Sunday, August 26, 2012

Os EUA e o Fim da Ameaça Nuclear Iraniana - 26/08/2012


Na semana passada falei sobre a improbabilidade dos Estados Unidos se involverem numa ação militar contra o Irã. Alguns ouvintes me escreveram perguntando porque então Israel tende a se curvar às exigências da América se pela experiência histórica ao final, a cada instância, ela teve que se defender sozinha.

As razões são diversas, dependendo do partido e da personalidade da pessoa sentada na cadeira de primeiro-ministro do Estado judeu. Muitos acham que é por causa da ajuda econômica que os Estados Unidos dão a Israel. Isto é um mito. De fato, a grande maioria desta “ajuda” tem que ficar nos Estados Unidos, pagando empresas americanas para desenvolver armamentos e sistemas de defesa. Em contrapartida, Israel se comprometeu a não desenvolver sua própria indústria de defesa – o que em si não é nada bom.

Mas se no campo militar, Israel foi sempre à luta sozinha, no campo diplomático, os Estados Unidos foram valiosos, bloqueando resoluções contra Israel na ONU e em várias outras organizações mundiais.

No entanto, nesta situação com o Irã, se quisessem, os Estados Unidos poderiam tomar passos mais decisivos. Somente uma ameaça crível de uso de força contra os Ayatollahs irá evitar um possivel armagedon e só os Estados Unidos podem fazê-la. Se o Irã acreditar que a América irá lançar um poderoso ataque, há uma possibilidade muito boa do seu governo capitular ou ao menos decidir negociar seriamente. E isso pode ser feito sem o disparo de uma só bala.

Se a situação continuar como está e o Irã duvidar da determinação americana, não só irá levar à frente seu programa nuclear mas irá transferir suas centrífugas para instalações subterrâneas ou comprar armas nucleares do Paquistão o que o tornará imune a um ataque. O regime iraniano precisa entender agora que irá sofrer consequências devastadoras se tentar, direta ou indiretamente, adquirir armas nucleares.

Esta ameaça de uso de força deve ser muito mais efetiva do que aquela feita por Clinton à Coréia do Norte em 1994 como expliquei na semana passada. O objetivo do ocidente no Irã é um total desarmamento, removendo todo o equipamento e material do seu programa nuclear com verificação independente da Agência Internacional de Energia Atômica.

Um desarmamento total do Irã - além de remover o perigo de armas deste tipo em mãos de lunáticos messiânicos que querem trazer o final dos tempos – irá evitar a proliferação nuclear para outros países da região que irão querer ter seu próprio programa para se defenderem, como a Arábia Saudita; irá evitar que a Hezbollah e outros grupos do tipo tenham acesso à estas armas e que o Irã se sinta ainda mais poderoso para exportar sua “revolução” islamo-shiita para outros países ou ameaçar bloquear o estreito de Hormuz aumentando o preço do petróleo.

O Irã hoje já se sente poderoso. Ahmadinejad não pensou duas vezes quando mandou massacrar seu próprio povo em 2009 para se manter no poder. Hoje ele está ajudando a massacrar a oposição síria em escala inimaginável, mais de 300 pessoas são mortas por dia. Através dos grupos terroristas que patrocina, o Irã ameaça a estabilidade no Líbano, Israel, a Judéia e Samária, Gaza, o Iraque e os países do Golfo Pérsico. Isso além de ser responsável pela morte de incontáveis americanos no Iraque e Afganistão desde 2003.

Nesta sexta-feira a Agência Internacional de Energia Atômica anunciou que não conseguiu fazer um acordo com o Irã para reiniciar inspeções que assegurariam ao mundo que os Ayatollahs não estão procurando armas nucleares.Não é que o mundo estivesse esperando que o milagre da transparência se manifestasse no Irã, mas isso serviu para mostrar quão pouco este regime radical islâmico se incomoda com sanções ou condenações do Ocidente.

Acho que ninguém duvida o que teria acontecido se Hitler tivesse tido em seu poder a bomba atômica. Deveria estar claro para os Estados Unidos que não há diferenças entre o Terceiro Reich e a teocracia iraniana de hoje. Permitir seu acesso a armas nucleares levará o mundo a uma destruição em escala nunca antes vista.

Usando a doutrina americana de cenouras e paus, a contrapartida da ameaça será sem dúvida benefícios para o Irã como o fim das sanções econômicas e participação em acordos de tarifas de exportação reduzidas para seus produtos. Se o programa nuclear iraniano for mesmo pacífico, direcionado para o fornecimento de energia, não há porque os mullahs não aceitarem uma oferta destas. 

Mas se o Irã rejeitá-la, isso quer dizer claramente que seu objetivo é a guerra e ele deve ser impedido a qualquer custo. E o único país que tem os meios de faze-lo com determinação e rapidamente, sem causar uma guerra nuclear que consumirá toda a região e deixar milhões de mortos é os Estados Unidos.

