Sunday, September 29, 2013

O Jihad Islâmico como Crime Contra a Humanidade - 29/09/2013

O ataque a civis por islamistas ocorrido no Shopping Center em Nairobi na semana passada que deixou pelo menos 74 mortos não foi uma coisa extraordinária. Ele seguiu um roteiro similar a outros ataques que ocorreram nos últimos dias. No Paquistão, no domingo passado, 84 cristãos foram mortos no bombardeamento de uma igreja e na Nigéria, 159 pessoas foram chacinadas por islamistas perto de Maiduguri. Tudo no mesmo final de semana.

Infelizmente, a reação da mídia e dos políticos também seguiram um roteiro cuidadosamente trabalhado a que nos acostumamos há tempos: primeiro, terroristas islâmicos atacam civis tentando separar os muçulmanos dos não-muçulmanos para matar somente o último grupo. Há “condenações” pelos “atos de violência sem sentido” e apelos para mantermos a “calma e unidade”. E logo tudo é esquecido. Os terroristas presos são julgados por cortes civis e dependendo do lugar, talvez pegarão a pena de morte a ser executada daqui há uma década. E voltamos aos nossos refrões diários, que os “terroristas não prevalecerão”.

O problema é que este roteiro não leva em conta um fator central do terrorismo islâmico: que é preciso parar de tratar estes ataques como crimes isolados. Chegou a hora de defini-los como crimes contra a humanidade.

Testemunhas do ataque no Kenia contaram para a BBC que quando o grupo terrorista Al-Shabaab entrou no Shopping Center, eles reuniram os civis e pediram aos muçulmanos ficarem de pé e sairem”. “Um homem com um nome cristão mas um sobrenome que parecia árabe, conseguiu escapar cobrindo seu primeiro nome com o dedo em sua carteira de identidade. Mas um indiano que estava do seu lado e não conseguiu responder o nome da mãe de Maomé foi sumariamente abatido na frente de todos”.

Do mesmo modo em 2004, quando 17 terroristas entraram no complexo residencial de Khobar, na Arábia Saudita, eles pararam o primeiro transeunte e perguntaram se ele era cristão ou muçulmano. Porque não queriam matar muçulmanos. Pediram à ele mostrar aonde estavam os americanos. Ao final, os terroristas caçaram e mataram 22 residentes, trabalhadores dos Estados Unidos, Africa do Sul, Sri lanka, India, Suécia, Filipinas e Egito.

O mesmo ocorreu nos ataques em Mumbai na India em 2008. Numa conversa telefonica entre os terroristas gravada pelas autoridades, um grupo pediu ao outro para se assegurar que entre os reféns não houvessem muçulmanos. Quando recebeu confirmação, o primeiro grupo deu a ordem para matar todos os reféns deixando o telefone ligado para que ouvissem os tiros. Quando isso ocorreu pode-se ouvir as comemorações do outro lado da linha.

É interessante como reportagens destes ataques tentam logo minimizar a culpa dos terroristas e filtram as referências e o foco nos não-muçulmanos. Em novembro de 2009, Fareed Zakaria da CNN fez um programa especial sobre os ataques em Mumbai. Ele simplesmente disse que os terroristas foram instruidos para matarem o máximo de civis. De fato eles foram instruidos a matarem o máximo possível de infiéis não-muçulmanos. Aí Zakaria descreveu os terroristas como meninos pobres do campo. Ao falar do ataque à sede do Beit Chabad ele falou do “ânimo contra os judeus”. Só que até os anos 80, a maioria dos muçulmanos indianos não sabiam nem aonde estava a Palestina.

Zakaria comparou as ações dos terroristas à “lavagem cerebral” tentando enfatizar a juventude dos terroristas, “estes meninos do campo”… “estas crianças que parecem adolescentes”. A frequência com que Zakaria os chama de “meninos” é incrível. O único terrorista capturado vivo tinha 21 anos na época. O mais velho deles tinha 28 anos. O mais novo tinha 20.

Mas isso não foi só em Mumbai. Nos ataques à Maratona de Boston no ano passado, a mídia em massa definiu os dois irmãos como “jovens” que não conseguiram se integrar nos Estados Unidos como se a culpa fosse nossa e não deles.

Aí eu pergunto: porque o esforço consciente para redefinir estes terroristas como crianças? Porque a decisão consciente de excluir diálogos com instruções de matar somente não-muçulmanos e pintar o ataque como “indiscriminado”?

