Um líder não nasce. Ele
aprende com experiência, com a idade. Abraham Lincoln foi um líder, Ronald
Reagan foi outro. O que vimos nas últimas semanas vindas do presidente Obama,
não foram ações de um líder. E hoje, neste jogo de xadrez que é a política
internacional, Vladimir Putin deu um golpe de mestre e tomou a liderança, não
só na política no Oriente Médio, mas do mundo.
A ONU, a Alemanha, a França e
o resto da União Européia estão todos congratulando Putin. O organizador
comunitário nunca foi páreo para o ex-KGB.
Duas semanas atrás Obama foi
ao ar para anunciar um ataque contra a Síria mas que ele iria esperar pelo
Congresso. Quando ele viu que o Congresso iria votar contra, pediu para adiar a
votação. E hoje, como num passe de mágica, temos um acordo no qual a Síria
prometeu revelar e entregar seu estoque de armas químicas, as mesmas que ela
tem negado possuir, em troca da retirada da ameaça americana. E quem irá
verificar que tudo será seguido à risca? Não outro que Putin.
Aproveitando a onda, Putin
escreveu um artigo que foi publicado nesta semana no The New York Times,
no qual ele repete as mesmas perguntas feitas por todos aqui: qual é o
interesse dos Estados Unidos em se intrometer na guerra civil síria e se as
vidas americanas perdidas no Afeganistão e Iraque não foram suficientes para que
a América pensasse duas vezes antes de se meter numa terceira guerra. Putin
terminou seu artigo com um verdadeiro tapa na cara, dizendo que os americanos
têm que parar de pensar que são um povo excepcional.
Para muitos de nós, isso foi o
cúmulo. Para a América ser repreendida no palco mundial é inédito,
especialmente com Obama como presidente. O que nem havia governado um dia e já
recebera o prêmio Nobel da Paz, o que fora até os árabes para se curvar e pedir
desculpas pelos anos de política errônea do seu país, o que foi elevado a D-us
pela mídia e não pode fazer nada de errado? Mas levar sermão de Vladimir Putin,
essa foi demais.
Vamos recapitular quem é
Putin. Durante 16 anos ele foi um oficial sênior da KGB. Em 1996 ele se tornou
vice de Boris Yeltsin que inexplicavelmente resignou, e Putin tornou-se
presidente da Rússia em 1999. No mesmo ano, a Russia invadiu a Chechenia para
impedir que a mesma se separasse da Federação Russa. Em maio de 2000 a Russia ocupou e submeteu
a Chechenia à força até que em 2009, Akhmed Zakayev, lider do movimento separatista
decidiu suspender a resistência armada. O resultado deste conflito foi 50 mil
civis além de uns 11 mil soldados russos mortos.
Mas Putin não parou por aí. Em
2008, já com a Chechenia sob controle, ele invadiu a Georgia um país
independente, para impedir que parte das republicas russas da Abkasia e da Ossétia
do Sul, povoadas por etnias georgianas, se juntassem à ela. Mais de 2 mil civis
e um número não preciso de militares morreram em 5 dias de confronto.
Fora o fato da Russia de Putin,
ter sido uma aliada incondicional do Irã, tendo anunciado na semana passada sua
intenção de vender aos Ayatollahs o famoso sistema S-300 anti-mísseis para
impedir qualquer ataque às suas instalações nucleares, além da construção de ainda outro
reator nuclear.
Isso além da Russia ter sido o
maior fornecedor de armas para a Síria ganhando em troca o direito de um porto para
conter sua base naval no Mediterrâneo. Em
nenhum momento a Russia vacilou em defender Bashar Al-Assad, mesmo quando
confrontada com as evidências de uso de armas químicas.
O mesmo não se pode dizer de
Obama. Com sua política exterior completamente incoerente especialmente no
Oriente Médio, ele conseguiu em poucos anos na Casa Branca literalmente
destruir a confiança e a credibilidade da América na região. Seus aliados hoje
na Arabia Saudita, Bahrain, Kuwait, Emirados e especialmente Israel estão
reconsiderando suas estratégias pois duvidam poder contar com os Estados Unidos
para os defenderem.
