Muito tem se falado dos desentendimentos entre Bibi Netanyahu e seu Ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman.
Se hoje Netanyahu quer transmitir para o mundo o seu otimismo e certeza de um acordo iminente com Mahmoud Abbas, Lieberman é mais conservador e acha que isto não acontecerá talvez por outras 2 ou 3 gerações. E foi isto o que ele disse em seu discurso nas Nações Unidas há 3 semanas atrás. Lieberman e seu partido, Israel Beitenu, têm visões diferentes sobre o que deve acontecer com o processo de paz e defende a transferência dos grandes enclaves palestinos que vivem em Israel para a Autoridade Palestina.
A esquerda israelense quer que Netanyahu dispense o partido de Lieberman da coalisão do seu governo e convide Kadima, de Tzipi Livni e Ehud Olmert, para substituí-lo desde que os dois possam participar das negociações com os palestinos. Na terça-feira passada, Olmert e Livni acusaram Netanyahu de destruir as relações de Israel com os Estados Unidos ao se recusar a extender o congelamento da construção na Judeia, Samária e Jerusalém por mais 2 meses. E por causa disto, Olmert acha que Obama teria todo o direito em retirar o apoio dos Estados Unidos a Israel.
Mas qual é a posição de Israel? A de Netanyahu ou a de Lieberman? Será que temos em Abbas um parceiro para a paz com o qual podemos forjar um acordo histórico como disse Bibi ou os pontos de divergência (Jerusalem, o reconhecimento de Israel como um estado judeu e a volta de milhões de refugiados palestinos para Israel próprio) tornam a noção de qualquer acordo iminente em uma idéia totalmente ridícula?
Se for como Bibi disse, porque então ele poria em risco esta oportunidade histórica – a chance de realizar o sonho de Israel de normalizar as relações com seus vizinhos – por causa de uma simples extensão de meros 2 meses da moratória? E ainda, como poderia Bibi permitir que seu Ministro das Relações Exteriores minasse a credibilidade de seu governo sem lhe fazer nem mesmo uma repreensão em público?
Mas se o governo de Israel no fundo acredita que Lieberman está certo, porque então o primeiro ministro estaria levando o povo e a comunidade internacional a crer que a paz é possível agora e levantar expectativas que na verdade não existem? E ainda, se a liderança palestina não mostrou estar pronta para a paz com um estado judeu ao seu lado, uma Palestina que não ameace a segurança de Israel militar ou demograficamente, porque então Netanyahu diz que Abbas é seu parceiro para paz?
Tantas questões e não parece haver uma resposta razoável. A verdade é que ninguém sabe nada das discussões com os palestinos e americanos. Nem mesmo os membros do gabinete interno do governo sabem o que está se passando. E esta falta de informação produz um sem fim de especulações e mais questões.
Uma é sobre os esforços que os americanos estariam fazendo para convencer Bibi a extender a moratoria por 2 meses. O Washington Institute disse que uma carta de Obama teria sido enviada a Netanyahu com uma série de promessas que vão desde apoiar Israel em alguns pontos-chaves nas negociações até a entrega de sistemas de defesa avançados no futuro. Ainda, a carta teria incluido a promessa do veto americano no Conselho de Segurança da ONU em qualquer iniciativa problemática para Israel, o apoio da presença de tropas israelenses no Vale do Jordão e maior assistência militar Americana.
É difícil entender como este pacote de ofertas seria atrativo para Israel. Os Estados Unidos tradicionalmente asseguram os vetos necessários nas Nações Unidas e vão continuar a fazê-lo em face da recusa do mundo árabe de cooperar com Obama e extender qualquer abertura a Israel. Na semana passada a Casa Branca negou ter enviado tal carta mas estas ofertas parecem ter sido mesmo feitas.
A única certeza que temos é que há muito mais acontecendo por trás dos bastidores que não sabemos.
O que mais os Estados Unidos poderiam estar oferecendo a Netanyahu? Algumas reportagens disseram que Bibi quer que Obama reitere o conteúdo da carta de Bush a Ariel Sharon apoiando a anexação dos grandes blocos de assentamento e se opor ao direito de retorno de milhões de palestinos para Israel próprio. Isso parece mais plausível. Talvez haja até algo sobre o Irã ou sobre Jonathan Pollard.
Mas sem querer ser cínica, porque Obama estaria oferecendo isto tudo para uma extensão da moratória de construção de judeus por apenas 2 meses? Será que estariamos a beira de um acordo? Será que as fronteiras com a Judéia e Samária estão prestes a serem demarcadas? Isto é esticar muito a imaginação.