A estória real e verdadeira é que estes homens saíram para matar o maior número possível de não-muçulmanos. A mídia procura esconder este lado para promover a narrativa de “unidade”, e apresentar muçulmanos também como vítimas e isso esconde a natureza genocida do crime.

Estes três exemplos, Mumbai, Khobar e Nairobi, são apenas a ponta do iceberg. Os rebeldes na Síria entraram na cidade cristã de Maaloula há algumas semanas e forçaram os residentes a se converterem ao Islamismo; cristãos coptas no Egito tiveram suas igrejas queimadas e muitos de seus membros mortos por membros da Irmandade Muçulmana. No começo deste mês 200 cristãos foram sequestrados pelo Fronte Nacional de Libertação Moro nas Filipinas, que quer instaurar um governo muçulmano no sul do país. O grupo é reconhecido como membro observador da Organização da Conferência Islâmica. Quando as Filipinas pediram para se juntar à organização, foi rejeitada.

Do sul da Tailandia, às Filipinas, passando pela Síria e além, a mentalidade jihadista leva a massacres em massa.

É verdade que em muitos casos não só não-muçulmanos são alvejados mas membros de outras seitas muçulmanas. No Paquistão shiitas são mortos todos os dias. Em agosto do ano passado um grupo vestido com uniformes do governo, entraram num ônibus e pediram para ver as carteiras de identidade dos passageiros. Os que tinham nomes shiitas foram alinhados fora do ônibus com as mãos amarradas e executados sumariamente. Já ouviram isso antes?

Através dos anos, muitos acadêmicos têm identificado o jihadismo com “islamo-fascismo” porque o jihad prega o genocidio de não-muçulmanos como um dos pilares da religião. Mas o ocidente se recusa a aceitar esta premissa. O mundo não julga os terroristas como criminosos de guerra cometendo crimes contra a humanidade. Em vez disso, estamos todos ocupados em ofuscar a natureza destes ataques, fingindo que os terroristas são jovens mal-guiados enviados para matar qualquer um minimizando o caráter genocida destas missões.

Pudemos ver isso claramente na descrição dada pelo New York Times ao evento no Kenia esta semana. O jornal descreveu os perpetradores como “militantes do Al-Shabab”. Quando eles mataram o poeta de Gana de 78 anos, Kofi Awooner e a radialista queniana de 31 anos Ruhila Adatia-Sood, isto era parte de uma operação militar?? Dezenas de mulheres mortas nos andares do Shopping, isso é ser “militante”??

Neste último 15 de setembro, quando marcamos os 50 anos do ataque da Ku Klux Klan à igreja batista de Birmingham, que tirou a vida de quatro meninas negras, o jornal não chamou os perpetradores de “militantes”. Mas os objetivos e métodos do Klan não eram diversos do Shabaab ou dos Talibans de hoje: uns como os outros querem matar um grupo específico. Ninguém falou que a Ku Klux Klan saiu naquele dia para matar indiscriminadamente. Se estima que o KKK matou 4.743 pessoas entre 1882 e 1968. Só no Iraque no ano passado, massacres entre as diversas seitas custou a vida de 4.574 pessoas. E isso é só no Iraque num só ano. Se somarmos todos os ataques por muçulmanos contra não-muçulmanos, ou a limpeza étnica de não-muçulmanos em países como o Egito, Iraque e norte da Nigéria, teremos dezenas de milhares somente na última década. São milhões no último século.

E o pior é que os muçulmanos não-jihadistas se calam. Alguém ouviu alguma condenação vinda de algum país muçulmano ao ataque no Kenia? Ouvimos da comunidade européia, de Ban Ki Moon, de Obama. E os muçulmanos que se dizem não-jihadistas?? Aonde está sua voz que não ouvimos?


Precisamos parar de esconder o denominador comum entre Mumbai e Nairobi, entre Khobar, a Nigéria, as Filipinas, a Síria e o Egito. Existe hoje uma campanha mundial de limpeza étnica e assassinato contra não-muçulmanos e chegou a hora de definirmos isso como um crime contra a humanidade e não como “militantismo” ou “terrorismo”. Pode não ser politicamente correto mas certamente é o moralmente correto.

Parcialmente adaptado do artigo de Seth Frantzman publicado no Jerusalem Post em 24/09/2013.

