Sunday, March 17, 2024

O Apaziguamento Enquanto o Mundo Queima - 17/03/2024

 

Esta semana foi marcada por dois eventos que parecem não ter relação mas ao final almejaram o mesmo: a vitória dos agressores e a submissão das vítimas.

No domingo passado, a agência Reuters publicou um artigo titulado: “Papa: a Ucrânia deveria ter a ‘coragem de bandeira branca’ nas negociações”. A Reuters estava relatando as observações que o Papa Francisco havia feito numa entrevista dada em fevereiro para a emissora suíça RSI sobre a guerra na Ucrânia. Enquanto a Rússia de Putin se recusa a retirar as suas forças do país que invadiu sem provocação há dois anos, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, diz que “embora queira a paz, não desistirá de nenhuma parte do território ucraniano”.

Na entrevista, o papa teria dito: “...acho que o mais forte é aquele que olha para a situação, pensa no povo, e tem a coragem da bandeira branca e negocia.” Surpreendente.

Em vez de se concentrar em encontrar maneiras para forçar a mão ensanguentada de Putin para ele parar a sua agressão, o papa gostaria de ver a vítima, a Ucrânia, de joelhos, se rendendo.

Em outra parte da entrevista falando da guerra entre Israel e o Hamas, Francisco disse: ‘Negociar nunca é uma rendição’. O papa, que tem 87 anos ainda era um jovem quando a Inglaterra, a França e a Italia “negociaram” com os nazistas e acabaram entregando à Hitler os Sudetos que faziam parte da antiga Checoslováquia. Na época, o sorridente Chamberlain saiu das “negociações” se gabando que a guerra havia sido evitada. Não demorou um ano e a Alemanha atacou a Polonia começando a Segunda Grande Guerra.

Falando sobre a guerra entre Israel e o Hamas, Francisco disse: ‘Negociar nunca é uma rendição’. Em Israel sabemos bem demais o que significa “negociar com o Hamas”.

O papa também tem idade suficiente para saber das consequências do apaziguamento.

Por outro lado, os ataques do partido democrático americano a Israel chegaram na estratosfera na quinta-feira quando o líder do Senado, Chuck Schumer, falando no plenário, atacou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, com a guerra ainda em curso. Numa interferência sem precedente na política de um país independente e soberano, Schumer apelou por novas eleições em Israel declarando que Netanyahu tinha “perdido o rumo” e que ele estaria “muito disposto a tolerar o custo civil em Gaza.” Ele disse que “como apoiador vitalício de Israel, tornou-se claro para ele que a coligação Netanyahu já não se adapta às necessidades de Israel depois de 7 de Outubro”, e acusou Netanyahu de continuar a lutar em Gaza por sua sobrevivência política. Biden por seu lado chamou a campanha militar de Israel de “exagerada” e acusou Netanyahu de usar a ajuda humanitária como “moeda de troca”. Estas declarações vieram logo após o vazamento de um relatório da inteligência americana sobre ameaças à segurança nacional, que tratava de avaliações sobre Israel.

Está patente que o partido democrata está cada vez mais preocupado com o impacto que a guerra em Gaza está tendo nas pesquisas de preferência de voto para as próximas eleições presidenciais americanas. Os democratas precisam desesperadamente que Israel declare que aceitará a solução de dois estados depois que a guerra acabar. Mas ao que parece, os dois estados a que se referen são Michigan e Minnesota que abrigam uma comunidade árabe expressiva.

A posição de Israel em resposta foi categórica. ‘Aqueles que elegem o primeiro-ministro de Israel são os cidadãos de Israel e mais ninguém”. “Israel não é um protetorado dos EUA, mas um país independente e democrático cujos cidadãos são quem elegem o governo. Esperamos que os nossos amigos ajam para derrubar o regime terrorista do Hamas e não o governo eleito de Israel”.

