Sunday, March 29, 2020

A Corajosa Ação de Benny Ganz - 29/03/2020


Esta semana, além das terríveis noticias sobre a propagação do corona virus que continua a dominar o noticiário, tivemos uma verdadeira revolução em Israel.

Faltando alguns minutos para o prazo expirar para membros da Knesset se apresentarem sua candidatura à porta-voz da Knesset, repentinamente, Benny Ganz, o líder do partido Azul e Branco depositou a sua.

Isto em si não seria algo surpreendente não fosse o fato que ele recebera os 61 votos para formar o governo e ser primeiro-ministro.

Mas para entender este drama, precisamos voltar um pouco atrás.

Já faz um ano e meio que Israel está sem um governo formado de modo apropriado. Além de não conseguir aprovar orçamentos para os ministérios, inclusive o de defesa, agora com o corona vírus, a situação se complicou.

Na última eleição, o indisputável vitorioso foi Netanyahu do Likud. Apesar dele estar sob indiciamento e seu julgamento ter que começar neste mês ainda, isto não foi suficiente para balançar os eleitores. E desta vez, não foi um empate ou algo parecido. O Likud ganhou dois assentos a mais que o Azul e Branco. Com os outros partidos de direita ele chegou a 58 assentos, 3 a menos que os 61 que precisava para formar o governo sem concessões.

Como Bibi não conseguia os outros três, Ganz – contrariamente ao que havia prometido em sua campanha - então pediu o partido árabe, que na verdade é uma coalisão de partidos árabes, para lhe dar a oportunidade de formar um governo de esquerda e derrubar o Netanyahu de uma vez por todas.

Os árabes, com 15 assentos deram a Ganz os 61 votos que ele precisava, mas todos sabiam que esta era apenas uma maioria técnica.

E porque Ganz pediu aos árabes para formar o governo? Tudo isso era apenas uma manobra política para ganhar o controle da Knesset e aprovar uma lei que impedisse qualquer um de ser primeiro ministro se estivesse indiciado. Em outras palavras, uma manobra para barrar Bibi Netanyahu enquanto ele não fosse inocentado das acusações.
Esta manobra não foi desenhada por Ganz, Bougy Ayalon ou Gaby Ashkenaki. Ela foi o bebê político do veterano Yair Lapid que tinha um acordo com Ganz, que o porta-voz da Knesset seria seu homem, Meir Cohen. E iria ser assim:

Com 61 votos, Ganz iria pedir ao presidente da Knesset Yuli Edelstein do Likud, para convir um plenário da nova Knesset e votar um novo presidente, tirando Edelstein do cargo. Yuli se recusou – e com razão já que os 61 eram apenas votos técnicos e não de um novo governo. Aí o Azul e Branco peticionou para a Suprema Corte para forçar Edelstein a convir o plenário. A Suprema Corte de Israel, sabidamente de esquerda, com juízes todos de esquerda, mandou Edelstein convir o plenário. Notem que o Conselheiro Legal da Knesset, mandou uma resposta à Suprema Corte de várias laudas, mas em menos de 25 minutos, a juíza presidente publicou sua decisão de 19 páginas, sem ao menos lidar com os argumentos da própria Knesset.

Gente, há uma razão pela qual em toda a democracia, há uma separação de poderes. O Executivo não pode impingir sobre o Legislativo ou este sobre o Judiciário e vice-versa. Este principio existe há 300 anos, foi criada para evitar que o poder de governo não fosse deixado inteiramente a um corpo ou a uma pessoa. O legislativo passa as leis que têm que ser aplicadas pelo executivo e serem cumpridas pelo judiciário. O Executivo não pode forçar o Judiciário a julgar um caso e muito menos o Judiciário pode forçar o Legislativo a convir um plenário.

Vendo este circo acontecer, Yuli Edelstein tomou a decisão mais sábia e resignou do cargo. Sem ele ou um substituto, não havia como convir um plenário e até outro ser escolhido levaria alguns dias. Por isto ele foi literalmente pisoteado pela mídia que, como a Suprema Corte, também é de esquerda.

Mas voltando aos eventos, tudo o que Lapid queria era se vingar de Bibi. Não importa se seu partido Azul e Branco não conseguisse formar o governo ou jogasse o país, no meio de uma crise sem precedentes, literalmente no lixo. Isto era algo pessoal que tinha que ser resolvido e tinha precedência sobre o destino do país.

Quando no começo da semana o presidente Rivlin se encontrou com ambos Bibi e Ganz, Ganz entendeu que era preciso formar pelo menos um governo de emergência para lidar com a situação do vírus. Após longas negociações em que ele conseguiu espremer o máximo de concessões de Netanyahu, Ganz  tentou convencer seus colegas de partido que havia chegado a hora de um acordo de união para formar o governo.

Vendo seu jogo desmoronar, Yair Lapid passou ao ataque contra Ganz. Ayalon que também tem ressentimento de Bibi por não ter estendido sua posição de chefe-de-estado maior como de praxe, se juntou ao Lapid. Sem outra opção viável, Ganz, com o apoio do Likud e dos partidos de direita então se candidatou a presidente da Knesset, provavelmente de modo temporário pois lhe espera um cargo de ministro ou vice-premier de Israel.

Quem saiu perdendo nesta história? O Yair Lapid e Bugy Ayalon, com certeza. Mas também Avigdor Lieberman que amarrou as eleições anteriores e apesar de ser de direita se declarou disposto a negociar com os árabes só para se livrar de Netanyahu. Este saiu sem nada.

Não é fácil ser político, ainda mais num país tão cheio de desafios como Israel. Com certeza Bibi apelou para o senso de patriotismo de Ganz, mostrando o que estão enfrentando, não só com o vírus, que se tornou premente, mas com os contínuos ataques vindos de Gaza. Sim, porque se pensaram que eles pararam, pois bem, não.

Netanyahu mostrou mais uma vez que é um político muito temperado e consegue tirar água de pedras. Mas para isso ele também precisou uma contraparte com audácia suficiente para tomar uma decisão difícil em prol do país, em detrimento de seus colegas de partido.

Para aqueles que chamaram Ganz de verme, de animal de estimação de Bibi e outras coisas  mais, saibam que ao contrário de vocês, por enquanto, ele irá entrar para a História como um estadista corajoso.



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