Sunday, September 22, 2013

O Irã e o Modelo da Coréia do Norte - 22/09/2013

A moda parece que pegou. Depois do artigo de Putin no jornal The New York Times, foi a vez de Bashar Al-Assad dar uma entrevista para a Fox News e logo em seguida, o novo presidente do Irã, Ayatollah Hassan Rouhani falar com a NBC. Estes tiranos decidiram que o caminho é convencer a opinião pública americana que não vale a pena atacá-los.
Apesar de calmo e falando um inglês quase perfeito, Assad mostrou momentos de delírio como quando disse que não há guerra civil na Síria afirmando que todos os rebeldes são terroristas estrangeiros da Al-Qaeda. Como era esperado, Assad descreveu as complicações em lidar com seu arsenal de armas químicas e que para destruí-lo levará vários anos e irá custar 1 Bilhão de dólares. E pelo que os especialistas falam, este montante não é irrazoável. Assad terminou a entrevista convidando os americanos a pagarem a conta.
Aí foi a vez de Rouhani na NBC. Sua entrevista foi ao ar justo antes dele viajar para os Estados Unidos para a abertura da Assembléia Geral da ONU.  Rouhani não perdeu o sorriso nem uma vez, parecendo mais um benigno avô que o maior patrocinador do terrorismo mundial. Ele evitou responder questões sobre o Holocausto, dizendo ser um político e não historiador. Eu fiquei imaginando se esta foi a resposta que ele colocou nos exames de história na escola… quando perguntado sobre Israel ele disse que o Irã procura a paz mas que Israel é o país desestabilizador do Oriente Médio, ocupador e opressor da população local. Mas reiterou que o Irã não está em busca de armas nucleares.
A grande pergunta é se Obama pode confiar no que Assad ou Rouhani dizem. Se procurarmos exemplos no passado, não precisamos ir muito longe. Vamos começar com a Hezbollah.
Numa manhã de verão em 2006, terroristas da Hezbollah mataram oito soldados israelenses e roubaram dois corpos provocando a Segunda Guerra do Líbano. Durante o conflito que durou um mês, eles lançaram mais de 4 mil mísseis contra civis o que fez com que Israel praticamente destruísse Beirute. A conclusão da guerra foi um acordo negociado pelo Conselho de Segurança da ONU na Resolução 1701 e vivamente louvado por Ehud Olmert e Tzipi Livni, como uma grande vitória do seu governo.
O artigo 8 da Resolução estabelece uma área no sul do Líbano entre a fronteira de Israel e o Rio Litani livre de armamentos e pessoas armadas exceto membros do exército libanês e da UNIFIL enviada pela ONU para garantir o cumprimento da Resolução. Hoje, 7 anos depois, alguém pode dizer realisticamente que os mísseis desapareceram? Israel está mais segura? Foram as promessas cumpridas?
A resposta é que não somente elas não foram cumpridas mas a Hezbollah conseguiu multiplicar em várias vezes seu arsenal e hoje Israel está bem menos segura que em 2006. E quem enviou todos estes mísseis para a Hezbollah? O líder da Síria, Bashar Al-Assad. Mas a Síria não fabrica mísseis. Quem está por trás da Síria? Não outro que o Irã. De fato, Hassan Nasrallah, o líder da Hezbollah, há menos de um ano se gabou na rede de TV Al-Manar que “se Israel ficou chocada com o número de mísseis Fajr-5 que alcançaram Tel Aviv em 2006, o que farão quando milhares destes mísseis cairão em todo Israel se invadirem o Líbano? Os Fajrs são de fabricação iraniana.
Outro grande exemplo é a Coreia do Norte. Há um ótimo artigo da jornalista Caroline Glick to Jerusalem Post de hoje detalhando toda a evolução das negociações com o país comunista para abandonar seu programa nuclear. Em resumo, a Coreia do Norte assinou o tratado contra a proliferação de armas nucleares em 1985. Em 1992 ela foi declarada em violação ao tratado. Em 1993 a Coréia do Norte anunciou sua intenção de renunciar ao tratado mas que estaria disposta a negociar com os Estados Unidos. As negociações começaram em 1994. Em troca de fechar sua instalação em Yongbyon a América construiria usinas nucleares de água leve para gerar energia elétrica e forneceria petróleo até que estivessem prontas. Em 2002 os coreanos reconheceram estar enriquecendo urânio ilegalmente e em 2003 renunciaram ao tratado.
Em 2005 a Coreia do Norte anunciou ter um arsenal nuclear e em outubro de 2006 testou sua primeira bomba. A resposta dos Estados Unidos foi de voltar à mesa de negociações e em 2007 a Coréia do Norte concordou em fechar outra vez Yongbyon em troca de mais carregamentos de petróleo. Em 2007, Israel destruiu um reator nuclear na Síria idêntico ao de Yongbyon.
Em 2008, os americanos ficaram com medo que o enriquecimento de urânio não tivesse cessado e para mostrar boa vontade, retiraram a Coreia do Norte da lista de países patrocinadores do terrorismo. Seis meses mais tarde os coreanos haviam reaberto o reator e um mês mais tarde conduziram mais um teste nuclear. Hoje a Coreia do Norte tem 4 mil centrífugas em operação e produz urânio enriquecido suficiente para 3 bombas nucleares por ano. Este ano eles conduziram mais um teste e passaram para a produção de plutônio. Apesar de tudo isso, Obama continua engajado nas negociações e nenhum ato de boa vontade com a Coreia do Norte foi revogado.
Será que Israel pode colocar qualquer fé na capacidade da comunidade internacional e especialmente dos Estados Unidos de realmente agir inequivocamente em relação à estes ditadores e grupos terroristas? Podemos confiar em qualquer acordo promovido pelos russos que continuam a construir usinas no Irã e a fornecer armas à Síria?
Está claro que o Irã sabe da história da América com a Coréia do Norte e está tentando reproduzir este modelo. Será um golpe de mestre se ao final o Irã conseguir relaxar as sanções econômicas e continuar com seu programa nuclear até estar pronto para rejeitar o tratado de não proliferação de armas nucleares.
Esta abertura é um presente para Obama que desde sua campanha está tentando trazer os Ayatollahs para a mesa de negociação. Para tanto Obama fechou os olhos para a revolução de 2009 no Irã esperando que este ato criasse uma oportunidade para ele. Na época não foi, mas agora, Obama diz estar pronto para testar o Irã. Israel e outros países árabes na região estão muito nervosos.
Num editorial no prestigioso jornal árabe Al-Sharq al Awsat baseado em Londres, o jornal diz que nada que Obama possa fazer irá convencer os iranianos a abandonarem seu programa nuclear e que ao final, testar o Irã não trará qualquer resultado positivo.
A política iraniana desde a revolução de Khomeini tem sido consistente em seu objetivo expansionista. Suas ações no Iraque mostram persistência e com a retirada das tropas americanas o Irã está cantando vitória. O mesmo se deu com este acordo na Síria. A declaração de Obama sobre testar o Irã mostra que Washington ainda não aprendeu as lições do passado e em vez de aumentar a pressão, a América está dando a Rouhani a oportunidade que ele precisa tão desesperadamente, política e economicamente. Com a guerra civil na Síria, é o Irã que precisa de uma mudança diplomática, não Obama.