Depois de anos de negociação, Israel e os palestinos – e lembrem bem que foram os palestinos que se recusaram a sentar na mesa de negociação por 9 meses e meio da moratória – magicamente se tornaram capazes de sobrepujar suas diferenças de décadas e resolverem seus problemas em 2 meses.
E se isso for verdade, porque é preciso convencer Netanyahu a extender a moratoria com tantas promessas?
E agora sendo cínica, estes dois meses a mais nos levaria para depois das eleições americanas em novembro e se Bibi e Abbas estiverem negociando, será um trunfo para Obama poupando-o de mais uma falha da sua administração, além da depressão da economia, desemprego a 10% e a oposição à sua política de saúde nos Estados Unidos.
Se quisermos ver porque Netanyahu concordou com uma moratória de 10 meses e não de um ano, ou seis meses, é porque Obama estava certo de poder fazer um anúncio de paz bombástico justo antes das eleições e capitalizar o sucesso. Mas aí Abbas veio e estragou o cronograma ao se recusar a sentar na mesa de negociação até ser tarde demais para haver qualquer progresso.
Por toda estupefação do público, a irritação da mídia e a frustração dos políticos, Netanyahu tem o direito de conduzir as negociações como ele bem entender, incluindo a escolha de seus ministros. Mas ele não pode manter o sigilo para sempre.
O Irã continua a manter a destruição de Israel como o primeiro item de sua agenda e a Hizbullah e o Hamas estão se rearmando a níveis nunca vistos.
Se, ao final, quando tivermos as respostas, Lieberman tiver razão, que nenhuma oferta viável para Israel será suficiente para os Palestinos e que Abbas não deixou apenas de responder positivamente às ofertas de Olmert mas que não tinha qualquer intenção em aceitá-las, ficaremos surpresos por todo este entusiasmo de Bibi. As negociações irão por água abaixo e a violência retornará. E o mundo irá tomar a recusa de Bibi em extender a moratória pelos 2 meses como razão pelo colapso do processo de paz, mais uma vez culpando Israel.
Mas será que Livni e Olmert estariam certos sobre o estado de relações de Israel com os Estados Unidos? Nesta última terça-feira perguntaram ao porta-voz do Departamento de Estado americano P.J. Crowley se a administração Obama reconhece Israel como um estado judeu e se tentaria convencer os palestinos a reconhece-la como tal. A pergunta teve que ser repetida 6 vezes antes dele responder afirmativamente mas de modo obtuso. Ele disse que do modo que Israel se vê a si mesma, sim, é um estado judeu. Sobre convencer os palestinos, ele não respondeu.
A recusa do Departamento de Estado em dar uma resposta direta e inequívoca mostra que Israel nunca teve uma administração americana tão hostil. Afinal, reconhecer Israel como um estado judeu significa reconhecer o povo judeu como uma nação e como nação, reconhecer seu direito à auto-determinação em sua terra ancestral. Assim, reconhecer Israel como um estado judeu é reconhecer o direito de Israel de existir.
Se os Estados Unidos não têm isto claro, como podem exigir o mesmo dos Palestinos? E se os palestinos vêem a posição americana como ambivalente neste ponto, não haverá qualquer medida de apaziguamento que trará Abbas a assinar um acordo de paz. E as relações com os Estados Unidos estarão comprometidas independente de qualquer ação de Netanyahu.
Assim, a posição da esquerda de Israel, mais uma vez, é incoerente. Por sorte há diferença entre como uma democracia funciona e como manda uma ditadura. As relações dos Estados Unidos dependerão sempre do povo americano e não de seus líderes. Uma pesquisa de opinião conduzida no começo deste mês pela McLaughlin and Associates mostrou resultados extraordinários: 77% dos americanos acreditam que os palestinos têm que reconhecer Israel como um estado judeu e 93.5% exigem que os Estados Unidos se preocupem com sua segurança.
Não só os americanos se preocupam com Israel, mas querem que seus líderes também se preocupem. 51% dos questionados disseram que estariam mais inclinados a votar em um candidato pró-Israel e 53% disseram que não votariam em alguém que fosse anti-Israel mesmo se gostassem de sua plataforma em outros pontos.
Assim, do ponto de vista de Netanyahu, para manter o apoio do povo americano, ele tem que se manter firme e não se entregar como a esquerda de Olmert e Livni exigem.
Com o início da contagem regressiva para as eleições nos Estados Unidos, está cada vez mais claro que é Obama quem pagará o preço por sua política hostil a Israel. A falta deste reconhecimento pela esquerda israelense não é de surpreender. Mas como o líder eleito de Israel, Netanyahu deve saber reconhecer a verdade. Se ele quer assegurar a aliança com os Estados Unidos, ele tem que fazer o que é melhor para Israel e não o que é melhor para a esquerda ou para Obama.
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