Sunday, October 31, 2010

A Declaração Unilateral de Um Estado Palestino - 31/10/2010

Estamos vendo um processo bem curioso. Quando israelenses e palestinos declaram que querem levar à frente as negociações de paz, mas um deles coloca obstáculos reais, o que este lado está querendo na verdade é uma suspensão destas negociações. Os palestinos exigem a cessação de qualquer construção por prazo indeterminado na Judéia, Samária e Jerusalém.


Sem entrar no mérito ou justificação da questão, parece que estamos entrando mais uma vez no ciclo das técnicas palestinas que são constituidas por ameaças diárias dos negociadores.

Por um lado, o primeiro ministro Salam Fayyad ameaça declarar um estado unilateralmente ou na alternativa, declarar os acordos de Oslo nulos e “ir para Washington e forçar um reconhecimento do estado palestino nas fronteiras de 1967. Se isto não funcionar, ele quer ir para o Conselho de Segurança da ONU e pedir para Washington não vetar a proposta.

Se Washington vetar, então os palestinos irão levar seu caso para a Assembléia Geral das Nações Unidas. E esta não é a primeira vez nestas negociações que os palestinos ameaçaram usar esta “técnica de ameaças”. Mahmoud Abbas em Sharm El Sheikh e seu negociador chefe Saeb Erekar ameaçaram se retirar se Netanyahu não renovasse o congelamento das construções.

Agora, com as negociações praticamente suspensas antes mesmo de terem tido a chance de começar, estamos presenciando esta nova onda de ameaças dos palestinos de agirem independentemente através do apoio do Conselho de Segurança da ONU, dos americanos e dos europeus, evitando lidar com Israel e impondo um estado nas fronteiras de 1967.

Existem várias falhas tanto práticas como legais nestas ameaças. Qualquer declaração unilateral de um estado fora do processo de negociação irá destruir os acordos de Oslo e a estrutura que estes acordos estabeleceram. Foi dentro desta estrutura que foi criada a Autoridade Palestina, seus líderes, instituições e jurisdição. Ainda, sendo uma ação para causar uma alteração no status do território, seria uma grave violação ao Artigo 31 do acordo intermediário entre Israel e palestinos, assinado em 1995. Isto daria também a Israel a base legal para anular os acordos de Oslo e abrir a porta para ações unilaterais de Israel em relação aos territórios.

Apesar das tentativas dos palestinos de equipararem esta atitude com a atividade dos colonos na Judéia e Samária, este paralelo não pode ser feito pois as partes nunca concordaram, não em Oslo ou em qualquer acordo, com um congelamento dos assentamentos, e tal exigência nunca foi um impedimento para as negociações anteriores.

Além disso, as disposições legais entre indivíduos israelenses e a autoridade governamental israelense que administra estes territórios, desde os acordos de Oslo, não pode mudar o status quo da terra. Assim, qualquer expansão dos vilarejos israelenses dentro dos perímetros demarcados e existentes em 1993, não viola o Artigo 31 e não altera o status do território, que é objeto das negociações.

Devido ao fato dos Estados Unidos, a União Européia, o Egito, a Jordânia e outros terem assinado o Acordo Intermediário, eles não podem reconhecer tal declaração unilateral de um Estado Palestino for a do processo em curso e que seja contrário ao acordo que eles encorajaram, acompanharam e assinaram.

Declarar os Acordos de Oslo nulos, traria um vácuo legal e poderia resultar num caos considerável além de colocar em séria questão a credibilidade das atuais potências do mundo na resolução de qualquer conflito mundial. Toda a região irá sofrer uma imensa instabilidade e violência. Nenhuma das partes interessadas, e especialmente a Autoridade Palestina gostaria disto. Assim, há todo o interesse de se manter o status quo dos acordos de Oslo, mesmo com todos os seus defeitos.

Similarmente, o Conselho de Segurança da ONU poderá se ver perante um dilema genuíno se pedido para adotar uma resolução que declare o estado Palestino dentro das fronteiras de 1967.

A própria base de todos os tratados de paz e outros acordos entre o Egito, a Jordânia, os Palestinos e Israel são a Resolução 242 de 1967 e a Resolução 338 de 1973 que reafirmou a necessidade de negociar a Resolução 242 e alcançar a paz.

