Biden está de
volta aos Estados Unidos depois de sua viagem de quatro dias ao Oriente Médio. Seu
objetivo foi sem dúvida a última parada, a Arabia Saudita, mas para não ficar tão
evidente, ele parou em Israel e na Autoridade Palestina.
A viagem à
Israel foi descrita como um sucesso. Biden fez o que ele sabe fazer melhor: se
ajoelhou perante duas sobreviventes do Holocausto, foi à abertura da Macabíada,
fez uma declaração conjunta com o Primeiro-Ministro do dia, Yair Lapid e
reafirmou os fortes laços que ligam as duas nações. Mas Biden também exigiu
fazer uma visita à Jerusalem do Leste, ao Hospital Augusta Victoria, sem estar
acompanhado por qualquer israelense e retirando a bandeira de Israel que junto
com a dos Estados Unidos enfeitavam a “besta”, seu carro forte. A mensagem não
poderia ser mais clara que hoje a América não mais reconhece Jerusalem como a
capital eterna e indivisível do povo judeu.
Depois ele
foi para Belém, que fica a alguns minutos ao sul de Jerusalem e não para
Ramallah por razões de segurança, imaginem só. Ramallah fica a apenas 21 km de distância.
O que ficou marcado na visita a Belém, além das ameaças de Abbas sobre o estado
de apartheid de Israel, foi a desafinação da orquestra palestina ao tocar o
hino americano e o silêncio do presidente Biden sobre o assassinato do
jornalista palestino Nizar Banat que foi surrado até a morte por policiais de
Abbas. Mas tudo isso foi muito rápido e Biden então voltou sua atenção para o
verdadeiro propósito de sua viagem: a Arabia Saudita.
Desde a sua campanha,
Biden não parou de criticar os sauditas especialmente pelo assassinato do
jornalista Jamal Khashoggi na embaixada saudita em Istambul. Biden jurou que os
sauditas pagariam o preço e seriam os párias do mundo se ele fosse eleito.
Claro, as políticas de Trump na época haviam tornado os Estados Unidos
independentes em energia permitindo uma torcida de nariz para a OPEC. Mas as
políticas verdes de Biden mudaram isso e a invasão da Ucrânia piorou a situação.
Hoje de novo os Estados Unidos são dependentes da importação de petróleo e o
preço do barril não sai da casa dos $100. Com toda a sua suposta “experiencia”
em relações internacionais Biden deveria ter ficado calado.
Mas a crise não
começou aí.
Quando o
presidente americano, Barack Obama, assumiu o cargo, ele promoveu uma política
de apaziguamento com Teerã. Sua esperança era que os benefícios econômicos que
viriam com um acordo nuclear convenceriam os mulás a se corrigirem. Essa visão
de mundo também foi compartilhada pelos signatários europeus do acordo.
Infelizmente,
o preço do erro de cálculo de Obama foi pago pelos países do Oriente Médio. Em
vez de colher os benefícios econômicos advindos do acordo e normalizar seus
laços com o resto do mundo, como esperado Teerã insistiu em manter sua política
expansionista na região. Em vez de se voltar para seus problemas internos e
trabalhar para promover o bem-estar de seus cidadãos, o Irã fez exatamente o
oposto.
Quando Joe
Biden assumiu a Casa Branca, as relações entre os EUA e a Arábia Saudita
continuaram a piorar. Biden restringiu a compra de armas defensivas da Arábia
Saudita e removeu os Houthis da lista de organizações terroristas estrangeiras.
Ainda, logo no início de seu mandato, Biden procurou de todos os modos reviver
o acordo nuclear de Obama, com todas as suas falhas e desvantagens, às custas
de seus ex-aliados no Oriente Médio – incluindo Israel, Egito, Jordânia e
Estados do Conselho de Cooperação do Golfo.
E foi um
insulto pessoal que Biden fez a Mohamed Bin Salman, acusando o príncipe de ter
autorizado o assassinato de Khashoggi que levou o reino, ao lado de vários
outros países árabes aliados dos EUA, a buscar novos caminhos em relações internacionais
e pavimentando o caminho para o diálogo com Israel.
E foi
surpreendente ver alguns especialistas políticos dizerem que a viagem de Biden tiraria
a Arábia Saudita do “isolamento”. Riad nunca esteve isolada. Pelo contrário,
foram os Estados Unidos que ficaram isolados devido à sua política externa
ilusória, inspirada no legado de Obama. Essa política falhou no Oriente Médio,
assim como na Ucrânia, com a Rússia, e com a China.
Mas voltando
a Israel, de todas as declarações de Biden, suas juras de apoio, de seu suposto
sionismo, foi a reiteração do seu apoio à uma solução de dois estados, com um
estado palestino contíguo e com a capital palestina em Jerusalem do Leste que
foi a mais irritante. Primeiramente, para dar contiguidade ao estado palestino,
entre Gaza e a Judeia e Samaria, será preciso cortar Israel em dois além de
expulsar 700 mil judeus da Judeia, região que deu origem ao seu nome. Ainda, as
linhas de 1967 são na verdade as linhas de armistício entre Israel, a Jordânia
e o Egito depois da guerra de 1948 que hoje não dão qualquer profundidade
estratégica a Israel, nem mesmo para decolar aviões do Aeroporto internacional.
