Em um claro ato de guerra psicológica, a
organização terrorista Hamas publicou na terça-feira desta semana, um vídeo do
beduíno israelense Hisham al-Sayed visivelmente debilitado, com uma máscara de
oxigênio preso ao rosto e parecendo estar muito confuso. Além de al-Sayed, o
Hamas também mantém prisioneiro Avera Mengistu, uma israelense de ascendência
etíope, além dos corpos de dois soldados mortos na Operação Protective Edge em
2014.
Ao contrário do tenente Hadar Goldin e do
sargento Oron Shaul, que são dados como mortos, acredita-se que Sayed e
Mengistu estejam vivos, embora não tenha havido noticia deles desde que entraram
em Gaza, Mengistu em 2014 e Sayed no ano seguinte. Ambos têm problemas mentais
e provavelmente entraram em Gaza desavizadamente.
Os corpos dos dois soldados e os dois
israelenses, estão sendo detidos em clara, patente, violação do direito
internacional. Como aconteceu com Gilad Schalit, não foram permitidas visitas à
eles nem mesmo pela Cruz Vermelha. Imaginem as condenações internacionais se
Israel decidisse fazer isso? O fato de o primeiro sinal de vida de Sayed ter
sido dele filmado perto da morte foi proposital – outra arma cruel no arsenal
da guerra psicológica.
A publicidade no caso dos cativos do Hamas
é, do ponto de vista de Israel, uma faca de dois gumes, que corta fundo dos
dois lados. Quanto mais atenção os prisioneiros recebem, maior o preço o Hamas exige
em troca de informações sobre eles e sua eventual libertação.
O Hamas por seu lado ganha de qualquer
maneira. Embora seja o grupo apoiado pelo Irã que está mantendo quatro cativos,
Israel será considerado responsável por seus destinos, especialmente os dois
que estão vivos. Quanto pior a situação deles se tornar, mais Israel será
culpada por não fazer o suficiente para liberá-los. Sayed e Mengistu não têm
estado nas manchetes da maneira que o soldado Gilad Schalit esteve durante seus
mais de cinco anos de cativeiro pelo Hamas. Schalit, também sequestrado por um
túnel de terror, acabou sendo devolvido em 2011 em troca de mais de 1.000
prisioneiros, a maioria palestinos e árabes israelenses. Muitos desses
prisioneiros libertados mais tarde retornaram ao terrorismo. O trauma da troca
de Schalit é uma das razões pelas quais Israel não está disposta a novamente pagar
um preço tão alto.
Há também diferenças fundamentais entre a
forma como os israelenses se relacionam com os soldados sequestrados durante
seu serviço militar e os casos de Sayed e Mengistu, que sofrem de problemas mentais
e entraram em Gaza por vontade própria.
Mas não é normal que o Hamas divulgasse o
vídeo de Sayed sem pedir algo em troca. Isso por si só levanta questões não
apenas de por que, mas por que agora?
O Hamas disse que estaria disposto a libertar
Sayed em troca de prisioneiros palestinos em prisões israelenses que estejam
doentes. Isso parece até uma piada ruim. Os cidadãos detidos contra sua
vontade, sem contato com suas famílias e com o mundo exterior, não podem ser
comparados a prisioneiros de segurança que pertencem à organizações terroristas.
Não há semelhança em quem eles são e nas condições em que estão sendo mantidos.
E é vergonhoso para as organizações de supostos direitos humanos, que são muito
vocais contra Israel, não abrirem a boca para que o Hamas liberte os corpos dos
dois soldados e os dois prisioneiros israelenses com problemas mentais. Onde
está o Comitê de Direitos Humanos da ONU? Só sabem se reunir para marretar
Israel?
O objetivo do Hamas, ao divulgar o filme, sem
pedir nada em troca foi de trazer o assunto da troca para a tona. Talvez, em
parte, por causa das próximas eleições israelenses. Eles podem pensar que têm
uma chance melhor de conseguir um acordo com Yair Lapid como primeiro-ministro
nos próximos meses, em vez de esperar até depois das eleições, sem saber quem
estará sentado no gabinete do primeiro-ministro.
