Hoje é o décimo aniversário dos ataques às Torres Gêmeas e ao Pentágono. Naquele dia, eu saí bem cedo para trabalhar porque tinha que pegar o vôo para o Brasil à noite. Ao atravessar a 5ª avenida eu olhei para o sul da rua e lembro pensar que o dia estava tão claro, tão brilhante, que eu conseguia ver as Torres da Rua 45.
Eu estava em reunião numa corretora quando quase simultaneamente, todos os canais de televisão, usados para o acompanhamento dos mercados e bolsas mundiais, começaram a mostrar imagens do World Trade Center I em chamas. Imediatamente o pessoal aumentou o som. O que ouviamos era que havia ocorrido um acidente. E eu me perguntei como num dia tão claro sem uma núvem sequer, este acidente poderia ter acontecido.
Justo quando a especulação havia começado, vimos com nossos próprios olhos o segundo avião atingir a segunda torre. E todos nós sabíamos. Sabíamos que estávamos sob ataque. Neste momento olhei pela janela, para a 5ª avenida, que havia cruzado horas antes. As pessoas estavam paradas no lugar olhando para o sul, algumas com as mãos na cabeça, outras cobrindo a boca, os carros estavam parados no lugar, com os motoristas de pé imóveis com suas portas abertas. Os ônibus parados. Tudo tinha congelado como num filme de ficção científica.
Nas próximas horas ficamos transfixos com o colapso das torres e outros prédios em volta., o ataque ao Pentágono, o vôo 93 que caiu na Pennsylvannia e outras possíveis ameaças de vôos que aparentemente não haviam sido localizados. Tentei várias vezes ligar para o Brasil mas as linhas estavam simplesmente congestionadas. Lá pelas 3 da tarde, recebemos instruções para irmos para a casa. Olhando as ruas cheguei a pensar como meu caminho de volta estava diferente. As ruas desertas de pessoas e carros, uma fina camada de poeira cobria o chão. Lojas, bancos, negócios, todos fechados. Alguns haviam deixado a televisão acesa na vitrine e imagens das torres caindo se repetiam de todos os ângulos.
Foi impossível trabalhar nos dias seguintes. A cidade estava fechada e eu fui ser voluntária numa estação de bombeiros perto de casa. Eu não posso nem descrever a tristeza, angústia, frustração e lágrimas daqueles dias. Nas semanas e meses que se seguiram, a 5ª avenida estava praticamente fechada para o enterro de mais um policial, mais um bombeiro encontrado nos escombros das torres.
Menos de um mês depois a América atacou o Afganistão e venceu os Talibans.
É impressionante como, apesar do número de mortes e do impacto dos ataques, não houve muita mudança em como os países combatem o terrorismo nestes 10 anos. Neste tempo, a Al-Qaeda e seus associados conseguiram perpetrar vários ataques à países afiliados com o Ocidente.
Bali, Istambul, Casablanca, Jakarta, Tunisia, Londres, Madrid e Mumbai foram alvejados e outras dezenas de tentativas foram frustradas. No entanto, apesar de não ter ocorrido outro ataque espetacular como os de 11 de setembro, ficou claro que a Al-Qaeda e seus associados são peritos em guerra psicológica, tirando vantagem dos desenvolvimentos tecnologicos para aumentar a pecepção de seu poder.
Este sistema de propaganda é essencial para estes grupos terroristas por causa de sua necessidade de recrutamento constante e em particular para reabastecer o medo em seus inimigos. Há um aspecto no qual a Al-Qaeda e seus afiliados conseguiram vitória nesta década: a proliferação dos ataques por homens-bomba no mundo inteiro. Só no Iraque, Afganistão e Paquistão, ocorreram 2.400 ataques por homens-bomba desde 2001.
O medo e temor imposto pela Al-Qaeda e sua corja é baseado na total indiferença pelas vidas tanto de seus inimigos quanto de seus membros. Sua vontade de engajar em assassinato em massa vem de uma suposta chamada divina e demonstra o espírito apocalíptico desta luta, no qual o terror se tornou um instrumento legítimo. Esta chamada divina é o que os faz com que eles nunca hesitem em tomar o próximo passo e usarem armas de destruição em massa, se tiverem a oportunidade.
E a situação também não mudou em relação à Israel. Em 2001, ela estava combatendo ataques suicidas diários e ironicamente, tentando se contrapor à Conferência anti-racismo e discriminação patrocinada pelas Nações Unidas em Durban, na África do Sul, que havia se tornado o forum do veneno anti-semita.
