Sunday, July 10, 2022

A Visita de Biden a Israel - 10/07/2022

 

Em seu livro de memórias de 2014, Robert Gates, o secretário de Defesa dos governos Bush e Obama, disse que Biden “esteve errado em quase todas as principais questões de política externa e segurança nacional nas últimas quatro décadas”.

De fato, se olharmos para sua lista de posições, esta afirmação é verdadeira.

Em 1975, Biden se opôs a dar ajuda ao governo sul-vietnamita durante sua guerra contra o Norte, garantindo a vitória de um regime brutal e causando um êxodo em massa de refugiados.

Em 1991, Biden se opôs à Guerra do Golfo, uma das campanhas militares mais bem-sucedidas da história americana. Mas em 1998 criticou o primeiro presidente Bush por não ter deposto Saddam Hussein.

Em 2003, Biden apoiou a Guerra do Iraque, mas em 2007, ele se opôs à estratégia de aumentar as tropas, chamando-a de “erro trágico”. Na verdade, o aumento levou a um progresso impressionante, incluindo quedas dramáticas nas mortes de civis e violência sectária.

Em dezembro de 2011, o presidente Barack Obama e o vice-presidente Biden decidiram retirar a reduzidíssima presença de tropas americanas no Iraque declarando que o Iraque “poderia ser uma das grandes conquistas deste governo”. Sua decisão levou o Iraque a uma espiral de violência sectária e guerra civil, permitindo que o Irã expandisse sua influência e abrindo caminho para a ascensão do ISIS.

Sobre o ataque que matou bin Laden, Obama escreveu em suas memórias, que Biden o aconselhou a postergar a ação.

Em 2012, Biden disse em uma entrevista que “o Talibã em si não era nosso inimigo”. Ele acrescentou: “Se, de fato, o Talibã for capaz de derrubar o governo existente, que está cooperando conosco para impedir que os bandidos possam nos causar danos, então isso se tornará um problema para nós”. Pois é.

Em 2021, a desastrosa e estabanada retirada americana do Afeganistão mergulhou o país novamente na Idade da Pedra, as meninas e moças proibidas de frequentarem a escola, universidades, ou de trabalharem e a fome hoje impera.

E isso para não falar de Israel.

Biden sempre foi consistente em opor os assentamentos judaicos onde quer que sejam, mesmo bairros judaicos de Jerusalem. Ele e Obama pressionaram Netanyahu a congelar qualquer construção, mesmo as de dentro de cidades judaicas na Judeia e Samaria por mais de um ano para supostamente trazer Mahmoud Abbas de volta à mesa de negociações, o que não aconteceu. Quando o Hamas atacou Israel, ele pressionou Israel para declarar um cessar-fogo unilateral que só encorajaria o Hamas a continuar lançando mísseis em Israel.

Por que Biden está tão consistentemente errado em questões importantes de política externa? Será que ele não consegue entender os fatos, ou possui um instinto defeituoso?

Para começar, precisamos reconhecer que Biden nunca foi uma pessoa de inteligência superior. Ele procura compensar por um complexo de inferioridade intelectual, que se mostrou na sua história de plágio, mentiras sobre suas realizações acadêmicas e outros exageros. É um homem que se comporta como se soubesse muito mais do que sabe, que arrogantemente confia mais em seu próprio julgamento do que nos conselhos contrários de especialistas. Seus pontos fortes sempre foram suas habilidades pessoais de relacionamento. Sua capacidade de dar abraços, tapinhas nas costas, apertar as mãos. Isso está bem longe de conferir a alguém uma visão estratégica e uma compreensão sofisticada de eventos e forças históricas.

E por que isso é importante?

Porque Biden está indo para Israel esta semana.

Sem dúvida, a visita de um presidente americano a Israel é uma tremenda oportunidade para fortalecer as relações com os EUA, um aliado de longo tempo, bem como com os países árabes moderados da região. Mostra que sua aliança com os EUA é firme e sólida e que Israel continua a desfrutar de um relacionamento próximo e especial com Washington.

