão em usar de força física contra as forças de segurança de Israel. Aonde estamos?

Por um lado, Ashton proclama sua devoção ao processo de paz e ao direito internacional e por outro patrocina atos como estes. Esta hipocrisia precisa ser assinalada.

Se Israel até agora deu o benefício da dúvida aos europeus foi porque acreditou em suas promessas vazias de comprometimento com o processo de paz. A consequência foi que desde os acordos de Oslo há 20 anos atrás, todos os passos tomados por Israel para mostrar boa vontade foram usados contra ela e para enfraquece-la.

Para os europeus e outros proponentes de expulsar os judeus da Judeia, Samaria, Jerusalém e as Colinas do Golã, o axioma é que a própria presença de judeus nestes lugares é ilegítima. Se eles vencerem, o único lugar no mundo aonde os judeus estarão proibidos de viver será na terra da qual saíram. Sim pois foi na Judeia, Samaria e nas porções de Jerusalém que passaram ao controle de Israel em 1967, que falaram os profetas da Bíblia, aonde reinaram os reis de Israel e aonde se passaram os mais profundos eventos bíblicos vivenciados pelo povo judeu. É aonde o monte do Templo de Salomão se encontra, o local mais sagrado do mundo e em direção do qual judeus do mundo inteiro têm rezado três vezes por dia por mais de 2 mil anos.

Em outras palavras, palestinos, árabes, europeus e outros por aí, querem impedir os judeus de se estabelecerem precisamente aonde estão suas raízes históricas e culturais. Eles argumentam que os assentamentos são “ilegais”. Vamos então revisitar esta “indiscutível verdade” pela enésima vez, para termos tudo claro na cabeça.

Este argumento se baseia no Artigo 49 (6) da Quarta Convenção de Genebra de 1949 que diz que uma força militar ocupadora “não pode deportar ou transferir parte de sua própria população civil para o território que ocupar”. Esta cláusula, escrita logo após a Segunda Guerra Mundial se referia à tremenda transferência de população efetuada pelos nazistas e outros regimes totalitários.

Só que não há qualquer consenso entre juristas se é ou não ilegal para indivíduos decidirem de livre e espontânea vontade se instalarem no território, especialmente se não estiverem tirando ninguém de sua propriedade. De fato, não há nem consenso se Israel é uma força de ocupação ou não pois a Judeia e a Samaria não pertenciam a qualquer país soberano. A anexação da Cisjordânia pela Jordânia em 1949, não foi reconhecida pelo resto do mundo. Depois de sua vitória em 1967, o direito de Israel à Judeia e Samaria se tornou tão forte - se não mais forte - que o de qualquer outra nação, considerando que a Liga das Nações em 1922 quando estabeleceu o Mandato da Palestina, explicitamente reconheceu os profundos laços dos judeus à Judeia, Samaria e Jerusalém.

Mas o que é ainda mais moralmente repreensível é ouvir o Sr. Abbas em inúmeras ocasiões dizer que o futuro estado da Palestina não tolerará a presença de um só judeu em seu solo.

Israel deu cidadania a 1.7 milhões de Árabes. Hoje foi noticiado que pela primeira vez um Druso irá comandar o Batalhão 51 dos Golani do exército de Israel. Porque então um futuro estado palestino não poderia oferecer o mesmo a seus residentes judeus?

As fronteiras finais de um estado palestino devem ser determinadas através de negociações e compromisso mútuo, não medidas unilaterais como boicotes e represálias com o único propósito de forçar Israel a abandonar as áreas com as quais tem a maior ligação histórica, cultural e religiosa.

A tolerância tem limites. Não podemos aceitar em silêncio tudo o que líderes como Ashton dizem, especialmente quando destorcem a lei internacional e quando fazem proclamações e promessas vazias de apoio à causa da paz. Somente se expusermos a verdade por trás destas mentiras é que a paz terá qualquer oportunidade de acontecer.

