Na última
sexta-feira, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael
Grossi, disse ao jornal espanhol El País, que o programa nuclear do Irã está avançando a
passos “galopantes” e que
a Agência tem
visibilidade muito limitada sobre o que está acontecendo. Em junho, o Irã começou a remover
essencialmente todos os equipamentos de monitoramento da Agência da ONU.
Isso, junto
com as últimas ações de Teerã, não deixam muito para a imaginação sobre os
propósitos dos mulás.
Jamshid
Sharmahd de 67 anos é um jornalista e engenheiro de software alemão-iraniano.
Ele nasceu em Teerã, mas se mudou com a família para a Alemanha quando tinha
apenas sete anos. Ele é cidadão alemão desde 1995. Em 2003 ele se mudou para os
Estados Unidos, onde reside legalmente. No final de julho de 2020, Jamshid foi
sequestrado em Dubai e trazido para o Irã para ser julgado por espionagem. O
governo iraniano alega que ele é responsável por um ataque em 2008 a uma
mesquita em Shiraz que matou 14 pessoas e feriu 200. Ele pode receber a pena de
morte por estes crimes fakes.
Por muito
menos, em 2020, o Irã executou Ruhollah Zam, um jornalista que vivia na França
e que também foi sequestrado em visita ao Iraque. O crime? O de corromper a
terra. Seja lá o que isso for.
Em julho do
ano passado, o Irã tentou sequestrar Masih Alinejad, uma autora iraniana que
mora em Nova Iorque, que lançou uma campanha online contra o uso forçoso do véu
no Irã.
Por outro
lado, o Parlamento belga, com 79 parlamentares a favor e 41 contra, ratificou
um tratado com o Irã na noite da última quarta-feira permitindo que Bruxelas
liberte um terrorista iraniano condenado por tentar bombardear uma manifestação
anti-regime. Assim, Bruxelas agora poderá libertar Assadollah Assadi, que
cumpriu apenas um ano de sua sentença de 20 anos por conspirar para bombardear
um comício do grupo de oposição exilado, o Conselho Nacional de Resistência do
Irã, perto de Paris em 2018.
O governo
belga argumentou que o tratado poderia garantir a libertação do trabalhador
humanitário belga Olivier Vandecasteele, detido no Irã em fevereiro. O
professor da Universidade de Bruxelas Ahmadreza Djalali, que tem dupla
cidadania iraniana-sueca, também está detido no Irã desde 2016 por acusações
forjadas de espionagem.
O legislador
François de Smet, líder do partido de oposição Defi, twittou: “A Bélgica está
enviando a mensagem de que sua justiça está à venda”. Outro deputado Michael
Freilich chamou o acordo de "escandaloso" em um tweet após a votação.
Freilich
disse no início deste mês: “A Bélgica está cometendo um grave erro ao ceder à
chantagem, e acho que estamos abrindo as portas do inferno assinando este
tratado com o diabo. O Irã saberá que pode agir com impunidade, porque se seu pessoal,
que trabalha sob cobertura diplomática for pego, sempre terá a possibilidade de
voltar ao seu país por meio dessas trocas, dessa chantagem”.
Para os que
votaram a favor, aceitar a chantagem iraniana é um “mal menor”.
E é esta a
tática do Irã. Sequestros, ataques terroristas e patrocínio de grupos
terroristas que têm como único objetivo desestabilizar outros países para expandir
seu domínio, como o Iraque, a Síria, o Líbano e o Iêmen.
No início
desta semana, o Irã declarou que agora tem capacidade de desenvolver uma arma
nuclear se decidir, como uma ameaça a Israel depois da visita do presidente
americano Joe Biden. O
presidente do Conselho Estratégico de Relações Exteriores do Irã, Kamal
Kharrazi declarou que “em poucos dias conseguimos enriquecer urânio em até 60% e podemos
facilmente produzir urânio enriquecido em 90%... O Irã tem os meios técnicos
para produzir uma bomba nuclear”. Embora Kharrazi tenha acrescentado a ressalva de que “não
houve decisão do Irã de fabricar uma bomba”, a declaração foi
um claro
aviso
aos Estados Unidos e a Israel.
