Sunday, July 31, 2022

Quando a ONU Viola Suas Próprias Regras - 31/07/2022

 

Algumas vezes acontece de eu escrever aqui sobre a ONU – pelo menos uma vez a cada três meses. Isso porque é a cada três meses que o Conselho de Segurança da ONU realiza sua mandatória sessão sobre Israel. O único país a sofrer este tipo de bullying diplomático deste monstruoso organismo mundial que se alimenta em promover o antissemitismo em vez de promover os direitos humanos e a paz.

Mas a ONU não se restringe a atacar o estado judeu somente quatro vezes por ano. Caso o assunto corresse o risco de sair do radar mundial, no final do ano passado a ONU lançou uma investigação sem precedentes sobre supostos “crimes de guerra contra Israel, com mandato de apresentar um relatório duas vezes por ano, e sem data para terminar. Como a ONU concedeu exclusivamente aos palestinos o status de refugiados perpétuos, um status que eles podem passar de geração em geração, ela precisa, paralelamente, manter o status de Israel como o culpado perpétuo.

O fato de os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança incluírem a Rússia e a China pode explicar por que a organização prefere se concentrar em Israel em vez de algo mais próximo a elas.

A verdade é que daria para falar sobre a hipocrisia e discriminação da ONU contra Israel toda semana, mas esta é uma ocasião especial. É difícil ficar em silêncio depois que o funcionário da ONU Miloon Kothari, um dos três membros da “Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre o Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental e em Israel” repetiu numa entrevista, uma das mais velhas tropes antissemitas conhecidas.

Mas vamos ver primeiro o que é esta Comissão. Ela foi inicialmente aprovada em maio de 2021 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, outro órgão da ONU que obsessivamente ataca Israel. Ela se seguiu à Operação Guardião dos Muros de 11 dias que começou quando o Hamas em Gaza lançou mísseis, primeiro em Jerusalém e depois em grande parte do resto do país. A Comissão de Inquérito é composta por três membros, todos com um longo histórico de ativismo contra Israel.

A comissão é chefiada pela sul-africana Navi Pillay, ex-Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, que no passado apoiou pedidos para boicotar e sancionar Israel. Os outros, Christopher Sidoti e Milton Kothari, não têm históricos menores de retórica vitriólica e ações anti-Israel.

Pillay, ainda no ano passado, assinou uma carta ao presidente Joe Biden se referindo à “dominação e opressão do povo palestino” e pediu aos EUA que abordassem a “discriminação e opressão sistêmica sempre crescentes de Israel”. No ano anterior, ela assinou uma petição intitulada “Sancionando o Apartheid de Israel”.

Sidoti não é menos comprometido. Ele é consultor do Centro Australiano para Justiça Internacional, uma organização doentiamente anti-Israel que exigiu que a Austrália apoiasse o movimento BDS contra Israel e instituísse o processo penal contra israelenses por crimes de guerra. A mesma organização assinou uma carta que denunciava “a brutalidade sistemática, perpetrada ao longo das últimas sete décadas de colonialismo de Israel, apartheid = e prolongada ocupação beligerante ilegal …” No mês passado Sidoti afirmou que judeus lançavam acusações de antissemitismo “como arroz em um casamento”.

Mas foi o terceiro membro do painel que atraiu as manchetes esta semana. Em uma entrevista ao site pró-palestino e antissionista Mondoweiss que foi publicada na segunda-feira, o advogado indiano Kothari não apenas questionou a participação de Israel como membro da ONU dizendo “Eu chegaria a ponto de levantar a questão de por que Israel é mesmo membro da Nações Unidas” – ele chegou a dizer que os judeus controlam as mídias sociais.

Chateado com as críticas à investigação da Comissão, inclusive por alguns governos, Kothari disse: “Estamos muito desanimados com a mídia social que é controlada em grande parte por – seja o lobby judaico ou ONGs específicas – muito dinheiro está sendo jogado na tentativa de nos desacreditar”.

Bem... não custa nada desacreditar esta comissão – eles próprios fazem um bom trabalho. Já em 2001, Kothari escreveu um relatório durante a Segunda Intifada, usando palavras como “massacre” e “limpeza étnica” para descrever o tratamento de Israel aos palestinos e se referiu ao terrorismo palestino como resistência. Alguém poderia ter pensado que, nesta altura, Kothari poderia ter inventado algo mais original do que os tropos anti-semitas do controle judaico da mídia apoiado por dinheiro judaico.

A Missão Permanente de Israel nas Nações Unidas em Genebra emitiu um comunicado chamando os comentários de Kothari de “extremamente perturbadores” e observando que Israel tinha questionado sua nomeação em vista de suas observações anteriores.

“Desde que a Comissão foi formada em maio de 2021, enquanto mísseis caíam sobre civis israelenses, ... o único objetivo [de Kothari] era argumentar que a raíz da causa do conflito era a própria criação do Estado de Israel e nada mais”. “Agora ficou ainda mais evidente que esta é a visão dos próprios Comissários, bem como de muitos dos Estados membros que criaram esta comissão. Indivíduos com opiniões tão tendenciosas nunca deveriam ter sido nomeados para cargos que exigem os mais altos padrões de imparcialidade, objetividade e independência. Em outras palavras, com cada relatório, a Comissão está se aproximando mais à conclusão que Israel não deveria ter sido criada.