Dada a história do Irã na região e o fato de Rouhani se ter gabado no passado de ter enganado a comunidade internacional quando foi secretário do Conselho Nacional de Segurança Nacional que controla o programa nuclear no Irã, é impossível contar com ele. O que a administração americana está fazendo é só confirmar a imagem de Obama como um líder fraco com uma política hesitante no Oriente Médio. Nesta região ações contam mais do que palavras. E há um provérbio em inglês que Obama deveria lembrar: Engane-me uma vez, a vergonha é sua, engane-me duas vezes, a vergonha é minha. Infelizmente, estamos perante um novo capítulo da política de apaziguamento de Obama que ao final só trará vantagem ao Irã.

Monday, September 16, 2013

A Jogada de Mestre de Putin - 15/09/2013

Um líder não nasce. Ele aprende com experiência, com a idade. Abraham Lincoln foi um líder, Ronald Reagan foi outro. O que vimos nas últimas semanas vindas do presidente Obama, não foram ações de um líder. E hoje, neste jogo de xadrez que é a política internacional, Vladimir Putin deu um golpe de mestre e tomou a liderança, não só na política no Oriente Médio, mas do mundo.

A ONU, a Alemanha, a França e o resto da União Européia estão todos congratulando Putin. O organizador comunitário nunca foi páreo para o ex-KGB.

Duas semanas atrás Obama foi ao ar para anunciar um ataque contra a Síria mas que ele iria esperar pelo Congresso. Quando ele viu que o Congresso iria votar contra, pediu para adiar a votação. E hoje, como num passe de mágica, temos um acordo no qual a Síria prometeu revelar e entregar seu estoque de armas químicas, as mesmas que ela tem negado possuir, em troca da retirada da ameaça americana. E quem irá verificar que tudo será seguido à risca? Não outro que Putin.

Aproveitando a onda, Putin escreveu um artigo que foi publicado nesta semana no The New York Times, no qual ele repete as mesmas perguntas feitas por todos aqui: qual é o interesse dos Estados Unidos em se intrometer na guerra civil síria e se as vidas americanas perdidas no Afeganistão e Iraque não foram suficientes para que a América pensasse duas vezes antes de se meter numa terceira guerra. Putin terminou seu artigo com um verdadeiro tapa na cara, dizendo que os americanos têm que parar de pensar que são um povo excepcional.

