Sunday, October 28, 2012

Irã, Israel e os Limites do Poder Americano - 28/10/2012


Estamos a menos de duas semanas das eleições presidenciais dos Estados Unidos e o último debate sobre política externa veio e foi sem realmente mudar nada. O presidente Obama e o candidato republicano Mitt Romney continuam empatados nas pesquisas de opinião.

Mas pelo que foi dito, se Obama for reeleito, não haverá qualquer mudança da política americana nem em relação à Israel, nem em relação ao Irã.

Nesta semana o jornal The New York Times publicou um artigo que dizia que, segundo fontes do governo, Obama teria feito um acordo com os mullas de Teherã para negociarem após as eleições. Obama negou enfaticamente que isso fosse verdade mas claramente abraçaria mais uma oportunidade para adiar qualquer ação drástica contra o Irã.

Romney por seu lado, disse que apoia sanções mais duras, incluindo indiciar Ahmadinejad na Corte Criminal Internacional por incitação ao genocídio.

Infelizmente, nesta altura do campeonato, mesmo se Romney ganhar as eleições, em relação ao Irã, não fará diferença. Isto porque existe um vão entre o tempo para a nova administração americana implementar sua política e o tempo que falta ao Irã para se tornar uma potência nuclear.

Os Estados Unidos não sabem reagir de imediato. Após os ataques de 11 de setembro de 2001, o presidente Bush precisou de 4 semanas para coordenar o ataque ao Afeganistão e isso com o apoio incondicional do governo, da inteligência, dos militares, do povo americano e das Nações Unidas. Nas melhores condições do mundo, os Estados Unidos ainda precisaram de um mês para responder ao maior ataque estrangeiro em solo americano.

Por outro lado, Bush começou a pensar em derrubar o regime de Saddam Hussein em março de 2002. Houve resistência por parte dos militares e da mídia. A Russia e França e oficiais seniores da ONU se opuseram. Em novembro de 2002 os Estados Unidos finalmente conseguiram passar a resolução 1441 no Conselho de Segurança. Daí até conseguirem coordenar o envio de tropas, os Estados Unidos precisaram de outros 4 meses.

E neste meio tempo, o Irã conseguiu preparar o terreno para negar aos Estados Unidos uma clara vitória no Iraque. Quando os americanos entraram em Bagdá, as armas de destruição em massa já haviam sumido, e conforme vários relatórios de inteligência, inclusive de Israel, foram transferidas para a Síria.

E isso nos traz para o Irã. Se Romney se tornar presidente, ele terá que lidar com forças armadas lideradas pelo General Martin Dempsey que há quatro anos vem tentando minimizar o perigo que apresenta um Irã nuclear. O mesmo Dempsey que não perde uma oportunidade para dizer que um ataque preventivo às usinas nucleares iranianas por Israel seria uma agressão ilegal.

Romney terá que lidar com um exército, inteligência e um Departamento de Estado liderados por indivíduos indicados por Obama para implementar seu plano ideológico e demorará meses para Romney substituir e redirecionar estes braços do governo. Isto sem falar da mídia hostil que firmemente apoia o apaziguamento dos mullas.

Na ONU Romney ainda terá que lidar com a oposição da China e Russia no Conselho de Segurança. E quanto ao mundo árabe sunita, tirando a Arábia Saudita, com a Irmandade Muçulmana no poder dos países-chave, há menos oposição à um Irã nuclear do que a uma ação dos Estados Unidos.

Isso tudo quer dizer que se Romney decidir mesmo agir concretamente contra as usinas nucleares do Irã, ele não poderá faze-lo antes de Julho-Agosto de 2013.

E isso nos traz para a questão de aonde estará o programa nuclear iraniano no meio do ano que vem?


Em seu discurso perante a Assembléia Geral das Nações Unidas no mês passado, o primeiro ministro de Israel Benjamin Netanyahu disse que já em março ou abril, e no máximo até julho ou agosto, os iranianos terão chegado ao estágio final de enriquecimento de urânio, suficiente para uma bomba nuclear.

Netanyahu deixou claro que a última oportunidade de prevenir que o Irã adquira a bomba será antes deste estágio final – ou seja, por volta de abril de 2013. Romney estará na presidência por apenas 3 meses.