Sunday, October 20, 2013

A Interminável Incitação Palestina - 20/10/2013

Na última quinta-feira o jornal The Washington Post publicou um artigo acusando a Turquia de ter exposto uma rede de espiões israelenses para o Irã. Imediatamente, o Ministro das Relações Exteriores da Turquia Ahmet Davutoglu acusou Israel de fazer acusações infundadas, de tentarem sujar a Turquia na comunidade internacional. Hoje, no entanto, o mesmo ministro aparentemente confirmou a acusação dizendo que o chefe da inteligência turca estava apenas “fazendo seu trabalho”.

Está claro que apesar do presidente Obama ter pressionado Netanyahu a pedir desculpas à Erdogan pelo incidente da flotilha em 2010, a Turquia não tem qualquer intenção de regularizar suas relações com Israel. Esta acusação é extremamente séria, pois se for verdadeira, a Turquia teria violado todas a regras de cooperação entre as organizações de inteligência e ninguém mais confiará nos turcos com qualquer informação. Vale lembrar que a Turquia até 2010 era considerada aliada de Israel e até serviu de intermediária entre o estado judeu e os árabes.

Por outro lado, no dia 26 de setembro último, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, em seu discurso à Assembléia Geral das Nações Unidas, afirmou que os palestinos “continuam a estender a mão aos israelenses dizendo: vamos trabalhar para que a cultura de paz reine”. Realmente, sentimentos muito louváveis se não fossem cobertos de hipocrisia.

Imediatamente após voltar de sua viagem a Nova Iorque e de seu discurso, o Sr. Abbas cancelou alguns encontros para receber o celebrado poeta egípcio Hisham Al-Gakh, autor do famoso hit “nosso inimigo é o diabo sionista de rabo de garfo”.

Na mesma noite, o Sr. Al-Gack teve a oportunidade de recitar sua canção “maravilhosa” ao receber um prêmio do ministro da cultura palestino. Em Julho, o programa “Palestina Esta Manhã” tinha como quadro principal duas irmãs recitando um poema do mesmo Sr. Al-Gack referindo aos “filhos do Sion” como “macacos barbáricos” e “porcos miseráveis”.  

Estes são somente dois de milhares de exemplos do incitamento palestino contra o estado judeu e o povo judeu. Há até vários exemplos da glorificação de Hitler nas páginas do Facebook de escolas governamentais palestinas e em publicações para crianças patrocinadas pela Autoridade Palestina. Estas mensagens, propagadas diariamente na mídia palestina e nas salas de aula, são internalizadas pela grande população e especialmente pelas crianças e juventude.

Desde os idos dias dos acordos de Oslo, há 20 anos atrás, o otimismo israelense por uma paz duradoura foi substituído por uma profunda desconfiança das intenções reais dos palestinos. E não é só por causa dos ataques terroristas, que emanaram das áreas transferidas para o controle palestino, mas também pela conclamação diária pela destruição de Israel pelo governo, mídia, e escolas.

A história do povo judeu nos ensinou de maneira dura, a nunca subestimar o poder do ódio.

As estações de televisão, de rádio, escolas públicas, colônias de férias, revistas para crianças e sites da internet, estão sendo usados pelos palestinos para imprimir no cérebro de sua população quatro mensagens principais:

Primeiro, que a existência do estado judeu (independente de suas fronteiras), é ilegítimo porque não há povo judeu, como não há história judaica neste pedaço de terra.

Segundo, que judeus e sionistas são criaturas horríveis que corrompem os que moram em sua vizinhança.

Terceiro, que palestinos precisam continuar com sua luta até a inevitável substituição de Israel por um estado árabe-palestino.

Finalmente, que todas as formas de resistência são louváveis e válidas, mesmo que algumas formas de violência não sejam de todo convenientes.

Assim, em vez de serem escolados na “cultura de paz”, a próxima geração de palestinos estão sendo alimentados de modo implacável com uma retórica que inclui a idolatria de terroristas, a demonização dos judeus e a convicção que cedo ou tarde Israel deixará de existir.

Mesmo depois do anúncio do Secretário de Estado John Kerry da renovação das negociações de paz, a incitação continua sem qualquer trégua. Por exemplo, na recente “visita de paz” do clube de futebol FC Barcelona ao distrito de Hebron, a televisão palestina fez questão de lembrar ao seu público que a Palestina se estende de “Eilat a Rosh Hanikra”, isto é, não é só a Judéia, Samária e a Faixa de Gaza, mas a terra de Israel em toda as sua extensão. Esta observação foi seguida de uma canção cantada por Muhammad Assaf, o ganhador do programa popular Ídolo Árabe que falava sobre a “libertação” de cidades israelenses como Haifa, Tiverias e Sfat.

