No dia 20 de agosto do ano passado, o presidente
Barack Obama estabeleceu inequivocamente uma linha vermelha para a Síria: o uso
ou o movimento de armas químicas o fariam reavaliar o envolvimento dos Estados
Unidos em sua guerra civil. Nesta semana, ele tentou descer da árvore, dizendo que
não fora ele que estabelecera a linha vermelha mas a comunidade internacional.
Legalmente falando, a Síria não está em
violação da lei internacional já que ela nunca aderiu ao Tratado contra a
Proliferação de Armas Químicas. O fato do mundo inteiro ter banido o uso deste
tipo de armas há 100 anos atrás, não impediu Hitler de usá-las contra os judeus
nos campos de concentração ou Saddam Hussein de usá-las contra os Curdos em 1988
matando entre 3.200 e 5.000 civis incluindo muitas crianças. Nos dois casos, não houve escândalo da comunidade internacional.
A situação na Síria é muito mais
complicada porque não há um lado bom nesta guerra civil. Se os Estados Unidos
tivessem agido há dois anos atrás, o resultado poderia ter sido outro. Mas sua inação deu
oportunidade para a Al-Qaeda tomar a liderança da oposição e hoje não há
escolha a fazer. E esta situação reflete a relutância da administração Obama,
apesar das linhas vermelhas. De fato, três meses depois de votar para ajudar os
rebeldes na Síria, os Estados Unidos ainda não mandaram uma bala sequer. Obama
não quer fazer pender a balança em favor da oposição porque o resultado pode
ser pior do que o impasse atual.
O que todos, inclusive representantes no
Congresso e militares estão perguntando é: qual é a estratégia de Obama? Quais
são os objetivos e o acontecerá no dia seguinte ao ataque? Será que teremos um
ataque do Irã? Ou mísseis da Hezbollah chovendo em Israel? O resultado pode ir
de nada à uma terceira guerra mundial. Mandar uma meia dúzia de mísseis para
danificar alguma infraestrutura não é estratégia. Além disso, para uma punição
descabida não é preciso da aprovação do Congresso. Isso não é guerra.
Muitos questionam se a função do exército
americano se tornou policiar o mundo. O Parlamento inglês votou contra uma ação
na Síria precisamente pela falta de estratégia. A França prometeu dar apoio e
provavelmente irá mandar uma cesta de queijos e vinho.
Todos sabem que o que resolve é uma
reação imediata, pegando o outro lado desprevenido. O que Obama fez só irá
fortalecer Assad, o que ao final, poderá não ser o pior resultado mas com
certeza irá enviar uma mensagem ao Irã, à Coréia do Norte e à Hezbollah que o
uso de armas químicas não acarreta qualquer consequência mais grave.
E isso será grave para Israel.
Em vez de fortalecer os elementos
seculares e nacionalistas da Síria para que eles pudessem remover Assad e impedir os
jihadistas de tomarem o poder, Obama se manteve do lado da Irmandade Muçulmana
que se aliou à Al-Qaeda e não fez nada. Não tentou ajudar os seculares a ganhar e transmitindo o fato que mesmo depois de 100 mil mortos a America não se importava se
a guerra continuasse eternamente.
Até o ataque químico. Agora a
administração está dizendo que é urgente lançar um ataque militar. Se é tão
urgente, porque não agir imediatamente? Porque avisar aonde, quando e por
quanto tempo irá atacar?
A diferença entre a incompetência da América
de hoje e a Rússia, o Irã, a Hezbollah e a Síria é que eles estão nisso para
ganhar e manter Assad no poder. A Rússia e a China anunciaram hoje que estão
enviando navios de guerra para o Mediterrâneo.
Como disse antes, a situação na Síria é única.
Mas apesar do fan clube de Obama ter se mantido calado nas últimas semanas, seja a mídia de esquerda ou os atores em Hollywood e de sua leve maioria no Senado, parece que não será
fácil ele obter a aprovação do Congresso.
Membros que estão a favor de uma
intervenção querem ver uma operação muito mais abrangente do que Obama
está propondo. Eles querem um golpe inequívoco. Os outros são ardentemente
contra qualquer envolvimento americano, mesmo uma operação curta e limitada .
Obama liberou a publicação dos
vídeos que o convenceram a agir. Hoje ele dará entrevistas à todas as maiores
estações de televisão da América e na terça-feira irá fazer uma declaração
ao povo americano. Sem dúvida ele quer mudar a opinião pública que hoje está somente 19% a seu favor.
Mas o que é mais importante, é que Obama
forneceu uma prova conclusiva que independentemente do curso que ele escolher para
lidar com a crise na Síria, o gigante americano perdeu os dentes e a vontade de
manter o papel de liderança no mundo.
Só podemos expressar nossa tristeza com a constatação que a era da América
está chegando ao fim. Esta afirmação não é prematura ou exagerada. É a
mensagem que está sendo transmitida ao resto do mundo.
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