É bem difícil imaginar que Romney consiga lançar um ataque preventivo contra as instalações nucleares do Irã estando tão pouco tempo no poder. E até mesmo que a nova administração possa oferecer qualquer apoio a Israel se o Estado Judeu quiser atacar as instalações iranianas antes do verão.

E aí temos Israel. Nas últimas semanas houve artigos reportando uma oposição feroz dos comandantes israelenses a um ataque ao Irã sem o apoio americano. Isto porque este ataque geraria um confronto maior envolvendo os agentes do Irã: a Síria, o Líbano e Gaza e Israel precisará de armas e o apoio diplomático dos Estados Unidos neste caso.

Mas quando consideramos a realidade política dos Estados Unidos – seja com a reeleição de Obama ou com a eleição de Romney – fica claro que Israel está sozinha. Israel é a única hoje com os meios e o poder decisivo de atacar as instalações nucleares iranianas e impedir que este regime genocida adquira os meios para subjugar o Oriente Médio e o mundo à sua ideologia retrógrada e bárbara.

Talvez tenha chegado a hora de Israel procurar alianças com outros países inclusive, quem sabe, até os que sentem ameaçados pelo Irã como a Arábia Saudita e Bahrain. Isto sim traria uma verdadeira virada na região.


Monday, October 22, 2012

A Ideologia Danificadora de Obama - 21/10/2012


O fiasco político, consequência do fiasco operacional e de inteligência do ataque terrorista ao consulado dos Estados Unidos em Benghazi no 11 de setembro, é derivado de um único problema: a recusa do presidente Obama e de sua administração  de abandonarem a ideologia incongruente que professam e admitirem que não entendem o Oriente Médio.

A onda revolucionária islâmica que assolou os países árabes neste último ano e meio rachou as fundações do sistema de alianças dos Estados Unidos na região. Mas por causa desta ideologia anti-americana e anti-israelense, Obama se recusa a ver a realidade.

Obama sabe que a maioria dos americanos não concorda com ele e por isso, tem feito de tudo para desacreditar, deslegitimar e silenciar seus oponentes. E para tanto, como já disse no passado, ele mandou “limpar” do vocabulário do governo federal americano todos os termos necessários para entender a realidade.

Termos como “jihad”, “islamista”, “islamismo radical”, “terrorismo islâmico” e outras frases similares foram banidos. O estudo da doutrina islâmica por oficiais do governo foi proibido. A última vítima desta política foi um instrutor do Colégio Militar da Virginia que ensinava a matéria “Perspectivas do Islão e o Radicalismo Islâmico”. Ele foi demitido porque descrevia o Islamismo de modo negativo.

A recusa desta administração americana em aceitar o fato de que os regimes islâmicos que hoje governam os países da região ameaçam os interesses americanos não é seu único erro de concepção. Outro erro, ainda mais preocupante é a insistência em dizer que a raiz do problema na região é a falta de tratados de paz entre Israel e seus vizinhos, incluindo os palestinos, e que o único meio de pacificar as forças radicais da região é pressionar Israel a fazer mais concessões em terra e legitimidade.

A retórica não muda apesar dos conceitos de "processos" e "tratados" de paz terem completamente desabado durante esta presidência. Israel assinou quatro tratados de paz com seus vizinhos árabes: com o Egito, a Jordânia, a OLP e o Líbano. Todos estes tratados falharam ou perderam seu sentido com eventos subsequentes.

O tratado de paz com o Egito de 1979 hoje não quer dizer mais nada apesar da Irmandade Muçulmana não te-lo ainda denunciado. O tratado é insignificante pois a Irmandade e o presidente Mohamed Morsi rejeitam o direito de Israel de existir. Essa rejeição não é uma posição política mas uma posição religiosa. Morsi e seu regime vêem os judeus como inimigos de Allah que merecem ser aniquilados.

Morsi tem vários pronunciamentos provando este fato. Em novembro de 2004 ele disse que o “Corão estabeleceu que os judeus estão no mais alto grau de inimizade dos muçulmanos” e “não pode haver paz com os descendentes de macacos e porcos”. Em 2009, Morsi disse que os israelenses são “dráculas esfomeados por mais matança e derramamento de sangue, usando todo o tipo de armas modernas fornecidas pelos americanos”. Ele ainda os acusou de “plantar as sementes de ódio entre os seres humanos”.

