Em seu livro de memórias de 2014, Robert Gates,
o secretário de Defesa dos
governos Bush e Obama,
disse que Biden “esteve errado em quase todas as principais questões de política
externa e segurança nacional nas últimas quatro décadas”.
De fato, se
olharmos para sua lista de posições, esta afirmação é verdadeira.
Em 1975, Biden
se opôs a dar ajuda ao governo sul-vietnamita durante sua guerra contra o
Norte, garantindo a vitória de um regime brutal e causando um êxodo em massa de
refugiados.
Em 1991,
Biden se opôs à Guerra do Golfo, uma das campanhas militares mais bem-sucedidas
da história americana. Mas em 1998 criticou o primeiro presidente Bush por não ter
deposto Saddam Hussein.
Em 2003,
Biden apoiou a Guerra do Iraque, mas em 2007, ele se opôs à estratégia de aumentar
as tropas, chamando-a de “erro trágico”. Na verdade, o aumento levou a um
progresso impressionante, incluindo quedas dramáticas nas mortes de civis e
violência sectária.
Em dezembro
de 2011, o presidente Barack Obama e o vice-presidente Biden decidiram retirar
a reduzidíssima presença de tropas americanas no Iraque declarando que o Iraque
“poderia ser uma das grandes conquistas deste governo”. Sua decisão levou o
Iraque a uma espiral de violência sectária e guerra civil, permitindo que o Irã
expandisse sua influência e abrindo caminho para a ascensão do ISIS.
Sobre o
ataque que matou bin Laden, Obama escreveu em suas memórias, que Biden o
aconselhou a postergar a ação.
Em 2012, Biden
disse em uma entrevista que “o Talibã em si não era nosso inimigo”. Ele
acrescentou: “Se, de fato, o Talibã for capaz de derrubar o governo existente,
que está cooperando conosco para impedir que os bandidos possam nos causar
danos, então isso se tornará um problema para nós”. Pois é.
Em 2021, a
desastrosa e estabanada retirada americana do Afeganistão mergulhou o país
novamente na Idade da Pedra, as meninas e moças proibidas de frequentarem a
escola, universidades, ou de trabalharem e a fome hoje impera.
E isso para
não falar de Israel.
Biden sempre
foi consistente em opor os assentamentos judaicos onde quer que sejam, mesmo
bairros judaicos de Jerusalem. Ele e Obama pressionaram Netanyahu a congelar
qualquer construção, mesmo as de dentro de cidades judaicas na Judeia e Samaria
por mais de um ano para supostamente trazer Mahmoud Abbas de volta à mesa de
negociações, o que não aconteceu. Quando o Hamas atacou Israel, ele pressionou
Israel para declarar um cessar-fogo unilateral que só encorajaria o Hamas a
continuar lançando mísseis em Israel.
Por que Biden está tão
consistentemente errado em questões importantes de política externa? Será
que ele não
consegue entender os fatos, ou possui um instinto defeituoso?
Para começar, precisamos reconhecer que Biden nunca foi uma
pessoa de inteligência superior. Ele procura compensar por um complexo de inferioridade
intelectual, que se mostrou na sua história de plágio, mentiras sobre suas realizações
acadêmicas e outros exageros. É um homem que se comporta como se soubesse muito mais do que
sabe, que arrogantemente confia mais em seu próprio julgamento do
que nos conselhos
contrários de especialistas. Seus pontos fortes sempre foram suas habilidades pessoais
de relacionamento. Sua capacidade de dar abraços, tapinhas nas costas, apertar
as mãos. Isso está bem longe de conferir a alguém uma visão estratégica e uma compreensão sofisticada de
eventos e forças históricas.
E por que
isso é importante?
Porque
Biden está indo para Israel esta semana.
Sem dúvida, a
visita de um presidente americano a Israel é uma tremenda oportunidade para fortalecer
as relações com os EUA, um aliado de longo tempo, bem como com os países árabes
moderados da região. Mostra que sua aliança com os EUA é firme e sólida e que Israel
continua a desfrutar de um relacionamento próximo e especial com Washington.