Para muitos de nós, isso foi o cúmulo. Para a América ser repreendida no palco mundial é inédito, especialmente com Obama como presidente. O que nem havia governado um dia e já recebera o prêmio Nobel da Paz, o que fora até os árabes para se curvar e pedir desculpas pelos anos de política errônea do seu país, o que foi elevado a D-us pela mídia e não pode fazer nada de errado? Mas levar sermão de Vladimir Putin, essa foi demais.

Vamos recapitular quem é Putin. Durante 16 anos ele foi um oficial sênior da KGB. Em 1996 ele se tornou vice de Boris Yeltsin que inexplicavelmente resignou, e Putin tornou-se presidente da Rússia em 1999. No mesmo ano, a Russia invadiu a Chechenia para impedir que a mesma se separasse da Federação Russa. Em maio de 2000 a Russia ocupou e submeteu a Chechenia à força até que em 2009, Akhmed Zakayev, lider do movimento separatista decidiu suspender a resistência armada. O resultado deste conflito foi 50 mil civis além de uns 11 mil soldados russos mortos.

Mas Putin não parou por aí. Em 2008, já com a Chechenia sob controle, ele invadiu a Georgia um país independente, para impedir que parte das republicas russas da Abkasia e da Ossétia do Sul, povoadas por etnias georgianas, se juntassem à ela. Mais de 2 mil civis e um número não preciso de militares morreram em 5 dias de confronto.

Fora o fato da Russia de Putin, ter sido uma aliada incondicional do Irã, tendo anunciado na semana passada sua intenção de vender aos Ayatollahs o famoso sistema S-300 anti-mísseis para impedir qualquer ataque às suas instalações nucleares, além da construção de ainda outro reator nuclear.

Isso além da Russia ter sido o maior fornecedor de armas para a Síria ganhando em troca o direito de um porto para conter sua base naval no Mediterrâneo.  Em nenhum momento a Russia vacilou em defender Bashar Al-Assad, mesmo quando confrontada com as evidências de uso de armas químicas.

O mesmo não se pode dizer de Obama. Com sua política exterior completamente incoerente especialmente no Oriente Médio, ele conseguiu em poucos anos na Casa Branca literalmente destruir a confiança e a credibilidade da América na região. Seus aliados hoje na Arabia Saudita, Bahrain, Kuwait, Emirados e especialmente Israel estão reconsiderando suas estratégias pois duvidam poder contar com os Estados Unidos para os defenderem.

Então vamos recapitular: Obama delineou uma linha vermelha em 2012 que hoje ele diz não ser dele mas do mundo. Assim sendo, sua credibilidade não estava em jogo mas sim a da comunidade internacional. Neste gancho, o porta-voz da Casa Branca disse na quarta-feira que o prestígio da Russia estava em jogo em relação ao acordo com a Síria.

Estas declarações curiosas refletem mais que tudo a confusão que emana de Washington e sua reação à este surpreendente acordo pelo qual a Síria teria concordado ceder suas armas químicas voluntariamente.

Será que o prestígio do Kremlin está mesmo em jogo? Os russos devem ter dado muita risada. O prestígio da Rússia no Oriente Médio deriva do fato de Moscow ser um aliado fiel, defendendo seu aliado Bashar Al-Assad até o fim. Por um momento, na semana passada, pode ser que Assad tenha tido um minuto de preocupação . Ele pode ter temido que um ataque americano pudesse se ampliar, enfraquecendo suas forças e abrindo o caminho para os rebeldes. Isto hoje acabou.

Putin viu a relutância de Obama e a declaração de Kerry que o ataque seria inacreditavelmente pequeno para fazer uma proposta suficientemente crível, e que não tornasse sua aceitação absolutamente ridícula. Obama feliz, aceitou o ramo de oliveira e rapidamente se distanciou de qualquer ação militar.

A credibilidade da Russia não está em jogo. Ela está assegurada, pois ela garantiu a segurança do seu aliado e seu esforço nesta guerra. E falando nela, nas últimas semanas houve um aumento substancial de fornecimento de armas e peças de reposição da Russia para Assad, saindo do porto de Oktabyrsk para sua base naval em Tartus na Síria.

Revigorado, nesta quarta-feira passada, Assad bombardeou um hospital perto de Aleppo matando 11 pessoas, inclusive um médico.

