Esta semana Shimon Peres comemorou seus 89 anos e não aguentando mais
apenas o papel cerimonioso de presidente de Israel, decidiu quebrar o protocolo
e desafiar o governo de Bibi Netanyahu.
E perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado.
Numa série de entrevistas Peres disse sobre um ataque ao Irã, que “Israel
não pode faze-lo sozinho” e ainda que “mesmo que um Irã nuclear seja uma ameaça
à existência de Israel, Israel não pode agir unilateralmente sem o apoio da
América”.
Óbvio que Netanyahu não só ficou irritado mas profundamente desapontado.
Peres parece ter esquecido os limites do papel de presidente. Ele também parece
ter esquecido que esteve monumentalmente errado pelo menos três vezes no
passado sobre assuntos de segurança nacional e foi isso que o fez perder eleição
após eleição.
Peres errou quando tirou Arafat to ostracismo para os acordos de Oslo,
proclamando o nascimento mágico de um novo Oriente Médio. A consequência de
Oslo foram mais de mil mortes.
Peres também estava errado quando disse que sem os judeus, os árabes iriam fazer
de Gaza a Cingapura do Oriente Médio e trazer a paz. Em vez disso comemoramos
esta semana 7 anos de pobreza e desespero das 8 mil familias arrancadas de suas
casas e trabalhos em troca de mísseis diários em Israel. Ainda posso ouvi-lo
dizer para todos nós do contra: “Dêem uma chance para a paz!”… e vimos no que
deu.
Mas seu maior erro foi mesmo em 1981 quando ele foi categoricamente contra
o bombardeamento da usina nuclear de Osirak no Iraque. Felizmente o primeiro-ministro
Menahem Begin o ignorou.
Então, de acordo com Shimon Peres, devemos esperar que a promessa de Obama
de “usar todos os elementos do poder americano para pressionar o Irã e impedir
que adquira armas nucleares” se traduza em uma ação concreta de ataque ou pelo
menos, suporte logístico. Vamos ver então se podemos confiar.
Com exceção à invasão do Iraque em 2003 como consequência do 11 de setembro
de 2001, a história prova que os Estados Unidos nunca usaram força militar para
impedir que estados fora-da-lei adquirissem armas nucleares. E não há porque
contar que o farão agora para proteger Israel.
É bom lembrar que em 1981, o governo Reagan condenou Israel por destruir a
usina do Iraque. Mais recentemente, Israel avisou o governo americano da
construção da usina nuclear na Síria e a América se recusou a tomar qualquer
atitude.
Pode ser que o Irã seja a exceção mas até agora, quando confrontados com a
nuclearização de estados pouco confiáveis, os Estados Unidos se resignaram e
não fizeram nada.
O caso da Coreia do Norte é o melhor exemplo. Em março de 1994 ela bloqueou
a entrada dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica no reator
de Yongbyon. A ONU impôs sanções econômicas e o presidente Clinton disse que
não iria permitir uma Coreia do Norte nuclear pois era contra os interesses
americanos. Hoje, 18 anos mais tarde, com a Coréia do Norte exportando
technologia nuclear e já ter conduzido dois testes com bombas: um em 2006 e o outro
em 2009 com Obama já na Casa Branca, a América continua a dizer que todas as
opções estão na mesa.
No caso da Síria, o presidente Bush disse na época que a informação sobre o
reator nuclear não era definitiva e não queria fazer algo que pudesse trazer
mais descrédito à sua administração. Israel então teve que agir sozinha.
Para uma decisão dessa magnitude, Obama irá exigir que as agências de inteligência
forneçam provas definitivas que o Irã está enriquecendo urânio em porcentagens
armamentistas, que os mullas conseguiram montar uma ogiva nuclear e que esta
ogiva irá ser colocada num míssel Shahab-3.
Outra limitação a qualquer ação americana é a política de Obama de obter
permissão internacional antes de se envolver em qualquer conflito. Os Estados
Unidos só enviaram ajuda militar para a Líbia com a aprovação da ONU e na
Síria, com o bloqueio da China e Rússia, a América ficou de mãos atadas - pelo
menos oficialmente.
Dado este ambiente internacional, quais são as chances, me digam, de
verdade, que os Estados Unidos receberão permissão das Nações Unidas para agir
contra o programa nuclear iraniano, para defender Israel, o país mais
vilificado da ONU?
Não podemos ainda esquecer que o exército americano leva meses para se
organizar para uma missão no exterior. Quando o presidente Bush decidiu ir ao
Afganistão e Iraque, colocou a Coreia do Norte de lado. Com a crise na Síria, é
bem provável que aconteça o mesmo com o programa nuclear do Irã.
E finalmente, o nível de tolerância dos Estados Unidos não é o mesmo de
Israel. Para o Estado judeu, o fato do Irã ter todos os componentes da bomba já
é inaceitável. Para a América é quando o Irã já teria montado a ogiva.
Tudo isso é complicado pela aproximação da “zona de imunidade” na qual as
usinas nucleares do Irã se tornarão imunes a qualquer ataque.
E então, presidente Shimon Peres? Baseados na história, será que podemos
contar com os Estados Unidos para defender Israel? Dá para acreditar que Obama
irá mobilizar seu exército por um Irã nuclear ser contra os interesses americanos?
As declarações de Peres são ainda mais incongruentes quando elas vêm na
mesma semana do final do jejum muçulmano de Ramadan e a comemoração do Dia do
Al-Quds, ou Dia de Jerusalém, instituido pelo Ayatollah Khomeini em apoio à
causa palestina.
Só que os discursos vindos do Irã nada têm a ver com os palestinos. Ahmadinejad
disse que “a existência de Israel é um insulto a toda a humanidade” e o Supremo
Líder Ali Khamenei disse que o “falso regime Sionista irá desaparecer da terra
islâmica”.
A única pergunta que resta é porque Shimon Peres faria uma declaração destas
agora? Apesar dos seus 89 anos, ele não está senil.
O jornal Haaretz especulou que pode haver duas possibilidades. Ou ele
acredita que Bibi e Barak estejam realmente planejando um ataque iminente e ele
é contra e quer fazer o que pode para impedi-lo, ou ele não acredita que Israel
seja capaz de levar à cabo sua ameaça e voltar atrás agora causará um dano
enorme à sua posição estratégica. De qualquer forma, Peres decidiu sozinho jogar
a bola para Obama. E sem ele, de acordo com Peres, Israel não poderá agir.
Mais uma vez, Peres não vê mais longe do que o seu nariz. Em apenas uma
entrevista ele conseguiu minar a credibilidade de Israel com seus vizinhos e o
Irã. Certamente os Ayatollahs devem ter comemorado esta nova informação.
No ano que vem, quem sabe, em agradecimento, convidadarão Peres a celebrar
seu nonagésimo aniversário junto com o Dia de Al-Quds em Teherã.
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