Monday, October 25, 2010

Obama e o Processo de Paz - 24/10/2010

O processo Washington, como tem sido chamadas as negociações entre israelenses e palestinos aqui nos Estados Unidos, e que começaram no princípio do mês de setembro 2010, tinham que trazer uma solução negociada para todos os pontos não discutidos nos acordos anteriores. Isto tinha que ser alcançado por negociações contínuas, dentro de um prazo de 1 a 2 anos, com um involvimento americano intenso e supervisão direta do presidente Obama, da secretaria de estado Hillary Clinton e do senador George Mitchell.


Claramente esta fórmula e especialmente o cronograma foram estabelecidos para mostrar os sucessos políticos de Obama justo antes das próximas eleições para presidente em 2012.

Mas menos de um mês depois destas negociações terem começado e depois de 10 meses de moratória de construções de judeus, durante os quais os palestinos se recusaram a negociar diretamente, os palestinos ameaçam sair andando porque Israel não extendeu a moratória. É irrelevante que Netanyahu tenha aceito instituir esta moratória discriminatória com a condição de que ela seria de somente 10 meses sem extensões. Agora os palestinos acham que têm a desculpa perfeita frente à Casa Branca e o mundo para cancelar as negociações.

Construções de judeus na Judéia e Samária nunca foram razão para a paralização de negociações pelos palestinos. Isto porque há anos que Israel não autoriza construções fora dos perímetros das comunidades já existentes, e portanto, não há o risco que Israel estaria pegando mais terras de palestinos.

Os acordos de Oslo são bem claros que NENHUMA DAS PARTES poderá tomar qualquer medida que altere o status quo da região até que um acordo final seja assinado. Não vejo ninguém em nenhum lugar reclamar da extensa e intensa construção palestina na Judéia e Samária, deixando em sua maioria predios vazios, com o único objetivo de redirecionar fronteiras num acordo futuro.

Desta vez, no entanto, o assunto dos assentamentos foi tomado pelos palestinos como "a" oportunidade para evadir as negociações que eles sabem irão entrar em colapso sobre os pontos-chaves como Jerusalem e os refugiados. Eles preferem explorar a controvérsia dos assentamentos criada pelos países do ocidente, especialmente os Estados Unidos, em vez de serem os culpados por este eventual colapso.

É muita ingenuidade pensar que um conflito que tem durado mais de 60 anos pode ser resolvido em 2 anos de negociações, por mais diretas que elas sejam. Um fim real para o conflito não poderá ser alcançado por pelo menos uma geração e por todas as razões a ver com estes pontos-chaves levantados por Mahmoud Abbas.

Israel é visto por muitos Palestinos e pelos outros árabes como uma entidade ilegítima. Israel exige que seus vizinhos a reconheça como um estado judeu ou pelo menos um estado do povo judeu. Mas o islamismo acredita que o judaismo deixou de ser uma religião relevante desde o advento de Maomé. Judeus são meramente comunidades religiosas pertencentes etnicamente aos povos entre os quais eles vivem, enquanto a Terra de Israel, do rio Jordão ao Mediterrâneo é um Waqf islamico, uma doação santa. Assim, muçulmanos e árabes não podem reconhecer Israel como um estado legítimo – que é uma condição sine qua non para qualquer acordo de paz ser bem sucedido.

O Monte do Templo e a mesquita al-Aqsa é um dos pontos mais difíceis de resolver porque este é o local mais sagrado para os judeus e não há qualquer indicação de que os israelenses estaria prontos a relegar sua soberania sobre ele. A destruição de antiguidades pelo Waqf palestino em 1996 provou aos israelenses que os palestinos não têm qualquer respeito nem pela história nem pela cultura do povo judeu ou pela herança histórica da humanidade. O objetivo dos palestinos é o de impor sua capital em Jerusalem apesar da cidade nunca ter sido capital de qualquer entidade palestina – que nunca existiu – ou de qualquer califa islâmico, emir ou sultão.

Sobre o retorno de refugiados, um retorno em massa para Israel próprio de palestinos que sairam em 1948 é visto com pela sociedade israelense como uma fórmula para um suicidio nacional coletivo. Neste ponto, os israelenses estão todos unidos, tanto da esquerda como da direita e há também precedentes jurídicos no direito internacional apoiando a posição israelense. Em março ultimo, a Corte Europeia de Direitos Humanos decidiu que gregos que haviam fugido ou que haviam sido expulsos do norte da ilha de Chipre quando os turcos invadiram em 1974, não têm o “direito de retorno”. Mas entre os refugiados palestinos no Líbano, Síria, Jordânia e da Autoridade Palestina, a narrativa do direito de retorno não é só dominante mas iminente. Qualquer tentativa da liderança da OLP de comprometer esta posição, causará uma grande revolta entre os palestinos e também nos países árabes que os acolheram.

Existem também razões pela qual a liderança israelense não quer hoje um progresso significativo no status final das negociações. Uma é as fronteiras e os assentamentos. Os eventos que se seguiram a retirada unilateral de Gaza e a remoção de 26 comunidades e suas 8 mil familias, fizeram com que a grande maioria dos israelenses hoje não apoie tais medidas. Nenhum governo israelense hoje conseguirá convencer o parlamento a aprovar uma evacuação em massa de colonos das comunidades da Judéia e Samária.

Além disso, israelenses hoje temem que um estado palestino estabelecido em contiguidade territorial na Judéia e Samária caia nas mãos do Hamas – seja por eleições como aconteceu em Janeiro de 2006 ou por um golpe como em Junho de 2007. Nem a Casa Branca nem as Nações Unidas podem prometer a Israel que isto não acontecerá. Assim, Israel está realmente procedendo com cautela nestas negociações para o estabelecimento de tal estado palestino. Além disso, a falha da UNIFIL no sul do Líbano em prevenir o rearmamento da Hizbullah, fez com que os israelenses hoje também duvidem na efetividade de uma força internacional para separá-los dos palestinos.

E acima de tudo, os palestinos não estão sendo preparados por sua liderança a aceitarem o convívio pacífico com Israel e com judeus. A mídia oficial da Autoridade Palestina publica diariamente artigos antisemitas, virulentamente anti-Israel.

Em conclusão, o status final dos pontos-chaves são tão complexos que sua solução num futuro próximo simplesmente não é alcançável. Qualquer um, e neste caso estou falando de Obama e sua administração – que forçar os lados a negociarem soluções que englobem estes pontos de modo apressado, apenas como instrumento de campanha eleitoral, irá mais provavelmente gerar uma crise que não irá beneficiar ninguém.

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