O fato que esta indoutrinação anti-Israel e anti-semita persiste, apesar de toda a fanfarra do relançamento das negociações de paz entre Israel e os palestinos, constitui um obstáculo formidável para o caminho da paz. Ela deveria ter desaparecido 20 anos atrás quando os palestinos se comprometeram a acabar com todas as formas de incitação conforme os acordos de Oslo. E até que ela termine, as negociações não irão resultar em qualquer progresso.

Progresso para a paz requer que ambos os palestinos e israelenses criem uma atmosfera condutiva ao diálogo. A difícil decisão de Israel de soltar 100 terroristas condenados de suas prisões em 28 de julho último, assim como as medidas para ajudar a economia palestina, foram passos corajosos para mais uma vez tentar criar confiança e melhorar a atmosfera das negociações.

Só que estes passos são tomados somente por Israel. Não há qualquer reciprocidade do lado palestino. O mínimo que eles poderiam fazer é suspender seu patrocínio público de ódio gratuito.

Se eles não o fizerem, qualquer tentativa de negociações irá falhar. E já estamos vendo os resultados: desde que as negociações retomaram, a violência tem escalado substancialmente com vários ataques terroristas, o último neste final de semana quando um palestino tentou romper o portão de uma base israelense com seu trator.

Imediatamente após, o primeiro ministro do Hamas Ismail Hanyieh conclamou os árabes a se prepararem para a “Grande Intifada de Al-Aksa” e exigiu o fim das negociações entre a OLP e Israel. E o Hamas está realmente se preparando para esta possibilidade. Durante esta semana Israel descobriu um túnel de 1.7 Km, incrivelmente sofisticado entre a Faixa de Gaza e o kibutz Ein Hashloshah. O túnel, inteiramente de concreto, com eletricidade e linhas telefônicas, além de um estoque de explosivos, foi construído com material doado por Israel para que o Hamas supostamente construísse escolas e outras infra-estruturas que eles reclamam o tempo todo para a comunidade internacional que lhes falta.

Tudo isso mostra que as suspeitas dos israelenses sobre as intenções palestinas são mais uma vez confirmadas e o perigo das concessões poque o outro lado exige para uma suposta “paz”.

A Turquia e os palestinos são prova que Israel não pode se iludir com as intenções de seus inimigos. Chegou a hora de Israel e o mundo exigirem passos concretos destes inimigos como o fim da campanha de deslegitimação do povo judeu e do Estado judeu antes de qualquer negociação sobre um status final, a entrega de territórios ou a normalização de relações.


Sunday, October 13, 2013

O Pesadelo da Arábia Saudita - 13/10/2013

Um evento ou melhor, um não evento durante a Assembléia Geral das Nações Unidas passou quase desapercebido pela mídia. Quando o ministro das relações exteriores da Arábia Saudita, o veterano Príncipe Saud al-Faisal, recusou a discursar no plenário pela primeira vez, seu silêncio não poderia ter sido mais eloquente.

Para a maioria dos países, uma tal recusa pode ser considerada não mais do que uma torcida de nariz, mas para a Arábia Saudita, isto tem outras implicações bem mais graves.

A Arábia Saudita sunita está numa luta de vida ou morte pelo futuro do Oriente Médio com seu arqui-rival o Irã shiita e está furiosa com a ONU por não ter tomado qualquer atitude em relação à Síria, que é apoiada por Teerã. Não só ela está fula com a China e a Russia que vetaram toda ação do Conselho de Segurança, mas pela primeira vez, está irada com os Estados Unidos. Hoje o mundo árabe está convencido que a América abandonou seus amigos com políticas que eles consideram ingênuas e fracas.

