Sunday, June 26, 2022

O Fim de Roe vs. Wade - 26/06/2022

 

No dia 23 de Janeiro de 1973, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu o processo Roe v. Wade, reconhecendo um direito constitucional da mulher ao aborto até a 12ª semana, sem a interferencia do Estado.

Na época e durante anos, a decisão foi muito debatida. Não tanto pela moralidade ou não do aborto, mas por sua constitucionalidade.

Explico. Os Estados Unidos são uma federação de Estados que, tirando a Constituição e as leis federais que são em teoria, para o beneficio de todos, são independentes uns dos outros. Por exemplo: a prostituição é crime em todos os estados da União menos no Estado de Nevada aonde prostitutas são registradas, casas de prostituição reguladas e todos pagam impostos. Há na Constituição qualquer referencia à prostituição ou ao direito de exercê-la? Não. Então esta atividade é proibida ou permitida localmente pelo estado.

No caso do aborto é o mesmo. Não há na Constituição americana qualquer referencia ao aborto ou ao direito de reprodução das mulheres. Em 1973, os defensores de Roe vs. Wade conseguiram levar o caso ao Supremo baixo ao direito de privacidade do individuo que sim é um direito protegido pela Constituição.

O que muitos estão falando por aí, é que agora o aborto se tornou novamente ilegal nos Estados Unidos. Isso é mentira. Nunca foi ilegal no país. Antes de 1973, 20 Estados permitiam o aborto, 4 deles apenas com o pedido na mulher, sem qualquer razão. E os outros permitiam o aborto em caso de estupro, incesto e perigo para a saude da mãe.

Daqui para frente, o povo irá votar sobre as leis de aborto em seus próprios estados de acordo com suas posições e crenças. Alabama e Texas, estados conservadores, provavelmente terão leis diferentes de Nova Iorque que para a informação do ouvinte, tem lei estadual permitindo o aborto a qualquer momento, inclusive depois que ele se torna viável e até o momento do nascimento.

Em outras palavras, em Nova Iorque o bebê não tem qualquer direito à vida até nascer e estar fora do útero sozinho. Um dia antes disso, a mãe pode decidir não te-lo e não quero ser gráfica aqui descrevendo como o médico então faz este “aborto”.

A decisão da mesma corte na sexta-feira passada, de derrubar o entendimento de 1973, foi legalmente correta, devolvendo aos Estados a liberdade e o direito exclusivo de legislar sobre estas questões. 

Mas a esquerda não vê toda esta questão de modo racional. Mulheres chorando nas ruas, outras puxando os cabelos na frente da Suprema Corte, uma insanidade. O jornal Washington Post publicou um artigo sobre uma moça de 19 anos que queria um aborto e agora ela tem duas bebês gemeas. Que o sonho dela era juntar algum dinheiro para férias no Havaí, e agora ela tem que dar de comer às bebês e trocar as fraldas. Aí está a moralidade: duas vidas contra férias do Havaí. E como se limpar e alimentar bebês não fossem o que mães e pais fizeram desde o principio da vida nesta terra.

E aí temos as pérolas da Alexandra Ocasio-Cortes que disse este ser um dia triste para os que parem (sim, de parir). Porque no mundo progressista louco dela, de alguma forma, não são só mulheres biológicas que dão a luz.

Milhares de manifestantes se reuniram do lado de fora da Suprema Corte na tarde de sexta-feira, logo após a decisão de derrubar Roe vs Wade ser divulgada.

“Eu moro na capital americana, e participei de protestos antes”, disse uma. “Este foi bem diferente porque a gravidade das notícias e as consequências são realmente desanimadoras, especialmente pensando na minha família em Idaho”.

Varias entidades judaicas emitiram comunicados condenando a decisão minutos depois dela ser publicada dizendo ser uma “questão de injustiça econômica”.

Algumas organizações judaicas americanas também sairam às ruas para condenar a decisão da Suprema Corte. O Conselho Nacional de Mulheres Judias prometeu “continuar a lutar” após a derrubada de Roe vs Wade e sua presidente Sheila Katz disse que a decisão é uma “falha moral” que “colocará vidas em risco”.

Ela disse que “ao derrubar 50 anos de precedentes, o atendimento ao aborto seguro e vital agora é praticamente inacessível para milhões de pessoas que precisam dele. Nas próximas semanas e meses, veremos o impacto devastador que essa decisão terá nas vidas humanas”.

“Esta decisão flagrante é uma violação direta de nossos valores americanos e nossa tradição judaica”, continuou Katz. “Reverter as proteções de Roe desafia a lógica, a moralidade, a compaixão e o direito fundamental de todos os americanos de praticar suas crenças religiosas sem interferência do governo”.

A Rede Rabínica Feminina, do movimento reformista, em um comunicado, prometeu apoio contínuo às mulheres que buscam um aborto e às que prestam o serviço.

Engraçado que toda esta histeria não veio de pessoas em estados que têm leis restritivas ao aborto mas de estados como Nova Iorque, California e Washington aonde esta prática tem sido permitida sem qualquer restrição por décadas.

A maioria dos judeus americanos apóia o acesso ao aborto em certas condições. Vários grupos e figuras ortodoxas argumentam que os grupos judeus liberais exageram as proteções que a lei judaica oferece em casos de aborto. Os ortodoxos mantém que as leis estaduais com isenções considerando a vida da mãe são adequadas e que o aborto sob Roe vs Wade, como foi constituído, permitindo o aborto a qualquer tempo, desvaloriza a vida.

A declaração da Aguda, o grupo guarda-chuva das sinagogas e organizações ortodoxas haredim, endossou de todo o coração a reversão de Roe vs Wade como uma celebração da vida.

Em outras palavras: o aborto é e continuara a ser uma questão controversa, não só na America mas em todo o mundo. A esquerda histérica não vai deixar este assunto de lado, especialmente num ano de eleições, e não importa que digamos que na Europa, e no resto do mundo, é muito mais dificil conseguir um aborto.

Não há como despolitizar esta questão. Mas o que precisamos é de informação, deixar a histeria de lado e não deixar que interesses políticos dobrem a Constituição americana que tem sido a guardiã dos direitos fundamentais de todos os cidadãos, e aplicável também aos não cidadãos que se encontram aqui. O direito ao aborto não é um direito constitucional e portanto deve sim, reverter aos estados.

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