Estas resoluções não se referem a fronteiras de 1967. Isto porque estas fronteiras nunca existiram. O que havia eram somente linhas de armistício e linhas de cessar-fogo que nunca foram reconhecidos como fronteiras. É um fato que durante as fases anteriores de negociações, a noção do retorno de Israel às linhas de 1967 nunca foi um ponto de negociação. Houveram alusões à estas linhas apenas como ponto de referência para a determinação de fronteiras seguras e reconhecidas para Israel.

A determinação de fronteiras é um componente essencial em relações entre estados. Os princípios de coexistência pacífica e de boa vizinhança, seja de acordo com as Nações Unidas, ou de acordo com os tratados de paz entre o Egito e a Jordania com Israel determinam a necessidade de reconhecimento mútuo de uma fronteira comum.

A ameaça dos palestinos de organizar uma sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas para adotar uma tal resolução na eventualidade que o Conselho de Segurança não o faça, mostra ou sua ignorância ou desrespeito pelo sistema desta organização internacional. Qualquer resolução desta, que seria provavelmente patrocinada pelos paradigmas de virtude internacional como o Irã, Siria, Cuba, Africa do Sul, os estados muçulmanos e provavelmente também a Russia, seria sem dúvida adotada pela maioria automática, mas sendo só da Assembléia Geral, não teria qualquer significância legal. Ela só serviria para massagear o ego dos palestinos e acrescentar mais uma à lista de resoluções fúteis das Nações Unidas.

As negociações de agora deveriam estar sendo conduzidas com seriedade e não arrastadas neste “jogo de ameças” e obrigar a comunidade internacional a aguentar estas ações irresponsáveis que podem ter resultados imprevisíveis.

De qualquer ângulo que se possa ver, esta atitude dos palestinos não ajuda à causa da paz que eles dizem querem, nem aumenta a confiança e respeito em relação à eles. Como é que alguém espera Israel confiar na boa-fé dos palestinos quando vivem fazendo este tipo de ameaça? Os palestinos não podem esperar que a comunidade internacional dance de acordo com a música de sua escolha em total desrespeito à acordos internacionais, às normas e práticas aceitáveis de negociações em boa-fé.

Eles deveriam primeiro colocar sua casa em ordem, entender o que significa assinar acordos para depois sentar e negociar qualquer coisa. Sem isto, sua assinatura somente valerá o preço do papel em que ela for aposta.

Monday, October 25, 2010

Obama e o Processo de Paz - 24/10/2010

O processo Washington, como tem sido chamadas as negociações entre israelenses e palestinos aqui nos Estados Unidos, e que começaram no princípio do mês de setembro 2010, tinham que trazer uma solução negociada para todos os pontos não discutidos nos acordos anteriores. Isto tinha que ser alcançado por negociações contínuas, dentro de um prazo de 1 a 2 anos, com um involvimento americano intenso e supervisão direta do presidente Obama, da secretaria de estado Hillary Clinton e do senador George Mitchell.


Claramente esta fórmula e especialmente o cronograma foram estabelecidos para mostrar os sucessos políticos de Obama justo antes das próximas eleições para presidente em 2012.

Mas menos de um mês depois destas negociações terem começado e depois de 10 meses de moratória de construções de judeus, durante os quais os palestinos se recusaram a negociar diretamente, os palestinos ameaçam sair andando porque Israel não extendeu a moratória. É irrelevante que Netanyahu tenha aceito instituir esta moratória discriminatória com a condição de que ela seria de somente 10 meses sem extensões. Agora os palestinos acham que têm a desculpa perfeita frente à Casa Branca e o mundo para cancelar as negociações.

Construções de judeus na Judéia e Samária nunca foram razão para a paralização de negociações pelos palestinos. Isto porque há anos que Israel não autoriza construções fora dos perímetros das comunidades já existentes, e portanto, não há o risco que Israel estaria pegando mais terras de palestinos.

Os acordos de Oslo são bem claros que NENHUMA DAS PARTES poderá tomar qualquer medida que altere o status quo da região até que um acordo final seja assinado. Não vejo ninguém em nenhum lugar reclamar da extensa e intensa construção palestina na Judéia e Samária, deixando em sua maioria predios vazios, com o único objetivo de redirecionar fronteiras num acordo futuro.