Além da ótica
que a visita transmite para amigos e inimigos, o que Israel quer com esta
visita? Primeiro, Israel quer ser incluída na coordenação das tratativas com os
iranianos. Ela quer coordenar com Biden o que acontecerá em relação à República
Islâmica se não houver um novo acordo nuclear e quer saber que tipo de
arquitetura de segurança os EUA planejam para o Oriente Médio nessa
eventualidade. Israel não quer apenas ouvir, quer dar sua opinião. Além disso,
Israel também quer ouvir de Biden o que os EUA planejam fazer se um acordo for
assinado e o Irã o violar.
Mas Biden não
está vindo para Israel para sair sem nada e seu governo reconhece a fraqueza do
atual governo de transição, e as equipes que já chegaram ao país estão
solicitando concessões de Israel que nunca ousariam pedir se Israel tivesse um
governo de direita forte. Primeiro, o consentimento de Israel para o
estabelecimento de uma representação da Autoridade Palestina na travessia de
Allenby com a Jordânia e segundo, o consentimento tácito, e talvez até expresso
do primeiro-ministro Yair Lapid, para a visita de Biden a instituições
simbólicas da AP no leste de Jerusalém. Essas concessões provavelmente custarão
caro a Israel nos próximos anos. Nenhum presidente americano jamais visitou
Jerusalém do Leste e isso poderá abrir o caminho para os Estados Unidos
desafiarem a soberania de Israel sobre Jerusalém. Lapid, como primeiro-ministro
interino, está dando luz verde a eles, mas não tem autoridade para permitir que
tal manobra ocorra.
Biden também
passará algumas horas na Autoridade Palestina com o presidente da AP Mahmoud
Abbas. Lá, também, Biden ouvirá pedidos. Os palestinos vão querer ouvir Biden
falar sobre a solução de dois Estados e dar passos concretos para trabalhar em
direção a um “horizonte diplomático”. Eles vão querer concessões sobre a
abertura de um consulado em Jerusalém Oriental, a reabertura do escritório da
Organização para a Libertação da Palestina em Washington e promessas de mais
apoio financeiro à AP.
Eles
provavelmente ficarão desapontados, pois – ao contrário de outros presidentes
em viagens a Israel e ao Oriente Médio – a questão palestina, não está nem
perto do topo da agenda do presidente para esta viagem.
Na sexta-feira,
Biden será o primeiro presidente americano a voar de Israel diretamente para a
Arabia Saudita, que é realmente o que interessa a Biden. Ele quer melhorar as
relações depois que disse que os sauditas deveriam ser tratados como “párias”
pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.
Na Arábia
Saudita, tanto Biden quanto os sauditas têm seus desejos.
Biden quer,
na verdade, ele precisa desesperadamente, que os sauditas aumentem a produção
de petróleo para compensar as deficiências no fornecimento causadas por sua
própria política interna verde de ter fechado a produção de carvão e reduzido a
prospecção de petróleo. Isso, junto com a invasão da Ucrânia pela Rússia, levou
à disparada dos preços da gasolina nos EUA.
O presidente
está fazendo sua viagem ao Oriente Médio enquanto a economia americana está em
crise, levando seus números de popularidade ao tanque. Biden espera que na
Arábia Saudita possa encontrar uma cura, pelo menos, para os preços do
combustível.
Mas isso pode
ser um pedido grande demais. Os sauditas, se ressentem da maneira miserável com
que foram tratados por Biden e por este governo, e não têm muita pressa em
ajudar o presidente. A redução dos preços da gasolina ajudará os democratas –
prestes a serem derrotados em cinco meses nas eleições para o Congresso dos
EUA. Os sauditas não estão interessados em que os democratas se saiam bem nas
pesquisas. Se qualquer coisa, eles prefeririam um Congresso republicano e – em
mais dois anos – um presidente republicano.
Os sauditas
também têm seus desejos. Eles querem que os EUA reconheçam que Riad é um
parceiro estratégico leal há 80 anos; querem que os EUA reconheçam que o país
sofreu com os ataques dos Houthis; querem que os Houthis sejam recolocados na
lista americana de organizações terroristas; querem o respeito de Washington, e
não serem vistos meramente como o posto de gasolina dos Estados Unidos.
Além disso,
eles querem garantias de Biden de que podem contar que os EUA não estão se
retirando da região e ainda estão dispostos a usar seu vasto poder militar para
protegê-los do Irã.
Biden voará
para uma região esta semana na qual muitas partes diferentes têm pedidos e
expectativas diferentes, às vezes conflitantes. Inevitavelmente, algumas delas
vão se decepcionar. O próprio Biden pode estar entre elas.
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