Não há fim para as tentativas de deslegitimar Israel. E, as notícias dos comentários de Kothari vieram junto com a publicação de outro relatório feito pelo Coordenador Especial da ONU para a Paz no Oriente Médio que cobre o período de 27 de junho a 21 de julho deste ano. Parece que a ONU não tem mais nada para fazer além de relatórios sobre Israel. Que país aceitaria estar sob uma lupa destas?

A ONU nunca se perdoou por ter votado a favor da criação de Israel há 74 anos. Mas na época, as apostas diziam que o Estado não iria sobreviver de qualquer maneira, a uma invasão árabe. Então, nada melhor do que limpar a consciência do mundo pelo Holocausto, dando um estado aos judeus, que seria logo destruído, acabando o que Hitler havia começado. Que decepção deve ter sido quando Israel conseguiu vencer e sobreviver.

Hoje, a ONU já reconhece um Estado da Palestina ao mesmo tempo em que descreve os palestinos como refugiados. E este relatório é ainda mais absurdo. Enquanto condena Israel e o que chama de colonos judeus por 27 ataques a palestinos resultantes em 12 feridos e/ou danos a oliveiras, ele também descreve 50 ataques de palestinos contra civis israelenses, 39 dos quais por apedrejamento, esfaqueamentos, coquetéis molotovs e outros incidentes.

Em outras palavras, houve mais ataques a civis israelenses por palestinos do que o contrário. Mas para a ONU, todos os palestinos são considerados inocentes, ao contrário dos soldados israelenses que arriscam suas vidas para impedir ataques terroristas, que são sempre culpados. Como aceitar uma comissão que vai te culpar por ter sido atacado? Mas a ONU o faz. E quando se retira o direito de um individuo ou de um estado de autodefesa, você está removendo sua própria humanidade. Baratas não têm o direito de se defender.

Não seria mais produtivo fazer uma investigação séria sobre a participação da agência da ONU para os palestinos UNRWA na construção de túneis do Hamas e armazéns de armas em suas escolas e hospitais? Mas não.

As regras da ONU são claras. Elas exigem imparcialidade por parte dos indivíduos que conduzem investigações e inquéritos em nome da ONU– e Pillay, Sidoti e Kothari violam completamente essas regras. Eles têm que ser demitidos.

O triste é que mesmo sem saber quando terroristas do Hamas, Jihad Islâmico, ou a Hezbollah irão atacar Israel, podemos ter certeza de uma coisa: que quando o fizerem, a ONU estará pronta – com um relatório contundente criticando a resposta de Israel.



 

Sunday, July 24, 2022

A Fatwa Mentirosa do Irã - 24/07/2022

 

Na última sexta-feira, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi, disse ao jornal espanhol El País, que o programa nuclear do Irã está avançando a passos “galopantes” e que a Agência tem visibilidade muito limitada sobre o que está acontecendo. Em junho, o Irã começou a remover essencialmente todos os equipamentos de monitoramento da Agência da ONU.

Isso, junto com as últimas ações de Teerã, não deixam muito para a imaginação sobre os propósitos dos mulás.

Jamshid Sharmahd de 67 anos é um jornalista e engenheiro de software alemão-iraniano. Ele nasceu em Teerã, mas se mudou com a família para a Alemanha quando tinha apenas sete anos. Ele é cidadão alemão desde 1995. Em 2003 ele se mudou para os Estados Unidos, onde reside legalmente. No final de julho de 2020, Jamshid foi sequestrado em Dubai e trazido para o Irã para ser julgado por espionagem. O governo iraniano alega que ele é responsável por um ataque em 2008 a uma mesquita em Shiraz que matou 14 pessoas e feriu 200. Ele pode receber a pena de morte por estes crimes fakes.

Por muito menos, em 2020, o Irã executou Ruhollah Zam, um jornalista que vivia na França e que também foi sequestrado em visita ao Iraque. O crime? O de corromper a terra. Seja lá o que isso for.

Em julho do ano passado, o Irã tentou sequestrar Masih Alinejad, uma autora iraniana que mora em Nova Iorque, que lançou uma campanha online contra o uso forçoso do véu no Irã.

Por outro lado, o Parlamento belga, com 79 parlamentares a favor e 41 contra, ratificou um tratado com o Irã na noite da última quarta-feira permitindo que Bruxelas liberte um terrorista iraniano condenado por tentar bombardear uma manifestação anti-regime. Assim, Bruxelas agora poderá libertar Assadollah Assadi, que cumpriu apenas um ano de sua sentença de 20 anos por conspirar para bombardear um comício do grupo de oposição exilado, o Conselho Nacional de Resistência do Irã, perto de Paris em 2018.

O governo belga argumentou que o tratado poderia garantir a libertação do trabalhador humanitário belga Olivier Vandecasteele, detido no Irã em fevereiro. O professor da Universidade de Bruxelas Ahmadreza Djalali, que tem dupla cidadania iraniana-sueca, também está detido no Irã desde 2016 por acusações forjadas de espionagem.

O legislador François de Smet, líder do partido de oposição Defi, twittou: “A Bélgica está enviando a mensagem de que sua justiça está à venda”. Outro deputado Michael Freilich chamou o acordo de "escandaloso" em um tweet após a votação.