O Irã tem clamado regularmente pela destruição de Israel e tem tomado todos os passos para adquirir os meios para faze-lo, apesar de todas as sanções internacionais impostas. A pequena Israel não tem o luxo de ignorar esta ameaça e infelizmente, não pode esperar eternamente para que soluções -comprovadamente ineficazes - façam efeito.

Todos os dias, as circunstâncias levam o Oriente Médio mais próximo de uma guerra mundial que forçará Israel a agir. Só os Estados Unidos têm o poder de resolver o impasse de modo pacífico, com grande poder de negociação e se for preciso, com uma mostra de grande força. Nosso mundo depende de tal intervenção e a história está assistindo e aguardando escrever o desfeixo de mais este triste capítulo.

Sunday, August 19, 2012

Peres e o Improvável Envolvimento Americano no Irã - 19/08/2012


Esta semana Shimon Peres comemorou seus 89 anos e não aguentando mais apenas o papel cerimonioso de presidente de Israel, decidiu quebrar o protocolo e desafiar o governo de Bibi Netanyahu.

E perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado.

Numa série de entrevistas Peres disse sobre um ataque ao Irã, que “Israel não pode faze-lo sozinho” e ainda que “mesmo que um Irã nuclear seja uma ameaça à existência de Israel, Israel não pode agir unilateralmente sem o apoio da América”.

Óbvio que Netanyahu não só ficou irritado mas profundamente desapontado. Peres parece ter esquecido os limites do papel de presidente. Ele também parece ter esquecido que esteve monumentalmente errado pelo menos três vezes no passado sobre assuntos de segurança nacional e foi isso que o fez perder eleição após eleição.

Peres errou quando tirou Arafat to ostracismo para os acordos de Oslo, proclamando o nascimento mágico de um novo Oriente Médio. A consequência de Oslo foram mais de mil mortes.

Peres também estava errado quando disse que sem os judeus, os árabes iriam fazer de Gaza a Cingapura do Oriente Médio e trazer a paz. Em vez disso comemoramos esta semana 7 anos de pobreza e desespero das 8 mil familias arrancadas de suas casas e trabalhos em troca de mísseis diários em Israel. Ainda posso ouvi-lo dizer para todos nós do contra: “Dêem uma chance para a paz!”… e vimos no que deu.

Mas seu maior erro foi mesmo em 1981 quando ele foi categoricamente contra o bombardeamento da usina nuclear de Osirak no Iraque. Felizmente o primeiro-ministro Menahem Begin o ignorou.

Então, de acordo com Shimon Peres, devemos esperar que a promessa de Obama de “usar todos os elementos do poder americano para pressionar o Irã e impedir que adquira armas nucleares” se traduza em uma ação concreta de ataque ou pelo menos, suporte logístico. Vamos ver então se podemos confiar.

Com exceção à invasão do Iraque em 2003 como consequência do 11 de setembro de 2001, a história prova que os Estados Unidos nunca usaram força militar para impedir que estados fora-da-lei adquirissem armas nucleares. E não há porque contar que o farão agora para proteger Israel.

É bom lembrar que em 1981, o governo Reagan condenou Israel por destruir a usina do Iraque. Mais recentemente, Israel avisou o governo americano da construção da usina nuclear na Síria e a América se recusou a tomar qualquer atitude.

Pode ser que o Irã seja a exceção mas até agora, quando confrontados com a nuclearização de estados pouco confiáveis, os Estados Unidos se resignaram e não fizeram nada.

O caso da Coreia do Norte é o melhor exemplo. Em março de 1994 ela bloqueou a entrada dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica no reator de Yongbyon. A ONU impôs sanções econômicas e o presidente Clinton disse que não iria permitir uma Coreia do Norte nuclear pois era contra os interesses americanos. Hoje, 18 anos mais tarde, com a Coréia do Norte exportando technologia nuclear e já ter conduzido dois testes com bombas: um em 2006 e o outro em 2009 com Obama já na Casa Branca, a América continua a dizer que todas as opções estão na mesa.

No caso da Síria, o presidente Bush disse na época que a informação sobre o reator nuclear não era definitiva e não queria fazer algo que pudesse trazer mais descrédito à sua administração. Israel então teve que agir sozinha.

Para uma decisão dessa magnitude, Obama irá exigir que as agências de inteligência forneçam provas definitivas que o Irã está enriquecendo urânio em porcentagens armamentistas, que os mullas conseguiram montar uma ogiva nuclear e que esta ogiva irá ser colocada num míssel Shahab-3.

