Sunday, March 27, 2022

A Estratégia da OTAN na Ucrania - 27/03/2022

 

Você sempre pode contar com Joe Biden para fazer uma grande gafe e mandar uma mensagem errada para amigos e inimigos.

Somente nesta semana, em sua viagem à Polonia, e falando com seus aliados na OTAN, foram pelo menos três. Primeiro, ele afirmou que as sanções contra a Rússia nunca tiveram e não têm o objetivo de dissuasão. Alguém tem que enviar o memorando para sua administração, porque da Vice Kamala Harris até os porta-vozes da Casa Branca, do Pentágono e do Departamento de Defesa, a mensagem é exatamente a oposta. As sanções foram impostas para dissuadir a Rússia de continuar com sua investida contra a Ucrânia.

Depois, em seu encontro com as tropas americanas na Polonia, Biden disse aos soldados que eles iriam ver como os Ucranianos estavam lutando e a devastação dos refugiados, insinuando que eles iriam entrar na Ucrânia, algo que a administração americana nega categoricamente. E aí ontem à tarde, Biden terminou seu discurso dizendo que Putin não poderia continuar no poder, efetivamente pedindo uma mudança de governo na Rússia. Imediatamente seus porta-vozes correram para negar, e “explicar” o que o presidente quis dizer.

Esta foi uma declaração chocante de Biden e é sem precedentes na história diplomática entre os Estados Unidos e a Rússia.  

Estas e outras gafes só mostram a fraqueza do governo americano prontificando outros tiranos do mundo a agirem. Nesta semana Kim Jon Un da Coréia do Norte, testou um novo míssil balístico intercontinental que voou 1,100 km, caindo nas águas territoriais do Japão. O míssil voou mais de uma hora sem ser interceptado.

A China está se segurando para não agir em relação a Taiwan, mas as advertências americanas sobre não ajudar a Rússia, foram completamente ignoradas por Beijing. A China está não só adquirindo petróleo, carvão e outras fontes de energia da Rússia, mas está fornecendo drones e assistindo os russos em localizarem os drones ucranianos.

O Irã, por seu lado, e em meio às absurdas negociações em Viena – que tem a Rússia ainda representando os Estados Unidos - para ressuscitar o acordo nuclear, mandou seus capangas no Iêmen, os Houthis, atacarem outra vez a Arabia Saudita. A refinaria e os depósitos de petróleo da Aramco na cidade de Jedda foram alvejados por uma barragem de drones que os deixaram em chamas. Logo os Houthis declararam um cessar-fogo, tentando impedir uma retaliação, clamando a aproximação do mês do Ramadan. Este ataque é um sinal de que o pior ainda está por vir.

Toda esta instabilidade, no entanto, trouxe Israel para a frente da liderança no Oriente Médio. Hoje, o Estado judeu está sediando uma cúpula histórica com ministros de relações exteriores de 4 países árabes e o americano Antony Blinken. Os Emirados Arabes, o Egito, o Marrocos e Bahrain se encontrarão no kibutz Sde Boker para discutirem a situação no mundo e o que fazer com o Irã. Até ontem à noite a Jordânia não tinha respondido ao convite.

O razoável, o racional aqui seria suspender estas negociações dementes com o Irã, por causa do conflito na Ucrânia. Mas não. Ainda ontem, o principal diplomata da UE, Josep Borrell, disse que o Irã e as potências mundiais estão "muito perto" de um acordo sobre a retomada do JCPOA de 2015, que restringiria o programa nuclear de Teerã em troca do levantamento das sanções econômicas.

Entre outras o Irã exige a remoção da designação de organização terrorista dos EUA contra sua Guarda Revolucionária Islâmica. A Guarda Revolucionária do Irã é a pior organização terrorista do mundo hoje, financiando, fornecendo armas e treinamento para nada menos que a Hezbollah, o Hamas e o Jihad Islâmico, as milicias paramilitares do Iraque, o governo da Síria e os insurgentes Houthis no Iêmen. Todos os países que circundam e fazem fronteira com o bloco árabe sunita liderado pela Arabia Saudita.

Um ataque conjunto orquestrado pelo Irã desestabilizaria não só o Oriente Médio, mas o mundo inteiro, cortando o fornecimento de petróleo e deixando Israel completamente vulnerável com o inimigo não a milhares de km mas às suas portas.