Freilich disse no início deste mês: “A Bélgica está cometendo um grave erro ao ceder à chantagem, e acho que estamos abrindo as portas do inferno assinando este tratado com o diabo. O Irã saberá que pode agir com impunidade, porque se seu pessoal, que trabalha sob cobertura diplomática for pego, sempre terá a possibilidade de voltar ao seu país por meio dessas trocas, dessa chantagem”.

Para os que votaram a favor, aceitar a chantagem iraniana é um “mal menor”.

E é esta a tática do Irã. Sequestros, ataques terroristas e patrocínio de grupos terroristas que têm como único objetivo desestabilizar outros países para expandir seu domínio, como o Iraque, a Síria, o Líbano e o Iêmen.

No início desta semana, o Irã declarou que agora tem capacidade de desenvolver uma arma nuclear se decidir, como uma ameaça a Israel depois da visita do presidente americano Joe Biden. O presidente do Conselho Estratégico de Relações Exteriores do Irã, Kamal Kharrazi declarou que em poucos dias conseguimos enriquecer urânio em até 60% e podemos facilmente produzir urânio enriquecido em 90%... O Irã tem os meios técnicos para produzir uma bomba nuclear”. Embora Kharrazi tenha acrescentado a ressalva de que “não houve decisão do Irã de fabricar uma bomba”, a declaração foi um claro aviso aos Estados Unidos e a Israel.

Mas durante uma coletiva de imprensa na quarta-feira passada, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Naser Kanani, desvendou uma velha mentira à qual o regime de Teerã recorre regularmente quando finge ter objetivos pacíficos para seu programa nuclear. Ele disse que em relação ao tema das armas de destruição em massa, temos a fatwa [decreto religioso]”, que proíbe tais armas letais na lei islâmica e pela mais alta autoridade islâmica do Irã, o Supremo Líder aiatolá Ali Khamenei.

Se as observações de Kharazzi escaparam sem pré-aprovação de Khamenei, ninguém sabe. Mas elas merecem ser levadas mais a sério do que a afirmação ridícula de que o Irã está enriquecendo urânio apenas para fins de energia civil. Isso é parte da tática iraniana de falar com os dois lados da boca. Por um lado, eles juram aderir a uma fatwa antinuclear e por outro, se gabam de testes bem-sucedidos de mísseis balísticos e atividade de centrifugação de alto grau.

O ministro da Inteligência iraniano, Mahmoud Alavi, usou essa mesma retórica falsa no ano passado. Em fevereiro de 2001, ele declarou que o Líder Supremo disse explicitamente em sua fatwa que as armas nucleares são contra a lei da sharia e a República Islâmica as vê como religiosamente proibidas e não as persegue”. “Mas um gato encurralado pode se comportar de maneira diferente. de quando o gato está livre. E se eles [os estados ocidentais] nos empurrarem nessa direção, então não mais será a culpa do Irã.”

Ele fez parecer que uma fatwa é algo bastante flexível, e violá-la não é algo tão problemático. Mas é aí que está o problema. A fatwa em questão, é uma farsa.

A notícia desta fatwa foi usada pelo Irã para mostrar ao governo do então presidente Barack Obama, que as intenções de Teerã ao entrar no acordo nuclear eram honrosas. Ela foi música para os ouvidos de Washington, e ninguém na Casa Branca ou no Departamento de Estado se incomodou em verificar se ela verdadeira ou não. Obama, assim como Biden, acreditam que qualquer acordo com o Irã é um “mal menor”.

Mas a Memri, o Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio começou a investigar o assunto em 2012 e viu que Khamenei nunca emitira uma decisão jurisprudencial sobre armas nucleares. E nada disso seria relevante se a mentirosa fatwa não fosse constantemente levantada no contexto das negociações nucleares.

Isso é precisamente o que o ex-vice-ministro das Relações Exteriores iraniano Mohammad-Javad Larijani fez no domingo passado em entrevista à TV iraniana. Ele disse: “Durante a visita de Biden ao regime sionista, eles assinaram um documento jurando não permitir que o Irã obtivesse armas nucleares”. Ele então mencionou e prontamente descartou o decreto ostensivo de Khamenei. “Naturalmente, de acordo com a fatwa do [supremo] líder, somos religiosamente proibidos de obter armas de destruição em massa, e isso inclui armas nucleares”. “No entanto, se quisermos fazer isso, ninguém poderá nos parar, é claro. Eles mesmos sabem disso.” Ele continuou dizendo que as capacidades nucleares do Irã “são o orgulho do mundo islâmico”.

Ele deve ter esquecido os países muçulmanos que normalizaram suas relações com Israel para enfrentar o que eles consideram uma fonte de medo, não “orgulho”.

As revelações sobre a maneira como o regime vem enganando o Ocidente desde o início foram motivo suficiente para Trump rasgar o acordo nuclear. Como o MEMRI relatou há menos de três meses, o ex-membro do parlamento iraniano Ali Motahari disse em abril: “Quando começamos nossa atividade nuclear, nosso objetivo era realmente construir uma bomba. Não há necessidade de rodeios… queríamos construi-la como meio de intimidação.” Aí ele explicou: "O verso do Alcorão diz: 'Ateie o medo nos corações do inimigo de Alá'". E que eu saiba, o Alcorão se sobrepõe à uma fatwa seja ela fake ou verdadeira.

A filósofa política Hannah Arendt, em seu ensaio “Responsabilidade Pessoal Baixo à Ditadura” de 1964 escreveu que: “Aqueles que dizem que escolhem o mal menor rapidamente esquecem que, em última análise, escolheram o mal”.