E sobre a Síria ceder suas armas químicas? Pelas estimativas, Assad tem mais de mil toneladas. Especialistas estimam que depois que incineradores especiais forem construídos e as armas reunidas num só local, levará entre 10 e 12 anos para destruir um arsenal deste tamanho. No meio tempo, teremos que confiar em Putin, o fornecedor de armas, para garantir que este processo aconteça. Além disso, inspetores da ONU não poderão fazer nenhuma verificação enquanto a guerra civil não terminar. Nada como uma guerra civil para impedir o movimento de inspetores.

Se a Russia mostrar que uma certa quantidade destas armas foram mesmo destruídas, isso fará de Putin um herói e se não, quem poderá culpá-lo com esta guerra civil? Obama por seu lado, já conseguiu sair do caminho militar, apesar da linha vermelha da comunidade internacional que ele diz ter obrigação de defender, ter sido ultrapassada.


Não só o prestígio da Russia não está em jogo mas hoje o prestígio dos Estados Unidos está nas mãos dos russos. O Congresso americano entendeu isso e ontem o Senador Lindsey Graham decidiu tomar a liderança e fazer passar pelo Congresso uma resolução dando ao presidente a autoridade de agir militarmente se o Irã atingir a capacidade nuclear. Isto sem o pedido do presidente. Lindsey disse que isso mandará uma mensagem ao Irã que ambos, o Senado e a Câmara estão do mesmo lado se o Irã atacar ou ameaçar atacar Israel ou outro aliado americano na região. Isso é o que faz um líder. 

Para alguns de nós 2016 não pode chegar mais rápido. Obama não é Lincoln ou Reagan. Infelizmente hoje, o mercador da Casa Branca não chega aos pés do mercador de Damasco.


Sunday, September 8, 2013

A Vontade da América de Perder - 08/09/2013

No dia 20 de agosto do ano passado, o presidente Barack Obama estabeleceu inequivocamente uma linha vermelha para a Síria: o uso ou o movimento de armas químicas o fariam reavaliar o envolvimento dos Estados Unidos em sua guerra civil. Nesta semana, ele tentou descer da árvore, dizendo que não fora ele que estabelecera a linha vermelha mas a comunidade internacional.

Legalmente falando, a Síria não está em violação da lei internacional já que ela nunca aderiu ao Tratado contra a Proliferação de Armas Químicas. O fato do mundo inteiro ter banido o uso deste tipo de armas há 100 anos atrás, não impediu Hitler de usá-las contra os judeus nos campos de concentração ou Saddam Hussein de usá-las contra os Curdos em 1988 matando entre 3.200 e 5.000 civis incluindo muitas crianças. Nos dois casos, não houve escândalo da comunidade internacional.

A situação na Síria é muito mais complicada porque não há um lado bom nesta guerra civil. Se os Estados Unidos tivessem agido há dois anos atrás, o resultado poderia ter sido outro. Mas sua inação deu oportunidade para a Al-Qaeda tomar a liderança da oposição e hoje não há escolha a fazer. E esta situação reflete a relutância da administração Obama, apesar das linhas vermelhas. De fato, três meses depois de votar para ajudar os rebeldes na Síria, os Estados Unidos ainda não mandaram uma bala sequer. Obama não quer fazer pender a balança em favor da oposição porque o resultado pode ser pior do que o impasse atual.

O que todos, inclusive representantes no Congresso e militares estão perguntando é: qual é a estratégia de Obama? Quais são os objetivos e o acontecerá no dia seguinte ao ataque? Será que teremos um ataque do Irã? Ou mísseis da Hezbollah chovendo em Israel? O resultado pode ir de nada à uma terceira guerra mundial. Mandar uma meia dúzia de mísseis para danificar alguma infraestrutura não é estratégia. Além disso, para uma punição descabida não é preciso da aprovação do Congresso. Isso não é guerra.

Muitos questionam se a função do exército americano se tornou policiar o mundo. O Parlamento inglês votou contra uma ação na Síria precisamente pela falta de estratégia. A França prometeu dar apoio e provavelmente irá mandar uma cesta de queijos e vinho.

Todos sabem que o que resolve é uma reação imediata, pegando o outro lado desprevenido. O que Obama fez só irá fortalecer Assad, o que ao final, poderá não ser o pior resultado mas com certeza irá enviar uma mensagem ao Irã, à Coréia do Norte e à Hezbollah que o uso de armas químicas  não acarreta qualquer consequência mais grave. E isso será grave para Israel.

