O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse na
sexta-feira que a última rodada de negociações nucleares com o Irã foi
encerrada porque Teerã não está levando
a sério o
que precisa fazer para voltar
a cumprir o acordo nuclear de 2015.
Blinken, avisou que os Estados Unidos não deixarão o Irã arrastar o
processo enquanto continua avançando seu programa nuclear, e que Washington buscará outras
opções se o caminho diplomático acabar num beco sem saída. Ele só não disse
quais seriam estas “outras opções”. De fato, as negociações indiretas entre os EUA
e o Irã foram interrompidas quando, na sexta-feira, os europeus expressaram frustração com as demandas do novo governo de
linha dura do Irã.
O acordo de 2015 colocou restrições ao programa nuclear do
Irã em troca da flexibilização de algumas sanções internacionais. Em 2018, o presidente
Donald Trump retirou os Estados Unidos chamando o acordo de falho, e impôs outras sanções econômicas em Teerã. O Irã então começou a violar abertamente
os limites de enriquecimento de
uranio e outras
restrições.
Um alto funcionário dos EUA alertou no sábado que o tempo
estava se esgotando para ressuscitar o acordo e que sua viabilidade dependia
da rapidez com a qual o Irã
estaria acelerando seu programa nuclear. Só
que Teerã continuou
e continua avançando o enriquecimento para uso
militar mesmo durante as
negociações, um movimento que fez até mesmo os defensores do acordo questionarem se estas
negociações não são uma perda de tempo.
De fato, a Agência
de Notícias do Irã, a Fars perguntou ontem qual é o ponto destas negociações. A
verdade é que a mídia iraniana sabe que estas conversas não fazem qualquer
sentido e parece que só o Ocidente pensa que há uma razão para estas intermináveis
sessões em Viena.
O ministro da
Defesa, Benny Gantz, e o chefe do Mossad, David Barnea, devem visitar
Washington esta semana para discutir o Irã com as autoridades americanas. O
primeiro-ministro Naftali Bennett falou com Blinken na quinta-feira sobre as
preocupações de Israel com uma retomada do acordo e a suspensão de sanções.
Ontem a
administração Biden publicamente concordou com Israel sobre a necessidade de
garantir que o Irã não adquira armas nucleares, mesmo que discorde sobre como
chegar lá.
Esta sétima
rodada de negociações foi a primeira com delegados enviados pelo novo presidente
do Irã, o açougueiro de Teerã, Ebrahim Raisi. Os europeus contaram que a
delegação iraniana propôs mudanças radicais no texto que já havia sido
cuidadosamente negociado em rodadas anteriores, e que disseram, estava 80%
concluído.
“Há mais de
cinco meses, o Irã interrompeu as negociações”, disseram autoridades da França,
Grã-Bretanha e Alemanha em um comunicado. “Desde então, o Irã acelerou seu
programa nuclear. E esta semana, o Irã retrocedeu exigindo ‘grandes mudanças’ no
texto”.
A postura
intransigente do negociador nuclear iraniano Ali Bagheri Kani é que, pelo fato
de ter deixado o acordo, é Washington que deveria dar o primeiro passo,
levantando todas as sanções impostas inclusive aquelas não relacionadas às atividades
nucleares do Irã.
Bagheri Kani
disse à Reuters na segunda-feira que os Estados Unidos e seus aliados
ocidentais também devem oferecer garantias ao Irã de que nenhuma nova sanção
será imposta no futuro. Imaginem a cara de pau. Os negociadores europeus, por
seu lado, estão considerando o acordo original como base, ou seja, se o Irã
quiser o alívio das sanções, Teerã deve aceitar voltar aos níveis de
enriquecimento de urânio impostos pelas restrições do acordo.
As três
potências europeias expressaram "decepção e preocupação" com as novas
exigências do Irã e este exercício está provando ser uma total futilidade, só dando
tempo ao Irã chegar ao ponto de não retorno.
Em uma
entrevista neste final de semana, o Diretor Geral da Agência Internacional de
Energia Atômica, Rafael Mariano Grossi, disse que o acordo de 2015 limitava o
enriquecimento de urânio a 3.6% que é o máximo necessário para uso civil. Hoje,
sua agência tem informações de que o Irã estaria enriquecendo urânio a 60% na
usina de Fordow. E este enriquecimento só tem um uso: o de ser a ponte para o
enriquecimento a 90% e a confecção de uma bomba nuclear. Grossi também
confessou que a Agência Internacional de Energia Atômica está trabalhando numa
neblina e logo estará completamente cega sobre as atividades nucleares do Irã.
E aí entra
Israel.
Israel teme
que os Estados Unidos e a Europa se dobrem e concedam um alívio das sanções sem
que o Irã retroceda um centímetro em sua busca pela bomba atômica. Isto seria
um desastre para Israel já que muitos dos fundos que o Irã tira de sua economia
interna que está em frangalhos vai para suportar a Hezbollah no Líbano, sua
presença e atividades militares na Síria, armas para os Houtis no Iêmen e
exportar sua revolução islâmica xiita ao redor do mundo.
Enquanto o
governo Biden pressiona Israel para cessar as ações contra o Irã para chegar
num acordo, o Estado judeu está trabalhando freneticamente em todos os campos
para deter ou pelo menos atrasar o programa nuclear iraniano.
No meio do
ano passado, ocorreram várias explosões incomuns em instalações sensíveis como em
complexos de enriquecimento nuclear, fábricas e gasodutos. Pelo menos dois dos
incidentes ocorreram em locais ligados aos programas nucleares e de mísseis
iranianos. O jornal The New York Times citou na época um “oficial de
inteligência do Oriente Médio” que alegou ter sido Israel que plantou uma bomba
na instalação nuclear de Natanz, onde o Irã havia retomado o trabalho em
centrífugas avançadas.
Em abril
deste ano, uma falta de energia causada por uma explosão deliberadamente
planejada, atingiu outra vez, a usina nuclear de Natanz, no que as autoridades
iranianas chamaram de um ato de sabotagem que sugeriram ter sido executado por
Israel.
E na noite de
ontem, uma explosão foi ouvida na área de Badroud que fica a 20 km de Natanz, causando
uma avalanche de explicações conflitantes dos oficiais iranianos em Teerã. A TV
estatal do Irã correu para declarar que a explosão teria sido de um míssil
disparado pela defesa aérea iraniana como parte de um exercício militar sobre a
cidade de Natanz, depois que residentes locais tomaram a mídia social relatando
uma grande explosão. A TV disse que a defesa aérea disparou o míssil para
testar uma força de reação rápida sobre Natanz.
O porta-voz do
Exército iraniano, Shahin Taqikhani disse à TV que “esses exercícios são
realizados em um ambiente totalmente seguro ... e não há motivo para
preocupação”. É bem estranho que eles façam exercícios militares em locais tão
sensíveis, que dando errado podem causar uma catástrofe nuclear local.
De qualquer
forma, vemos que Israel não está sentada de braços cruzados obedecendo
fielmente às ordens de Washington. Sem dúvida, o apoio americano à Israel é
importantíssimo. Mas Israel amadureceu o suficiente para saber que a tática de
Biden, de apaziguar o Irã para que uma guerra não exploda durante sua presidência,
isto é, chutar o abacaxi para a frente, poderá colocar o estado judeu em perigo
mortal. Esta tática nunca funcionou. Nunca impediu uma guerra.
Muito menos
para Israel que está, desde sua criação, numa guerra existencial, lutando por
sua própria sobrevivência.
No comments:
Post a Comment