Desta vez, no entanto, o assunto dos assentamentos foi tomado pelos palestinos como "a" oportunidade para evadir as negociações que eles sabem irão entrar em colapso sobre os pontos-chaves como Jerusalem e os refugiados. Eles preferem explorar a controvérsia dos assentamentos criada pelos países do ocidente, especialmente os Estados Unidos, em vez de serem os culpados por este eventual colapso.

É muita ingenuidade pensar que um conflito que tem durado mais de 60 anos pode ser resolvido em 2 anos de negociações, por mais diretas que elas sejam. Um fim real para o conflito não poderá ser alcançado por pelo menos uma geração e por todas as razões a ver com estes pontos-chaves levantados por Mahmoud Abbas.

Israel é visto por muitos Palestinos e pelos outros árabes como uma entidade ilegítima. Israel exige que seus vizinhos a reconheça como um estado judeu ou pelo menos um estado do povo judeu. Mas o islamismo acredita que o judaismo deixou de ser uma religião relevante desde o advento de Maomé. Judeus são meramente comunidades religiosas pertencentes etnicamente aos povos entre os quais eles vivem, enquanto a Terra de Israel, do rio Jordão ao Mediterrâneo é um Waqf islamico, uma doação santa. Assim, muçulmanos e árabes não podem reconhecer Israel como um estado legítimo – que é uma condição sine qua non para qualquer acordo de paz ser bem sucedido.

O Monte do Templo e a mesquita al-Aqsa é um dos pontos mais difíceis de resolver porque este é o local mais sagrado para os judeus e não há qualquer indicação de que os israelenses estaria prontos a relegar sua soberania sobre ele. A destruição de antiguidades pelo Waqf palestino em 1996 provou aos israelenses que os palestinos não têm qualquer respeito nem pela história nem pela cultura do povo judeu ou pela herança histórica da humanidade. O objetivo dos palestinos é o de impor sua capital em Jerusalem apesar da cidade nunca ter sido capital de qualquer entidade palestina – que nunca existiu – ou de qualquer califa islâmico, emir ou sultão.

Sobre o retorno de refugiados, um retorno em massa para Israel próprio de palestinos que sairam em 1948 é visto com pela sociedade israelense como uma fórmula para um suicidio nacional coletivo. Neste ponto, os israelenses estão todos unidos, tanto da esquerda como da direita e há também precedentes jurídicos no direito internacional apoiando a posição israelense. Em março ultimo, a Corte Europeia de Direitos Humanos decidiu que gregos que haviam fugido ou que haviam sido expulsos do norte da ilha de Chipre quando os turcos invadiram em 1974, não têm o “direito de retorno”. Mas entre os refugiados palestinos no Líbano, Síria, Jordânia e da Autoridade Palestina, a narrativa do direito de retorno não é só dominante mas iminente. Qualquer tentativa da liderança da OLP de comprometer esta posição, causará uma grande revolta entre os palestinos e também nos países árabes que os acolheram.

Existem também razões pela qual a liderança israelense não quer hoje um progresso significativo no status final das negociações. Uma é as fronteiras e os assentamentos. Os eventos que se seguiram a retirada unilateral de Gaza e a remoção de 26 comunidades e suas 8 mil familias, fizeram com que a grande maioria dos israelenses hoje não apoie tais medidas. Nenhum governo israelense hoje conseguirá convencer o parlamento a aprovar uma evacuação em massa de colonos das comunidades da Judéia e Samária.

Além disso, israelenses hoje temem que um estado palestino estabelecido em contiguidade territorial na Judéia e Samária caia nas mãos do Hamas – seja por eleições como aconteceu em Janeiro de 2006 ou por um golpe como em Junho de 2007. Nem a Casa Branca nem as Nações Unidas podem prometer a Israel que isto não acontecerá. Assim, Israel está realmente procedendo com cautela nestas negociações para o estabelecimento de tal estado palestino. Além disso, a falha da UNIFIL no sul do Líbano em prevenir o rearmamento da Hizbullah, fez com que os israelenses hoje também duvidem na efetividade de uma força internacional para separá-los dos palestinos.

E acima de tudo, os palestinos não estão sendo preparados por sua liderança a aceitarem o convívio pacífico com Israel e com judeus. A mídia oficial da Autoridade Palestina publica diariamente artigos antisemitas, virulentamente anti-Israel.