E é isso que não podemos esquecer.

 

 

 

 

Monday, July 18, 2022

Biden no Oriente Médio e a Obsessão Palestina dos Europeus - 7/17/2022

 

Biden está de volta aos Estados Unidos depois de sua viagem de quatro dias ao Oriente Médio. Seu objetivo foi sem dúvida a última parada, a Arabia Saudita, mas para não ficar tão evidente, ele parou em Israel e na Autoridade Palestina.

A viagem à Israel foi descrita como um sucesso. Biden fez o que ele sabe fazer melhor: se ajoelhou perante duas sobreviventes do Holocausto, foi à abertura da Macabíada, fez uma declaração conjunta com o Primeiro-Ministro do dia, Yair Lapid e reafirmou os fortes laços que ligam as duas nações. Mas Biden também exigiu fazer uma visita à Jerusalem do Leste, ao Hospital Augusta Victoria, sem estar acompanhado por qualquer israelense e retirando a bandeira de Israel que junto com a dos Estados Unidos enfeitavam a “besta”, seu carro forte. A mensagem não poderia ser mais clara que hoje a América não mais reconhece Jerusalem como a capital eterna e indivisível do povo judeu.

Depois ele foi para Belém, que fica a alguns minutos ao sul de Jerusalem e não para Ramallah por razões de segurança, imaginem só. Ramallah fica a apenas 21 km de distância. O que ficou marcado na visita a Belém, além das ameaças de Abbas sobre o estado de apartheid de Israel, foi a desafinação da orquestra palestina ao tocar o hino americano e o silêncio do presidente Biden sobre o assassinato do jornalista palestino Nizar Banat que foi surrado até a morte por policiais de Abbas. Mas tudo isso foi muito rápido e Biden então voltou sua atenção para o verdadeiro propósito de sua viagem: a Arabia Saudita.

Desde a sua campanha, Biden não parou de criticar os sauditas especialmente pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi na embaixada saudita em Istambul. Biden jurou que os sauditas pagariam o preço e seriam os párias do mundo se ele fosse eleito. Claro, as políticas de Trump na época haviam tornado os Estados Unidos independentes em energia permitindo uma torcida de nariz para a OPEC. Mas as políticas verdes de Biden mudaram isso e a invasão da Ucrânia piorou a situação. Hoje de novo os Estados Unidos são dependentes da importação de petróleo e o preço do barril não sai da casa dos $100. Com toda a sua suposta “experiencia” em relações internacionais Biden deveria ter ficado calado.

Mas a crise não começou aí.

Quando o presidente americano, Barack Obama, assumiu o cargo, ele promoveu uma política de apaziguamento com Teerã. Sua esperança era que os benefícios econômicos que viriam com um acordo nuclear convenceriam os mulás a se corrigirem. Essa visão de mundo também foi compartilhada pelos signatários europeus do acordo.

Infelizmente, o preço do erro de cálculo de Obama foi pago pelos países do Oriente Médio. Em vez de colher os benefícios econômicos advindos do acordo e normalizar seus laços com o resto do mundo, como esperado Teerã insistiu em manter sua política expansionista na região. Em vez de se voltar para seus problemas internos e trabalhar para promover o bem-estar de seus cidadãos, o Irã fez exatamente o oposto.

Quando Joe Biden assumiu a Casa Branca, as relações entre os EUA e a Arábia Saudita continuaram a piorar. Biden restringiu a compra de armas defensivas da Arábia Saudita e removeu os Houthis da lista de organizações terroristas estrangeiras. Ainda, logo no início de seu mandato, Biden procurou de todos os modos reviver o acordo nuclear de Obama, com todas as suas falhas e desvantagens, às custas de seus ex-aliados no Oriente Médio – incluindo Israel, Egito, Jordânia e Estados do Conselho de Cooperação do Golfo.

E foi um insulto pessoal que Biden fez a Mohamed Bin Salman, acusando o príncipe de ter autorizado o assassinato de Khashoggi que levou o reino, ao lado de vários outros países árabes aliados dos EUA, a buscar novos caminhos em relações internacionais e pavimentando o caminho para o diálogo com Israel.

E foi surpreendente ver alguns especialistas políticos dizerem que a viagem de Biden tiraria a Arábia Saudita do “isolamento”. Riad nunca esteve isolada. Pelo contrário, foram os Estados Unidos que ficaram isolados devido à sua política externa ilusória, inspirada no legado de Obama. Essa política falhou no Oriente Médio, assim como na Ucrânia, com a Rússia, e com a China.

Mas voltando a Israel, de todas as declarações de Biden, suas juras de apoio, de seu suposto sionismo, foi a reiteração do seu apoio à uma solução de dois estados, com um estado palestino contíguo e com a capital palestina em Jerusalem do Leste que foi a mais irritante. Primeiramente, para dar contiguidade ao estado palestino, entre Gaza e a Judeia e Samaria, será preciso cortar Israel em dois além de expulsar 700 mil judeus da Judeia, região que deu origem ao seu nome. Ainda, as linhas de 1967 são na verdade as linhas de armistício entre Israel, a Jordânia e o Egito depois da guerra de 1948 que hoje não dão qualquer profundidade estratégica a Israel, nem mesmo para decolar aviões do Aeroporto internacional. Em alguns lugares Israel teria uma largura de apenas 14 km. As linhas de Auschwitz como dizia o Ministro das Relações Exteriores de Israel Abba Eban.