Com posições como estas, Morsi não precisa fazer nenhuma declaração formal que o tratado de paz esteja morto. Esse mesmo tratado pelo qual Israel rendeu a totalidade da península do Sinai desmantelando dezenas de vilas judaicas, abandonando negócios, hotéis e poços de petróleo e sua habilidade de deter e bloquear ataques do sul.

Em 1983 Israel assinou a paz com o Líbano. Este tratado foi pelos ares assim que o regime que o assinou foi deposto por radicais islâmicos e a Síria.

E aí tivemos o tratado de Oslo com a OLP em 1993. O resultado deste tratado foram ondas de violência palestinas nas quais mais israelenses morreram do que em todas as guerras com os vizinhos juntas.

Para os palestinos este acordo morreu ao nascer mas Obama e sua administração continuam a cobrar de Israel o cumprimento de suas obrigações. Oslo está morto porque foi uma fraude negociada pelos palestinos em má-fé desde o princípio. Morreu porque o Hamas tomou Gaza e se houvesse eleições hoje tomaria também a Judéia e Samária. Morreu porque Abbas e o povo palestino não aceitam a coexistência pacífica com Israel. Mas acima de tudo, o tratado morreu porque o movimento nacional palestino é predicado não no estabelecimento de um estado palestino mas na destruição de Israel.

Abbas deixou isso claro esta semana em sua página no Facebook. Lá ele disse que todo o território pré-1967 também é ocupado por Israel ilegalmente”. Com parceiros como estes Israel não precisa de inimigos.

E finalmente temos a Jordânia. Como disse a comentarista Caroline Glick, esta é uma estória que ninguém quer discutir para não destruir os mitos criados sobre as relações entre Israel e os árabes. 

O reinado Hashemita da Jordânia é composto de 3 grupos básicos: os palestinos que constituem a maioria da população, os beduinos e os hashemitas – colocados como governantes pelos ingleses.

Os beduínos até a última década não eram particularmente religiosos. Em Israel, eles servem o exército em grandes números. Os beduínos no Sinai foram contra o acordo de paz e o retorno do controle da península ao Egito. Na Jordânia os beduínos nunca se opuseram à aliança estratégica da monarquia com Israel.

Mas tudo isso mudou nos últimos dez anos durante os quais os beduínos sofreram um drástico processo de radicalização islâmica. Hoje os beduínos no Sinai estão por trás da violência jihadista, e na Jordânia eles são mais contra a coexistência pacífica com Israel que os palestinos.

O pequeno grupo dos governantes Hashemitas está cada vez mais estressado pelos eventos regionais e internos. A tomada do poder pela Irmandade Muçulmana no Egito fortaleceu a Irmandade na Jordânia. Com a saída do exército americano e a tomada do Iraque pelos shiitas, a Jordânia é um alvo atraente para os jihadistas do outro lado da fronteira. A guerra civil na Síria e a massa de refugiados entrando na Jordânia complica ainda mais a situação.

A conclusão é que o valor estratégico do tratado de paz com a Jordânia foi destruído. Mesmo se o rei Abdullah quisesse ver Israel como um protetor, como o fez seu pai em 1970 quando lutou contra os palestinos, ele não pode. Em 1970 Yasser Arafat e a OLP não tinham muita simpatia na região e nenhum país árabe interferiu. Hoje nenhum país árabe irá apoiar Abdullah em sua luta contra os fundamentalistas.

E ao que parece, a monarquia jordaniana está por um triz. Foi reportado esta semana que os Estados Unidos estariam enviando conselheiros e representantes militares supostamente para ajudar Abdullah com o gerenciamento dos refugiados sírios mas possivelmente também para evacuar americanos caso o regime caia.

Com toda esta instabilidade e incerteza, os Estados Unidos têm muito poucas opções estratégicas. Mas eles sabem que podem contar com seu único aliado verdadeiro: Israel. E a única coisa certa é fazer de tudo para fortalecer este aliado.

