Sunday, March 22, 2020

O Antissemitismo e o Corona - 22/03/2020


Enquanto o mundo se mobiliza para combater de modo positivo esta epidemia que afeta a todos sem discriminar raça, idade, sexo ou credo, os antissemitas não deixaram passar a oportunidade de espalhar conspirações e culpar a quem pelo vírus? É claro, os judeus e Israel.

A atriz Rosanna Arquette que diz não ser antissemita por ter tido uma mãe de origem judia, twittou esta semana para os seus mais de 100 mil seguidores que “estava confusa” que “Israel estaria trabalhando em uma vacina para o coronavirus há um ano? Isto quer dizer que eles sabiam?” E continua: “Vacinas levam muito tempo para serem testadas quanto à segurança e o Oscar Kushner, é o maior investidor desta nova vacina que supostamente será trazida para cá. Vidas estão em perigo por lucro”.

Oscar Health é o nome de uma empresa de saúde criada em 2013, que como todas as outras está contribuindo para solucionar esta crise. Ela é subsidiária de uma empresa chamada Mulberry Health que tem entre vários sócios, uma sociedade chamada Thrive Partners LP que por sua vez pertence, junto com outros vários investidores à Thrive Partners Limitada e que por sua vez tem como um dos sócios, o irmão do genro do presidente Trump, Joshuah Kushner.

Por mais remoto que seja o contato entre um judeu com a empresa, já foi decidido que o judeu, ou os judeus, estão tentando lucrar com esta pandemia. Enquanto tentamos olhar o presente e planejar o futuro, estes vermes continuam no passado, repetindo-o constantemente, usando novos protagonistas em nossos tempos, esperando obter um resultado diferente, algo mais do que a derrota que têm sofrido todos estes séculos.

As mensagens que estão sendo disseminadas desde Janeiro espalham ódio e desinformação, tornando mais difícil acessar informações precisas e aumentando o nível de ansiedade. Enquanto algumas mensagens são novas, a maioria são velhas acusações com roupagem moderna.

Muitas teorias antissemitas da conspiração postulam que os judeus têm influência e que eles manipulam eventos para expandir seu poder, freqüentemente citando pessoas específicas como a família Rothschild. Mas nas últimas semanas, tem havido uma onda crescente de mensagens dizendo que os judeus e/ou Israel criaram ou espalharam o coronavirus para alcançar o controle do mundo. Numa mensagem do dia 15 de março, o vírus é mostrado como a cabeça de um cavalo de Troia com judeus na sua barriga.

No Twitter, uma mensagem mostrou a suposta imagem do virus sob o telescopio, em que ele aparece com várias cabeças caricaturadas como judeus, com a estrela de Davi na kipa, sorrindo maliciosamente.

Outra mensagem do Twitter promoveu uma conspiração antissemita relacionada com a lei marcial e dizendo que a FEMA, a Agência Federal de Gerenciamento de Emergência dos Estados Unidos era controlada pelo Beit Chabad, que, vejam o absurdo, teria o Rabino Jarred Kushner como Messias e sua mulher Ivanka como a futura Rainha Ester.

Outra onda que está correndo solta é o estereotipo do judeu que procura lucrar com a miséria dos outros. Desde os primeiros dias da pandemia, os antissemitas têm acusado os judeus de lucrarem com o vírus: desde a vacina, até a volatilidade dos mercados financeiros e através de empréstimos a pessoas necessitadas.  Estas mensagens são acompanhadas da imagem do mercador gordo e sorridente, com o nariz curvado e comprido e outros traços típicos dos judeus.

Como não poderia deixar de ser, muito do conteúdo antissemita das mensagens compartilhadas online descrevem Israel como um ator malicioso que criou ou estaria usando o coronavirus para alvejar seus inimigos, especialmente os palestinos. Outros usam o vírus para criticar as políticas do Estado de Israel, que no final, perpetuam tropos antissemitas. 

Num cartoon postado no Twitter e Facebook há alguns dias, uma idosa palestina está forçada a ficar exposta ao vírus enquanto um soldado israelense aponta uma arma para ela. O usuário que compartilhou a imagem escreveu que Israel e o vírus estão trabalhando juntos contra os “palestinos nativos” chamando os israelenses de estrangeiros ocupadores.

Numa outra postagem do dia 18 último, uma foto com judeus religiosos, um deles lavando as mãos, dizia: meu bolso está em quarentena desde janeiro. No meio tempo, nossos senhores de escravos jogam todos os shekels dos juros com os quais eles escravizaram o mundo.

Outro twit do dia 10 de março pergunta se o coronavirus foi uma punição enviada por D-us pelo Sionismo. Outro ainda do dia 14 declarou que “seis milhões de judeus israelenses agora sentiram o gosto do que o mesmo numero de palestinos que vivem sob a ocupação têm passado nos últimos 50 anos”.

E para não ficar para trás, no dia 16 de março último, a Nação do Islã twitou uma mensagem sugerindo que Israel desenvolveu o coronavirus como uma arma para assassinatos em resposta à noticia que um instituto de pesquisa de Israel teria desenvolvido uma vacina para o vírus.

Para terminar, vários sites e mensagens foram postadas comemorando a chegada do vírus a Israel e torcendo para que as sinagogas fossem contaminadas. Uma delas perguntou como em 2020 a China não consegue cremar algumas centenas de corpos por dia quando os nazistas cremavam mais de 4 mil em 1940.

Pessoal, se já não bastasse o pânico, as perdas de familiares, a situação econômica mundial que é preocupante, ainda temos que lidar com este tipo de imbecilidade.

Sabem porque há pesquisas sobre o vírus há mais de um ano? Na verdade desde 2004? Porque em 2003 houve uma epidemia de SARS. Lembram? O Covid-19 é só um novo SARS. 

Temos não que reclamar mas vociferar toda a vez que lemos ou ouvimos estes absurdos medievais. Chegou a hora no século 21 de desbandarmos estas conspirações ridiculas e tratarmos de modo objetivo com os problemas que se apresentam.

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