Sunday, August 19, 2012

Peres e o Improvável Envolvimento Americano no Irã - 19/08/2012


Esta semana Shimon Peres comemorou seus 89 anos e não aguentando mais apenas o papel cerimonioso de presidente de Israel, decidiu quebrar o protocolo e desafiar o governo de Bibi Netanyahu.

E perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado.

Numa série de entrevistas Peres disse sobre um ataque ao Irã, que “Israel não pode faze-lo sozinho” e ainda que “mesmo que um Irã nuclear seja uma ameaça à existência de Israel, Israel não pode agir unilateralmente sem o apoio da América”.

Óbvio que Netanyahu não só ficou irritado mas profundamente desapontado. Peres parece ter esquecido os limites do papel de presidente. Ele também parece ter esquecido que esteve monumentalmente errado pelo menos três vezes no passado sobre assuntos de segurança nacional e foi isso que o fez perder eleição após eleição.

Peres errou quando tirou Arafat to ostracismo para os acordos de Oslo, proclamando o nascimento mágico de um novo Oriente Médio. A consequência de Oslo foram mais de mil mortes.

Peres também estava errado quando disse que sem os judeus, os árabes iriam fazer de Gaza a Cingapura do Oriente Médio e trazer a paz. Em vez disso comemoramos esta semana 7 anos de pobreza e desespero das 8 mil familias arrancadas de suas casas e trabalhos em troca de mísseis diários em Israel. Ainda posso ouvi-lo dizer para todos nós do contra: “Dêem uma chance para a paz!”… e vimos no que deu.

Mas seu maior erro foi mesmo em 1981 quando ele foi categoricamente contra o bombardeamento da usina nuclear de Osirak no Iraque. Felizmente o primeiro-ministro Menahem Begin o ignorou.

Então, de acordo com Shimon Peres, devemos esperar que a promessa de Obama de “usar todos os elementos do poder americano para pressionar o Irã e impedir que adquira armas nucleares” se traduza em uma ação concreta de ataque ou pelo menos, suporte logístico. Vamos ver então se podemos confiar.

Com exceção à invasão do Iraque em 2003 como consequência do 11 de setembro de 2001, a história prova que os Estados Unidos nunca usaram força militar para impedir que estados fora-da-lei adquirissem armas nucleares. E não há porque contar que o farão agora para proteger Israel.

É bom lembrar que em 1981, o governo Reagan condenou Israel por destruir a usina do Iraque. Mais recentemente, Israel avisou o governo americano da construção da usina nuclear na Síria e a América se recusou a tomar qualquer atitude.

Pode ser que o Irã seja a exceção mas até agora, quando confrontados com a nuclearização de estados pouco confiáveis, os Estados Unidos se resignaram e não fizeram nada.

O caso da Coreia do Norte é o melhor exemplo. Em março de 1994 ela bloqueou a entrada dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica no reator de Yongbyon. A ONU impôs sanções econômicas e o presidente Clinton disse que não iria permitir uma Coreia do Norte nuclear pois era contra os interesses americanos. Hoje, 18 anos mais tarde, com a Coréia do Norte exportando technologia nuclear e já ter conduzido dois testes com bombas: um em 2006 e o outro em 2009 com Obama já na Casa Branca, a América continua a dizer que todas as opções estão na mesa.

No caso da Síria, o presidente Bush disse na época que a informação sobre o reator nuclear não era definitiva e não queria fazer algo que pudesse trazer mais descrédito à sua administração. Israel então teve que agir sozinha.

Para uma decisão dessa magnitude, Obama irá exigir que as agências de inteligência forneçam provas definitivas que o Irã está enriquecendo urânio em porcentagens armamentistas, que os mullas conseguiram montar uma ogiva nuclear e que esta ogiva irá ser colocada num míssel Shahab-3.

Outra limitação a qualquer ação americana é a política de Obama de obter permissão internacional antes de se envolver em qualquer conflito. Os Estados Unidos só enviaram ajuda militar para a Líbia com a aprovação da ONU e na Síria, com o bloqueio da China e Rússia, a América ficou de mãos atadas - pelo menos oficialmente.

Dado este ambiente internacional, quais são as chances, me digam, de verdade, que os Estados Unidos receberão permissão das Nações Unidas para agir contra o programa nuclear iraniano, para defender Israel, o país mais vilificado da ONU?

Não podemos ainda esquecer que o exército americano leva meses para se organizar para uma missão no exterior. Quando o presidente Bush decidiu ir ao Afganistão e Iraque, colocou a Coreia do Norte de lado. Com a crise na Síria, é bem provável que aconteça o mesmo com o programa nuclear do Irã.

E finalmente, o nível de tolerância dos Estados Unidos não é o mesmo de Israel. Para o Estado judeu, o fato do Irã ter todos os componentes da bomba já é inaceitável. Para a América é quando o Irã já teria montado a ogiva.

Tudo isso é complicado pela aproximação da “zona de imunidade” na qual as usinas nucleares do Irã se tornarão imunes a qualquer ataque.

E então, presidente Shimon Peres? Baseados na história, será que podemos contar com os Estados Unidos para defender Israel? Dá para acreditar que Obama irá mobilizar seu exército por um Irã nuclear ser contra os interesses americanos?

As declarações de Peres são ainda mais incongruentes quando elas vêm na mesma semana do final do jejum muçulmano de Ramadan e a comemoração do Dia do Al-Quds, ou Dia de Jerusalém, instituido pelo Ayatollah Khomeini em apoio à causa palestina.

Só que os discursos vindos do Irã nada têm a ver com os palestinos. Ahmadinejad disse que “a existência de Israel é um insulto a toda a humanidade” e o Supremo Líder Ali Khamenei disse que o “falso regime Sionista irá desaparecer da terra islâmica”.

A única pergunta que resta é porque Shimon Peres faria uma declaração destas agora? Apesar dos seus 89 anos, ele não está senil.

O jornal Haaretz especulou que pode haver duas possibilidades. Ou ele acredita que Bibi e Barak estejam realmente planejando um ataque iminente e ele é contra e quer fazer o que pode para impedi-lo, ou ele não acredita que Israel seja capaz de levar à cabo sua ameaça e voltar atrás agora causará um dano enorme à sua posição estratégica. De qualquer forma, Peres decidiu sozinho jogar a bola para Obama. E sem ele, de acordo com Peres, Israel não poderá agir.

Mais uma vez, Peres não vê mais longe do que o seu nariz. Em apenas uma entrevista ele conseguiu minar a credibilidade de Israel com seus vizinhos e o Irã. Certamente os Ayatollahs devem ter comemorado esta nova informação.

No ano que vem, quem sabe, em agradecimento, convidadarão Peres a celebrar seu nonagésimo aniversário junto com o Dia de Al-Quds em Teherã.

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