O relatório vazado afirma que a “viabilidade do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como líder, bem como a sua coligação governamental .... podem estar em dúvida”. Um governo diferente e mais moderado é uma possibilidade.”

Dado que é rarissimo que uma avaliação da inteligência americana sobre um outro país chegue a público, ficou claro que o vazamento foi uma tentativa da administração Biden de interferir na situação política interna de Israel. E isso é um erro.

É um erro porque é simplesmente uma falta de tato, é uma falta de respeito um país interferir na política interna de outro, especialmente de um aliado próximo. Mas Biden não foi o primeiro a ter esta idéia. Durante décadas, os EUA procuraram fazer pender a balança política em Israel. Em 1992, o então presidente americano, George H.W. Bush reteve garantias de empréstimos extremamente necessárias a Israel, sabendo que isso ajudaria Yitzhak Rabin a derrotar Yitzhak Shamir nas eleições daquele ano.

Em 1996, Bill Clinton fez de tudo, menos distribuir panfletos para eleger Shimon Peres no lugar de Netanyahu. Em 2022, o presidente Joe Biden tentou apoiar o então primeiro-ministro Yair Lapid visitando Israel quatro meses antes das eleições que elegeram Netanyahu.

O problema de tentar interferir nas eleições de outro país não é apenas o fato de ser errado e gerar ressentimento –é uma posição paternalista dizer que os Estados Unidos sabem mais sobre o que é bom para os cidadãos de Israel. Mas, como tem sido o caso cada vez que os EUA tentaram destituir Netanyahu, o tiro sai invariavelmente pela culatra. Clinton, Obama e Biden fizeram o que puderam para virar o público contra Netanyahu, mas em cada caso, seus esforços tiveram o efeito oposto.

Biden também interpretou mal o público israelense. Numa entrevista à MSNBC, Biden alertou Israel contra entrar em Rafah. Citando números fornecidos pela própria organização terrorista, o presidente disse: “Não podemos ter mais 30 mil palestinos mortos como consequência de perseguir” o Hamas. “Existem outras maneiras… de lidar… com o trauma causado pelo Hamas.”

Senhor Presidente, Israel não está sacrificando as vidas dos seus soldados para lidar com “o trauma” de 7 de Outubro. Isto não é nenhum tipo de terapia psicológica. O objetivo aqui é de evitar outro 7 de Outubro De destruir as capacidades do Hamas e, ao mesmo tempo, criar uma dissuasão – que, esperamos, também servirá contra a Hezbollah no Norte. Israel não está procurando uma cura para um trauma. Está buscando o retorno dos mais de 134 reféns que ainda permanecem nas mãos dos terroristas.

E saiba que os israelenses são maduros e inteligentes o suficiente para saberem o que é bom para o seu país, especialmente depois de futilmente terem tentado de tudo para fazer a paz com estes terroristas e não precisam da ajuda dos Estados Unidos para escolher seus líderes. Assim, fiquem fora da política interna de Israel.

E chegou mais uma vez a hora de repetir que o apaziguamento não funciona. Se cedermos aos agressores – seja Putin, ou as organizações terroristas apoiadas pelo Irã, não salvamos vidas. Só preparamos o campo para a próxima rodada de hostilidades.

Cada vez que repreende Israel, Biden cria menos incentivos para o Hamas depor suas armas e o preço dos reféns aumenta. O aviso de que Israel estaria ultrapassando certas linhas vermelhas se continuasse a agir, mostra que o presidente dos EUA, tal como o papa, não conhecem o mapa do Oriente Médio ou sabem o que se passa diariamente lá. Da mesma forma, a insistência em garantir que quantidades cada vez maiores de “ajuda humanitária” sejam enviadas para Gaza, onde a maior parte acaba nas mãos do Hamas, não é forma de acabar com uma guerra; apenas a alimenta. Seria mais produtivo exigir que o Hamas libertasse os reféns e se rendesse. Somente hoje Israel foi alvo de dezenas de mísseis de Gaza e do Líbano.