Então vamos recapitular: Obama
delineou uma linha vermelha em 2012 que hoje ele diz não ser dele mas do mundo.
Assim sendo, sua credibilidade não estava em jogo mas sim a da comunidade
internacional. Neste gancho, o porta-voz da Casa Branca disse na quarta-feira
que o prestígio da Russia estava em jogo em relação ao acordo com a Síria.
Estas declarações curiosas
refletem mais que tudo a confusão que emana de Washington e sua reação à este
surpreendente acordo pelo qual a Síria teria concordado ceder suas armas
químicas voluntariamente.
Será que o prestígio do
Kremlin está mesmo em jogo? Os russos devem ter dado muita risada. O prestígio
da Rússia no Oriente Médio deriva do fato de Moscow ser um aliado fiel,
defendendo seu aliado Bashar Al-Assad até o fim. Por um momento, na semana
passada, pode ser que Assad tenha tido um minuto de preocupação .
Ele pode ter temido que um ataque americano pudesse se ampliar, enfraquecendo
suas forças e abrindo o caminho para os rebeldes. Isto hoje acabou.
Putin viu a relutância de Obama
e a declaração de Kerry que o ataque seria inacreditavelmente pequeno para
fazer uma proposta suficientemente crível, e que não tornasse sua aceitação
absolutamente ridícula. Obama feliz, aceitou o ramo de oliveira e rapidamente
se distanciou de qualquer ação militar.
A credibilidade da Russia não
está em jogo. Ela está assegurada, pois ela garantiu a segurança do seu aliado
e seu esforço nesta guerra. E falando nela, nas últimas semanas houve um
aumento substancial de fornecimento de armas e peças de reposição da Russia
para Assad, saindo do porto de Oktabyrsk para sua base naval em Tartus na Síria.
Revigorado, nesta quarta-feira passada, Assad bombardeou
um hospital perto de Aleppo matando 11 pessoas, inclusive um médico.
E sobre a Síria ceder suas
armas químicas? Pelas estimativas, Assad tem mais de mil toneladas. Especialistas
estimam que depois que incineradores especiais forem construídos e as armas
reunidas num só local, levará entre 10 e 12 anos para destruir um arsenal deste
tamanho. No meio tempo, teremos que confiar em Putin, o fornecedor de armas,
para garantir que este processo aconteça. Além disso, inspetores da ONU não
poderão fazer nenhuma verificação enquanto a guerra civil não terminar. Nada como uma guerra civil para impedir
o movimento de inspetores.
Se a Russia mostrar que uma
certa quantidade destas armas foram mesmo destruídas, isso fará de Putin um
herói e se não, quem poderá culpá-lo com esta guerra civil? Obama por seu lado,
já conseguiu sair do caminho militar, apesar da linha vermelha da comunidade
internacional que ele diz ter obrigação de defender, ter sido ultrapassada.
Não só o prestígio da Russia
não está em jogo mas hoje o prestígio dos Estados Unidos está nas mãos dos
russos. O Congresso americano entendeu isso e ontem o Senador Lindsey Graham
decidiu tomar a liderança e fazer passar pelo Congresso uma resolução dando ao
presidente a autoridade de agir militarmente se o Irã atingir a capacidade
nuclear. Isto sem o pedido do presidente. Lindsey disse que isso mandará uma
mensagem ao Irã que ambos, o Senado e a Câmara estão do mesmo lado se o Irã
atacar ou ameaçar atacar Israel ou outro aliado americano na região. Isso é o
que faz um líder.
Para alguns de nós 2016 não pode chegar mais rápido. Obama
não é Lincoln ou Reagan. Infelizmente hoje, o mercador da Casa Branca não chega
aos pés do mercador de Damasco.
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