Em alguns lugares Israel teria uma largura de apenas 14 km. As linhas de
Auschwitz como dizia o Ministro das Relações Exteriores de Israel Abba Eban.
Com estas declarações
absurdas desta administração americana que só fortalecem a irredutibilidade de
posição dos palestinos, não há como voltar à mesa de negociação. Mas os
palestinos podem contar também com os europeus para isso. Nesta última terça-feira,
nove países europeus declararam que continuariam apoiando as ONGs palestinas
designadas por Israel no ano passado como organizações terroristas.
Em uma
declaração conjunta, os ministérios das Relações Exteriores da Bélgica,
Dinamarca, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Espanha e Suécia argumentaram
que Israel não havia fornecido “informações suficientes…sobre estes grupos da
sociedade civil”.
Referindo-se
à área em que as referidas organizações operam como Territórios Palestinos
Ocupados – e não Autoridade Palestina – esses membros da UE disseram que “se
houver evidência em contrário, agiremos de acordo”. Isso foi depois de
professarem levar “acusações de terrorismo ou ligações a grupos terroristas …
com a máxima seriedade”.
Para
justificar o financiamento destas ONGs, estes países declararam que “uma
sociedade civil livre e forte é indispensável para promover os valores
democráticos e para a solução de dois Estados”. Esta frase por si só é prova da
cegueira deliberada da Europa quando se trata de todas as coisas palestinas.
Em primeiro
lugar, não há nada de “livre” na AP, que é controlada por tiranos e corruptos.
Em segundo lugar, nenhum “valor democrático” está sendo promovido pelos chefões
de Gaza e Ramallah. Nem eles mesmos pedem por uma “solução de dois estados”. Muito
pelo contrário. Eles educam as crianças para odiar os judeus e Israel; enchem
suas salas de aula e meios de comunicação com propaganda que encoraja a
destruição do estado judeu; e pagam salários nababescos para aqueles que
realizam ataques contra Israel e seus habitantes.
Há menos de
duas semanas, o primeiro-ministro da AP, Mohammad Shtayyeh, acusou Israel de
“aumentar a dor das famílias enlutadas pela perda de seus filhos, retendo seus
cadáveres para usá-los nos laboratórios das faculdades de medicina de Israel em
flagrante violação dos direitos humanos, valores, princípios e ética
científica”. E assim ele pediu o boicote das universidades israelenses.
Essa farsa
palestina, uma entre muitas, é digna de nota por sua inerente ironia. Ou
Shtayyeh não percebe ou não se importa que um setor em Israel que é
especialmente simpático a ele e seus colegas mentirosos é a academia. De fato,
os campi israelenses estão repletos de professores e estudantes de esquerda –
judeus e árabes – protestando a “ocupação”.
O que nos
leva ao turbilhão que explodiu na esquerda, em Israel e no exterior, quando o
ministro da Defesa, Benny Gantz, anunciou no final de outubro que ele estava designando
seis ONGs palestinas como organizações terroristas pois eram de fato, braços da
Frente Popular para a Libertação da Palestina; uma organização apoiada pelo
Irã, proibida nos EUA, UE, Canadá, Austrália e Israel, cujo principal objetivo é
a destruição de Israel.
Organizações
de esquerda nos EUA se referiram à designação como uma “medida repressiva” para
tornar ilegal grupos importantes de direitos humanos palestinos. Sim, direitos
humanos. Até parece que a Frente Popular para a Libertação da Palestina é
conhecida como defensora destes valores. A congressista americana Ilhan Omar
twitou que Israel deveria ser punida. Os partidos árabes e de esquerda de
Israel também denunciaram a listagem.
O Professor
Gerald Steinberg presidente da organização que monitora ONGs, defendeu o Ganz.
Ele disse que para entender a decisão era preciso olhar para o contexto
político e ideológico. “Atrás do rótulo de ONGs estas redes são parte integral
da estratégia palestina. Elas recebem fundos de governos estrangeiros,
principalmente europeus em troca de influência e informação. Sob o disfarce de
sociedade civil, as ONGs cooperam com seus patrocinadores europeus, promovendo
a guerra de poder contra Israel, incluindo as campanhas de apartheid e crimes
de guerra.”
Steinberg explicou,
que “a designação israelense constitui uma grande ameaça para os atores
investidos nas ONGs e suas campanhas políticas.
“Quando as
autoridades europeias dizem que não veem ‘nenhuma evidência’ das ligações
terroristas de ONGs palestinas, estão ignorando vários exemplos verificáveis abertamente,
inclusive na mídia. Não há desculpa para esse abuso cego dos fundos públicos”.
Bruxelas,
Copenhague, Paris, Berlim, Dublin, Roma, Amsterdã, Madri e Estocolmo claramente
discordam. O que seus governos não conseguem ver é que não são apenas suas
próprias populações que são roubadas como resultado desta loucura.
Enquanto o
dinheiro for jogado na direção errada e concedido a maus atores, os palestinos
não poderão criar uma “sociedade civil” de qualquer tipo, muito menos uma
sociedade livre e democrática ou que respeita direitos humanos.
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