As bandeiras que os árabes hasteam não são brancas. São vermelhas de sangue. E o mundo deveria prestar mais atenção. O papa e Biden não estão sozinhos ao confundir bandeiras brancas com a fumaça negra enquanto o mundo queima.

Sunday, March 10, 2024

Ramadã e a Guerra de Gaza - 10/3/2024

 

Quem abriu o noticiário internacional esta semana notou a quantidade de artigos sobre o Ramadã e a guerra em Gaza.

O Ramadã, para quem não sabe, é o nono mês do calendário islamico e é quando os muçulmanos do mundo inteiro jejuam do nascer ao por do sol. No Brasil é um jejum de em torno 13 horas durante o dia. É um mês para supostamente orar, refletir, fazer caridade e tentar ser uma pessoa melhor. Mas é também um mês que premia em dobro atos de sacrificio e martirio.

Enquanto a maioria das publicações focam na falácia da fome que paira sobre a Faixa e tristeza das familias de Gaza por não poderem comemorar seu mês santo como sempre, com suntuosos jantares e cafés da manhã, elas omitem o que a história mostra do que se passa realmente durante o Ramadã. Elas tambem não conseguem evitar de interpretar os eventos com lentes ocidentais.

Então vamos lá. Primeiramente, não confundam Ramadã com Natal. Somente por ser um mês de jejum, Ramadã não deixa de ser um mês de avanço islâmico e de guerras e isso desde a época de Maomé. Entre outras e já em 624, a batalha de Badr contra Mecca foi travada em Ramadã. Em 653 os muçulmanos invadiram e conquistaram a ilha grega de Rodhes. Em 710 invadiram a Espanha, conquistando a Andaluzia e ocupando a região por 800 anos. Em 1187, Saladino venceu o exercito Franco e tomou Jerusalem na batalha de Hattin também em Ramadã. 

Mais recentemente, em 1981 e 1987, o Irã rejeitou dois cessar-fogos oferecidos pelo Iraque durante Ramadã. A guerra entre eles continuou. Em Israel, a primeira intifada palestina durou 6 Ramadãs. 

E não podemos esquecer a Guerra do Ramadã como é chamada a guerra de Iom Kippur, quando o Egito e a Siria lançaram um ataque de surpresa contra Israel, no seu dia mais sagrado, e também de jejum.  De alguma forma, a oração, a contrição e a reflexão não inibiram aquele ataque traiçoeiro que massacrou 2700 israelenses. Tampouco o jejum. Os soldados egípcios e sírios foram isentos de jejuarem porque estavam empenhados no dever religioso de matar infiéis, a categoria em que os judeus se enquadram. 

Não dá para entender então porque o mundo exige um cessar-fogo e o respeito pelo mês santo islâmico quando os próprios muçulmanos vêem a guerra neste mês como um dever religioso? Como disse, nada como aplicar valores ocidentais a situações e pessoas que estão longe deles. 

Seria bom se os muçulmanos palestinos em Jerusalém, Judeia, Samaria e Gaza se aproximassem do Ramadã como eles querem que acreditemos: como um mês de jejum, caridade, oração, contrição e reflexão.

Tenho certeza que muitos muçulmanos devotos fazem isso, mas é igualmente verdade que o Ramadã tem sido frequentemente celebrado com uma orgia de violência muçulmana, especialmente palestina. Invariavelmente, o Ramadã é usado como desculpa para o aumento da guerra santa contra Israel.

Aqueles com alguma memória – e isso exclui muitos indivíduos na Casa Branca de Biden e no Departamento de Estado de Blinken – podem facilmente verificar que os inimigos de Israel há muito que usam o Ramadã para assassinar judeus. Em 2016, o Hamas rotulou o ataque assassino ao Mercado Sarona em Tel Aviv de “Operação Ramadã” e o celebrou como o “Primeiro Ataque do Ramadã”. Outros ataques terroristas contra judeus logo se seguiram, tornando aquele Ramadã num mês particularmente sangrento para Israel. 

