Jonathan Pollard está finalmente livre. Mas o caso do acusado americano que teria passado segredos para Israel ficará como o mais vil da história da espionagem. Pollard foi condenado por espionagem por ter entregado a Israel, um país aliado, documentos que os Estados Unidos se haviam obrigado a entregar a Israel, mas decidiu segurar.
A maior pena dada a outros que
espionaram para países aliados foi de 16 anos. A média? Somente de 2 a 4 anos.
Pollard pegou prisão perpétua e ficou encarcerado por 30 anos sendo que os
primeiros sete anos em confinamento solitário. Depois de sua soltura em 2015
ele foi obrigado a ficar outros cinco anos usando uma pulseira eletrônica,
proibido de sair de casa entre 7 da noite e 7 da manhã; proibido de ter um
computador e ter seus telefones foram constantemente monitorados.
Só a título de comparação,
americanos que espionaram para a União Soviética, um país inimigo na época da
Guerra Fria, como David Boone, Clayton Lonetree, Harold Nicholson, Earl Edwin
Pitts e outros, todos pegaram ou foram soltos antes de 30 anos. Alguns foram
responsáveis pela morte de dezenas de espiões americanos. Então por quê
Pollard?
Acreditem se quiserem. Mas
porque Pollard é judeu. E não sou eu quem fala. Quem fez esta bombástica
declaração foi não outro que o ex-diretor da CIA, James Woosley, numa carta ao
editor ao jornal The Wall Street Journal em 5 de julho de 2012.
Naquela carta ao editor,
Woosley disse que “quando recomendou contra dar clemencia a Pollard, ele estava
preso menos que uma década. Hoje ele está encarcerado por mais de 25 anos de
sua sentença de prisão perpétua”. Ele descreveu como entre mais de 50
condenados por espionarem para a Russia e China, somente dois foram
sentenciados à prisão perpétua. Dois terços foram sentenciados a períodos de
prisão menores que Pollard já havia servido. Ele ainda observou que “Pollard
havia cooperado completamente com o governo americano, prometera não lucrar com
seu crime (através da publicação de um livro), e muitas vezes expressara
remorso”.
Woosley não tinha dúvidas que
Pollard ainda estava preso somente por ser judeu. Ele afirmou que
“antissemitismo teve um papel importante na prisão de Pollard... Para aqueles
que ainda se atém ao fato que ele é um judeu americano, imaginem que ele é um
grego ou coreano ou filipino americano e libertem-no”.
Pois é. Isso e mais ainda. Por
ser o único espião judeu, Pollard foi considerado como uma carta na manga de
várias administrações americanas em sua política para com Israel.
Pollard sempre evitou a
política. Ele sempre recusou ser moeda de troca por terroristas palestinos ou
por terras que Israel teria que ceder aos palestinos. E isso aconteceu em mais
de uma ocasião. Durante os acordos de Wye River que Netanyahu assinou em 1998,
estava tão claro que a libertação de Pollard seria parte do acordo, que seus
pais foram instruídos a se prepararem para receberem seu filho, e pacotes de
mídia foram preparados.
O ex-porta-voz de Netanyahu,
Aviv Bushinsky, lembrou que antes de ir para Wye, Netanyahu fez pesquisas para
determinar como amenizar o golpe da renúncia de terras que estavam no acordo. A
pesquisa concluiu que ele deveria trazer Azzam Azzam do Egito e Pollard dos
EUA. O então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, prometeu a Netanyahu
que Pollard faria parte do acordo. Mas na véspera da assinatura, Clinton avisou
Netanyahu que Pollard estava fora do acordo porque o diretor da CIA George
Tenet, havia ameaça renunciar.
Anos mais tarde, o negociador
norte-americano Dennis Ross revelou em seu livro de 2005, The Missing Peace,
que havia aconselhado Clinton a manter Pollard na prisão como moeda de troca
para negociações de paz definitivas.
