Como estamos vendo, a situação na Siria está degringolando a cada dia. Na sexta-feira mais de 100 pessoas foram mortas por atiradores de elite do governo. Eles alvejaram familiares e amigos que acompanhavam os funerais de manifestantes mortos em protestos contra o governo.
Só agora o governo de Bashar Assad recebeu uma reprovação oficial do governo americano. Obama chamou o tiroteio nos funerais de escandalosos e acusou a Síria de buscar ajuda do Irã para reprimir a maioria sunita do país. Na noite passada, a polícia invadiu centenas de moradias na capital Damasco prendendo pessoas sob a acusação de se oporem ao governo.
Bashar Assad acha que o povo é idiota. Ele anuncia a remoção da lei de emergência que proibia protestos, somente para substitui-la por outra lei que faz a mesma coisa. E ainda joga a culpa da intranquilidade em Israel, no Mossad, na Al-Jazeera e outros elementos externos. Mas ninguém na Síria acredita mais nisso.
Os jornalistas foram todos expulsos e as notícias que temos vêm de indivíduos que com muita dificuldade, conseguem colocar informações e videos em sites como o Facebook, Twitter e Youtube.
Isto posto, pequenas informações contidas no material vazado pelo Wikileaks deveriam preocupar israelenses e na verdade, todos no Oriente Médio e no mundo.
Há uma semana atrás, foi publicada uma pequena nota no Jerusalem Post que dizia que em 2007 a Síria havia apontado para Israel mísseis de longo alcance com ogivas carregadas de armas químicas, depois da destruição de um de seus reatores nucleares. E mais nada. Como se esta informação não tivesse qualquer significado.
Outra informação vazada pelo Wikileaks foi a estimativa da capacidade militar da Hezbollah pelo Mossad. Nada, nenhum veículo de mídia pareceu se interessar no dantesco número de mísseis de curto e longo alcance armazenados no sul do Líbano.
De acordo com estes documentos, membros da inteligência americana e israelense se encontraram em novembro de 2009 e suas conclusões foram publicadas em quatro documentos separados enviados da embaixada americana em Israel para Washington.
Neles está a informação de que o Mossad está convencido que a Hezbollah, apoiada pela Síria e o Irã, num próximo round de hostilidades, estaria determinada a lançar 400 a 600 mísseis por dia em Israel, 100 dos quais em Tel Aviv. Esta guerra, de acordo com as estimativas dos peritos israelenses, poderá durar 2 meses. Isto perfaz entre 24 e 36 mil mísseis, 6 mil dos quais a serem lançados contra Tel Aviv especificamente.
Como o Hamas irá se comportar nesta próxima guerra é uma complicação que não foi discutida nestes documentos e adicionam mais um fator de preocupação. Estas não são especulações ou previsões do final dos tempos que podemos jogar para a pilha de curiosidades. Elas se tornam hoje muito mais relevantes pela fragilidade do governo de Bashar Assad e suas tentativas desesperadas de se manter no poder.
Os documentos vazados consistentemente reafirmam as alegações de que a Síria tem fornecido mísseis balísticos, inclusive Scuds para a Hizbollah. Também há a informação de que a Korea do Norte está contribuindo com o arsenal, fornecendo sistemas de mísseis para a Síria e o Irã, que por sua vez são despachados para o Hamas e a Hizbullah.
A conclusão é que no contexto da Síria, Assad está sentado num arsenal particularmente grande e perigoso. Tanto o pai, Hafez como o filho Bashar Assad sempre mantiveram um nível de contenção que manteve a calma na fronteira entre Israel e a Síria. O que eles fizeram, no entanto, foi transferir a violência para o sul do Líbano e para Gaza depois da evacuação em 2005. Em outras palavras, enquanto o regime de Assad propriamente evitava qualquer confronto com Israel, estava ativamente promovendo a guerra em outros lugares.
É em parte por causa desta capacidade que a Síria tem de criar confrontos que os Estados Unidos talvez tenham se mantido calados sobre a remoção de Bashar Assad do governo. A sabedoria convencional de Washington diz que um governo estável na Síria ajudaria a saída das tropas americanas do Iraque.
Mas se assumirmos por um momento que Assad não irá sobreviver esta onda de protestos, nas mãos de quem irá cair este formidável arsenal de armas e mísseis?
Podemos desacreditar alguns detalhes dos textos vazados pelo Wikileaks, mas no seu todo, está claro e evidente que Assad juntou e controla armas particularmente letais. Para Israel, Assad é um inimigo espertamente vil. O perigo está em ele ser suplantado por inimigos ainda mais vis e menos contidos.
Em outras frentes, o ministro egípcio e Secretário Geral da Liga Árabe, Amr Moussa declarou esta semana que os acordos de Camp David com Israel já não valem nada. Uma ação foi instaurada contra Mubarak sobre o fornecimento de gas natural do Egito para Israel e aqueles que protestaram na praça Tahrir em fevereiro e hoje ousam criticar o governo, estão de volta nas cadeias.
Em relação ao Egito, que se manteve um aliado americano durante mais de 30 anos, Obama correu para criticar Mubarak e exigir sua saída. Com a Síria, há um silêncio que incomoda do presidente americano. Ele não sabe o que faz. Ponto. Para um presidente que jurou tirar as tropas americanas do Oriente Médio, não só ele ainda não saiu do Iraque e do Afganistão, como abriu mais uma frente de batalha com a Líbia, numa guerra não declarada.
O presidente Carter ficou com o título de pior presidente dos Estados Unidos de todos os tempos, mas parece que pode muito bem perder este título para Obama. Não querendo fazer qualquer erro, tendo prometido trazer a paz para o Oriente Médio, ele conseguiu criar um tumulto perigosíssimo perdendo a credibilidade da América no processo.
De todos os protestos para mudança de regime que estão em progresso no Oriente Médio, hoje o da Síria é o que traz mais perigo existencial para Israel. Não há muito que o estado judeu possa fazer sobre a luta interna pelo controle na Síria. Mas é essencial que Israel se prepare para consequencias potencialmente alarmantes e desestabilizadoras. O que nós podemos fazer é no mínimo prestar atenção nas notícias.
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