E isso não se limita nem aos judeus. Em 2016 e 2017, o ISIS bombardeou duas vezes uma rua popular em Bagdá durante o Ramadã, matando centenas de muçulmanos. Durante o mesmo Ramadã de 2016, um muçulmano radical atacou a boate Pulse em Orlando, Flórida, assassinando 49 pessoas. E estes não são exemplos isolados. Os árabes têm historicamente travado guerras cruéis uns contra os outros durante o Ramadã. 

E, com certeza, mais uma vez este ano, todos temem uma “escalada” no Ramadã, que ao que parece, começa amanhã. Especialmente porque o Hamas e o seu porta-voz, o canal Al Jazeera, estão apelando aos fiéis para expandirem a “Inundação de Al-Aqsa” (o nome que o Hamas deu ao massacre de 7 de outubro) a Jerusalém e à Cisjordânia através do terrorismo e da revolta. 

E o que está fazendo o Departamento de Defesa americano? Ele está ocupado enviando alertas aos líderes de Israel para prestarem reverência ao Ramadã, para serem extremamente cautelosos durante o Ramadã, para não fazerem nada para “provocar” os muçulmanos no Ramadã – especialmente dentro e em volta do Monte do Templo de Jerusalém – porque “as emoções muçulmanas são oh -muito sensível durante este mês”.

O presidente americano, Joe Biden, chegou ao ponto de sugerir que Israel deveria interromper a sua guerra contra o Hamas em Gaza para permitir que os muçulmanos observassem piedosamente o Ramadã e, aproveitassem parte daquele famoso espírito de caridade, para fazer o Hamas se derreter e concordar em soltar os reféns. (Halevai, mas na dúvida, vamos esperar sentados).

Para nós judeus e israelenses, tais sentimentos parecem tão bizarros, tão bizarros....porque são bizarros. Nunca ouvi que um judeu tenha saído para matar não-judeus por emoção à uma festa judaica. Ou um cristão que saiu para metralhar pessoas sob a influência do “espírito natalino”. Na verdade, é inconcebível para qualquer judeu – ou qualquer pessoa normal, moral e de pensamento correto – gritar “Allah uAkbar- Deus é Grande” como um prelúdio para assassinar, estuprar, saquear, decapitar, explodir, esfaquear, atirar em pessoas inocentes, Por qualquer motivo. Talvez os bons muçulmanos devessem usar este Ramadã para um exame de consciência e a melhor forma de erradicar este mal do seu meio. 

E não como os chamados “especialistas” em segurança, políticos, diplomatas e estadistas dizem: “Bem, é claro, as tensões são sempre elevadas durante o Ramadã e, assim, os judeus devem se manter discretos, abaixarem suas cabeças, voltarem a serem cidadãos de segunda classe, dhimmis, porque a violência muçulmana deve ser antecipada durante o mês sagrado” 

Tal sentimento insulta ou deveria insultar a maioria dos muçulmanos do mundo, bem como a nossa inteligência. É a própria definição de se render aos agressores, em vez de confrontá-los e vencê-los. 

Além disso, a tal “piedade” em Ramadã, deveria começar em casa. O Hamas, que diz ser primeiramente um movimento islãmico, deveria sim soltar todos os reféns e se render para salvar as vidas de outros muçulmanos nocentes que certamente morrerão com a continuação da guerra. Mas o Hamas quer apenas uma coisa: a sobrevivencia e a preservação de seu poder em Gaza. Eles pouco se importam se o mês é santo ou não, a não ser para inculcar nos jovens terroristas o desejo de morrerem neste mês pois a recompensa é dobrada. Se o mundo permite ao Hamas tirar as luvas no Ramadã, não esperem que Israel guarde as suas. 

