Dois eventos marcaram o noticiário nesta semana. O primeiro foi o assassinato do chefe do programa nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh.
Fakhrizadeh
não era apenas um cientista nuclear. Ele também era um brigadeiro general da
Guarda Revolucionaria Iraniana. Diferentemente de Qassem Soleimani, o líder da
Guarda Revolucionaria assassinado pelos Estados Unidos em Janeiro, Fakhrizadeh
era uma pessoa extremamente privada, nunca visto em qualquer evento oficial,
nunca dando entrevistas, ou mesmo permitindo que o fotografassem.
Quando em
2018, Bibi Netanyahu revelou ao mundo o arquivo nuclear do Irã, ele mostrou um
documento no qual Fakhrizadeh instruía seus subalternos a anunciar o fim do
Projeto Amad, o programa de desenvolvimento de ogivas nucleares, e desviar sua
pesquisa em tecnologia para outras áreas e projetos. E foi exatamente isto que
o Irã fez.
Em 2018, os
objetivos do Projeto Amad haviam sido transferidos para um departamento do
Ministério da Defesa do Irã, liderado por não outro que Fakhrizadeh.
Vários
cientistas nucleares iranianos foram assassinados ao longo dos anos, mas
Fakhrizadeh foi de longe o mais importante a ser morto até hoje. Ele era tão
importante que só depois de Netanyahu mostrar sua foto é que fotos dele se
tornaram disponíveis. As autoridades iranianas negaram repetidamente pedidos da Agência Internacional de Energia
Atômica para entrevistá-lo. O Irã fez um esforço sobre humano para protegê-lo.
Embora ninguém
tenha reivindicado o assassinato, as tensões entre o Ocidente e o Irã têm sido
altas. Vários relatos especularam que os EUA atacariam a instalação de
enriquecimento de urânio em Natanz antes de Donald Trump deixar o cargo. Mas
Trump se convenceu que um ataque direto ao Irã seria muito arriscado e talvez remover
Fakhrizadeh fosse a segunda melhor escolha.
Nas últimas
semanas, altos funcionários israelenses se reuniram com seus colegas americanos
para discutir a ameaça representada pelo Irã.
Israel
considera o programa nuclear do Irã como sua preocupação número um. Como disse
o Tenente-General do Chefe de Gabinete do exercito de Israel, Aviv Kochavi, “O
Irã se tornou o país mais perigoso do Oriente Médio tendo feito progressos significativos
em seu programa nuclear e em armas convencionais”.
No meio deste
ano, o Irã foi atingido por uma série de explosões misteriosas -
especificamente em locais conectados ao seu projeto nuclear e de mísseis. Estes
eventos e a morte de Fakhrizadeh podem ter dado um sério golpe no programa
nuclear do Irã.
A morte de
Fakhrizadeh deve ser considerada pelos mulás em Teerã que nem Israel nem os EUA
desistirão de impedir que o país obtenha armas nucleares.
E aí temos o
segundo evento. No domingo passado, Bibi Netanyahu discretamente voou para a Arábia
Saudita para se encontrar com o príncipe Mohammed Bin Salman. A reunião foi
supostamente para discutir o Irã e uma possível normalização das relações entre
os dois países. E também ao que parece, o Secretário de Estado americano Mike
Pompeo, também estava presente.
O fato de
essa reunião ter acontecido é uma grande notícia. Israel e a Arábia Saudita não
têm relações diplomáticas. Duas vezes, em 1948 e 1973, os sauditas enviaram
tropas para travar guerra contra Israel.
Muita coisa
mudou desde então, e a principal mudança é que Israel e a Arábia Saudita e
outros Estados do Golfo estão do mesmo lado de um grande problema: a ameaça do
Irã. Essa ameaça é o que, acima de outras considerações provocou os acordos de
paz com países do Golfo e o Sudão.
Não é segredo
que quando os EUA estavam negociando o acordo com o Irã, os embaixadores de
Israel e dos Emirados Árabes Unidos estavam trabalhando juntos para tentar
convencer o governo Obama a exigir o fim do programa nuclear iraniano.
Na época,
Netanyahu foi à frente, discursando perante as duas casas do Congresso para a
fúria de Obama, deixando os líderes árabes tomar um caminho mais diplomático.
Mas esta liderança de Netanyahu mostrou aos países do Golfo em 2015, que Israel
leva a ameaça do Irã muito a serio e está disposta a fazer o que for preciso
para detê-la.
Agora, em
2020, a cooperação entre Israel e os estados árabes nesta frente não é mais segredo.
Israel tem novas relações diplomáticas com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein;
e laços não oficiais com a Arábia Saudita, que alcançaram novos patamares nesta
semana.
Com a possível
transição do governo Trump que colocou sanções de "pressão máxima"
sobre o Irã para um governo Biden que busca retornar ao acordo com o Irã que
lhe concede um caminho para a bomba, as parcerias de Israel com os Estados do
Golfo se tornam fundamentais.
Trump por seu
lado, está claramente comprometido em continuar a pressão contra o Irã. O
Comando Central do exército americano divulgou no último fim de semana, que bombardeiros
americanos B-52 voaram uma “missão de longo alcance no Oriente Médio para deter
a agressão e tranquilizar os parceiros e aliados dos EUA”. Este foi um sinal
claro para o Irã: aviões americanos com capacidade de explodir suas instalações
nucleares estão nas proximidades.
Apesar dessa
demonstração de força, Israel e outros países visados pelo Irã não podem se
arriscar quando Trump deixar o cargo. Israel, os Emirados Árabes Unidos e a
Arábia Saudita estão dizendo claramente ao novo governo Biden que não aceitarão
um novo acordo com Irã sentados. Israel não está mais sozinha. Os Estados do
Golfo estão agora ao seu lado.
E, de fato, o
rei Salman da Arábia Saudita exortou o mundo a tomar “uma posição decisiva
contra o Irã que garanta uma resolução drástica de seus esforços para obter
armas de destruição em massa e desenvolver seu programa de mísseis balísticos.
”
Mais
declarações e demonstrações de unidade como estas são esperadas. No meio tempo,
o Irã já decidiu que Israel é o culpado pelo assassinato de Fakhrizadeh e
prometeu retaliar. Israel está tomando suas precauções, mas as próximas sete
semanas serão de espera e ansiedade para todo o mundo ocidental.