Nesta última terça-feira, justo antes do
Primeiro Ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, subir ao pódio da ONU e
anunciar que Israel agiria sozinha contra o Irã se necessário, o Ministro do
Exterior do Irã, Muhammad Javad Zarif disse que Netanyahu era o “homem mais
isolado das Nações Unidas”. Zarif estava sonhando.
Netanyahu não estava isolado na ONU e
Israel não está isolada no mundo. Apesar das campanhas de boicote mundo afora e
da política da União Européia contra os assentamentos, Netanyahu passou sete
horas em Washington no meio da maior crise política dos Estados Unidos,
encontrando-se com o Presidente, o Vice, o Secretário de Estado e outros
políticos.
Um país isolado não atrai 130 milhões de
dólares para uma de suas universidades de um bilionário chinês – o oitavo homem
mais rico do mundo – que declarou que Israel não é um país pequeno mas um
estado que transborda conhecimento e habilidade, um lugar que gera
oportunidades ilimitadas”. O Irã sonharia estar tão isolado…
E no meio de seu discurso, Netanyahu deu a
entender que a corrida armamentista do Irã, fez países árabes vizinhos
admitirem que Israel não é a inimiga. E ao se defender, Israel saberá que
estará também defendendo muitos outros países.
A imprensa israelense no dia seguinte
reportou encontros secretos e intensivos entre Israel e representantes de
países do Golfo Pérsico para coordenar os próximos passos contra a nova
ofensiva diplomática do Irã.
Muitos destes países gostaram da posição
dura que ouviram de Netanyahu na ONU apesar de não poderem admiti-lo em
público. Membros da administração Obama e de países europeus também gostaram
porque neste teatro, Israel pode ser o policial mau enquanto eles falam de modo
mais suave ao Irã daqui a 10 dias em Genebra. Uma ameaça crível de intervenção
militar foi o que trouxe a Síria, juntamente com a Russia, a concordar com o
desmantelamento do arsenal químico de Assad. Assim, é bom ter alguém com uma
ameaça real para trazer os iranianos para a realidade.
Tanto os Estados Unidos como Israel querem
evitar que o Irã adquira a bomba nuclear. A questão é como faze-lo? Aliados se
reúnem e combinam o papel de cada um. Na ONU, Bibi fez uma alusão ao papel que assumiu
quando disse que não admitirá que o Irã adquira armas nucleares e se Israel
tiver que agir sozinha, irá agir sozinha.
Então porque os jornais da América e a
esquerda em Israel declararam o discurso de Netanyahu um desastre?? Qualquer um
sabe que para ganhar o coração do público americano a mensagem precisa ser
esperançosa, positiva e otimista. Nunca diga que não haverá paz, seja
conciliatório, não agressivo, seja empático, não sarcástico; e deixe Deus e
tragédias históricas do povo judeu de fora.
Netanyahu, que conhece muito bem as regras
de comunicação, quebrou absolutamente todas em seu discurso. Ele ameaçou ação
militar contra o Irã, não paz. Ele não deixou qualquer esperança sobre a “moderação”
de Rouhani. Ele foi sarcástico, não empático. Como muitos na mídia o
descreveram, Netanyahu foi agressivo, não conciliador e não só trouxe Deus para
a sopa quando falou da profecia de Amos, mas também o sofrimento do povo judeu quando
seu avô foi espancado por anti-semitas na Europa do século 19.
É óbvio que nada disso foi bem digerido
pela mídia americana ou a esquerda israelense. O jornal The New York Times
bateu forte dizendo que Netanyahu estava tentando sabotar as negociações com o
Irã. O mesmo New York Times criticado por Netanyahu por ter aplaudido a diplomacia com a Coreia do Norte em 2005 apenas um ano antes de Pyongyan
explodir sua primeira bomba nuclear, mostrando o quanto o mundo e o jornal
estavam errados.
Até Robert Gibbs, ex-secretário de
imprensa da Casa Branca disse que não achava que “a retórica de Netanyahu
estava ajudando Israel, já que o mundo já esquecera do que aconteceu no século
XX” e que a seu ver “seu discurso foi direcionado para os cidadãos do seu
próprio país”. Gibbs está errado. Netanyahu não estava falando aos israelenses
que já conhecem sua posição em relação ao Irã. Ele estava falando diretamente
aos mullahs e aos que pretendem negociar com eles.
Netanyahu lembrou que em 3 décadas de programa
nuclear, o Irã já enganou o mundo repetidamente. Construiu secretamente as
usinas de Natanz e Fordow enquanto dizia estar cooperando com a Agência
Internacional de Energia Atômica e cumprindo com o Tratado de Não-Proliferação
do qual é signatário.
Por seu lado, o ocidente, incluindo Israel,
também agiu para impedir o progresso nuclear do Irã: alguns cientistas foram
mortos, virus de computador incapacitaram centrífugas e equipamento defeituoso
lhe foi exportado. Isso é o que sabemos. Por trás dos bastidores devem ter havido
outras ações que não sabemos para impedir o Irã de se tornar a 10ª potência
nuclear do mundo.
E também, muito mais deve ter transpirado
durante a visita de Netanyahu aos Estados Unidos e por trás do tom de seu
discurso na ONU. Na superfície pareceu que Israel estava se levantando sozinha contra
o mundo mas na minha opinião, ela cumpriu um papel complexo neste jogo de
xadrez para fazer o Irã abandonar seu programa nuclear diplomaticamente.
Em abril deste ano, um editorial do
Washington Post deixou claro que apesar da total cessação de comunicações do
ocidente com o Irã, por alguma razão, nem os Estados Unidos, nem Israel se
sentiam pressionados a agir militarmente. O jornal escreveu que os proponentes
da diplomacia tinham que agradecer Netanyahu, o homem que eles ridicularizam e
insultam com frequencia pois a “linha vermelha” que ele desenhou no ano passado
conseguiu o que nenhuma negociação ou sanção havia conseguido: que o Irã
reduzisse sobremaneira o enriquecimento de urânio.
Se os ouvintes lembram, na época, comentaristas
tanto na América como em Israel zombaram a apresentação de Netanyahu. E o
embaixador iraniano chamou o desenho de “imaginário e infundado”. Mas aí, uma
coisa surpreendente aconteceu: o regime começou a desviar urânio para abastecer
um reator de pesquisa.
Em outras palavras, no ano passado, apesar
de ser ridicularizado, Netanyahu conseguiu a atenção do Irã. E as chances dele ter
a atenção deles hoje é grande, apesar de ter que pagar um alto preço em
diplomacia e imagem pública.
Às vezes, para alcançar um objetivo estratégico
concreto, é necessário pagar o preço em imagem. E Netanyahu não teve medo em
pagá-lo.
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