E o mesmo acontecerá se Putin ganhar esta guerra infeliz ou se ela se arrastar indefinidamente. A Ucrânia é uma das maiores produtoras de trigo do mundo e o conflito não permite a preparação da terra e a plantação deste ano. Não só o preço da gasolina se tornará impraticável, mas o da farinha, do pão, atingindo as populações mais vulneráveis, mais pobres ao redor do mundo.  

Por outro lado, Putin é um bully irracional que quer ganhar a qualquer custo. Ele não se importa com sanções econômicas ou com o fato de que mais de 450 empresas estrangeiras tenham saído da Rússia. Do alto de sua arrogância, ele achou que tomaria Kyiv em três dias. O mundo também achou isso e esperou. Ninguém contou com a vontade do povo ucraniano. E dado que as armas convencionais da Rússia ainda são limitadas e dadas as consideráveis ​​perdas de soldados, Putin pode recorrer por desespero ao uso de armas nucleares táticas que são a mãe de todas as catástrofes. Este é o pior de todos os cenários possíveis.

O problema é encontrar uma solução razoável para acabar com o conflito. Zelensky já fez algumas concessões como desistir de se juntar à OTAN e de se manter como país neutro. Ele também demonstrou flexibilidade sobre as regiões com populações russas de Donbass. Mas isso não freou Putin. Parece que somente uma completa capitulação seria suficiente para ele. E isso está fora de cogitação hoje para os ucranianos.

Qualquer solução que agrade a Putin não será nem justa nem moralmente correta, mas deve ser ponderada contra a contínua destruição maciça e perda de dezenas, senão centenas, de milhares de vidas. Em contrapartida, ninguém até agora levantou a possibilidade de a Ucrânia ganhar a guerra e hoje, no seu 32º dia, temos que começar a levar isto em consideração. Por que não fornecer tudo o que os ucranianos estão pedindo para se defenderem???

Qualquer guerra, independentemente das causas e circunstâncias, é trágica. E a tragédia aumenta enquanto as potencias do mundo discutem o que fazer em vez de agirem. Mas embora os ucranianos continuem a sofrer inimaginavelmente, o grande perdedor aqui é a Rússia e Putin em particular. O povo russo, que está sofrendo agudamente com as sanções, mais cedo ou mais tarde descobrirá a escala de destruição e morte que Putin infligiu a um vizinho pacífico, que muitos russos acreditam compartilhar a história e cultura. É incompreensível para muitos como seu líder, que tem invocado essa afinidade com a Ucrânia, travaria uma guerra tão impiedosa contra homens, mulheres e crianças inocentes e dizimaria suas cidades em um grau nunca visto desde a Segunda Guerra Mundial. Putin sabe disso; ele pessoalmente está encaixotado e precisa desesperadamente de uma saída que o mundo ainda parece estar tentando encontrar para ele.

Na cúpula entre os chefes de estado da OTAN que ocorreu esta semana, além de um comprometimento em enviar armas e equipamento para a Ucrânia, não houve menção a qualquer tipo de resposta de suas forças armadas ao uso de armas de destruição em massa. Só que isso seria inaceitável e mudaria o cenário mundial. A OTAN não quis arriscar declarar que daria uma resposta rápida, decisiva e dolorosa, o que tornaria a Rússia um estado falido e pária, e ele, Putin, seria pessoalmente acusado de crimes de guerra. Mais uma mostra de fraqueza e falta de estratégia do Ocidente para lidar com a Rússia.

O único resultado deste conflito que podemos ver hoje é o realinhamento de países, precipitando a criação de uma realidade completamente nova, nunca imaginada há apenas um mês.

De qualquer forma, Putin será lembrado como o déspota russo que não apenas falhou em restaurar o sonho do Império Russo, mas também destruiu selvagemente a posição internacional do seu país, da qual ele poderá nunca se recuperar.

O Ocidente deve aprender uma lição convincente com esta guerra horrível e permanecer unido, vigilante, militarmente preparado e tornar-se independente da Rússia. O urso russo ainda estará à espreita, mas não ousará ameaçar o Ocidente sabendo que o aguardará apenas uma derrota humilhante e custosa.

Zelensky teve razão ao dizer que “você pode mediar entre países, mas não entre o bem e o mal”. E todos nós precisamos lembrar que o vilão aqui é Vladimir Putin.

 

 

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