Em conclusão, o status final dos pontos-chaves são tão complexos que sua solução num futuro próximo simplesmente não é alcançável. Qualquer um, e neste caso estou falando de Obama e sua administração – que forçar os lados a negociarem soluções que englobem estes pontos de modo apressado, apenas como instrumento de campanha eleitoral, irá mais provavelmente gerar uma crise que não irá beneficiar ninguém.

Monday, October 18, 2010

Netanyahu ou Lieberman - 17/10/2010

Muito tem se falado dos desentendimentos entre Bibi Netanyahu e seu Ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman.

Se hoje Netanyahu quer transmitir para o mundo o seu otimismo e certeza de um acordo iminente com Mahmoud Abbas, Lieberman é mais conservador e acha que isto não acontecerá talvez por outras 2 ou 3 gerações. E foi isto o que ele disse em seu discurso nas Nações Unidas há 3 semanas atrás. Lieberman e seu partido, Israel Beitenu, têm visões diferentes sobre o que deve acontecer com o processo de paz e defende a transferência dos grandes enclaves palestinos que vivem em Israel para a Autoridade Palestina.

A esquerda israelense quer que Netanyahu dispense o partido de Lieberman da coalisão do seu governo e convide Kadima, de Tzipi Livni e Ehud Olmert, para substituí-lo desde que os dois possam participar das negociações com os palestinos. Na terça-feira passada, Olmert e Livni acusaram Netanyahu de destruir as relações de Israel com os Estados Unidos ao se recusar a extender o congelamento da construção na Judeia, Samária e Jerusalém por mais 2 meses. E por causa disto, Olmert acha que Obama teria todo o direito em retirar o apoio dos Estados Unidos a Israel.

Mas qual é a posição de Israel? A de Netanyahu ou a de Lieberman? Será que temos em Abbas um parceiro para a paz com o qual podemos forjar um acordo histórico como disse Bibi ou os pontos de divergência (Jerusalem, o reconhecimento de Israel como um estado judeu e a volta de milhões de refugiados palestinos para Israel próprio) tornam a noção de qualquer acordo iminente em uma idéia totalmente ridícula?

Se for como Bibi disse, porque então ele poria em risco esta oportunidade histórica – a chance de realizar o sonho de Israel de normalizar as relações com seus vizinhos – por causa de uma simples extensão de meros 2 meses da moratória? E ainda, como poderia Bibi permitir que seu Ministro das Relações Exteriores minasse a credibilidade de seu governo sem lhe fazer nem mesmo uma repreensão em público?

Mas se o governo de Israel no fundo acredita que Lieberman está certo, porque então o primeiro ministro estaria levando o povo e a comunidade internacional a crer que a paz é possível agora e levantar expectativas que na verdade não existem? E ainda, se a liderança palestina não mostrou estar pronta para a paz com um estado judeu ao seu lado, uma Palestina que não ameace a segurança de Israel militar ou demograficamente, porque então Netanyahu diz que Abbas é seu parceiro para paz?

Tantas questões e não parece haver uma resposta razoável. A verdade é que ninguém sabe nada das discussões com os palestinos e americanos. Nem mesmo os membros do gabinete interno do governo sabem o que está se passando. E esta falta de informação produz um sem fim de especulações e mais questões.

Uma é sobre os esforços que os americanos estariam fazendo para convencer Bibi a extender a moratoria por 2 meses. O Washington Institute disse que uma carta de Obama teria sido enviada a Netanyahu com uma série de promessas que vão desde apoiar Israel em alguns pontos-chaves nas negociações até a entrega de sistemas de defesa avançados no futuro. Ainda, a carta teria incluido a promessa do veto americano no Conselho de Segurança da ONU em qualquer iniciativa problemática para Israel, o apoio da presença de tropas israelenses no Vale do Jordão e maior assistência militar Americana.

É difícil entender como este pacote de ofertas seria atrativo para Israel. Os Estados Unidos tradicionalmente asseguram os vetos necessários nas Nações Unidas e vão continuar a fazê-lo em face da recusa do mundo árabe de cooperar com Obama e extender qualquer abertura a Israel. Na semana passada a Casa Branca negou ter enviado tal carta mas estas ofertas parecem ter sido mesmo feitas.

A única certeza que temos é que há muito mais acontecendo por trás dos bastidores que não sabemos.