Infelizmente, para isso acontecer, esta administração americana precisa descartar os conceitos e ideologias falsas que continuam a professar sobre o Oriente Médio. Mas como vimos pelas respostas ao ataque de Benghazi e seus contínuos ataques a Israel não há chance que isso aconteça enquanto Obama continuar na Casa Branca.



Wednesday, October 17, 2012

O Drone e a Resposta Israelense - 14/10/2012


No sábado retrasado Israel sofreu uma invasão do seu espaço aéreo. Um drone de fabricação iraniana, alegadamente enviado pela Hezbollah teria viajado ao longo da costa Libanesa e Israelense e entrado para dentro de Israel pela Faixa de Gaza. Seu objetivo era o de alcançar Dimona aonde Israel manteria um reator nuclear.

Este incidente, ocorrido dia 6 de outubro cativou a imaginação da mídia, comentaristas e militares. A data também não passou desapercebida. Dia 6 de outubro é o aniversário da guerra de Yom Kipur quando Israel foi atacada por uma coalizão de países árabes liderados pelo Egito e Síria.

Oficiais do exército de Israel admitiram terem seguido os movimentos do drone por uns 20 minutos antes de abatê-lo. Provavelmente os radares israelenses já o haviam detectado antes disso.

Ao dizer que seguiu o drone por pelo menos 20 minutos, Israel está mandando à Hezbollah e aos iranianos uma mensagem: que qualquer informação emitida pelo drone foi lida, rastreada e estudada, sem dizer, provavelmente manipulada.

Como a Hezbollah bem sabe, quando se trata de mísseis de ferro, Israel não faz mágica. Ela não tem outra saída a não ser usar força bruta. Mas quando a ameaça são armas e sistemas sofisticados, a vantagem de Israel é imensa. Na guerra do Líbano em 2006, Israel não conseguiu evitar a barragem de Katyushas até o último dia mas destruiu todo o estoque de mísseis de médio a longo alcance em menos de meia hora. Dê a Israel um sinal eletrônico, magnético ou infra-vermelho e está acabado.

E é isso que torna este incidente do drone ainda mais interessante especialmente se levarmos em conta as tensões com o Irã e seu programa nuclear e a vulnerabilidade da Hezbollah com a atual situação da Síria. O fornecimento de dinheiro, treinamento e suporte iranianos ao que parece, foram completamente trinchados.

Então por que os iranianos iriam querer provocar Israel e acionar sua paranóia mandando um drone para Dimona? Não é que esperavam que o drone não fosse interceptado. As chances dele alcançar Dimona era menos que zero. A área é tão protegida que até pilotos israelenses que passaram perto por erro foram abatidos.

Então, por que a provocação? Essa não foi apenas uma aventura, mas uma mensagem. A penetração do drone em Israel foi uma clara violação da lei internacional pelo Irã agindo através do seu agente a Hezbollah. A sensitividade do alvo, Dimona, tem implicações importantes no contexto internacional e não pode ser interpretado de outro modo que uma ameaça aberta ao coração da defesa de Israel e de seu programa nuclear.  

As sanções estão começando a afetar o povo iraniano. Sua moeda despencou na última semana causando um aumento descontrolado dos preços. A Hezbollah nunca esteve tão isolada e odiada no Líbano. Com a Irmandade Muçulmana que é sunnita, em ascensão em toda a região, os shiitas da Hezbollah temem serem perseguidos e expulsos do Líbano. Seu único aliado na região, a Síria, está lutando por sua própria sobrevivência.

Uma violação do espaço aéreo israelense é uma coisa suficientemente séria para garantir uma retaliação pesada por parte de Israel. E talvez fosse isso mesmo que o Irã, a Hezbollah e a Síria estavam esperando. Se atacados por Israel, eles conseguiriam o apoio árabe, desviar a atenção e assim contornar seus problemas internos. E se foi esse o objetivo, Israel fez bem em não retaliar.

É verdade que o drone poderia ser a desculpa ideal para Israel lançar uma ofensiva e destruir todo o arsenal da Hezbollah no sul do Líbano – especialmente depois que Nasrallah confirmou que foi ele quem deu ordem para lança-lo. Mas esta ofensiva não valeria a pena se fosse a causa de uma guerra regional que só fortalecesse o Irã.