O sentimento saudita é similar ao de Israel: que Barack Obama está permitindo ao seu inimigo comum, uma vantagem que pode ser irreversivelmente fatal. Membros desta administração americana não acreditam que sua aliança com a Arábia Saudita, a monarquia islâmica - que domina o suprimento de petróleo no mundo - esteja em qualquer perigo. Mas como ocorreu há 40 anos atrás quando a OPEC puniu os Estados Unidos com um embargo de petróleo por seu apoio a Israel, a Arábia pode estar disposta a desafiar Obama em defesa de seus interesses regionais.

Estes interesses incluem o curso tomado por Obama no Egito desde a Primavera Árabe e a ajuda aos rebeldes sunitas na Síria.

O foco da ira saudita são os clérigos shiitas que pregam a revolução nos países árabes governados por sunitas. Além da omissão americana em ajudar os rebeldes sunitas na Síria, Riyadh viu com horror Obama estender sua mão a Rouhani, o novo presidente do Irã.

Robert Jordan, ex-embaixador americano em Riyadh disse esta semana que o pior pesadelo dos sauditas seria um acordo entre esta administração americana e o Irã. Um acordo que permitiria a inspeção das usinas nucleares iranianas contra uma tácita permissão para que os mullas continuem sua campanha para dominar o mundo árabe.

Abdullah al-Askar, presidente da comissão em política internacional do parlamento saudita expressou sua preocupação dizendo que se a América e o Irã chegarem a um entendimento, será ao custo do mundo árabe, dos países do Golfo e especialmente da Arábia Saudita.

Numa rara aparição na mídia e ao lado de Adly Mansour, presidente interino do Egito, o rei Abdullah condenou o terrorismo, decepção e sedição da Irmandade Muçulmana. Estas poucas palavras mostraram o tamanho da ravina existente entre a América e a Arábia nos assuntos do Oriente Médio.

Foi a retirada do apoio a Hosni Mubarak e o apoio de Obama à Irmandade Muçulmana que primeiro chocou a realeza saudita, instaurando neles uma profunda desconfiança ao ver um amigo ser abandonado por Washington desta forma. A subsequente reverência de Obama a Mohamed Morsi os contrariou ainda mais pois eles vêem a Irmandade Muçulmana como uma ameaça ao seu governo dinástico. Por isso, quando Obama ameaçou cortar a ajuda ao Egito, Riyadh ofereceu compensar a perda, de fato minando a política americana e mandando um recado que os sauditas estão prontos a seguir seu próprio caminho.

Normalmente, os sauditas não tomariam uma decisão contra os interesses americanos. Hoje, parece que passaram desta fase e se não for de seu interesse, os sauditas não se curvarão mais à América.

O conflito na Síria é visto pela Arábia Saudita como uma batalha que irá definir o Oriente Médio, entre líderes árabes pró-ocidente e o Irã não-árabe. Por mais de um ano, os sauditas pressionaram Obama a se envolver na guerra civil ou com ataques aéreos diretos ou fornecendo ajuda militar aos rebeldes sunitas. Quando centenas de civis morreram no ataque químico em agosto, os sauditas esperavam finalmente uma reação de Obama à quebra de sua própria linha vermelha. Mas o subsequente acordo negociado com a Russia, foi uma vitória para Teerã e para os sauditas um verdadeiro tapa na cara.

A Arábia Saudita e o Irã se vêem como os representantes de visões opostas do Islamismo: os sauditas, guardiões de Meca e de uma hierarquia sunita conservadora; os shiitas iranianos, a vanguarda da Revolução que se propõe “libertar” o mundo árabe supostamente oprimido.

Na última década os sauditas assistiram alarmados como as populações shiitas nos países árabes vizinhos se fortaleceram, dominando a política no Líbano e no Iraque e encenando rebeliões em Bahrain e no Yemen numa estratégia que parece querer cercar a Arábia Saudita.

Mas o Irã não parou aí. Conseguiu fomentar agitações e protestos violentos da minoria shiita na própria Arábia Saudita, membros da guarda revolucionária iraniana foram pegos planejando o assassinato do embaixador saudita em Washington, além de ter conseguido implantar uma rede de espionagem no reino saudita.

Se os Estados Unidos permitirem que o Irã ganhe a Síria, a que conclusão devem chegar os sauditas?