O que mais os Estados Unidos poderiam estar oferecendo a Netanyahu? Algumas reportagens disseram que Bibi quer que Obama reitere o conteúdo da carta de Bush a Ariel Sharon apoiando a anexação dos grandes blocos de assentamento e se opor ao direito de retorno de milhões de palestinos para Israel próprio. Isso parece mais plausível. Talvez haja até algo sobre o Irã ou sobre Jonathan Pollard.

Mas sem querer ser cínica, porque Obama estaria oferecendo isto tudo para uma extensão da moratória de construção de judeus por apenas 2 meses? Será que estariamos a beira de um acordo? Será que as fronteiras com a Judéia e Samária estão prestes a serem demarcadas? Isto é esticar muito a imaginação.

Depois de anos de negociação, Israel e os palestinos – e lembrem bem que foram os palestinos que se recusaram a sentar na mesa de negociação por 9 meses e meio da moratória – magicamente se tornaram capazes de sobrepujar suas diferenças de décadas e resolverem seus problemas em 2 meses.

E se isso for verdade, porque é preciso convencer Netanyahu a extender a moratoria com tantas promessas?

E agora sendo cínica, estes dois meses a mais nos levaria para depois das eleições americanas em novembro e se Bibi e Abbas estiverem negociando, será um trunfo para Obama poupando-o de mais uma falha da sua administração, além da depressão da economia, desemprego a 10% e a oposição à sua política de saúde nos Estados Unidos.

Se quisermos ver porque Netanyahu concordou com uma moratória de 10 meses e não de um ano, ou seis meses, é porque Obama estava certo de poder fazer um anúncio de paz bombástico justo antes das eleições e capitalizar o sucesso. Mas aí Abbas veio e estragou o cronograma ao se recusar a sentar na mesa de negociação até ser tarde demais para haver qualquer progresso.

Por toda estupefação do público, a irritação da mídia e a frustração dos políticos, Netanyahu tem o direito de conduzir as negociações como ele bem entender, incluindo a escolha de seus ministros. Mas ele não pode manter o sigilo para sempre.

O Irã continua a manter a destruição de Israel como o primeiro item de sua agenda e a Hizbullah e o Hamas estão se rearmando a níveis nunca vistos.

Se, ao final, quando tivermos as respostas, Lieberman tiver razão, que nenhuma oferta viável para Israel será suficiente para os Palestinos e que Abbas não deixou apenas de responder positivamente às ofertas de Olmert mas que não tinha qualquer intenção em aceitá-las, ficaremos surpresos por todo este entusiasmo de Bibi. As negociações irão por água abaixo e a violência retornará. E o mundo irá tomar a recusa de Bibi em extender a moratória pelos 2 meses como razão pelo colapso do processo de paz, mais uma vez culpando Israel.

Mas será que Livni e Olmert estariam certos sobre o estado de relações de Israel com os Estados Unidos? Nesta última terça-feira perguntaram ao porta-voz do Departamento de Estado americano P.J. Crowley se a administração Obama reconhece Israel como um estado judeu e se tentaria convencer os palestinos a reconhece-la como tal. A pergunta teve que ser repetida 6 vezes antes dele responder afirmativamente mas de modo obtuso. Ele disse que do modo que Israel se vê a si mesma, sim, é um estado judeu. Sobre convencer os palestinos, ele não respondeu.

A recusa do Departamento de Estado em dar uma resposta direta e inequívoca mostra que Israel nunca teve uma administração americana tão hostil. Afinal, reconhecer Israel como um estado judeu significa reconhecer o povo judeu como uma nação e como nação, reconhecer seu direito à auto-determinação em sua terra ancestral. Assim, reconhecer Israel como um estado judeu é reconhecer o direito de Israel de existir.

Se os Estados Unidos não têm isto claro, como podem exigir o mesmo dos Palestinos? E se os palestinos vêem a posição americana como ambivalente neste ponto, não haverá qualquer medida de apaziguamento que trará Abbas a assinar um acordo de paz. E as relações com os Estados Unidos estarão comprometidas independente de qualquer ação de Netanyahu.

Assim, a posição da esquerda de Israel, mais uma vez, é incoerente. Por sorte há diferença entre como uma democracia funciona e como manda uma ditadura. As relações dos Estados Unidos dependerão sempre do povo americano e não de seus líderes. Uma pesquisa de opinião conduzida no começo deste mês pela McLaughlin and Associates mostrou resultados extraordinários: 77% dos americanos acreditam que os palestinos têm que reconhecer Israel como um estado judeu e 93.5% exigem que os Estados Unidos se preocupem com sua segurança.