Para finalizar, comemoramos na sexta-feira o Dia Internacional da Mulher. Muito tem sido escrito sobre a vergonhosa traição das mulheres israelenses por suas “irmãs” em todo o mundo, a maioria das quais permaneceu em silêncio sobre a “tortura sexualizada” a que foram submetidas no dia 7 de Outubro.

Os grupos de mulheres, incluindo a ONU Mulheres, agravaram este sofrimento com o seu silêncio, alguns até chegando a exigir à apresentação de provas para apoiar as alegações de violação e abuso sexual que agora o Hamas nega. Tragicamente, muitas das vítimas do Hamas foram assassinadas em 7 de Outubro ou ainda estão em Gaza, onde permanecem reféns.

Levou quatro longos meses, para que a enviada da ONU, Pramila Patten, visitasse Israel. O relatório que se seguiu confirmou que “violência sexual, incluindo mutilação genital, tortura sexualizada ou tratamento cruel, desumano e degradante” foi cometida durante os ataques de 7 de Outubro.

No entanto, mesmo agora, com a confirmação por parte de uma organização internacional afiliada à ONU, da ocorrência de tais atrocidades contra as mulheres, o mundo permanece em silêncio. 

Então entre os 134 cativos, vou repetir o nome aqui das 14 moças (apesar da violência sexual também ter sido cometida contra homens e rapazes), que ainda estão sendo torturadas ou mortas em Gaza: Liri Albag, de 18 anos, Daniella Gilboa, de 19 anos, Naama Levy de 19 anos, neta de sobreviventes do Holocausto, Karina Ariev, 19 anos, Agam Berger de 20 anos, Noa Argamani, de 26 anos, Romi Gonen 26, Arbel Yehud de 28 anos, Carmel Gat de 39 anos, Eden Yerushalmi de 24 anos, Doron Steinbrecher de 30 anos, Shiri Bibas, a mãe dos dois meninos Ariel de 4 anos e o bebê Kfir que continuam cativos, Amit Buskila de 28 anos e Emily Damari de 27 anos. Não esqueceremos, não perdoaremos até que retornem.

 

Sunday, March 3, 2024

Em Resposta ao Estadão - 3/3/2024

Apareceu em um dos meus grupos de WhatsApp, a opinião publicada no jornal O Estado de São Paulo, o Estadão, de ontem, titulada “Gaza: Um Abismo Moral Para Israel”. Lendo o artigo, lembrei do que astronautas descrevem quando vêem o planeta Terra do espaço: que não há fronteiras, não há guerras, só uma linda bola azul.

Sempre me surpreende quando renomadas publicações, milhares de milhas longe do conflito, se acham no direito de julgar esta ou aquela parte, com base na torrente de informações, muitas fake, algumas verdadeiras, todas infalivelmente com agendas ideológicas, que escondem a verdade e levam à conclusões erradas e perigosas. Sim. Há uma diferença entre fato e opinião e ninguém pode distorcer os fatos para provar sua opinião.

E isso aconteceu com o editorial do Estadão.

De acordo com o jornal, a morte por pisoteamento de dezenas de palestinos em Gaza é de total responsabilidade de Israel porque Israel está ocupando o norte da Faixa onde ocorreu a tragédia.

Vamos lá! De acordo com o direito internacional, nenhum país, quando atacado, tem qualquer obrigação de enviar “ajuda humanitária” para o seu agressor. Alguém viu qualquer comboio de centenas de caminhões ucranianos sendo entregues para ajudar a Russia? Absurdo não é? Mas aparentemente não é no caso de Israel. Há anos, centenas de containers entram em Gaza diariamente com todo o tipo de ajuda humanitária. E ela vai diretamente para as mãos do Hamas que, fato, foi eleito democraticamente pelo povo de Gaza para governá-los. E isso - outro fato – apesar de Israel ser diariamente bombardeada com mísseis vindos da Faixa.

