Bashar Assad e seu governo
estão comemorando hoje. De fato, estão comemorando desde ontem à noite. 20 Minutos
depois do discurso do Presidente Obama, o Ministro das Relações Exteriores da
Síria Wallid Al-Muallem declarou que os Estados Unidos levantaram a bandeira
branca antes da guerra começar.
Durante a noite as estações de
televisão sírias mostraram programas sobre a capacidade do seu exército, as
armas disponíveis além de comentaristas que afirmaram que o povo sírio não
estava com medo. E se os Estados Unidos queriam ver um povo com medo, que fossem
para Israel, aonde se estava distribuindo máscaras contra gás.
Aqui nos Estados Unidos o
discurso de Obama causou surpresa. Na sexta-feira o Secretário de Estado John
Kerry havia feito uma declaração, descrevendo com surpreendentes detalhes como
o exército sírio entrou no subúrbio de Ghouta da capital Damasco horas antes do
dia 21 de agosto para preparar o ataque, como ordens para eles usarem máscaras
contra gás foram interceptadas, o lançamento do ataque e em seguida as
reportagens através da mídia social das convulsões e mortes de 1.429 civis,
entre eles 426 crianças.
A aposta até sábado de manhã
era que Obama iria anunciar um imediato ataque à Síria para punir Assad pelo
uso das armas químicas. Se não fosse no próprio sábado, os rumores diziam que o
ataque ocorreria hoje, domingo.
Mas surpreendentemente, apesar
de Obama declarar que sua decisão era de agir, ele decidiu não fazê-lo sem a
aprovação do Congresso americano.
Obama com certeza não quer se
envolver na Síria e está buscando qualquer jeito para sair do “embroglio” que ele
se meteu em outubro do ano passado quando demarcou uma linha vermelha para os
sírios que seria ultrapassada com o uso ou mesmo o movimento de armas químicas
por Bashar al-Assad.
Isto quer dizer que para Obama
e a comunidade internacional, a morte de mais de 100 mil civis metralhados e
bombardeados é admissível, mas matá-los com armas químicas não o é.
A Síria é um dos cinco países
que não assinaram a Convenção Contra Armas Químicas que proíbe o
desenvolvimento, produção, armazenamento, transferência e uso de armas
químicas. A Síria produz várias toneladas de gás Sarin, Tabun, VX e Mostarda
por ano. Só para ter uma ideia, uma só gota de gás Sarin, o gás alegadamente
usado neste ataque, pode matar várias pessoas em alguns minutos.
A decisão de Obama de procurar
a aprovação do Congresso provavelmente se deu por causa da rejeição do
parlamento inglês em envolver a Grã-Bretanha em mais esta guerra. Esta foi uma
grande derrota para David Cameron, e para Obama. Se o Congresso americano votar
contra um ataque à Síria, será a primeira vez que um presidente americano será
derrotado num pedido de intervenção militar.
O Congresso está de férias até
o dia 9 de setembro, então até esta data, no mínimo, a Síria sabe que não
haverá votação autorizando o ataque. Até lá, Assad terá tempo suficiente para
remover armamentos e soldados, e até substitui-los com civis, que morrerão num
ataque americano. Se isso acontecer, será um verdadeiro desastre para Obama,
ganhador do prêmio nobel da paz…
E se o objetivo de Obama não é
mudar o regime, como ele mesmo disse, para onde nos levará este ataque? Já
vimos este filme antes. Clinton bombardeou uma fábrica no Sudão, Reagan
bombardeou uma na Líbia. Mas estes ataques só fortaleceram os regimes locais e
provocaram a morte de outros americanos em retaliação.
Se por um lado uma resposta
negativa do Congresso poderá “salvar” Obama de um ataque que ele não quer, por
outro, sua credibilidade e capacidade de governar os Estados Unidos com um
Congresso republicano nos próximos 3 anos, poderá ficar seriamente
comprometida.
A verdade é que não há
soluções simples para os horrores que estão acontecendo na Síria. Se o ocidente
tivesse agido mais cedo, talvez tivessemos tido a opção de ter alguém moderado
da oposição liderando a Síria. Hoje esta possibilidade é inconcebível. A
escolha é entre Assad e Al-Qaeda.
A profundidade do barbarismo
que ambas as partes estão prontas a cometer, excedem qualquer filme de terror. O
regime terrorista do Irã e a Hezbollah suportam Assad. A Russia também. E esta
é a mais vergonhosa iniciativa do Kremlin desde a queda da União Soviética.
A pergunta é então: porque o
ocidente deveria se intrometer? Porque não deixa-los se matar por quaisquer
meios disponíveis?
Porque é inaceitável ao mundo
civilizado revogar a moralidade e ficar de lado enquanto civis inocentes são
massacrados deste modo. Isto não é Darfur no Sudão aonde os mortos não tinham
Facebook ou Twitter. Na Síria, as imagens chegam ao mundo instantaneamente. Se
nos mantivermos como simples espectadores deste assassinato em massa, estaremos
dando a luz verde para outros regimes cruéis a agirem igual ou pior. Perderemos
nossa humanidade. Nada deterá a Coréia do Norte ou o Irã em usar armas
nucleares para atingir a almejada hegemonia ou destruir Israel. As imagens do
mundo imóvel enquanto os judeus eram exterminados no Holocausto voltarão.
Intervenção não vem sem
perigos. Pressão externa, especialmente com regimes árabes, provaram ser ineficazes.
No Iraque, Afeganistão, Líbia e até no Egito, tentativas de impor a democracia
só resultou na ascensão dos radicais islâmicos com fichas em direitos humanos
piores que seus predecessores.
Mas o ocidente, liderado pelos
Estados Unidos precisa agir decisivamente. Obama precisa cumprir a palavra ou a
segurança de todo o mundo livre estará em perigo.
De modo geral, a resposta
americana tem sido vergonhosa. Ela praticamente assegurou a Assad que a
resposta será restrita em local e tempo estressando que não está em busca de
mudança de regime.
Qualquer ataque nestas
condições não irá deter ninguém disposto a matar seus próprios cidadãos para se
manter no poder. Assad irá declarar vitória sobre os Estados Unidos e os
aliados na região se sentirão abandonados vendo Obama incapacitado de cumprir
com seus comprometimentos regionais. Certamente não acalmará as ansiedades de
Israel face à ameaça nuclear do Irã.
O comentarista israelense Dan
Margalit hoje disse que para os israelenses, a resposta estremecida de Obama ao
uso de armas químicas por Assad, trouxe lembranças do discurso do Primeiro-ministro
de Israel Levy Eshkol antes da Guerra dos Seis Dias. Durante o discurso, Eskhol
gaguejou e mostrou dúvidas e insegurança. Isto o forçou a entregar a pasta da
defesa a Moshe Dayan e trazer Menahem Begin e Yosef Sapir para o governo. Mas
na America, Obama terá que arcar com tudo sozinho.
Hoje não sei se Obama poderá
consertar o que ele estragou com sua indecisão, hesitação e amadorismo mas
qualquer ação daqui a dez ou quinze dias, não terá o mesmo resultado que se tivesse
sido tomada na hora certa.
Esta é a lição que precisamos
aprender com o Irã.
Shalom!
ReplyDeleteFeliz Rosh Hashaná!: http://israelemportugues.blogspot.com/2013/09/feliz-5774.html