Além da ótica que a visita transmite para amigos e inimigos, o que Israel quer com esta visita? Primeiro, Israel quer ser incluída na coordenação das tratativas com os iranianos. Ela quer coordenar com Biden o que acontecerá em relação à República Islâmica se não houver um novo acordo nuclear e quer saber que tipo de arquitetura de segurança os EUA planejam para o Oriente Médio nessa eventualidade. Israel não quer apenas ouvir, quer dar sua opinião. Além disso, Israel também quer ouvir de Biden o que os EUA planejam fazer se um acordo for assinado e o Irã o violar.

Mas Biden não está vindo para Israel para sair sem nada e seu governo reconhece a fraqueza do atual governo de transição, e as equipes que já chegaram ao país estão solicitando concessões de Israel que nunca ousariam pedir se Israel tivesse um governo de direita forte. Primeiro, o consentimento de Israel para o estabelecimento de uma representação da Autoridade Palestina na travessia de Allenby com a Jordânia e segundo, o consentimento tácito, e talvez até expresso do primeiro-ministro Yair Lapid, para a visita de Biden a instituições simbólicas da AP no leste de Jerusalém. Essas concessões provavelmente custarão caro a Israel nos próximos anos. Nenhum presidente americano jamais visitou Jerusalém do Leste e isso poderá abrir o caminho para os Estados Unidos desafiarem a soberania de Israel sobre Jerusalém. Lapid, como primeiro-ministro interino, está dando luz verde a eles, mas não tem autoridade para permitir que tal manobra ocorra.

Biden também passará algumas horas na Autoridade Palestina com o presidente da AP Mahmoud Abbas. Lá, também, Biden ouvirá pedidos. Os palestinos vão querer ouvir Biden falar sobre a solução de dois Estados e dar passos concretos para trabalhar em direção a um “horizonte diplomático”. Eles vão querer concessões sobre a abertura de um consulado em Jerusalém Oriental, a reabertura do escritório da Organização para a Libertação da Palestina em Washington e promessas de mais apoio financeiro à AP.

Eles provavelmente ficarão desapontados, pois – ao contrário de outros presidentes em viagens a Israel e ao Oriente Médio – a questão palestina, não está nem perto do topo da agenda do presidente para esta viagem.

Na sexta-feira, Biden será o primeiro presidente americano a voar de Israel diretamente para a Arabia Saudita, que é realmente o que interessa a Biden. Ele quer melhorar as relações depois que disse que os sauditas deveriam ser tratados como “párias” pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

Na Arábia Saudita, tanto Biden quanto os sauditas têm seus desejos.

Biden quer, na verdade, ele precisa desesperadamente, que os sauditas aumentem a produção de petróleo para compensar as deficiências no fornecimento causadas por sua própria política interna verde de ter fechado a produção de carvão e reduzido a prospecção de petróleo. Isso, junto com a invasão da Ucrânia pela Rússia, levou à disparada dos preços da gasolina nos EUA.

O presidente está fazendo sua viagem ao Oriente Médio enquanto a economia americana está em crise, levando seus números de popularidade ao tanque. Biden espera que na Arábia Saudita possa encontrar uma cura, pelo menos, para os preços do combustível.

Mas isso pode ser um pedido grande demais. Os sauditas, se ressentem da maneira miserável com que foram tratados por Biden e por este governo, e não têm muita pressa em ajudar o presidente. A redução dos preços da gasolina ajudará os democratas – prestes a serem derrotados em cinco meses nas eleições para o Congresso dos EUA. Os sauditas não estão interessados ​​em que os democratas se saiam bem nas pesquisas. Se qualquer coisa, eles prefeririam um Congresso republicano e – em mais dois anos – um presidente republicano.

Os sauditas também têm seus desejos. Eles querem que os EUA reconheçam que Riad é um parceiro estratégico leal há 80 anos; querem que os EUA reconheçam que o país sofreu com os ataques dos Houthis; querem que os Houthis sejam recolocados na lista americana de organizações terroristas; querem o respeito de Washington, e não serem vistos meramente como o posto de gasolina dos Estados Unidos.

Além disso, eles querem garantias de Biden de que podem contar que os EUA não estão se retirando da região e ainda estão dispostos a usar seu vasto poder militar para protegê-los do Irã.

Biden voará para uma região esta semana na qual muitas partes diferentes têm pedidos e expectativas diferentes, às vezes conflitantes. Inevitavelmente, algumas delas vão se decepcionar. O próprio Biden pode estar entre elas.

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