Os príncipes da Arábia são políticos muito hábeis. Eles não se teriam mantido no poder todo este tempo se não o fossem. Até agora, a maioria das administrações americanas, sejam republicanas ou democratas, sempre ouviram seu conselho, inclusive sobre os iranianos. Mas a divergência de hoje que começou com o Egito e se solidificou com a Síria, está empurrando os sauditas contra a política americana.

Na próxima quarta-feira será o aniversário de 40 anos do embargo árabe do petróleo que causou o caos na economia americana e mundial. Hoje um suprimento estável de petróleo é de suprema importância para os Estados Unidos e a Europa saírem da atual crise econômica mas a Arábia Saudita pode estar preparada a seguir seu próprio caminho.

Muitos analistas e diplomatas no Golfo Pérsico dizem que os Estados Unidos estão pressionando os sauditas a não entregarem armas como mísseis terra-ar para os rebeldes sírios, com medo que caiam nas mãos de militantes islamistas da Al-Qaeda.

Esta é uma área que os sauditas podem decidir contrariar os americanos. Mustafa Alani, um analista Iraquiano baseado na Arábia e ligado à família real disse que não há divergência em opinião sobre a política de Obama. Ele afirmou que não há mais um só príncipe que simpatiza com ele. Eles acham que Obama perdeu a cabeça.


E aos poucos, Obama conseguiu o que ele pretendeu desde o princípio: minar a influência americana no Oriente Médio e no resto do mundo sem se importar quem poderia ser sacrificado no processo. Ele só esqueceu que alguns sacrifícios como a Arábia Saudita e Israel não subirão ao patíbulo em silêncio.