Outra limitação a qualquer ação americana é a política de Obama de obter permissão internacional antes de se envolver em qualquer conflito. Os Estados Unidos só enviaram ajuda militar para a Líbia com a aprovação da ONU e na Síria, com o bloqueio da China e Rússia, a América ficou de mãos atadas - pelo menos oficialmente.

Dado este ambiente internacional, quais são as chances, me digam, de verdade, que os Estados Unidos receberão permissão das Nações Unidas para agir contra o programa nuclear iraniano, para defender Israel, o país mais vilificado da ONU?

Não podemos ainda esquecer que o exército americano leva meses para se organizar para uma missão no exterior. Quando o presidente Bush decidiu ir ao Afganistão e Iraque, colocou a Coreia do Norte de lado. Com a crise na Síria, é bem provável que aconteça o mesmo com o programa nuclear do Irã.

E finalmente, o nível de tolerância dos Estados Unidos não é o mesmo de Israel. Para o Estado judeu, o fato do Irã ter todos os componentes da bomba já é inaceitável. Para a América é quando o Irã já teria montado a ogiva.

Tudo isso é complicado pela aproximação da “zona de imunidade” na qual as usinas nucleares do Irã se tornarão imunes a qualquer ataque.

E então, presidente Shimon Peres? Baseados na história, será que podemos contar com os Estados Unidos para defender Israel? Dá para acreditar que Obama irá mobilizar seu exército por um Irã nuclear ser contra os interesses americanos?

As declarações de Peres são ainda mais incongruentes quando elas vêm na mesma semana do final do jejum muçulmano de Ramadan e a comemoração do Dia do Al-Quds, ou Dia de Jerusalém, instituido pelo Ayatollah Khomeini em apoio à causa palestina.

Só que os discursos vindos do Irã nada têm a ver com os palestinos. Ahmadinejad disse que “a existência de Israel é um insulto a toda a humanidade” e o Supremo Líder Ali Khamenei disse que o “falso regime Sionista irá desaparecer da terra islâmica”.

A única pergunta que resta é porque Shimon Peres faria uma declaração destas agora? Apesar dos seus 89 anos, ele não está senil.

O jornal Haaretz especulou que pode haver duas possibilidades. Ou ele acredita que Bibi e Barak estejam realmente planejando um ataque iminente e ele é contra e quer fazer o que pode para impedi-lo, ou ele não acredita que Israel seja capaz de levar à cabo sua ameaça e voltar atrás agora causará um dano enorme à sua posição estratégica. De qualquer forma, Peres decidiu sozinho jogar a bola para Obama. E sem ele, de acordo com Peres, Israel não poderá agir.

Mais uma vez, Peres não vê mais longe do que o seu nariz. Em apenas uma entrevista ele conseguiu minar a credibilidade de Israel com seus vizinhos e o Irã. Certamente os Ayatollahs devem ter comemorado esta nova informação.

No ano que vem, quem sabe, em agradecimento, convidadarão Peres a celebrar seu nonagésimo aniversário junto com o Dia de Al-Quds em Teherã.

Sunday, August 5, 2012

O "Racismo" de Mitt Romney - 05/08/2012


Nesta semana que passou a controvérsia nos jornais americanos não foi tanto sobre o que fazer com a contínua chacina na Síria mas com aparentes lapsos do candidato republicano à presidência americana Mitt Romney. De acordo com a mídia pró-Obama, em sua visita a Israel, Romney teria cometido uma terrível gaffe que insultou os palestinos.

Tudo começou quando Romney disse numa reunião que “quem vem aqui vê uma renda per capita de $21 mil dólares e compara com a renda per capita nos territórios palestinos de $10 mil percebe a diferença de vitalidade econômica”. E continuou dizendo “que na história econômica do mundo, a cultura faz a diferença”.

Líderes palestinos protestaram, dizendo que Romney era um racista totalmente divorciado da realidade do Oriente Médio. Na verdade, esta reação mostrou que são os palestinos que têm líderes que não só não estão conectados com a realidade do Oriente Médio mas estão totalmente divorciados da história da humanidade.

Será que a referência à cultura faz de Romney um racista? e porque Israel está tão à frente dos palestinos econômica e tecnologicamente?

Racismo é a crença que alguns povos são inerente e biologicamente inferiores a outros. Consequentemente, nada que eles possam fazer poderá evitar ou mudar seu estado de atraso.

Isto não tem nada a ver com cultura que é algo que pode ser mudado. Países como a China, Japão, India e o Brasil se desenvolveram de modo dramático nos últimos 50 anos mantendo sua cultura. Filhos e netos de escravos trazidos da África hoje estão em todas as áreas acadêmicas e de poder nas Américas.

É ser racista admitir que algumas sociedades em algum momento da história estiveram adiante de outras? A verdade é que os palestinos estão muito mais atrás dos israelenses do que Romney pensa. A renda per capita de Israel é em torno de $31 mil e a dos palestinos é só $1.500.