Em vez de fortalecer os elementos seculares e nacionalistas da Síria para que eles pudessem remover Assad e impedir os jihadistas de tomarem o poder, Obama se manteve do lado da Irmandade Muçulmana que se aliou à Al-Qaeda e não fez nada. Não tentou ajudar os seculares a ganhar e transmitindo o fato que mesmo depois de 100 mil mortos a America não se importava se a guerra continuasse eternamente.

Até o ataque químico. Agora a administração está dizendo que é urgente lançar um ataque militar. Se é tão urgente, porque não agir imediatamente? Porque avisar aonde, quando e por quanto tempo irá atacar?

A diferença entre a incompetência da América de hoje e a Rússia, o Irã, a Hezbollah e a Síria é que eles estão nisso para ganhar e manter Assad no poder. A Rússia e a China anunciaram hoje que estão enviando navios de guerra para o Mediterrâneo.

Como disse antes, a situação na Síria é única. Mas apesar do fan clube de Obama ter se mantido calado nas últimas semanas, seja a mídia de esquerda ou os atores em Hollywood e de sua leve maioria no Senado, parece que não será fácil ele obter a aprovação do Congresso.

Membros que estão a favor de uma intervenção querem ver uma operação muito mais abrangente do que Obama está propondo. Eles querem um golpe inequívoco. Os outros são ardentemente contra qualquer envolvimento americano, mesmo uma operação curta e limitada .

Obama liberou a publicação dos vídeos que o convenceram a agir. Hoje ele dará entrevistas à todas as maiores estações de televisão da América e na terça-feira irá fazer uma declaração ao povo americano. Sem dúvida ele quer mudar a opinião pública que hoje está somente 19% a seu favor.

Mas o que é mais importante, é que Obama forneceu uma prova conclusiva que independentemente do curso que ele escolher para lidar com a crise na Síria, o gigante americano perdeu os dentes e a vontade de manter o papel de liderança no mundo.

Só podemos expressar nossa tristeza com a constatação que a era da América está chegando ao fim. Esta afirmação não é prematura ou exagerada. É a mensagem que está sendo transmitida ao resto do mundo.

Tuesday, September 3, 2013

O Vacilo de Obama - 01/09/2013

Bashar Assad e seu governo estão comemorando hoje. De fato, estão comemorando desde ontem à noite. 20 Minutos depois do discurso do Presidente Obama, o Ministro das Relações Exteriores da Síria Wallid Al-Muallem declarou que os Estados Unidos levantaram a bandeira branca antes da guerra começar.

Durante a noite as estações de televisão sírias mostraram programas sobre a capacidade do seu exército, as armas disponíveis além de comentaristas que afirmaram que o povo sírio não estava com medo. E se os Estados Unidos queriam ver um povo com medo, que fossem para Israel, aonde se estava distribuindo máscaras contra gás.

Aqui nos Estados Unidos o discurso de Obama causou surpresa. Na sexta-feira o Secretário de Estado John Kerry havia feito uma declaração, descrevendo com surpreendentes detalhes como o exército sírio entrou no subúrbio de Ghouta da capital Damasco horas antes do dia 21 de agosto para preparar o ataque, como ordens para eles usarem máscaras contra gás foram interceptadas, o lançamento do ataque e em seguida as reportagens através da mídia social das convulsões e mortes de 1.429 civis, entre eles 426 crianças.

A aposta até sábado de manhã era que Obama iria anunciar um imediato ataque à Síria para punir Assad pelo uso das armas químicas. Se não fosse no próprio sábado, os rumores diziam que o ataque ocorreria hoje, domingo.

Mas surpreendentemente, apesar de Obama declarar que sua decisão era de agir, ele decidiu não fazê-lo sem a aprovação do Congresso americano.

Obama com certeza não quer se envolver na Síria e está buscando qualquer jeito para sair do “embroglio” que ele se meteu em outubro do ano passado quando demarcou uma linha vermelha para os sírios que seria ultrapassada com o uso ou mesmo o movimento de armas químicas por Bashar al-Assad.

Isto quer dizer que para Obama e a comunidade internacional, a morte de mais de 100 mil civis metralhados e bombardeados é admissível, mas matá-los com armas químicas não o é.

A Síria é um dos cinco países que não assinaram a Convenção Contra Armas Químicas que proíbe o desenvolvimento, produção, armazenamento, transferência e uso de armas químicas. A Síria produz várias toneladas de gás Sarin, Tabun, VX e Mostarda por ano. Só para ter uma ideia, uma só gota de gás Sarin, o gás alegadamente usado neste ataque, pode matar várias pessoas em alguns minutos.