O Hamas então vende a ajuda humanitária ao povo de Gaza a preços exorbitantes, enchendo seus bolsos para que seus líderes tenham uma vida de marajá no Qatar. Somente na semana passada, Israel explodiu os portões de dois armazéns do Hamas que estava repleto de alimentos e remédios deixando o povo entrar para pegar os produtos.

Agora,  Israel escolheu o horário das 4 da manhã para entregar a ajuda humanitária, precisamente para evitar tumulto. Mas a informação da entrega vazou, e centenas de palestinos se dirigiram para o corredor criado por Israel para fazer a entrega. Os motoristas egipcios dos caminhões foram quase mortos e várias pessoas foram pisoteadas. Isso não é a culpa de Israel. É a culpa do Hamas.

Aqueles que hoje criticam Israel claramente esqueceram que havia um cessar-fogo com o Hamas em vigor até a manhã de 7 de Outubro, quando milhares de terroristas invadiram Israel, assassinando, decapitando, estuprando e mutilando centenas de Israelenses. Os terroristas sequestraram mais de 240 pessoas, idosos, bebês, mulheres, jovens, crianças, 134 das quais ainda estão mantidas como reféns.

Mas aí o Estadão faz uma série de perguntas: “o que Israel está fazendo para abrigar os civis em campos de refugiados, garantir os suprimentos ou reabilitar hospitais destruidos?

Primeiro, Israel não destruiu nenhum hospital. Destruiu sim os tuneis e armazéns de armas que estavam em baixo deles. Ainda, médicos de Israel foram enviados a vários deles para fazer um levantamento dos equipamentos e medicamentos em falta. Só no Al-Shifah, Israel transferiu dezenas de encubadoras para prematuros. Sobre os suprimentos, desde o começo da guerra, Israel transferiu 274 mil 540 toneladas em mais de 15 mil caminhões. Foram 180 mil toneladas de alimentos, 25 mil toneladas de água, 18 mil toneladas de suprimentos médicos, 31 mil toneladas de abrigos, 170 tanques de gasolina e mais de 300 tanques de gás de cozinha. Quanto mesmo a Ucrania enviou em ajuda para a Russia?

E porque o Estadão não pergunta como é que ainda há campos de refugiados em Gaza? Eles não estão na terra deles? Não deveriam estar assentados depois de 3-4 gerações?

Outra pérola: “o que Israel está fazendo para arquitetar um mínimo de ordem e resguardar direitos civis e humanos da população nos territórios ocupados?” Desde quando países em guerra devem procurar resguardar os "direitos civis" da população inimiga? Quando isso jamais foi feito na História? Que direitos civis são estes? Direito de voto? Eles já votaram e escolheram o Hamas.

Aliás, de acordo com o instituto de pesquisa palestino, se hoje houvesse eleições, o Hamas ganharia de longe em todos os lugares, inclusive na Judeia e Samária. Para resguardar os direitos humanos é muito simples: antes de atacar qualquer lugar, Israel envia milhões de panfletos em árabe avisando os civis para saírem do local; faz milhares de telefonemas para os moradores de Gaza com instruções para não se ferirem. Israel sacrificou a vida de mais de 500 de seus jovens soldados que já morreram nesta guerra, para salvar a vida de palestinos. Ou o Estadão acha que Israel não teria a capacidade de arrasar completamente a Faixa com sua força aérea se quisesse?

E a maior de todas as perguntas: “O que está fazendo para construir uma paz duradoura com seus vizinhos?” Eu vou fazer outra pergunta: como podemos obrigar uma pessoa a morar com outra que ela odeia? Fazemos ela ficar na marra?