Com estas declarações absurdas desta administração americana que só fortalecem a irredutibilidade de posição dos palestinos, não há como voltar à mesa de negociação. Mas os palestinos podem contar também com os europeus para isso. Nesta última terça-feira, nove países europeus declararam que continuariam apoiando as ONGs palestinas designadas por Israel no ano passado como organizações terroristas.

Em uma declaração conjunta, os ministérios das Relações Exteriores da Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Espanha e Suécia argumentaram que Israel não havia fornecido “informações suficientes…sobre estes grupos da sociedade civil”.

Referindo-se à área em que as referidas organizações operam como Territórios Palestinos Ocupados – e não Autoridade Palestina – esses membros da UE disseram que “se houver evidência em contrário, agiremos de acordo”. Isso foi depois de professarem levar “acusações de terrorismo ou ligações a grupos terroristas … com a máxima seriedade”.

Para justificar o financiamento destas ONGs, estes países declararam que “uma sociedade civil livre e forte é indispensável para promover os valores democráticos e para a solução de dois Estados”. Esta frase por si só é prova da cegueira deliberada da Europa quando se trata de todas as coisas palestinas.

Em primeiro lugar, não há nada de “livre” na AP, que é controlada por tiranos e corruptos. Em segundo lugar, nenhum “valor democrático” está sendo promovido pelos chefões de Gaza e Ramallah. Nem eles mesmos pedem por uma “solução de dois estados”. Muito pelo contrário. Eles educam as crianças para odiar os judeus e Israel; enchem suas salas de aula e meios de comunicação com propaganda que encoraja a destruição do estado judeu; e pagam salários nababescos para aqueles que realizam ataques contra Israel e seus habitantes.

Há menos de duas semanas, o primeiro-ministro da AP, Mohammad Shtayyeh, acusou Israel de “aumentar a dor das famílias enlutadas pela perda de seus filhos, retendo seus cadáveres para usá-los nos laboratórios das faculdades de medicina de Israel em flagrante violação dos direitos humanos, valores, princípios e ética científica”. E assim ele pediu o boicote das universidades israelenses.

Essa farsa palestina, uma entre muitas, é digna de nota por sua inerente ironia. Ou Shtayyeh não percebe ou não se importa que um setor em Israel que é especialmente simpático a ele e seus colegas mentirosos é a academia. De fato, os campi israelenses estão repletos de professores e estudantes de esquerda – judeus e árabes – protestando a “ocupação”.

O que nos leva ao turbilhão que explodiu na esquerda, em Israel e no exterior, quando o ministro da Defesa, Benny Gantz, anunciou no final de outubro que ele estava designando seis ONGs palestinas como organizações terroristas pois eram de fato, braços da Frente Popular para a Libertação da Palestina; uma organização apoiada pelo Irã, proibida nos EUA, UE, Canadá, Austrália e Israel, cujo principal objetivo é a destruição de Israel.

Organizações de esquerda nos EUA se referiram à designação como uma “medida repressiva” para tornar ilegal grupos importantes de direitos humanos palestinos. Sim, direitos humanos. Até parece que a Frente Popular para a Libertação da Palestina é conhecida como defensora destes valores. A congressista americana Ilhan Omar twitou que Israel deveria ser punida. Os partidos árabes e de esquerda de Israel também denunciaram a listagem.

O Professor Gerald Steinberg presidente da organização que monitora ONGs, defendeu o Ganz. Ele disse que para entender a decisão era preciso olhar para o contexto político e ideológico. “Atrás do rótulo de ONGs estas redes são parte integral da estratégia palestina. Elas recebem fundos de governos estrangeiros, principalmente europeus em troca de influência e informação. Sob o disfarce de sociedade civil, as ONGs cooperam com seus patrocinadores europeus, promovendo a guerra de poder contra Israel, incluindo as campanhas de apartheid e crimes de guerra.”

Steinberg explicou, que “a designação israelense constitui uma grande ameaça para os atores investidos nas ONGs e suas campanhas políticas.

“Quando as autoridades europeias dizem que não veem ‘nenhuma evidência’ das ligações terroristas de ONGs palestinas, estão ignorando vários exemplos verificáveis abertamente, inclusive na mídia. Não há desculpa para esse abuso cego dos fundos públicos”.

Bruxelas, Copenhague, Paris, Berlim, Dublin, Roma, Amsterdã, Madri e Estocolmo claramente discordam. O que seus governos não conseguem ver é que não são apenas suas próprias populações que são roubadas como resultado desta loucura.

Enquanto o dinheiro for jogado na direção errada e concedido a maus atores, os palestinos não poderão criar uma “sociedade civil” de qualquer tipo, muito menos uma sociedade livre e democrática ou que respeita direitos humanos.


Sunday, July 10, 2022

A Visita de Biden a Israel - 10/07/2022

 

Em seu livro de memórias de 2014, Robert Gates, o secretário de Defesa dos governos Bush e Obama, disse que Biden “esteve errado em quase todas as principais questões de política externa e segurança nacional nas últimas quatro décadas”.

De fato, se olharmos para sua lista de posições, esta afirmação é verdadeira.