Ezra Sa'ar, um ex-membro da Agência de
Segurança Interna de Israel familiarizado com o assunto, alertou sobre as
manipulações do Hamas. Ele disse que “o Hamas quer o máximo benefício de manter
prisioneiros israelenses, mas mantê-los escondidos por anos é um negócio
complicado. E não adianta fazer tudo isso sem nenhum ganho. Eles são um meio
para um fim. Isso é particularmente verdadeiro no caso de Sayed e Mengistu que
não foram sequestrados ativamente, mas mais ou menos caíram nas garras do Hamas”.
É provável que a condição médica de Sayed
tenha se deteriorado e esteja ruim, mas, mesmo assim, o fato de o Hamas estar
enfatizando a situação de Sayed em vez de Mengistu pode servir a outro
propósito.
“O Hamas é muito racional”. “Ele sabe tocar
nos acordes mais sensíveis da sociedade israelense.” É possível que a
organização terrorista espere que o beduíno do Negev pressione o braço do
Movimento Islâmico – representado na coalizão do governo Lapid pela Lista Árabe
Unida Ra’am de Mansour Abbas – que, por sua vez, pressionará o governo.
O Dr. Ron Schleifer, perito em guerra
psicológica disse que “do ponto de vista da guerra psicológica, o principal
objetivo do sequestro de Schalit era chocar a sociedade israelense”. Neste
caso, ele disse que as impressões digitais do Irã são evidentes. “O objetivo é
constranger Israel – o governo e o público israelense.
“Eles estão dizendo que, mesmo com o
Mossad, o exército, as unidades de inteligência e o Shin Bet, Israel não
consegue encontrar alguém detido a cerca de 40 minutos de carro de Tel Aviv. É
embaraçoso. Também visa dizer a Israel e ao público israelense: 'Todas as suas
armas e tecnologia não significam que você pode nos derrotar.'
“Envergonhar Israel dessa maneira é
engenhoso”, diz Schleifer. A imagem de Israel não é apenas prejudicada do ponto
de vista humanitário, mas também prejudicada em relação à imagem de suas
famosas capacidades de segurança e inteligência.
Obviamente, o Hamas também está interessado
em tentar criar divisões na sociedade israelense. Nesse caso, poderia estar
tentando mostrar que Israel não se importa com os dois cativos, de origem
desfavorecida, tanto quanto com os soldados desaparecidos.
“O Hamas quer promover a ‘palestinização’
dos árabes israelenses”, diz Schleifer. “Uma maneira de fazer isso é embaraçar
o país e dizer aos beduínos que Israel não se importa com eles como cidadãos
israelenses”.
Em uma campanha de relações públicas de
longo prazo, a regra básica é: você deve manter o assunto no centro do palco,
diz Schleifer. “Você tem que garantir que o tema permaneça na agenda.”
Aqui reside o cerne do dilema. Colocar o
assunto no centro das atenções aumenta o preço. “Quer Sayed viva ou morra, do
ponto de vista do Hamas, será um sucesso.”
O Hezbollah, outro representante iraniano,
sem dúvida está procurando aprender com tudo isso, assim como aprendeu com o
Hamas a construir túneis de terror através da fronteira. O membro da Knesset Tzachi
Hanegbi uma vez contou uma história sobre sua falecida mãe, Geula Cohen que
também era uma parlamentar. Quando Hanegbi estava servindo na Primeira Guerra
do Líbano, perguntaram a ela o que ela faria se seu filho fosse feito
prisioneiro. A resposta dela foi: “Como mãe, eu estaria do lado de fora do
gabinete do primeiro-ministro com um megafone 24 horas por dia pedindo ao
governo que fizesse o que fosse necessário para obter sua libertação. Como
membro do Knesset, eu me sentaria dentro do gabinete do primeiro-ministro e diria
a ele para não ouvir as pessoas do lado de fora.”
A resposta de Cohen resume essa dolorosa
situação.
Continuamos esperando a libertação dos
cativos, não apenas dos filmes desumanos do Hamas, mas sempre levando em conta
o preço desta libertação.
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