Já houve incidentes letais como este no passado. Em 25 de novembro de 1987, dois terroristas em gliders voaram através da fronteira e pegaram tropas israelenses desprevenidas perto de Kiryat Shmona, matando oito e ferindo oito. O envio deste drone pode ter sido um teste do Irã sobre a capacidade de Israel de reagir a infiltrações aéreas. E foi assim que o público e a mídia em geral entenderam este incidente. E isso é importante.

Esta brecha de segurança causa dano ao poder de dissuasão de Israel em relação a seus inimigos. Se o objetivo do Irã – e da Hezbollah por tabela – foi o de conseguir um feito único para usar em sua propaganda para humilhar Israel, então do seu ponto de vista, eles foram bem-sucedidos. E isso não é algo que pode ser descartado. Esta foi uma provocação importante e o silêncio de Israel pode ser mal interpretado como fraqueza e vulnerabilidade.

Isto não quer dizer que devemos imediatamente entrar no Líbano de qualquer jeito. Mas é imperativo que Israel mande uma mensagem clara e em bom-tom aos seus inimigos que esta violação passou dos limites e não ficará sem resposta.

Israel está com eleições marcadas para o dia 22 de janeiro próximo. Vamos esperar que nenhum incidente como este aconteça antes desta data pois até lá, os líderes de Israel estarão mais preocupados com sua sobrevivência política.

Mas depois disso, o jogo será outro especialmente se a direita sair fortalecida como tudo indica. O envio deste drone foi uma grande estupidez do Irã e um grande risco para a Hezbollah. Vamos esperar que eles cometam o mesmo erro novamente e aí então, Israel responderá à altura.


Sunday, October 7, 2012

Outra Vez: Palestinos Reescrevendo a História - 7/10/2012


Em setembro deste ano, o Ministro do Exterior de Israel, junto com o Congresso Mundial Judaico e o Ministério dos Assuntos de Aposentadoria decidiram aumentar sua campanha para conscientizar o público e os meios diplomáticos do sofrimento dos refugiados judeus e exigir dos países muçulmanos uma compensação justa para estes judeus e seus descendentes.

Imediatamente após a notícia sair na mídia israelense, a representante palestina Hanan Ashrawi publicou uma “gema” que não só distorceu a lógica, mas negou a história e desconsiderou as leis internacionais que regem o tratamento dos refugiados.

Segundo Ashrawi, os judeus que vieram para Israel de países árabes nunca foram refugiados. Eles teriam deixado suas casas voluntariamente sob pressão de grupos sionistas e da Agência Judaica. Ela disse que é uma decepção e ilusório falar que “judeus que imigraram para seu suposto lar nacional, sejam refugiados!”. A sua lógica é que se Israel é o lar nacional judaico, então judeus não podem ser refugiados. São emigrantes que retornaram - seja voluntariamente ou por uma decisão política.

Há um consenso entre os pesquisadores que mais de 850 mil judeus de países árabes fugiram deixando bilhões de dólares em propriedades e negócios para trás. A grande maioria por terem sofrido perseguições após o estabelecimento do Estado de Israel em 1948.

É muito interessante que este é o número que os palestinos hoje reclamam terem se tornado refugiados na mesma época, apesar de estudos aprofundados dos censos feitos pelos britânicos não colocarem este número acima de 400 mil.

Ashrawi então decidiu diferenciar os refugiados judeus dos refugiados palestinos dizendo que gangues sionistas “forçaram palestinos a abandonarem terras que lhes pertenciam há milhares de anos enquanto os judeus partiram voluntariamente”. 

Historicamente sempre houveram judeus na Terra Santa, por menor que fosse a comunidade. Os chamados “palestinos”, por outro lado, nem tanto. Mark Twain visitou esta terra em 1867 e a descreveu desolada de população. Mas em 1878, depois de ser expulsa dos Balcãs pela Austro-Hungria, a Turquia decidiu doar terras, isenção de impostos e de serviço militar, a muçulmanos refugiados da Bósnia e Herzegovina na Palestina. A região foi então populada por muçulmanos da Bósnia, Albânia, da Russia e outras regiões da Europa.