Em 1975, Biden se opôs a dar ajuda ao governo sul-vietnamita durante sua guerra contra o Norte, garantindo a vitória de um regime brutal e causando um êxodo em massa de refugiados.

Em 1991, Biden se opôs à Guerra do Golfo, uma das campanhas militares mais bem-sucedidas da história americana. Mas em 1998 criticou o primeiro presidente Bush por não ter deposto Saddam Hussein.

Em 2003, Biden apoiou a Guerra do Iraque, mas em 2007, ele se opôs à estratégia de aumentar as tropas, chamando-a de “erro trágico”. Na verdade, o aumento levou a um progresso impressionante, incluindo quedas dramáticas nas mortes de civis e violência sectária.

Em dezembro de 2011, o presidente Barack Obama e o vice-presidente Biden decidiram retirar a reduzidíssima presença de tropas americanas no Iraque declarando que o Iraque “poderia ser uma das grandes conquistas deste governo”. Sua decisão levou o Iraque a uma espiral de violência sectária e guerra civil, permitindo que o Irã expandisse sua influência e abrindo caminho para a ascensão do ISIS.

Sobre o ataque que matou bin Laden, Obama escreveu em suas memórias, que Biden o aconselhou a postergar a ação.

Em 2012, Biden disse em uma entrevista que “o Talibã em si não era nosso inimigo”. Ele acrescentou: “Se, de fato, o Talibã for capaz de derrubar o governo existente, que está cooperando conosco para impedir que os bandidos possam nos causar danos, então isso se tornará um problema para nós”. Pois é.

Em 2021, a desastrosa e estabanada retirada americana do Afeganistão mergulhou o país novamente na Idade da Pedra, as meninas e moças proibidas de frequentarem a escola, universidades, ou de trabalharem e a fome hoje impera.

E isso para não falar de Israel.

Biden sempre foi consistente em opor os assentamentos judaicos onde quer que sejam, mesmo bairros judaicos de Jerusalem. Ele e Obama pressionaram Netanyahu a congelar qualquer construção, mesmo as de dentro de cidades judaicas na Judeia e Samaria por mais de um ano para supostamente trazer Mahmoud Abbas de volta à mesa de negociações, o que não aconteceu. Quando o Hamas atacou Israel, ele pressionou Israel para declarar um cessar-fogo unilateral que só encorajaria o Hamas a continuar lançando mísseis em Israel.

Por que Biden está tão consistentemente errado em questões importantes de política externa? Será que ele não consegue entender os fatos, ou possui um instinto defeituoso?

Para começar, precisamos reconhecer que Biden nunca foi uma pessoa de inteligência superior. Ele procura compensar por um complexo de inferioridade intelectual, que se mostrou na sua história de plágio, mentiras sobre suas realizações acadêmicas e outros exageros. É um homem que se comporta como se soubesse muito mais do que sabe, que arrogantemente confia mais em seu próprio julgamento do que nos conselhos contrários de especialistas. Seus pontos fortes sempre foram suas habilidades pessoais de relacionamento. Sua capacidade de dar abraços, tapinhas nas costas, apertar as mãos. Isso está bem longe de conferir a alguém uma visão estratégica e uma compreensão sofisticada de eventos e forças históricas.

E por que isso é importante?

Porque Biden está indo para Israel esta semana.

Sem dúvida, a visita de um presidente americano a Israel é uma tremenda oportunidade para fortalecer as relações com os EUA, um aliado de longo tempo, bem como com os países árabes moderados da região. Mostra que sua aliança com os EUA é firme e sólida e que Israel continua a desfrutar de um relacionamento próximo e especial com Washington.

Além da ótica que a visita transmite para amigos e inimigos, o que Israel quer com esta visita? Primeiro, Israel quer ser incluída na coordenação das tratativas com os iranianos. Ela quer coordenar com Biden o que acontecerá em relação à República Islâmica se não houver um novo acordo nuclear e quer saber que tipo de arquitetura de segurança os EUA planejam para o Oriente Médio nessa eventualidade. Israel não quer apenas ouvir, quer dar sua opinião. Além disso, Israel também quer ouvir de Biden o que os EUA planejam fazer se um acordo for assinado e o Irã o violar.

Mas Biden não está vindo para Israel para sair sem nada e seu governo reconhece a fraqueza do atual governo de transição, e as equipes que já chegaram ao país estão solicitando concessões de Israel que nunca ousariam pedir se Israel tivesse um governo de direita forte. Primeiro, o consentimento de Israel para o estabelecimento de uma representação da Autoridade Palestina na travessia de Allenby com a Jordânia e segundo, o consentimento tácito, e talvez até expresso do primeiro-ministro Yair Lapid, para a visita de Biden a instituições simbólicas da AP no leste de Jerusalém. Essas concessões provavelmente custarão caro a Israel nos próximos anos. Nenhum presidente americano jamais visitou Jerusalém do Leste e isso poderá abrir o caminho para os Estados Unidos desafiarem a soberania de Israel sobre Jerusalém. Lapid, como primeiro-ministro interino, está dando luz verde a eles, mas não tem autoridade para permitir que tal manobra ocorra.

Biden também passará algumas horas na Autoridade Palestina com o presidente da AP Mahmoud Abbas. Lá, também, Biden ouvirá pedidos. Os palestinos vão querer ouvir Biden falar sobre a solução de dois Estados e dar passos concretos para trabalhar em direção a um “horizonte diplomático”. Eles vão querer concessões sobre a abertura de um consulado em Jerusalém Oriental, a reabertura do escritório da Organização para a Libertação da Palestina em Washington e promessas de mais apoio financeiro à AP.