Quando os árabes ocuparam o sul da Espanha, eles desenvolveram a matemática, astronomia, navegação, medicina e outras ciências. Se hoje eles decidissem abandonar o jihad, o martírio e o sonho de dominação do mundo e colocassem como prioridade a educação, a liberdade e o trabalho, eles poderiam ser tão prósperos e avançados quanto Israel, os Estados Unidos ou qualquer outro país.

Num sermão em 2005, o clérico Yousuf Al-Qaradhawi disse enfáticamente que os árabes precisavam trabalhar e serem produtivos e não só gastar o dinheiro do petróleo em futilidades.

Infelizmente, as sociedades árabes estão se mudando para o pior. Para estar do lado certo da história é preciso tomar a direção correta.

O negociador palestino Saeb Erekat que denunciou Romney como racista, disse que os palestinos tinham cultura. Então vejamos. Recentemente, numa performance cultural da Autoridade Palestina, que contou com a presença do seu Ministro da Cultura, o tema das canções e poesias era como ensinar os filhos a empunharem uma arma – não computadores. O Hamas tem colônias de férias aonde milhares de crianças são treinadas para serem homens-bomba e terroristas.

Ao se voltarem para o radicalismo islâmico, impondo a sharia como lei, os árabes estão indo para trás. E infelizmente, os poucos progressistas, que começaram a revolução no mundo árabe, irão perder a batalha final. Isto só vai assegurar o aumento da lacuna.

O problema é que se os árabes negam que há um problema, eles não vão resolve-lo. Quando Romney falou de “cultura” ele não estava se referindo à música ou literatura. Ele estava falando de liberdade de expressão, livre iniciativa e leis justas, ingredientes necessários para qualquer sociedade ter sucesso em nossos dias.

Um jeito de explicar esta falta de progresso econômico é o que os palestinos querem vender: que eles estariam muito à frente se não fosse a ocupação de Israel. Em outras palavras, eles são “vítimas”. Eles dizem que na Judéia e Samária os palestinos têm um autogoverno limitado. Israel controla as travessias para dentro e fora do território. E apesar de ter saído de Gaza, Israel continua a controlar as fronteiras da Faixa e portanto não permite o seu desenvolvimento.

Esse argumento é no mínimo uma asneira. A verdade é que em termos econômicos, durante a “ocupação”, tanto Gaza quanto a Judéia e Samária tiveram o melhor desempenho econômico de todos os países árabes ao redor exceto durante os anos de violência iniciada pelos palestinos. Aliás, nunca houveram controles de fronteira até o começo dos ataques e homens bomba.
Como pode ser o Hamas uma vítima se é o causador de todos os problemas com o lançamento contínuo de mísseis, morteiros e ataques  a Israel?

A escolha da violência no lugar da negociação foi o que causou dano à economia palestina. Longe de serem vítimas, os palestinos foram mimados pela comunidade internacional recebendo bilhões de dólares em ajuda que desperdiçaram em corrupção e roubo. Eles recusam dar moradia decentes aos seus próprios cidadãos e os mantêm em campos de refugiados para continuarem a receber a esmola das Nações Unidas.

OK. E aí temos a Tunisia, o Egito, a Jordânia, o Líbano e a Síria. Nenhum deles foi jamais ocupado por Israel. Por que continuam na miséria? Chorar eternamente, se dizer vítima e esperar pela caridade do mundo não vai ajudar nenhum deles a alcançarem o sucesso. Países do Terceiro Mundo que aprenderam estas lições hoje têm economias fortes e voz nas decisões globais.

A conclusão é que o problema aqui não é Israel, ou o capitalismo ou um grupo racial querendo oprimir outro. É falta de governo e de democracia. É também um excesso de demagogia de líderes e zelo religioso de cléricos arrastando seus cidadãos para longe do progresso e prosperidade.

E esta situação é alimentada pela mídia ocidental. Nenhum destes iluminados jornalistas, a começar pelos da Associated Press, na sua ânsia de criticar Romney, notou o crescimento da economia palestina durante a “ocupação” comparado com os países árabes vizinhos não produtores de petróleo, ou a violência palestina como causa dos bloqueios nas estradas, ou a incontrolável corrupção da Autoridade Palestina, os bilhões de dólares doados pela comunidade internacional ou os milhões em impostos sobre o trabalho dos palestinos que trabalham em Israel que vão para o bolso da Autoridade. Nada! Nenhuma menção.

Esta é a vergonhosa “cobertura” dos fatos pelos “respeitáveis” membros da imprensa. Os mesmos que há dois meses atrás diziam que a economia palestina estava ótima e pronta para um Estado! Vai saber...