Mas durante uma coletiva de imprensa na
quarta-feira passada, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã,
Naser Kanani, desvendou uma velha mentira à qual o regime de Teerã recorre
regularmente quando finge ter objetivos pacíficos para seu programa nuclear. Ele disse que “em relação ao tema das armas de destruição em massa, temos a fatwa
[decreto religioso]”, que proíbe tais armas letais na lei islâmica e pela mais alta
autoridade islâmica do Irã, o Supremo Líder aiatolá Ali Khamenei.
Se as observações de Kharazzi escaparam sem pré-aprovação de
Khamenei, ninguém sabe. Mas elas merecem ser levadas mais a sério do que a afirmação
ridícula de que o Irã está enriquecendo urânio apenas para fins de energia
civil. Isso é parte da tática iraniana de falar com os dois
lados da boca. Por um lado, eles juram aderir a uma fatwa antinuclear e
por outro, se gabam de testes bem-sucedidos de mísseis
balísticos e atividade de centrifugação de alto grau.
O ministro da Inteligência iraniano, Mahmoud Alavi, usou essa mesma retórica falsa no ano passado.
Em fevereiro de 2001, ele declarou que “o Líder Supremo disse explicitamente em sua fatwa que as armas nucleares
são contra a lei da sharia e a República Islâmica as vê como religiosamente
proibidas e não as persegue”. “Mas um gato encurralado pode se comportar de
maneira diferente. de quando o gato está livre. E se eles [os estados
ocidentais] nos empurrarem nessa direção, então não mais será a culpa do Irã.”
Ele fez parecer que uma fatwa é algo bastante flexível, e violá-la não é
algo tão problemático. Mas
é aí que está o
problema. A fatwa em questão, é uma farsa.
A notícia
desta fatwa foi usada pelo
Irã para mostrar ao governo do então presidente
Barack Obama, que as intenções de Teerã ao entrar no
acordo nuclear eram honrosas.
Ela foi música
para os ouvidos de Washington, e ninguém na Casa Branca ou no Departamento de
Estado se incomodou em verificar se ela verdadeira ou não. Obama, assim
como Biden, acreditam que qualquer acordo com o Irã é um “mal menor”.
Mas a Memri,
o Instituto de Pesquisa
de Mídia do Oriente Médio começou a investigar o assunto em 2012 e
viu que Khamenei nunca
emitira uma decisão jurisprudencial sobre armas nucleares. E
nada disso seria relevante
se a mentirosa fatwa não
fosse constantemente levantada no contexto das negociações nucleares.
Isso é
precisamente o que o ex-vice-ministro das Relações Exteriores iraniano
Mohammad-Javad Larijani fez no domingo passado em entrevista à TV iraniana. Ele
disse: “Durante a visita de Biden ao regime sionista, eles assinaram um
documento jurando não permitir que o Irã obtivesse armas nucleares”. Ele então
mencionou e prontamente descartou o decreto ostensivo de Khamenei.
“Naturalmente, de acordo com a fatwa do [supremo] líder, somos religiosamente
proibidos de obter armas de destruição em massa, e isso inclui armas
nucleares”. “No entanto, se quisermos fazer isso, ninguém poderá nos parar, é
claro. Eles mesmos sabem disso.” Ele continuou dizendo que as capacidades
nucleares do Irã “são o orgulho do mundo islâmico”.
Ele deve ter
esquecido os países muçulmanos que normalizaram suas relações com Israel para
enfrentar o que eles consideram uma fonte de medo, não “orgulho”.
As revelações
sobre a maneira como o regime vem enganando o Ocidente desde o início foram
motivo suficiente para Trump rasgar o acordo nuclear. Como o MEMRI relatou há
menos de três meses, o ex-membro do parlamento iraniano Ali Motahari disse em
abril: “Quando começamos nossa atividade nuclear, nosso objetivo era realmente
construir uma bomba. Não há necessidade de rodeios… queríamos construi-la como
meio de intimidação.” Aí ele explicou: "O verso do Alcorão diz: 'Ateie o
medo nos corações do inimigo de Alá'". E que eu saiba, o Alcorão se
sobrepõe à uma fatwa seja ela fake ou verdadeira.
A filósofa
política Hannah Arendt, em seu ensaio “Responsabilidade Pessoal Baixo à
Ditadura” de 1964 escreveu que: “Aqueles que dizem que escolhem o mal menor
rapidamente esquecem que, em última análise, escolheram o mal”.
E é isso que
não podemos esquecer.
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