Eles provavelmente ficarão desapontados, pois – ao contrário de outros presidentes em viagens a Israel e ao Oriente Médio – a questão palestina, não está nem perto do topo da agenda do presidente para esta viagem.

Na sexta-feira, Biden será o primeiro presidente americano a voar de Israel diretamente para a Arabia Saudita, que é realmente o que interessa a Biden. Ele quer melhorar as relações depois que disse que os sauditas deveriam ser tratados como “párias” pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

Na Arábia Saudita, tanto Biden quanto os sauditas têm seus desejos.

Biden quer, na verdade, ele precisa desesperadamente, que os sauditas aumentem a produção de petróleo para compensar as deficiências no fornecimento causadas por sua própria política interna verde de ter fechado a produção de carvão e reduzido a prospecção de petróleo. Isso, junto com a invasão da Ucrânia pela Rússia, levou à disparada dos preços da gasolina nos EUA.

O presidente está fazendo sua viagem ao Oriente Médio enquanto a economia americana está em crise, levando seus números de popularidade ao tanque. Biden espera que na Arábia Saudita possa encontrar uma cura, pelo menos, para os preços do combustível.

Mas isso pode ser um pedido grande demais. Os sauditas, se ressentem da maneira miserável com que foram tratados por Biden e por este governo, e não têm muita pressa em ajudar o presidente. A redução dos preços da gasolina ajudará os democratas – prestes a serem derrotados em cinco meses nas eleições para o Congresso dos EUA. Os sauditas não estão interessados ​​em que os democratas se saiam bem nas pesquisas. Se qualquer coisa, eles prefeririam um Congresso republicano e – em mais dois anos – um presidente republicano.

Os sauditas também têm seus desejos. Eles querem que os EUA reconheçam que Riad é um parceiro estratégico leal há 80 anos; querem que os EUA reconheçam que o país sofreu com os ataques dos Houthis; querem que os Houthis sejam recolocados na lista americana de organizações terroristas; querem o respeito de Washington, e não serem vistos meramente como o posto de gasolina dos Estados Unidos.

Além disso, eles querem garantias de Biden de que podem contar que os EUA não estão se retirando da região e ainda estão dispostos a usar seu vasto poder militar para protegê-los do Irã.

Biden voará para uma região esta semana na qual muitas partes diferentes têm pedidos e expectativas diferentes, às vezes conflitantes. Inevitavelmente, algumas delas vão se decepcionar. O próprio Biden pode estar entre elas.

Sunday, July 3, 2022

A Guerra Psicologica do Hamas - 03/07/2022

 

Em um claro ato de guerra psicológica, a organização terrorista Hamas publicou na terça-feira desta semana, um vídeo do beduíno israelense Hisham al-Sayed visivelmente debilitado, com uma máscara de oxigênio preso ao rosto e parecendo estar muito confuso. Além de al-Sayed, o Hamas também mantém prisioneiro Avera Mengistu, uma israelense de ascendência etíope, além dos corpos de dois soldados mortos na Operação Protective Edge em 2014.

Ao contrário do tenente Hadar Goldin e do sargento Oron Shaul, que são dados como mortos, acredita-se que Sayed e Mengistu estejam vivos, embora não tenha havido noticia deles desde que entraram em Gaza, Mengistu em 2014 e Sayed no ano seguinte. Ambos têm problemas mentais e provavelmente entraram em Gaza desavizadamente.

Os corpos dos dois soldados e os dois israelenses, estão sendo detidos em clara, patente, violação do direito internacional. Como aconteceu com Gilad Schalit, não foram permitidas visitas à eles nem mesmo pela Cruz Vermelha. Imaginem as condenações internacionais se Israel decidisse fazer isso? O fato de o primeiro sinal de vida de Sayed ter sido dele filmado perto da morte foi proposital – outra arma cruel no arsenal da guerra psicológica.

A publicidade no caso dos cativos do Hamas é, do ponto de vista de Israel, uma faca de dois gumes, que corta fundo dos dois lados. Quanto mais atenção os prisioneiros recebem, maior o preço o Hamas exige em troca de informações sobre eles e sua eventual libertação.

O Hamas por seu lado ganha de qualquer maneira. Embora seja o grupo apoiado pelo Irã que está mantendo quatro cativos, Israel será considerado responsável por seus destinos, especialmente os dois que estão vivos. Quanto pior a situação deles se tornar, mais Israel será culpada por não fazer o suficiente para liberá-los. Sayed e Mengistu não têm estado nas manchetes da maneira que o soldado Gilad Schalit esteve durante seus mais de cinco anos de cativeiro pelo Hamas. Schalit, também sequestrado por um túnel de terror, acabou sendo devolvido em 2011 em troca de mais de 1.000 prisioneiros, a maioria palestinos e árabes israelenses. Muitos desses prisioneiros libertados mais tarde retornaram ao terrorismo. O trauma da troca de Schalit é uma das razões pelas quais Israel não está disposta a novamente pagar um preço tão alto.

Há também diferenças fundamentais entre a forma como os israelenses se relacionam com os soldados sequestrados durante seu serviço militar e os casos de Sayed e Mengistu, que sofrem de problemas mentais e entraram em Gaza por vontade própria.