Não só os americanos se preocupam com Israel, mas querem que seus líderes também se preocupem. 51% dos questionados disseram que estariam mais inclinados a votar em um candidato pró-Israel e 53% disseram que não votariam em alguém que fosse anti-Israel mesmo se gostassem de sua plataforma em outros pontos.

Assim, do ponto de vista de Netanyahu, para manter o apoio do povo americano, ele tem que se manter firme e não se entregar como a esquerda de Olmert e Livni exigem.

Com o início da contagem regressiva para as eleições nos Estados Unidos, está cada vez mais claro que é Obama quem pagará o preço por sua política hostil a Israel. A falta deste reconhecimento pela esquerda israelense não é de surpreender. Mas como o líder eleito de Israel, Netanyahu deve saber reconhecer a verdade. Se ele quer assegurar a aliança com os Estados Unidos, ele tem que fazer o que é melhor para Israel e não o que é melhor para a esquerda ou para Obama.

Sunday, October 10, 2010

Ahmadinejad no Líbano - 10/10/2010

Ahmadinejad está com viagem marcada para o Líbano nesta semana que entra. De acordo com suas declarações, ele quer ir para a fronteira com Israel e jogar pedras nos judeus. Para quem roubou a última eleição e matou centenas de Iranianos no processo, esta não é uma indignidade muito grande. Afinal de contas, isto tudo será contrabalançado pela fanfarra e recepção esplêndida que o governo libanês promete lhe fazer.


Mas qual é a mensagem que Ahmadinejad quer dar? Jogar algumas pedras não irá aumentar nossa convicção de que ele realmente odeia judeus e ou que queira destruir Israel. Ele já deixou isto bem claro.

A mensagem de Ahmadinejad é outra. Primeiro, Ahmadinejad está dizendo aos libaneses que quem manda no Líbano é ele. Segundo, ele quer mostrar que a influência dos Estados Unidos no país acabou, e que o primeiro ministro, Saad Hariri, precisa se curvar a esta nova realidade se quiser continuar no cargo. E terceiro, é uma mensagem ao povo iraniano e especialmente à oposição.

Desde a última guerra de Israel com o Líbano em 2006, a Hizbullah se fortaleceu substancialmente. E hoje, o grupo financiado pelo Irã tem todo interesse em aumentar as tensões no Oriente Médio, dando um golpe e tomando as rédeas do governo para cobrir ou desviar a atenção dos resultados da investigação do assassinato do primeiro ministro anterior Rafik Hariri.

O Tribunal Especial para o Líbano das Nações Unidas irá publicar os resultados nos próximos dias e ao que parece, jogar a culpa pelo assassinato diretamente na Hizbullah e na Síria. Mas a Hizbullah já está atacando o resultado. Nawaf al-Moussawi, um membro do parlamento líbanês avisou que qualquer libanês que aceitar as acusações do tribunal será morto como colaborador de Israel e dos Estados Unidos.

De acordo com jornais libaneses, milícias da Hizbullah já tomaram pontos estratégicos em todo o país sob o comando da guarda revolucionária Iraniana. A Hizbullah não reconhece a soberania do estado libanês, tem suas próprias forças de segurança, serviços de inteligência e sistemas de comunicação. A mensagem da Hizbullah é: se publicarem a verdade, tomamos o Líbano e vamos transformá-lo em outro Irã.

Ahmadinejad está procurando uma oportunidade para exportar sua revolução islâmica ao Líbano, criando instabilidade para desviar a atenção do seu programa nuclear e permitir que ele cumpra seu sonho de apagar Israel do mapa. E não podemos esquecer que uma vitória da Hizbullah em tomar o poder no Líbano, significará também uma vitória para o Hamas em Gaza, para a irmandade islâmica no Egito e para outros grupos terroristas islâmicos.

Hoje Ahmadinejad tem todo interesse de mostrar que o Líbano é colônia do Irã e até reinvindicar para si as reservas de gás encontradas por Israel em sua costa norte. Hoje ele não se importa em desfazer o mito de que a Hizbullah é simplesmente um partido político libanês e uma força militar como líderes na Europa costumam repetir.

