Sunday, October 10, 2010

Ahmadinejad no Líbano - 10/10/2010

Ahmadinejad está com viagem marcada para o Líbano nesta semana que entra. De acordo com suas declarações, ele quer ir para a fronteira com Israel e jogar pedras nos judeus. Para quem roubou a última eleição e matou centenas de Iranianos no processo, esta não é uma indignidade muito grande. Afinal de contas, isto tudo será contrabalançado pela fanfarra e recepção esplêndida que o governo libanês promete lhe fazer.


Mas qual é a mensagem que Ahmadinejad quer dar? Jogar algumas pedras não irá aumentar nossa convicção de que ele realmente odeia judeus e ou que queira destruir Israel. Ele já deixou isto bem claro.

A mensagem de Ahmadinejad é outra. Primeiro, Ahmadinejad está dizendo aos libaneses que quem manda no Líbano é ele. Segundo, ele quer mostrar que a influência dos Estados Unidos no país acabou, e que o primeiro ministro, Saad Hariri, precisa se curvar a esta nova realidade se quiser continuar no cargo. E terceiro, é uma mensagem ao povo iraniano e especialmente à oposição.

Desde a última guerra de Israel com o Líbano em 2006, a Hizbullah se fortaleceu substancialmente. E hoje, o grupo financiado pelo Irã tem todo interesse em aumentar as tensões no Oriente Médio, dando um golpe e tomando as rédeas do governo para cobrir ou desviar a atenção dos resultados da investigação do assassinato do primeiro ministro anterior Rafik Hariri.

O Tribunal Especial para o Líbano das Nações Unidas irá publicar os resultados nos próximos dias e ao que parece, jogar a culpa pelo assassinato diretamente na Hizbullah e na Síria. Mas a Hizbullah já está atacando o resultado. Nawaf al-Moussawi, um membro do parlamento líbanês avisou que qualquer libanês que aceitar as acusações do tribunal será morto como colaborador de Israel e dos Estados Unidos.

De acordo com jornais libaneses, milícias da Hizbullah já tomaram pontos estratégicos em todo o país sob o comando da guarda revolucionária Iraniana. A Hizbullah não reconhece a soberania do estado libanês, tem suas próprias forças de segurança, serviços de inteligência e sistemas de comunicação. A mensagem da Hizbullah é: se publicarem a verdade, tomamos o Líbano e vamos transformá-lo em outro Irã.

Ahmadinejad está procurando uma oportunidade para exportar sua revolução islâmica ao Líbano, criando instabilidade para desviar a atenção do seu programa nuclear e permitir que ele cumpra seu sonho de apagar Israel do mapa. E não podemos esquecer que uma vitória da Hizbullah em tomar o poder no Líbano, significará também uma vitória para o Hamas em Gaza, para a irmandade islâmica no Egito e para outros grupos terroristas islâmicos.

Hoje Ahmadinejad tem todo interesse de mostrar que o Líbano é colônia do Irã e até reinvindicar para si as reservas de gás encontradas por Israel em sua costa norte. Hoje ele não se importa em desfazer o mito de que a Hizbullah é simplesmente um partido político libanês e uma força militar como líderes na Europa costumam repetir.

E esta não é a primeira vez. Em Maio de 2008, depois da Hizbullah ameaçar tomar o poder no Líbano à força, conseguiu poder de veto absoluto em todas as decisões do governo. Então, quem é que governa lá de fato? O atual primeiro ministro, Saad Hariri, se viu na inconfortável posição de ter que se curvar para os Sírios e a Hizbullah, assassinos de seu pai.

Está claro que esta visita de Ahmadinejad foi marcada para neutralizar o impacto do resultado das investigações do Tribunal Especial das Nações Unidas. E para tanto, a Síria emitiu mandatos de prisão para 33 oficiais libaneses por terem “dado falso testemunho” aos investigadores e Nasrallah exigiu ontem à noite que Hariri e seus correligionários denunciem a validade do resultado.

Se Hariri se dobrar à esta exigência, irá destruir a única força política independente do Líbano. Mas seus esforços para conseguir apoio dos sauditas e egípcios para formar sua própria milícia junto com os cristãos contra a Hizbullah até agora não deram frutos. A falta de suporte dos árabes a Hariri é consequencia direta do efetivo abandono do primeiro ministro libanês pelos Estados Unidos.

Obama insiste em manter seu apoio ao exército libanês apesar de todas as evidências mostrarem que o exército está nas mãos da Hizbullah. Ainda, a obsessão de Obama com uma aproximação com a Síria para tentar mais este front de paz com Israel, fez com que qualquer ação contra Assad ficassem de lado. Em cima de tudo isto está o incompetente conselheiro para assuntos estratégicos de Obama, John Brennan que há alguns meses elogiou a Hizbullah e disse que era uma “organização muito interessante”.

A imbecilidade estratégica americana convenceu os líderes árabes que precisam ficar na moita e não se colocarem do lado errado com o Irã, especialmente com sua corrida para a bomba nuclear.

Finalmente, as visitas de Ahmadinejad ao sul do Líbano enviará uma mensagem muito clara ao povo iraniano. Um é para a oposição esquecer da idéia de tirá-lo do poder pois ele é a estrela da região. O outro é que se houver uma tomada de poder pela Hizbullah no Líbano, haverá certamente muito derramamento de sangue mostrando que este regime não hesitará a usar qualquer tipo de força para calar a oposição.

Com tudo isto, Israel deve estar sim preocupado com esta visita de Ahmadinejad ao Líbano porque ela aumenta as chances de uma nova guerra. Com seu total controle do sul do Líbano e mais de 40 mil mísseis, a Hizbullah pode começar uma outra guerra a qualquer minuto.

Esta semana foram liberados os arquivos das reuniões gabinete interno do governo de Israel acontecidas antes e durante a guerra de Yom Kippur em 1973. Na época, o Egito sabia que Israel tinha a vantagem estratégica mas os eventos antes da guerra, incluindo a aproximação de Sadat da União Soviética, convenceram a liderança de que o ataque lhes daria uma vitória política. E estavam certos. Um ano mais tarde, os Estados Unidos começaram a pressionar Israel a se retirar do Sinai.

O Chefe do Estado Maior hoje, Gaby Ashkenazi fez um comentário bem colocado sobre o conteúdo dos arquivos. Ele disse que a maior lição de 1973 é que “temos que estar com o dedo sempre no pulso e não descartar qualquer inimigo, sermos modestos em nossas avaliações, perguntar, levantar dúvidas e estarmos cientes que não podemos nos agarrar nos sucessos de ontem, porque eles não são válidos hoje”.

A insegurança dos estados árabes, a elevação do Irã no Líbano e em toda a região, o declínio da influência dos Estados Unidos no Oriente Médio como um todo, as vozes de simpatia para com a Hizbullah da administração Obama, tudo isto aumentará as chances de que o Irã dê a ordem de ataque.

Obviamente, Israel precisa se preparar para a guerra tanto no norte, como no sul como Hamas, outro filhote do Irã, e para o impacto político que ela poderá acarretar. Mas o que é importante aqui, é que pelo menos o exército de Israel parece ter aprendido com a história. Ashkenazi, como seu chefe supremo, declarou que a guerra de 73 e os dias que a antecederam, ensinaram-nos a questionar mesmo as coisas que sabiamos ser verdade, a contradizer axiomas e acima de tudo, a não nos apaixonarmos por nossas próprias idéias. E a não sermos cativos de um só conceito, não importa quão bem ele seja formulado”.

Agora são os políticos de Israel é que precisam ser convencidos...

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