E para terminar, como ela reivindica o direito de retorno de palestinos a Israel própria, ela disse que espera que os judeus possam voltar aos países de onde saíram pois antes de terem o direito a compensação monetária, refugiados, de acordo com ela, devem retornar aos seus países de origem.

A definição estabelecida pela Convenção sobre Refugiados de 1951 das Nações Unidas, diz claramente que um refugiado é alguém que “devido a um receio fundado de ser perseguido por razões de raça, religião, nacionalidade, afiliação a um grupo social ou partido político, está fora de seu país de nacionalidade por não poder contar com a proteção das autoridades daquele país”.

Pela “lógica” de Ashrawi, então, os 20 milhões de muçulmanos e hindus que fugiram da Índia e Paquistão, não seriam refugiados, já que cada grupo acabou indo para o que é hoje, seu lar nacional.

É claro que judeus que fugiram dos países árabes são refugiados porque se encaixam nesta definição. E é claro que eles não irão querer sair de um país que os acolheu para voltar a estes países árabes aonde com certeza serão perseguidos.

A história prova que estados árabes expulsaram, intimidaram ou tomaram suas comunidades judaicas como reféns durante os anos 40 e 50 e além. Ela também mostra que, contrariamente ao que disse Ashrawi – que todos os cidadãos sofreram baixo às ditaduras de países árabes - só os judeus foram alvos de violência anos antes do Estado de Israel existir.

Os judeus no Iraque sofreram um pogrom em 1941 por forças pró-nazistas que causou a morte de centenas de judeus em Bagdad. Uma leva de leis anti-judaicas chegou ao ápice em abril de 1950. Em menos de um ano, a violência e vandalismo contra os judeus os convenceram a emigrar e em 1951 a quase totalidade dos 130 mil judeus havia partido. Por lei, todos os bens destes judeus foram confiscados. Essa é a emigração de uma comunidade de 2.500 anos que Ashrawi chama de “voluntária”.

A comunidade egípcia, da qual eu faço parte, datava da Alta Idade Média, e também não teve que esperar pela criação do Estado de Israel para sofrer violência e perseguições. O movimento “Egito Jovem” de Ahmed Hussein atacou o bairro judaico em novembro de 1945 queimando sinagogas, lar dos velhos e hospitais. Com a criação de Israel, os bairros judaicos foram bombardeados e os judeus atacados nas ruas. Em 1950 um terço da comunidade, já tinha partido.

Esta sequencia de pogrom, perseguição, expropriação e fuga se repetiu na Síria e Líbia criando mais 50 mil refugiados. No Yemen, um pogrom em Aden em dezembro de 1947 causou a morte de 82 judeus. Vandalismo e saques de propriedades de judeus se seguiram em 1948.

O resultado é que quase a totalidade desta comunidade milenária de 43 mil judeus - decidiu, de acordo com Ashrawi,  emigrar voluntariamente.

E por que Ashrawi se teria arriscado a fazer declarações tão desonestas, arrogantes e falsas a respeito dos refugiados judeus? 

Porque o objetivo principal dos palestinos continua a ser a anulação do Estado de Israel e sua intenção de incluir na agenda de negociações futuras uma compensação para os judeus refugiados é alarmante.

Desde a Segunda Guerra mundial, o sofrimento dos refugiados judeus tem sido aliviado por relocação permanente em vez de repatriação. A compensação monetária sempre foi um item desta relocação.

Os palestinos não aceitam relocar seus refugiados e os têm mantido em campos nos últimos 64 anos vivendo às custas da caridade do ocidente. Apesar dos árabes darem um suporte vocal muito grande aos refugiados palestinos eles não contribuem monetariamente. E se tiverem que pagar pelos bens destruídos ou confiscados de suas antigas comunidades judaicas como parte de um acordo de paz com os palestinos, esta situação poderá mudar abruptamente - e daí o alarme.

Mas o fato é que não podemos admitir mais uma tentativa palestina de reescrever a história. Uma história cheia de mentiras, fabricações e declarações que desafiam a lógica para justificar direitos injustificáveis para um povo que simplesmente não o é.