O povo elegeu o Hamas por causa de sua proposta política e militar. O artigo 1 de sua constituição declara que “o Hamas é um movimento islâmico palestino de libertação e resistência nacional. O seu objetivo é libertar a Palestina e confrontar o projeto sionista.” Em nenhum momento o objetivo é de construir um estado palestino. O seu artigo 2 descreve o território da Palestina como sendo o território “que se estende desde o rio Jordão, a leste, até ao Mediterrâneo, a oeste, e da fronteira com o Líbano, no norte, até o Mar Vermelho, no sul, é uma unidade territorial integral.  Seu artigo 13 diz que “iniciativas diplomáticas, as chamadas soluções pacíficas e conferencias internacionais para encontrar uma solução para o problema palestino contradiz a posição ideológica do Movimento Islamico de Resistencia. Desistir de qualquer parte da terra da Palestina é ignorar parte da fé islâmica”.  

E é por isso que um dos líderes do Hamas, Mousa Abu Marzouk, afirmou que “os túneis subterrâneos construídos na Faixa de Gaza são para proteger os ‘combatentes’ do Hamas e a responsabilidade de proteger os civis cabe às Nações Unidas e a Israel”. Tais declarações demonstram a indiferença dos líderes do Hamas relativamente ao sofrimento do seu próprio povo fora os bilhões em ajuda internacional que foram para a construção de túneis e mísseis.

Como é que se pode começar uma negociação com alguém que tem como ponto de partida para você é: deite e morra?

Agora, vamos ver o que Israel fez até agora para ter uma paz duradoura com seus vizinhos como o Estadão exige: em 1947 os judeus aceitaram a partilha da região ao lado oeste do rio Jordão para formar dois países: um judeu e um árabe. Os árabes recusaram e juntaram 5 exércitos para destruir o recem-nascido estado. Perderam. E perderam novamente em 1956 e de modo espetacular em 1967 na guerra dos Seis Dias quando perderam a Judeia, Samaria, Gaza, o Sinai, e os Altos do Golã. Na época, Israel ofereceu devolver todos os territórios em troca de reconhecimento e paz. E resposta árabe foi os 3 nãos: não para o reconhecimento, não para negociações e não para a paz. Perderam a guerra de Iom Kippur em 1973.

Israel então ofereceu os Acordos de Oslo, que criaram a Autoridade Palestina e aceitaram criar um estado palestino em 5 anos. Mas em resposta Arafat lançou duas intifadas com milhares de judeus mortos. Em 2005, em mais uma tentativa, Israel saiu completamente da Faixa de Gaza para experimentar a solução de dois estados.

Mas em vez de desenvolverem a Faixa, em 2006 o povo votou no Hamas com base na sua proposta de guerra e trabalhou febrilmente para transformar a Faixa em uma plataforma de lançamento de mísseis e base militar com mais de 500 km de túneis.  Porque será que nenhum líder mundial ou o Estadão perguntam o que querem os palestinos? Porque o mundo e o Estadão não querem ouvir. Até agora os palestinos foram consistentes: eles querem tudo e querem destruir Israel.

Essa é só a ultima guerra que Yahya Sinwar, um dos mentores do massacre de 7 de Outubro, poderia acabar em um minuto se libertasse todos os reféns e se rendesse. Mas como sempre ele está apostando na pressão internacional sobre Israel.  Sua esperança é que ela obrigue Israel a aceitar o fim da guerra e tudo volte como era em 6 de outubro.

Se a comunidade internacional estiver verdadeiramente interessada em acabar com a guerra em Gaza, deverá exercer pressão sobre o Hamas e não sobre Israel. E sim, Israel tem que reocupar a Faixa e começar um processo de desnazificação dos palestinos, como foi feito na Alemanha e no Japão. E não. Isso não destruirá a democracia de Israel.

É só o Estadão descer da nave espacial, aterrissando em Israel para ver a realidade. 

Infelizmente, o mundo ainda não compreendeu que o Israel de hoje não é o Israel do 6 de Outubro. Não mais aceitaremos sermos alvos impunemente. Aprendemos, da maneira mais difícil, mais dolorosa, que as concessões que fazemos e cessar-fogos que acordamos, têm uma forma desagradável de explodir na nossa cara.