Clinton perguntou a Ross: “É
Pollard uma grande questão política em Israel e poderá ajudar Bibi?”. “Sim”,
respondeu Ross, “porque ele é considerado um soldado de Israel” e “existe um
ethos em Israel de que você nunca deixa um soldado para trás no campo. Mas se
você quiser meu conselho, eu não o liberaria agora. Seria uma grande recompensa
para Bibi; você não tem muitos assim no bolso. Eu o guardaria para um status
permanente. Você precisará disso mais tarde; não o use agora.”
É surpreendente que Dennis Ross
tenha feito esta revelação em seu livro. Até onde a falta de ética pode ir,
brincando com a vida de pessoas, por proveito político?
Em 2014, um ano antes de
Pollard ser libertado em condicional, outra tentativa foi feita sem sucesso. O
então presidente Shimon Peres, que era primeiro-ministro no momento da prisão
de Pollard e deu aos EUA documentos com as impressões digitais de Pollard que o
incriminaram, tentou persuadir o então presidente dos EUA Barack Obama a
intervir.
Os dois presidentes se
encontrariam em Washington durante a última viagem de Peres no cargo em 25 de
junho, seis dias antes da audiência de liberdade condicional. Peres jurou ao
povo de Israel que iria pedir por Pollard, e seus advogados o prepararam
meticulosamente.
A mensagem de Peres para Obama
foi a seguinte: você não precisa conceder clemência. Na verdade, você pode se
distanciar completamente do assunto. Em particular, informe ao Departamento de
Justiça dos Estados Unidos que você não se opõe à liberdade condicional de
Pollard e à sua partida para Israel. Obama não precisaria sujar as mãos, apenas
manter o compromisso que assumira com os israelenses 15 meses antes, de tratar
Pollard com justiça, como qualquer outro prisioneiro, e deixar que sua
liberdade condicional fosse avaliada naturalmente com base no mérito de seu
caso.
Após a reunião, o conselheiro
diplomático de Peres, Nadav Tamir, anunciou que “a mensagem havia sido entregue”.
Aí o gabinete de Peres vazou o fato para a imprensa e disse que “Toda a nação
está interessada em libertar Pollard e eu sou o emissário da nação”. Mas todas
as esperanças de que a audiência fosse justa foram frustradas imediatamente. Os
representantes do governo trataram Pollard com desprezo, impediram seu advogado
de apresentar seu caso e deixaram claro que ele não veria o Estado judeu tão
cedo, se nunca. Os presentes descreveram a audiência como um "um
linchamento".
Agora, imagine que isto
aconteceu na mesma época em que Obama pedia a Bibi um gesto de “boa vontade” e
libertar 104 prisioneiros palestinos, com sangue em suas mãos, para que a
Autoridade Palestina voltasse à mesa de negociações. Nenhum país no mundo aceitaria libertar 104
terroristas como um gesto de “boa vontade”, muito menos os Estados Unidos.
A liberdade condicional de
Pollard veio um ano depois, em 2015, e foi concedida por motivos técnicos, não
políticos. As restrições de liberdade condicional sem precedentes que ele
enfrentou eram típicas de Pollard, cuja prisão perpétua também foi uma exceção
à regra.
Ele ficou preso 20 anos a mais
do que qualquer outra pessoa na mesma situação. Ele foi vítima de uma tentativa
de torná-lo um exemplo e dissuadir futuros espiões. O acordo de confissão que
ele assinou, que deveria garantir que ele não receberia uma sentença de prisão
perpétua, foi ignorado. Pollard não pode ser comparado completamente com os casos
de Dreyfus na França, ou do Rabbi Chaim Shapira na Polonia, porque ele foi
mesmo um espião para Israel. Mas sem dúvida o que moveu seu processo foi o
mesmo dos outros dois. Antissemitismo puro e simples.
É justo que Pollard finalmente tenha conseguido sua libertação na
sexta-feira - não por causa da política, mas apesar dela.
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