A decisão de Obama de procurar a aprovação do Congresso provavelmente se deu por causa da rejeição do parlamento inglês em envolver a Grã-Bretanha em mais esta guerra. Esta foi uma grande derrota para David Cameron, e para Obama. Se o Congresso americano votar contra um ataque à Síria, será a primeira vez que um presidente americano será derrotado num pedido de intervenção militar.

O Congresso está de férias até o dia 9 de setembro, então até esta data, no mínimo, a Síria sabe que não haverá votação autorizando o ataque. Até lá, Assad terá tempo suficiente para remover armamentos e soldados, e até substitui-los com civis, que morrerão num ataque americano. Se isso acontecer, será um verdadeiro desastre para Obama, ganhador do prêmio nobel da paz…

E se o objetivo de Obama não é mudar o regime, como ele mesmo disse, para onde nos levará este ataque? Já vimos este filme antes. Clinton bombardeou uma fábrica no Sudão, Reagan bombardeou uma na Líbia. Mas estes ataques só fortaleceram os regimes locais e provocaram a morte de outros americanos em retaliação.

Se por um lado uma resposta negativa do Congresso poderá “salvar” Obama de um ataque que ele não quer, por outro, sua credibilidade e capacidade de governar os Estados Unidos com um Congresso republicano nos próximos 3 anos, poderá ficar seriamente comprometida.

A verdade é que não há soluções simples para os horrores que estão acontecendo na Síria. Se o ocidente tivesse agido mais cedo, talvez tivessemos tido a opção de ter alguém moderado da oposição liderando a Síria. Hoje esta possibilidade é inconcebível. A escolha é entre Assad e Al-Qaeda.

A profundidade do barbarismo que ambas as partes estão prontas a cometer, excedem qualquer filme de terror. O regime terrorista do Irã e a Hezbollah suportam Assad. A Russia também. E esta é a mais vergonhosa iniciativa do Kremlin desde a queda da União Soviética.

A pergunta é então: porque o ocidente deveria se intrometer? Porque não deixa-los se matar por quaisquer meios disponíveis?

Porque é inaceitável ao mundo civilizado revogar a moralidade e ficar de lado enquanto civis inocentes são massacrados deste modo. Isto não é Darfur no Sudão aonde os mortos não tinham Facebook ou Twitter. Na Síria, as imagens chegam ao mundo instantaneamente. Se nos mantivermos como simples espectadores deste assassinato em massa, estaremos dando a luz verde para outros regimes cruéis a agirem igual ou pior. Perderemos nossa humanidade. Nada deterá a Coréia do Norte ou o Irã em usar armas nucleares para atingir a almejada hegemonia ou destruir Israel. As imagens do mundo imóvel enquanto os judeus eram exterminados no Holocausto voltarão.

Intervenção não vem sem perigos. Pressão externa, especialmente com regimes árabes, provaram ser ineficazes. No Iraque, Afeganistão, Líbia e até no Egito, tentativas de impor a democracia só resultou na ascensão dos radicais islâmicos com fichas em direitos humanos piores que seus predecessores.

Mas o ocidente, liderado pelos Estados Unidos precisa agir decisivamente. Obama precisa cumprir a palavra ou a segurança de todo o mundo livre estará em perigo.

De modo geral, a resposta americana tem sido vergonhosa. Ela praticamente assegurou a Assad que a resposta será restrita em local e tempo estressando que não está em busca de mudança de regime.

Qualquer ataque nestas condições não irá deter ninguém disposto a matar seus próprios cidadãos para se manter no poder. Assad irá declarar vitória sobre os Estados Unidos e os aliados na região se sentirão abandonados vendo Obama incapacitado de cumprir com seus comprometimentos regionais. Certamente não acalmará as ansiedades de Israel face à ameaça nuclear do Irã.

O comentarista israelense Dan Margalit hoje disse que para os israelenses, a resposta estremecida de Obama ao uso de armas químicas por Assad, trouxe lembranças do discurso do Primeiro-ministro de Israel Levy Eshkol antes da Guerra dos Seis Dias. Durante o discurso, Eskhol gaguejou e mostrou dúvidas e insegurança. Isto o forçou a entregar a pasta da defesa a Moshe Dayan e trazer Menahem Begin e Yosef Sapir para o governo. Mas na America, Obama terá que arcar com tudo sozinho.

Hoje não sei se Obama poderá consertar o que ele estragou com sua indecisão, hesitação e amadorismo mas qualquer ação daqui a dez ou quinze dias, não terá o mesmo resultado que se tivesse sido tomada na hora certa.


Esta é a lição que precisamos aprender com o Irã.