E esta não é a primeira vez. Em Maio de 2008, depois da Hizbullah ameaçar tomar o poder no Líbano à força, conseguiu poder de veto absoluto em todas as decisões do governo. Então, quem é que governa lá de fato? O atual primeiro ministro, Saad Hariri, se viu na inconfortável posição de ter que se curvar para os Sírios e a Hizbullah, assassinos de seu pai.

Está claro que esta visita de Ahmadinejad foi marcada para neutralizar o impacto do resultado das investigações do Tribunal Especial das Nações Unidas. E para tanto, a Síria emitiu mandatos de prisão para 33 oficiais libaneses por terem “dado falso testemunho” aos investigadores e Nasrallah exigiu ontem à noite que Hariri e seus correligionários denunciem a validade do resultado.

Se Hariri se dobrar à esta exigência, irá destruir a única força política independente do Líbano. Mas seus esforços para conseguir apoio dos sauditas e egípcios para formar sua própria milícia junto com os cristãos contra a Hizbullah até agora não deram frutos. A falta de suporte dos árabes a Hariri é consequencia direta do efetivo abandono do primeiro ministro libanês pelos Estados Unidos.

Obama insiste em manter seu apoio ao exército libanês apesar de todas as evidências mostrarem que o exército está nas mãos da Hizbullah. Ainda, a obsessão de Obama com uma aproximação com a Síria para tentar mais este front de paz com Israel, fez com que qualquer ação contra Assad ficassem de lado. Em cima de tudo isto está o incompetente conselheiro para assuntos estratégicos de Obama, John Brennan que há alguns meses elogiou a Hizbullah e disse que era uma “organização muito interessante”.

A imbecilidade estratégica americana convenceu os líderes árabes que precisam ficar na moita e não se colocarem do lado errado com o Irã, especialmente com sua corrida para a bomba nuclear.

Finalmente, as visitas de Ahmadinejad ao sul do Líbano enviará uma mensagem muito clara ao povo iraniano. Um é para a oposição esquecer da idéia de tirá-lo do poder pois ele é a estrela da região. O outro é que se houver uma tomada de poder pela Hizbullah no Líbano, haverá certamente muito derramamento de sangue mostrando que este regime não hesitará a usar qualquer tipo de força para calar a oposição.

Com tudo isto, Israel deve estar sim preocupado com esta visita de Ahmadinejad ao Líbano porque ela aumenta as chances de uma nova guerra. Com seu total controle do sul do Líbano e mais de 40 mil mísseis, a Hizbullah pode começar uma outra guerra a qualquer minuto.

Esta semana foram liberados os arquivos das reuniões gabinete interno do governo de Israel acontecidas antes e durante a guerra de Yom Kippur em 1973. Na época, o Egito sabia que Israel tinha a vantagem estratégica mas os eventos antes da guerra, incluindo a aproximação de Sadat da União Soviética, convenceram a liderança de que o ataque lhes daria uma vitória política. E estavam certos. Um ano mais tarde, os Estados Unidos começaram a pressionar Israel a se retirar do Sinai.

O Chefe do Estado Maior hoje, Gaby Ashkenazi fez um comentário bem colocado sobre o conteúdo dos arquivos. Ele disse que a maior lição de 1973 é que “temos que estar com o dedo sempre no pulso e não descartar qualquer inimigo, sermos modestos em nossas avaliações, perguntar, levantar dúvidas e estarmos cientes que não podemos nos agarrar nos sucessos de ontem, porque eles não são válidos hoje”.

A insegurança dos estados árabes, a elevação do Irã no Líbano e em toda a região, o declínio da influência dos Estados Unidos no Oriente Médio como um todo, as vozes de simpatia para com a Hizbullah da administração Obama, tudo isto aumentará as chances de que o Irã dê a ordem de ataque.

Obviamente, Israel precisa se preparar para a guerra tanto no norte, como no sul como Hamas, outro filhote do Irã, e para o impacto político que ela poderá acarretar. Mas o que é importante aqui, é que pelo menos o exército de Israel parece ter aprendido com a história. Ashkenazi, como seu chefe supremo, declarou que a guerra de 73 e os dias que a antecederam, ensinaram-nos a questionar mesmo as coisas que sabiamos ser verdade, a contradizer axiomas e acima de tudo, a não nos apaixonarmos por nossas próprias idéias. E a não sermos cativos de um só conceito, não importa quão bem ele seja formulado”.

Agora são os políticos de Israel é que precisam ser convencidos...