O mundo parece que enlouqueceu. Imagens
chocantes dos subúrbios da capital Síria atordoaram a mídia e os políticos. Filas
de pequenos corpos sem vida foram mostrados incessantemente neste final de
semana. Aonde estão os limites? Eles existem? Não parece.
Ninguém se anima a apartar a guerra
civil na Síria e o caos já alcançou outro marco importante: mais de 1 milhão de
crianças refugiadas, morando em tendas ou nas ruas sem água encanada, esgotos,
escolas ou médicos.
E ninguém dá um basta! Isto está
acontecendo não só com a Síria, mas com a Hezbollah arrastando o Líbano para a
guerra civil, com o programa nuclear do Irã, com a Irmandade Muçulmana e suas
organizações terroristas afiliadas a Al-Qaeda e Hamas.
O mundo deve uma tremenda dívida
de gratidão para com o General Abdel-Fattah el Sissi e seus homens por terem
tirado o Egito das garras do islamismo radical mas ele não está recebendo
agradecimentos, somente condenações.
E aonde está a América, o
Presidente Obama e suas “linhas vermelhas”?? Neste final de semana a única
coisa que ele conseguiu regurgitar para a CNN é que o alegado uso de armas
químicas na Síria é causa de preocupação…
O fato de Assad ter simplesmente
ignorado a “linha vermelha” estabelecida por Obama vinculando o uso de armas
químicas a uma intervenção americana mostra o quanto a influência americana e
seu poder de dissuasão estão falidos e se tornaram irrelevantes no Oriente
Médio.
Hoje mesmo, o Irã impôs sua
própria linha vermelha avisando os Estados Unidos para não cruza-la na Síria ou
haverá sérias consequências para os americanos. Agora são os párias da
comunidade internacional que impõe suas regras ao resto do mundo?
Desde o fim da segunda guerra
mundial os Estados Unidos decidiram ser uma boa coisa impor seu tipo de
democracia aos países do terceiro mundo. Eleições resolvem tudo. Mas eleições
nestas partes significam somente a ditadura da maioria sobre as minorias e o
esmagamento dos valores democráticos. É só verificar o que aconteceu com a
retirada americana do Afeganistão e do Iraque. E esta política louca continua.
Em 2009 Obama decidiu abrir um
novo capítulo com o mundo muçulmano tentando se aproximar dos grupos radicais
achando que se eles fossem reconhecidos, moderariam suas posições. Com a
explosão da primavera árabe e seus slogans de democracia, Obama se convenceu
de que se apresentava uma oportunidade única para levar adiante a
democratização do Egito ao estilo ocidental. Isto apesar das instituições e da
sociedade egípcias não terem caminhado nesta direção. Ao contrário, tanto uma
como a outra têm-se tornado mais conservadoras e islâmicas.
Mas esta administração americana
completamente cega por sua própria retórica apoiou a queda de Hosni Mubarak, um
de seus maiores aliados na região. E assim, exatamente como haviam feito com o
Shah do Irã, os Estados Unidos repetiram o mesmo erro de 30 anos atrás.
Obama então endossou a eleição de
Mohamed Morsi apesar dele e sua Irmandade Muçulmana imediatamente terem tomado
passos para revisarem a constituição para lhes garantir poder absoluto e outras
coisinhas mais como tornar legal o casamento de meninas de 9 anos.
Quando a metade mais iluminada dos
egípcios reagiu, exigindo que os militares retomassem o poder, em vez de Obama
ver nisto uma oportunidade para uma democratização real do Egito, ele condenou
Al-Sissi.
O que ele quer? Quando mais de 20
igrejas coptas são queimadas, soldados egípcios executados no Sinai, confrontos
diários com mortos em ambos os lados nas ruas do Cairo e outras cidades, ele espera
o quê? Que o exército e a polícia não façam nada?? É claro que o uso da força
se faz necessário!
Mas o pior de tudo foi a confissão
de Chuck Hagel, o novo Secretário da Defesa, que hoje a influência americana no
Egito é limitada. A América de Obama não quer mais o papel de líder do mundo.
Ela quer ficar em casa, pensando em campanhas e eleições mesmo que o preço a
ser pago é abandonar sua posição de liderança no Oriente Médio.
O problema é que não só a atitude
de Obama para com Al-Sissi encoraja os jihadistas radicais na região como um
todo, mas qualquer suspensão da ajuda ao Egito terá um impacto no acordo de paz
com Israel.
Mas até agora, as ameaças de Obama
não se concretizaram. Até a Europa decidiu amenizar sua posição simplesmente adiando
o envio de material para controle de multidões. Com a volta da calma no Egito o
mundo está procurando a linha vermelha imposta por Obama na Síria.
Políticos israelenses e também o
povo de Israel estão examinando com horror as fotos dos corpos das crianças nas
cidades sírias e o que parece ser a consequência de um ataque com gás sarin,
perpetrado pelo regime de Assad.
Não há como não perguntar “e se fosse
conosco?”
Nos seus sonhos mais negros Assad
provavelmente nunca imaginou usar este gás mortífero em seu próprio povo. É
muito mais provável que ele adquiriu este estoque para usa-lo contra Israel. Nestas
circunstâncias, imaginem se Israel tivesse se dobrado à pressão internacional e
se retirado das colinas do Golã? Não haveria como defender o norte de um ataque
químico.
E nestas circunstâncias, com a
prova que Obama esquece suas linhas vermelhas, como pode Israel confiar que a
América não lhe dará as costas quando o Irã adquirir a bomba nuclear? Como
podem os israelenses acreditar que Obama irá correr para salvá-los numa guerra
nuclear e não simplesmente apresentá-los como um sacrifício no altar do
apaziguamento?
O escândalo da ONU e do resto do mundo não é suficiente
face às atrocidades que vimos esta semana na Síria. Tem horas que o plano moral
supercede os interesses estratégicos. Se esta não for uma delas, não sei quando
será.
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