Hoje, Israel está sendo atacada por todos os lados. Sua embaixada no Egito destruida e seus diplomatas salvos no último minuto. A Autoridade Palestina seguindo à frente com sua petição de ter seu estado reconhecido nas Nações Unidas sem qualquer negociação. Durban III está dando os toques finais em sua declaração final acusando Israel, e somente Israel, de racismo. E temos ainda a Turquia que expulsou o embaixador israelense e ameaçou escoltar a próxima flotilha para Gaza com seus navios de guerra.
O que é mais frustrante nesta retórica turca é que ninguém, nem um só país neste vasto mundo, tem a coragem, a ombridade de dizer à Turquia que ela é uma hipócrita.Ninguém nem sequer menciona a ocupação da Republica de Chipre pela Turquia desde 1974. Naquela data, um país soberano, de lingua grega foi invadido, resultando em ocupação contínua e considerável violações dos direitos humanos da população local. A Turquia cometeu limpeza étnica no norte da ilha, deliberadamente violando a Convenção Européia e a Convenção de Genebra de 1949.
Em 2004, Recip Erdogan hipócritamente condenou a construção da barreira de separação por Israel. Mas diferentemente de Israel que precisava da barreira para impedir a passagem de homens-bomba, a barreira que divide Chipre foi erguida para separar a população grega dos invasores turcos ajudando a consolidar sua presença na ilha.
Nesta última segunda-feira, o ministro do exterior turco Ahmet Davutoglu disse que a ocupação de Gaza é ilegal e que ela é fortalecida pelo bloqueio naval que para ele também é ilegal. Ninguém na arena internacional apontou o dedo para a Turquia como uma ocupadora ilegal de terras estrangeiras às quais ela não tem qualquer direito. A Turquia também se recusa a assumir qualquer responsabilidade sobre o Genocidio armênio.
Este foi o primeiro genocídio do século 20, que ocorreu quando dois milhões de armênios que viviam no leste da Turquia foram simplesmente eliminados de sua terra ancestral através de deportações forçadas e massacres entre 1915 e 1918. No cúmulo da arrogância, em julho, Erdogan exigiu desculpas do presidente armênio Serzh Sarksyan que havia se referido à Turquia oriental como parte da Armênia ancestral a crianças de uma escola. Isto sem falar nos kurdos que continuam a ser massacrados indiscriminadamente pelos turcos.
A Turquia é culpada dos mesmos crimes que ela diz são cometidos por outros mas ninguém a mandou calar a boca ou a chamou de hipócrita. Desde sua ascensão ao poder em 2002, o islamista Erdogan tem torpedeado a relação do seu país com Israel. Em 2009, depois da operação Chumbo Fundido, ele pediu que Israel fosse banida das Nações Unidas. No mesmo ano ele disse que Gaza era uma prisão à céu aberto, e acusou Israel de assassinato. Mas nem uma palavra sobre Chipre que continua invadida e dividida. E ainda assim a Turquia continua sendo candidata a membro da Comunidade Européia.
A realidade é que a Turquia está se aproveitando das revoluções nos países árabes para mostrar seus músculos e assumir a liderança do Oriente Médio. Sua continua vilificação de Israel, ocupação de Chipre e recusa em reconhecer o genocídio armênio é parte do esforço maior que os islamistas estão fazendo para reavivar os gloriosos dias do Império Otomano. O objetivo mor de Bin Ladin: de restituir o Califado.
A mesma ideologia da Al-Qaeda está no Hamas que a Turquia quer tanto proteger. O Hamas que prega em sua constituição a destruição de Israel e jogar os judeus ao mar. Mas de acordo com as Nações Unidas em Durban III é aparentemente legítimo odiar judeus enquanto eles tiverem o nome de “israelenses” ou “sionistas”. E é isto o que esperamos nos próximos discursos de Ahmadinejad e Recip Erdogan nesta Assembléia Geral.
Muitas vezes nos últimos 10 anos Israel avisou o mundo sobre a natureza do regime de Bashar Assad na Síria, das intenções genocidas de Ahmadinejad do Irã e da loucura do líder líbio Muammar Khadafi e mesmo assim, cada um deles foi recebido com honras e fanfarras em conferências internacionais e viajam livremente para Nova York para encontros na ONU. Enquanto isto, líderes israelenses não podem viajar para a Inglaterra pois podem ser presos por “crimes de guerra” – o crime de defenderem seu país de mísseis e foguetes. Enquanto isso, Khadafi se sentou no Conselho de Direitos Humanos da ONU e foi quase substituido pela Síria.
O mundo livre pode ter mudado em 11 de setembro de 2011 mas ainda não entendeu a força que o atacou. Bin Laden está morto mas as forças do mal, no entanto, não estão.
Este comentário é dedicado às 2,819 pessoas que pereceram no dia 11 de setembro de 2001 e em particular aos 343 bombeiros e 60 policiais, heróis nova iorquinos.
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