Mas não é normal que o Hamas divulgasse o vídeo de Sayed sem pedir algo em troca. Isso por si só levanta questões não apenas de por que, mas por que agora?

O Hamas disse que estaria disposto a libertar Sayed em troca de prisioneiros palestinos em prisões israelenses que estejam doentes. Isso parece até uma piada ruim. Os cidadãos detidos contra sua vontade, sem contato com suas famílias e com o mundo exterior, não podem ser comparados a prisioneiros de segurança que pertencem à organizações terroristas. Não há semelhança em quem eles são e nas condições em que estão sendo mantidos. E é vergonhoso para as organizações de supostos direitos humanos, que são muito vocais contra Israel, não abrirem a boca para que o Hamas liberte os corpos dos dois soldados e os dois prisioneiros israelenses com problemas mentais. Onde está o Comitê de Direitos Humanos da ONU? Só sabem se reunir para marretar Israel?

O objetivo do Hamas, ao divulgar o filme, sem pedir nada em troca foi de trazer o assunto da troca para a tona. Talvez, em parte, por causa das próximas eleições israelenses. Eles podem pensar que têm uma chance melhor de conseguir um acordo com Yair Lapid como primeiro-ministro nos próximos meses, em vez de esperar até depois das eleições, sem saber quem estará sentado no gabinete do primeiro-ministro.

Ezra Sa'ar, um ex-membro da Agência de Segurança Interna de Israel familiarizado com o assunto, alertou sobre as manipulações do Hamas. Ele disse que “o Hamas quer o máximo benefício de manter prisioneiros israelenses, mas mantê-los escondidos por anos é um negócio complicado. E não adianta fazer tudo isso sem nenhum ganho. Eles são um meio para um fim. Isso é particularmente verdadeiro no caso de Sayed e Mengistu que não foram sequestrados ativamente, mas mais ou menos caíram nas garras do Hamas”.

É provável que a condição médica de Sayed tenha se deteriorado e esteja ruim, mas, mesmo assim, o fato de o Hamas estar enfatizando a situação de Sayed em vez de Mengistu pode servir a outro propósito.

“O Hamas é muito racional”. “Ele sabe tocar nos acordes mais sensíveis da sociedade israelense.” É possível que a organização terrorista espere que o beduíno do Negev pressione o braço do Movimento Islâmico – representado na coalizão do governo Lapid pela Lista Árabe Unida Ra’am de Mansour Abbas – que, por sua vez, pressionará o governo.

O Dr. Ron Schleifer, perito em guerra psicológica disse que “do ponto de vista da guerra psicológica, o principal objetivo do sequestro de Schalit era chocar a sociedade israelense”. Neste caso, ele disse que as impressões digitais do Irã são evidentes. “O objetivo é constranger Israel – o governo e o público israelense.

“Eles estão dizendo que, mesmo com o Mossad, o exército, as unidades de inteligência e o Shin Bet, Israel não consegue encontrar alguém detido a cerca de 40 minutos de carro de Tel Aviv. É embaraçoso. Também visa dizer a Israel e ao público israelense: 'Todas as suas armas e tecnologia não significam que você pode nos derrotar.'

“Envergonhar Israel dessa maneira é engenhoso”, diz Schleifer. A imagem de Israel não é apenas prejudicada do ponto de vista humanitário, mas também prejudicada em relação à imagem de suas famosas capacidades de segurança e inteligência.

Obviamente, o Hamas também está interessado em tentar criar divisões na sociedade israelense. Nesse caso, poderia estar tentando mostrar que Israel não se importa com os dois cativos, de origem desfavorecida, tanto quanto com os soldados desaparecidos.

“O Hamas quer promover a ‘palestinização’ dos árabes israelenses”, diz Schleifer. “Uma maneira de fazer isso é embaraçar o país e dizer aos beduínos que Israel não se importa com eles como cidadãos israelenses”.

Em uma campanha de relações públicas de longo prazo, a regra básica é: você deve manter o assunto no centro do palco, diz Schleifer. “Você tem que garantir que o tema permaneça na agenda.”

Aqui reside o cerne do dilema. Colocar o assunto no centro das atenções aumenta o preço. “Quer Sayed viva ou morra, do ponto de vista do Hamas, será um sucesso.”

O Hezbollah, outro representante iraniano, sem dúvida está procurando aprender com tudo isso, assim como aprendeu com o Hamas a construir túneis de terror através da fronteira. O membro da Knesset Tzachi Hanegbi uma vez contou uma história sobre sua falecida mãe, Geula Cohen que também era uma parlamentar. Quando Hanegbi estava servindo na Primeira Guerra do Líbano, perguntaram a ela o que ela faria se seu filho fosse feito prisioneiro. A resposta dela foi: “Como mãe, eu estaria do lado de fora do gabinete do primeiro-ministro com um megafone 24 horas por dia pedindo ao governo que fizesse o que fosse necessário para obter sua libertação. Como membro do Knesset, eu me sentaria dentro do gabinete do primeiro-ministro e diria a ele para não ouvir as pessoas do lado de fora.”

A resposta de Cohen resume essa dolorosa situação.

Continuamos esperando a libertação dos cativos, não apenas dos filmes desumanos do Hamas, mas sempre levando em conta o preço desta libertação.