Esta semana,
além das terríveis noticias sobre a propagação do corona virus que continua a
dominar o noticiário, tivemos uma verdadeira revolução em Israel.
Faltando
alguns minutos para o prazo expirar para membros da Knesset se apresentarem sua
candidatura à porta-voz da Knesset, repentinamente, Benny Ganz, o líder do
partido Azul e Branco depositou a sua.
Isto em si
não seria algo surpreendente não fosse o fato que ele recebera os 61 votos para
formar o governo e ser primeiro-ministro.
Mas para
entender este drama, precisamos voltar um pouco atrás.
Já faz um ano
e meio que Israel está sem um governo formado de modo apropriado. Além de não
conseguir aprovar orçamentos para os ministérios, inclusive o de defesa, agora
com o corona vírus, a situação se complicou.
Na última
eleição, o indisputável vitorioso foi Netanyahu do Likud. Apesar dele estar sob
indiciamento e seu julgamento ter que começar neste mês ainda, isto não foi
suficiente para balançar os eleitores. E desta vez, não foi um empate ou algo
parecido. O Likud ganhou dois assentos a mais que o Azul e Branco. Com os
outros partidos de direita ele chegou a 58 assentos, 3 a menos que os 61 que
precisava para formar o governo sem concessões.
Como Bibi não
conseguia os outros três, Ganz – contrariamente ao que havia prometido em sua
campanha - então pediu o partido árabe, que na verdade é uma coalisão de
partidos árabes, para lhe dar a oportunidade de formar um governo de esquerda e
derrubar o Netanyahu de uma vez por todas.
Os árabes,
com 15 assentos deram a Ganz os 61 votos que ele precisava, mas todos sabiam
que esta era apenas uma maioria técnica.
E porque Ganz
pediu aos árabes para formar o governo? Tudo isso era apenas uma manobra
política para ganhar o controle da Knesset e aprovar uma lei que impedisse
qualquer um de ser primeiro ministro se estivesse indiciado. Em outras
palavras, uma manobra para barrar Bibi Netanyahu enquanto ele não fosse
inocentado das acusações.
Esta manobra
não foi desenhada por Ganz, Bougy Ayalon ou Gaby Ashkenaki. Ela foi o bebê
político do veterano Yair Lapid que tinha um acordo com Ganz, que o porta-voz
da Knesset seria seu homem, Meir Cohen. E iria ser assim:
Com 61 votos,
Ganz iria pedir ao presidente da Knesset Yuli Edelstein do Likud, para convir
um plenário da nova Knesset e votar um novo presidente, tirando Edelstein do
cargo. Yuli se recusou – e com razão já que os 61 eram apenas votos técnicos e
não de um novo governo. Aí o Azul e Branco peticionou para a Suprema Corte para
forçar Edelstein a convir o plenário. A Suprema Corte de Israel, sabidamente de
esquerda, com juízes todos de esquerda, mandou Edelstein convir o plenário.
Notem que o Conselheiro Legal da Knesset, mandou uma resposta à Suprema Corte
de várias laudas, mas em menos de 25 minutos, a juíza presidente publicou sua
decisão de 19 páginas, sem ao menos lidar com os argumentos da própria Knesset.
Gente, há uma
razão pela qual em toda a democracia, há uma separação de poderes. O Executivo
não pode impingir sobre o Legislativo ou este sobre o Judiciário e vice-versa.
Este principio existe há 300 anos, foi criada para evitar que o poder de
governo não fosse deixado inteiramente a um corpo ou a uma pessoa. O legislativo
passa as leis que têm que ser aplicadas pelo executivo e serem cumpridas pelo
judiciário. O Executivo não pode forçar o Judiciário a julgar um caso e muito
menos o Judiciário pode forçar o Legislativo a convir um plenário.
Vendo este
circo acontecer, Yuli Edelstein tomou a decisão mais sábia e resignou do cargo.
Sem ele ou um substituto, não havia como convir um plenário e até outro ser
escolhido levaria alguns dias. Por isto ele foi literalmente pisoteado pela
mídia que, como a Suprema Corte, também é de esquerda.
Mas voltando
aos eventos, tudo o que Lapid queria era se vingar de Bibi. Não importa se seu
partido Azul e Branco não conseguisse formar o governo ou jogasse o país, no
meio de uma crise sem precedentes, literalmente no lixo. Isto era algo pessoal
que tinha que ser resolvido e tinha precedência sobre o destino do país.
Quando no
começo da semana o presidente Rivlin se encontrou com ambos Bibi e Ganz, Ganz
entendeu que era preciso formar pelo menos um governo de emergência para lidar
com a situação do vírus. Após longas negociações em que ele conseguiu espremer
o máximo de concessões de Netanyahu, Ganz
tentou convencer seus colegas de partido que havia chegado a hora de um
acordo de união para formar o governo.
Vendo seu
jogo desmoronar, Yair Lapid passou ao ataque contra Ganz. Ayalon que também tem
ressentimento de Bibi por não ter estendido sua posição de chefe-de-estado
maior como de praxe, se juntou ao Lapid. Sem outra opção viável, Ganz, com o
apoio do Likud e dos partidos de direita então se candidatou a presidente da
Knesset, provavelmente de modo temporário pois lhe espera um cargo de ministro
ou vice-premier de Israel.
Quem saiu
perdendo nesta história? O Yair Lapid e Bugy Ayalon, com certeza. Mas também
Avigdor Lieberman que amarrou as eleições anteriores e apesar de ser de direita
se declarou disposto a negociar com os árabes só para se livrar de Netanyahu.
Este saiu sem nada.
Não é fácil
ser político, ainda mais num país tão cheio de desafios como Israel. Com
certeza Bibi apelou para o senso de patriotismo de Ganz, mostrando o que estão
enfrentando, não só com o vírus, que se tornou premente, mas com os contínuos
ataques vindos de Gaza. Sim, porque se pensaram que eles pararam, pois bem,
não.
Netanyahu
mostrou mais uma vez que é um político muito temperado e consegue tirar água de
pedras. Mas para isso ele também precisou uma contraparte com audácia
suficiente para tomar uma decisão difícil em prol do país, em detrimento de
seus colegas de partido.
Para aqueles
que chamaram Ganz de verme, de animal de estimação de Bibi e outras coisas mais, saibam que ao contrário de vocês, por
enquanto, ele irá entrar para a História como um estadista corajoso.