Sunday, October 6, 2013

O Discurso de Netanyahu na ONU - 6/10/2013

Nesta última terça-feira, justo antes do Primeiro Ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, subir ao pódio da ONU e anunciar que Israel agiria sozinha contra o Irã se necessário, o Ministro do Exterior do Irã, Muhammad Javad Zarif disse que Netanyahu era o “homem mais isolado das Nações Unidas”. Zarif estava sonhando.
Netanyahu não estava isolado na ONU e Israel não está isolada no mundo. Apesar das campanhas de boicote mundo afora e da política da União Européia contra os assentamentos, Netanyahu passou sete horas em Washington no meio da maior crise política dos Estados Unidos, encontrando-se com o Presidente, o Vice, o Secretário de Estado e outros políticos.
Um país isolado não atrai 130 milhões de dólares para uma de suas universidades de um bilionário chinês – o oitavo homem mais rico do mundo – que declarou que Israel não é um país pequeno mas um estado que transborda conhecimento e habilidade, um lugar que gera oportunidades ilimitadas”. O Irã sonharia estar tão isolado…
E no meio de seu discurso, Netanyahu deu a entender que a corrida armamentista do Irã, fez países árabes vizinhos admitirem que Israel não é a inimiga. E ao se defender, Israel saberá que estará também defendendo muitos outros países.
A imprensa israelense no dia seguinte reportou encontros secretos e intensivos entre Israel e representantes de países do Golfo Pérsico para coordenar os próximos passos contra a nova ofensiva diplomática do Irã.
Muitos destes países gostaram da posição dura que ouviram de Netanyahu na ONU apesar de não poderem admiti-lo em público. Membros da administração Obama e de países europeus também gostaram porque neste teatro, Israel pode ser o policial mau enquanto eles falam de modo mais suave ao Irã daqui a 10 dias em Genebra. Uma ameaça crível de intervenção militar foi o que trouxe a Síria, juntamente com a Russia, a concordar com o desmantelamento do arsenal químico de Assad. Assim, é bom ter alguém com uma ameaça real para trazer os iranianos para a realidade.
Tanto os Estados Unidos como Israel querem evitar que o Irã adquira a bomba nuclear. A questão é como faze-lo? Aliados se reúnem e combinam o papel de cada um. Na ONU, Bibi fez uma alusão ao papel que assumiu quando disse que não admitirá que o Irã adquira armas nucleares e se Israel tiver que agir sozinha, irá agir sozinha.
Então porque os jornais da América e a esquerda em Israel declararam o discurso de Netanyahu um desastre?? Qualquer um sabe que para ganhar o coração do público americano a mensagem precisa ser esperançosa, positiva e otimista. Nunca diga que não haverá paz, seja conciliatório, não agressivo, seja empático, não sarcástico; e deixe Deus e tragédias históricas do povo judeu de fora.  
Netanyahu, que conhece muito bem as regras de comunicação, quebrou absolutamente todas em seu discurso. Ele ameaçou ação militar contra o Irã, não paz. Ele não deixou qualquer esperança sobre a “moderação” de Rouhani. Ele foi sarcástico, não empático. Como muitos na mídia o descreveram, Netanyahu foi agressivo, não conciliador e não só trouxe Deus para a sopa quando falou da profecia de Amos, mas também o sofrimento do povo judeu quando seu avô foi espancado por anti-semitas na Europa do século 19.
É óbvio que nada disso foi bem digerido pela mídia americana ou a esquerda israelense. O jornal The New York Times bateu forte dizendo que Netanyahu estava tentando sabotar as negociações com o Irã. O mesmo New York Times criticado por Netanyahu por ter aplaudido a diplomacia com a Coreia do Norte em 2005 apenas um ano antes de Pyongyan explodir sua primeira bomba nuclear, mostrando o quanto o mundo e o jornal estavam  errados.
Até Robert Gibbs, ex-secretário de imprensa da Casa Branca disse que não achava que “a retórica de Netanyahu estava ajudando Israel, já que o mundo já esquecera do que aconteceu no século XX” e que a seu ver “seu discurso foi direcionado para os cidadãos do seu próprio país”. Gibbs está errado. Netanyahu não estava falando aos israelenses que já conhecem sua posição em relação ao Irã. Ele estava falando diretamente aos mullahs e aos que pretendem negociar com eles.
Netanyahu lembrou que em 3 décadas de programa nuclear, o Irã já enganou o mundo repetidamente. Construiu secretamente as usinas de Natanz e Fordow enquanto dizia estar cooperando com a Agência Internacional de Energia Atômica e cumprindo com o Tratado de Não-Proliferação do qual é signatário.
Por seu lado, o ocidente, incluindo Israel, também agiu para impedir o progresso nuclear do Irã: alguns cientistas foram mortos, virus de computador incapacitaram centrífugas e equipamento defeituoso lhe foi exportado. Isso é o que sabemos. Por trás dos bastidores devem ter havido outras ações que não sabemos para impedir o Irã de se tornar a 10ª potência nuclear do mundo.
E também, muito mais deve ter transpirado durante a visita de Netanyahu aos Estados Unidos e por trás do tom de seu discurso na ONU. Na superfície pareceu que Israel estava se levantando sozinha contra o mundo mas na minha opinião, ela cumpriu um papel complexo neste jogo de xadrez para fazer o Irã abandonar seu programa nuclear diplomaticamente.
Em abril deste ano, um editorial do Washington Post deixou claro que apesar da total cessação de comunicações do ocidente com o Irã, por alguma razão, nem os Estados Unidos, nem Israel se sentiam pressionados a agir militarmente. O jornal escreveu que os proponentes da diplomacia tinham que agradecer Netanyahu, o homem que eles ridicularizam e insultam com frequencia pois a “linha vermelha” que ele desenhou no ano passado conseguiu o que nenhuma negociação ou sanção havia conseguido: que o Irã reduzisse sobremaneira o enriquecimento de urânio.
Se os ouvintes lembram, na época, comentaristas tanto na América como em Israel zombaram a apresentação de Netanyahu. E o embaixador iraniano chamou o desenho de “imaginário e infundado”. Mas aí, uma coisa surpreendente aconteceu: o regime começou a desviar urânio para abastecer um reator de pesquisa.
Em outras palavras, no ano passado, apesar de ser ridicularizado, Netanyahu conseguiu a atenção do Irã. E as chances dele ter a atenção deles hoje é grande, apesar de ter que pagar um alto preço em diplomacia e imagem pública.
Às vezes, para alcançar um objetivo estratégico concreto, é necessário pagar o preço em imagem. E Netanyahu não teve medo em pagá-lo.