Estaríamos
falando de 500 a 1000 terroristas, 100 dentre eles considerados “pesados”, isto
é, chacinadores sanguinários, soltos em troca de 22 a 35 reféns israelenses
vivos, a maioria mulheres e outros civis, junto com os corpos de uma dúzia de
reféns mortos. Notem que temos hoje 115 reféns ainda em Gaza.
O
plano também prevê outras duas fases de trocas, mas há tantas condições que
ninguém está confiante que elas poderão acontecer, como por exemplo, a supervisão
internacional da fronteira de Gaza, à qual o Hamas se opõe, e a retirada militar
completa de Israel da Faixa, à qual Israel se opõe. De fato, nem esta primeira
fase parece possível, especialmente com o Hamas já tendo declarado que este
acordo é uma “ilusão”.
Muitos aqui em Israel concordam que esta discussão é triste, mas necessária: que é a obrigação moral do governo libertar o máximo de reféns possível, o mais
rápido possível, apesar do preço
enorme. Que o sofrimento dos nossos reféns e suas famílias é intolerável também a nível nacional. Que receber
os reféns de volta seria a maior vitória de todas.
Muitos israelenses sentem isso e querem um acordo de
qualquer jeito, mesmo que isso implique a retirada completa de Israel de Gaza. Em outras palavras, mesmo que o Hamas retenha o poder e essencialmente declare
a vitória.
Nos
debates que assistimos, sempre há alguém que declara que o exército poderá
entrar novamente em Gaza depois da soltura dos reféns, embora isso seja
praticamente impossível, logisticamente falando, e exigiria o sacrifício de
outras centenas dos nossos soldados. Outros dizem
que novos ataques poderão ser evitados
por tecnologias de fronteira mais avançadas, mais sentinelas e outras
ideias mirabolantes. Outros ainda, defendem o acordo para
derrubar o governo atual (o que, na visão
deles, é mais importante do que a libertação de reféns).
Mas
há alguns, inclusive pais de reféns, que defendem a estratégia do governo atual
e de fato, acham que a melhor maneira de conseguir libertar os reféns é continuar
a guerra e realmente eliminar o Hamas.
É
uma situação horrível! Como o coração
pode não se
partir?
Hoje
aqui falo na condição privilegiada de não ter nenhum ente querido meu no cárcere
do Hamas. Mas o que parece estar ausente nos debates, é o cálculo do preço de
libertar tantos terroristas palestinos.
Não
é que eles foram “reformados” nas prisões israelenses. Eles não têm uma formação
acadêmica ou outro “emprego”. Eles foram pagos pela Autoridade Palestina com
salários nababescos durante todo o seu tempo no cárcere. E foram pagos por seus
atos de terrorismo e por isso voltarão ao terrorismo. Sua libertação incentivará
futuros sequestros, outros ataques terroristas como os que já estão acontecendo
na Judeia e Samaria diariamente, e também levará o Hamas a tomar o controle da
Judeia e Samaria.
Eu
sei que isso é fato - porque esse tem sido o caso com cada libertação de terroristas
do passado. Senão vejamos: No acordo Jibril de 1985, Israel soltou 1.150
terroristas em troca de 3 soldados de Israel. Entre eles, mais de 100 voltaram
imediatamente à ativa terrorista.
Com
os Acordos de Oslo, Entre 1993 e 1999, Israel não só libertou terroristas
palestinos como "gestos" para a OLP, mas permitiu que pelo menos
60.000 (!) palestinos do "estrangeiro" entrassem nos territórios,
incluindo 7.000 terroristas com carteirinha da OLP. Foi essa injeção de “tropas”
que alimentou a Segunda Intifada.
Em
2004, Israel libertou mais de 400 terroristas palestinos e cerca de 30
prisioneiros libaneses, incluindo líderes da Hezbollah, por um prisioneiro
civil, Elhanan Tannenbaum, e os corpos de três soldados israelenses. A Segunda
Guerra do Líbano contra o Hezbollah ocorreu pouco depois.
Mas
entre todos, o acordo de 2011 para libertar Gilad Schalit foi o pior. Entre os
mais de 1.000 prisioneiros de segurança palestinos libertados em troca de um
único soldado estavam Yahya Sinwar, e outros sete líderes que hoje constituem a
cúpula do Hamas. De fato, quase todo o comando do Hamas que planejou o ataque
de 7 de outubro, que matou mais de 1.200 pessoas, em um dia, foi composta por
terroristas libertados no acordo Schalit. Mas não só isso.
Outros
terroristas libertados nesse acordo foram responsáveis pelos piores ataques dos
últimos 13 anos que custaram as vidas de Baruch Mizrachi, Dr. David Applebaum e
sua filha Navah (na véspera de seu casamento), Malachi Rosenfeld, e o Rabino
Miki Mark (pai de dez filhos). Outro terrorista, também libertado no acordo
Schalit, comandou de Gaza os assassinatos de Yosef Cohen e Yuval Mor-Yosef e um
bebê, Amiad Israel. Foi um outro terrorista libertado no acordo Schalit que
levou à cabo o sequestro e assassinato dos três adolescentes Naftali Fraenkel,
Eyal Yifrach e Gilad Shaer em Gush Etzion em 2014.
Em
outras palavras, cada vez que Israel libertou terroristas, eles repetidamente assassinaram
mais israelenses.
Após
o sequestro e assassinato dos três meninos, Israel decidiu prender novamente
muitos dos terroristas libertados no acordo Schalit. No entanto, Israel só
conseguiu prender novamente uns 130 terroristas "pesados" libertados
na Judeia e Samaria.
E
há também o debate se é melhor soltar os terroristas para as suas casas, como
quer o Hamas ou para algum país no exterior. Pelo que estamos vendo dos ataques
diários vindos de Jenin, de Tulkarem, e dos outros vilarejos árabes na Judeia e
Samaria, o melhor é soltá-los o mais longe possível. Caso contrário, eles
reforçarão a estrutura terrorista que construíram nessas áreas com o apoio do
Irã e as expandirão.
De
qualquer forma, o perigo de libertar terroristas palestinos em massa é claro.
Um acordo que liberta assassinos cruéis de judeus e israelenses (incluindo os
assassinos e estupradores da Nukhba de 7 de outubro) em troca do sofrimento de
reféns inocentes de Israel coloca em risco ainda mais vidas israelenses no
futuro — e essa consequência não demora a chegar.
Por
isso temos que ter cuidado e estar cientes do que estamos fazendo. Negociar
pelos reféns mantidos em Gaza agora, pode ser a coisa mais humanitária e
moralmente necessária do mundo a fazer, mas também pode ser a coisa mais
perigosa e potencialmente desastrosa que Israel possa fazer. Um custo altíssimo
em todos os sentidos, a ser pago durante anos.
Um
dilema verdadeiramente agonizante para Israel.