Sunday, November 29, 2020

Fakhrizadeh e a Vingança do Irã - 29/11/2020

 Dois eventos marcaram o noticiário nesta semana. O primeiro foi o assassinato do chefe do programa nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh.

Fakhrizadeh não era apenas um cientista nuclear. Ele também era um brigadeiro general da Guarda Revolucionaria Iraniana. Diferentemente de Qassem Soleimani, o líder da Guarda Revolucionaria assassinado pelos Estados Unidos em Janeiro, Fakhrizadeh era uma pessoa extremamente privada, nunca visto em qualquer evento oficial, nunca dando entrevistas, ou mesmo permitindo que o fotografassem.

Quando em 2018, Bibi Netanyahu revelou ao mundo o arquivo nuclear do Irã, ele mostrou um documento no qual Fakhrizadeh instruía seus subalternos a anunciar o fim do Projeto Amad, o programa de desenvolvimento de ogivas nucleares, e desviar sua pesquisa em tecnologia para outras áreas e projetos. E foi exatamente isto que o Irã fez.

Em 2018, os objetivos do Projeto Amad haviam sido transferidos para um departamento do Ministério da Defesa do Irã, liderado por não outro que Fakhrizadeh.

Vários cientistas nucleares iranianos foram assassinados ao longo dos anos, mas Fakhrizadeh foi de longe o mais importante a ser morto até hoje. Ele era tão importante que só depois de Netanyahu mostrar sua foto é que fotos dele se tornaram disponíveis. As autoridades iranianas negaram repetidamente  pedidos da Agência Internacional de Energia Atômica para entrevistá-lo. O Irã fez um esforço sobre humano para protegê-lo.

Embora ninguém tenha reivindicado o assassinato, as tensões entre o Ocidente e o Irã têm sido altas. Vários relatos especularam que os EUA atacariam a instalação de enriquecimento de urânio em Natanz antes de Donald Trump deixar o cargo. Mas Trump se convenceu que um ataque direto ao Irã seria muito arriscado e talvez remover Fakhrizadeh fosse a segunda melhor escolha.

Nas últimas semanas, altos funcionários israelenses se reuniram com seus colegas americanos para discutir a ameaça representada pelo Irã.

Israel considera o programa nuclear do Irã como sua preocupação número um. Como disse o Tenente-General do Chefe de Gabinete do exercito de Israel, Aviv Kochavi, “O Irã se tornou o país mais perigoso do Oriente Médio tendo feito progressos significativos em seu programa nuclear e em armas convencionais”.

No meio deste ano, o Irã foi atingido por uma série de explosões misteriosas - especificamente em locais conectados ao seu projeto nuclear e de mísseis. Estes eventos e a morte de Fakhrizadeh podem ter dado um sério golpe no programa nuclear do Irã.  

A morte de Fakhrizadeh deve ser considerada pelos mulás em Teerã que nem Israel nem os EUA desistirão de impedir que o país obtenha armas nucleares.

E aí temos o segundo evento. No domingo passado, Bibi Netanyahu discretamente voou para a Arábia Saudita para se encontrar com o príncipe Mohammed Bin Salman. A reunião foi supostamente para discutir o Irã e uma possível normalização das relações entre os dois países. E também ao que parece, o Secretário de Estado americano Mike Pompeo, também estava presente.

O fato de essa reunião ter acontecido é uma grande notícia. Israel e a Arábia Saudita não têm relações diplomáticas. Duas vezes, em 1948 e 1973, os sauditas enviaram tropas para travar guerra contra Israel.

Muita coisa mudou desde então, e a principal mudança é que Israel e a Arábia Saudita e outros Estados do Golfo estão do mesmo lado de um grande problema: a ameaça do Irã. Essa ameaça é o que, acima de outras considerações provocou os acordos de paz com países do Golfo e o Sudão.

Não é segredo que quando os EUA estavam negociando o acordo com o Irã, os embaixadores de Israel e dos Emirados Árabes Unidos estavam trabalhando juntos para tentar convencer o governo Obama a exigir o fim do programa nuclear iraniano.

Na época, Netanyahu foi à frente, discursando perante as duas casas do Congresso para a fúria de Obama, deixando os líderes árabes tomar um caminho mais diplomático. Mas esta liderança de Netanyahu mostrou aos países do Golfo em 2015, que Israel leva a ameaça do Irã muito a serio e está disposta a fazer o que for preciso para detê-la.

Agora, em 2020, a cooperação entre Israel e os estados árabes nesta frente não é mais segredo. Israel tem novas relações diplomáticas com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein; e laços não oficiais com a Arábia Saudita, que alcançaram novos patamares nesta semana.

Com a possível transição do governo Trump que colocou sanções de "pressão máxima" sobre o Irã para um governo Biden que busca retornar ao acordo com o Irã que lhe concede um caminho para a bomba, as parcerias de Israel com os Estados do Golfo se tornam fundamentais.

Trump por seu lado, está claramente comprometido em continuar a pressão contra o Irã. O Comando Central do exército americano divulgou no último fim de semana, que bombardeiros americanos B-52 voaram uma “missão de longo alcance no Oriente Médio para deter a agressão e tranquilizar os parceiros e aliados dos EUA”. Este foi um sinal claro para o Irã: aviões americanos com capacidade de explodir suas instalações nucleares estão nas proximidades.

Apesar dessa demonstração de força, Israel e outros países visados ​​pelo Irã não podem se arriscar quando Trump deixar o cargo. Israel, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita estão dizendo claramente ao novo governo Biden que não aceitarão um novo acordo com Irã sentados. Israel não está mais sozinha. Os Estados do Golfo estão agora ao seu lado.

E, de fato, o rei Salman da Arábia Saudita exortou o mundo a tomar “uma posição decisiva contra o Irã que garanta uma resolução drástica de seus esforços para obter armas de destruição em massa e desenvolver seu programa de mísseis balísticos. ”

Mais declarações e demonstrações de unidade como estas são esperadas. No meio tempo, o Irã já decidiu que Israel é o culpado pelo assassinato de Fakhrizadeh e prometeu retaliar. Israel está tomando suas precauções, mas as próximas sete semanas serão de espera e ansiedade para todo o mundo ocidental.

 

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