Sunday, December 5, 2021

A Futilidade das Negociações com o Irã - 05/12/2021

 

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse na sexta-feira que a última rodada de negociações nucleares com o Irã foi encerrada porque Teerã não está levando a sério o que precisa fazer para voltar a cumprir o acordo nuclear de 2015.

Blinken, avisou que os Estados Unidos não deixarão o Irã arrastar o processo enquanto continua avançando seu programa nuclear, e que Washington buscará outras opções se o caminho diplomático acabar num beco sem saída. Ele só não disse quais seriam estas “outras opções”. De fato, as negociações indiretas entre os EUA e o Irã foram interrompidas quando, na sexta-feira, os europeus expressaram frustração com as demandas do novo governo de linha dura do Irã.

O acordo de 2015 colocou restrições ao programa nuclear do Irã em troca da flexibilização de algumas sanções internacionais. Em 2018, o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos chamando o acordo de falho, e impôs outras sanções econômicas em Teerã. O Irã então começou a violar abertamente os limites de enriquecimento de uranio e outras restrições.

Um alto funcionário dos EUA alertou no sábado que o tempo estava se esgotando para ressuscitar o acordo e que sua viabilidade dependia da rapidez com a qual o Irã estaria acelerando seu programa nuclear. Só que Teerã continuou e continua avançando o enriquecimento para uso militar mesmo durante as negociações, um movimento que fez até mesmo os defensores do acordo questionarem se estas negociações não são uma perda de tempo.

De fato, a Agência de Notícias do Irã, a Fars perguntou ontem qual é o ponto destas negociações. A verdade é que a mídia iraniana sabe que estas conversas não fazem qualquer sentido e parece que só o Ocidente pensa que há uma razão para estas intermináveis sessões em Viena.

O ministro da Defesa, Benny Gantz, e o chefe do Mossad, David Barnea, devem visitar Washington esta semana para discutir o Irã com as autoridades americanas. O primeiro-ministro Naftali Bennett falou com Blinken na quinta-feira sobre as preocupações de Israel com uma retomada do acordo e a suspensão de sanções.

Ontem a administração Biden publicamente concordou com Israel sobre a necessidade de garantir que o Irã não adquira armas nucleares, mesmo que discorde sobre como chegar lá.

Esta sétima rodada de negociações foi a primeira com delegados enviados pelo novo presidente do Irã, o açougueiro de Teerã, Ebrahim Raisi. Os europeus contaram que a delegação iraniana propôs mudanças radicais no texto que já havia sido cuidadosamente negociado em rodadas anteriores, e que disseram, estava 80% concluído.

“Há mais de cinco meses, o Irã interrompeu as negociações”, disseram autoridades da França, Grã-Bretanha e Alemanha em um comunicado. “Desde então, o Irã acelerou seu programa nuclear. E esta semana, o Irã retrocedeu exigindo ‘grandes mudanças’ no texto”.

A postura intransigente do negociador nuclear iraniano Ali Bagheri Kani é que, pelo fato de ter deixado o acordo, é Washington que deveria dar o primeiro passo, levantando todas as sanções impostas inclusive aquelas não relacionadas às atividades nucleares do Irã.

Bagheri Kani disse à Reuters na segunda-feira que os Estados Unidos e seus aliados ocidentais também devem oferecer garantias ao Irã de que nenhuma nova sanção será imposta no futuro. Imaginem a cara de pau. Os negociadores europeus, por seu lado, estão considerando o acordo original como base, ou seja, se o Irã quiser o alívio das sanções, Teerã deve aceitar voltar aos níveis de enriquecimento de urânio impostos pelas restrições do acordo.

As três potências europeias expressaram "decepção e preocupação" com as novas exigências do Irã e este exercício está provando ser uma total futilidade, só dando tempo ao Irã chegar ao ponto de não retorno.

Em uma entrevista neste final de semana, o Diretor Geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Mariano Grossi, disse que o acordo de 2015 limitava o enriquecimento de urânio a 3.6% que é o máximo necessário para uso civil. Hoje, sua agência tem informações de que o Irã estaria enriquecendo urânio a 60% na usina de Fordow. E este enriquecimento só tem um uso: o de ser a ponte para o enriquecimento a 90% e a confecção de uma bomba nuclear. Grossi também confessou que a Agência Internacional de Energia Atômica está trabalhando numa neblina e logo estará completamente cega sobre as atividades nucleares do Irã.

E aí entra Israel.

Israel teme que os Estados Unidos e a Europa se dobrem e concedam um alívio das sanções sem que o Irã retroceda um centímetro em sua busca pela bomba atômica. Isto seria um desastre para Israel já que muitos dos fundos que o Irã tira de sua economia interna que está em frangalhos vai para suportar a Hezbollah no Líbano, sua presença e atividades militares na Síria, armas para os Houtis no Iêmen e exportar sua revolução islâmica xiita ao redor do mundo.

Enquanto o governo Biden pressiona Israel para cessar as ações contra o Irã para chegar num acordo, o Estado judeu está trabalhando freneticamente em todos os campos para deter ou pelo menos atrasar o programa nuclear iraniano.

No meio do ano passado, ocorreram várias explosões incomuns em instalações sensíveis como em complexos de enriquecimento nuclear, fábricas e gasodutos. Pelo menos dois dos incidentes ocorreram em locais ligados aos programas nucleares e de mísseis iranianos. O jornal The New York Times citou na época um “oficial de inteligência do Oriente Médio” que alegou ter sido Israel que plantou uma bomba na instalação nuclear de Natanz, onde o Irã havia retomado o trabalho em centrífugas avançadas.

Em abril deste ano, uma falta de energia causada por uma explosão deliberadamente planejada, atingiu outra vez, a usina nuclear de Natanz, no que as autoridades iranianas chamaram de um ato de sabotagem que sugeriram ter sido executado por Israel.

E na noite de ontem, uma explosão foi ouvida na área de Badroud que fica a 20 km de Natanz, causando uma avalanche de explicações conflitantes dos oficiais iranianos em Teerã. A TV estatal do Irã correu para declarar que a explosão teria sido de um míssil disparado pela defesa aérea iraniana como parte de um exercício militar sobre a cidade de Natanz, depois que residentes locais tomaram a mídia social relatando uma grande explosão. A TV disse que a defesa aérea disparou o míssil para testar uma força de reação rápida sobre Natanz.

O porta-voz do Exército iraniano, Shahin Taqikhani disse à TV que “esses exercícios são realizados em um ambiente totalmente seguro ... e não há motivo para preocupação”. É bem estranho que eles façam exercícios militares em locais tão sensíveis, que dando errado podem causar uma catástrofe nuclear local.

De qualquer forma, vemos que Israel não está sentada de braços cruzados obedecendo fielmente às ordens de Washington. Sem dúvida, o apoio americano à Israel é importantíssimo. Mas Israel amadureceu o suficiente para saber que a tática de Biden, de apaziguar o Irã para que uma guerra não exploda durante sua presidência, isto é, chutar o abacaxi para a frente, poderá colocar o estado judeu em perigo mortal. Esta tática nunca funcionou. Nunca impediu uma guerra.

Muito menos para Israel que está, desde sua criação, numa guerra existencial, lutando por sua própria sobrevivência.

 

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