Sunday, November 27, 2011

A Primavera Que Não Durou - 27/11/2011

Depois de 9 meses do estouro da primavera árabe, ela está se parecendo mais como o prelúdio de um longo inverno. E a temperatura está baixando com a ajuda dos Estados Unidos.

Ontem mais ataques suicidas no Iraque mostraram que, contrariamente ao que foi decidido por Barak Obama, não é hora de retirarem as tropas americanas do Iraque ou os mais de 6 mil americanos que morreram, terão dado sua vida em vão.

Com a saída das tropas, a violência sectária irá seguramente voltar com toda força. O primeiro ministro Nuri al-Maliki, que é pró-iraniano, está purgando o exército, as forças de segurança e os serviços públicos de qualquer simpatizante do ocidente. Com os americanos literalmente fechando os olhos para o problema, Maliki e seus aliados shiitas simplesmente mandaram aos sunitas a mensagem de que não haverá lugar para eles num novo governo.

Isto quer dizer que com a retirada das forças americanas do Iraque no mês que vem, o país será entregue nas mãos do seu maior inimigo: o Irã. ETeherã já está comemorando esta saída como uma imensa vitória estratégica do mesmo modo que a Hezbollah o fez com a saída precipitada de Israel do sul do Líbano.

O próprio exército americano reconhece que os insurgentes são bem treinados, armados e patrocinados pela Síria e o Irã. Mas os Estados Unidos nunca agiram contra qualquer um destes países para diminuir sua influência ou faze-los pagar por suas ações. E a incapacidade de Obama de avaliar a situação não parou por aí.

No Egito um segundo round de protestos para tirar os militares está em curso. Mais de 40 pessoas morreram nos últimos dias. Quando os primeiros protestos começaram em fevereiro deste ano, os Estados Unidos decidiram expulsar o presidente Hosni Mubarak, o mais forte aliado americano entre os líderes árabes. Com a saída de Mubarak, a Junta militar tomou o poder para controlar o caos e o radicalismo islâmico.

Durante todo o longo governo de Mubarak, a maior força de oposição no Egito foi a Irmandade Muçulmana. A histeria populista criada pela saída de Mubarak fez da Irmandade a maior força política no país. Se eleições ocorrerem na semana que vem como está planejado, e se os resultados forem honrados, dentro de um ano o Egito será governado por um governo islâmico radical. O exército, as elites e ex-membros do governo não estão nada interessados neste resultado e nas últimas semanas tomaram vários passos para postergar as eleições presidenciais provocando a nova onda de protestos e mortes.

E os Estados Unidos agora não sabem o que fazer. Os conselheiros esquerdistas de Obama que pregaram a saída de Mubarak em nome da democracia estão hoje exigindo a saída da junta militar sem pensar quem ficará para manter a ordem no país.

Enquanto isto, Israel assiste nervosamente os acontecimentos. Na terça-feira o Gabinete de segurança interna discutiu a situação no Egito, Siria e Irã por 8 horas. O Chefe do Estado maior do Exército, Benny Gantz apresentou um cenário envolvendo o cancelamento do acordo de paz entre o Egito e Israel.
Com o Egito se direcionando para o radicalismo islâmico, é bem provável que sofra uma recessão econômica grave com a falta de turistas e compradores para seus produtos. Um meio fácil para o novo governo lidar com o descontentamento, será a adoção de uma política externa fortemente populista  que inclua  um cancelamento do acordo de paz que foi fundamental para a segurança de Israel nos últimos 30 anos.
Do Iraque ao Egito, da Líbia à Siria, erros desta administração limitam e diminuem a capacidade dos Estados Unidos de resguardarem seus interesses na região. A América está sendo obrigada a fazer escolhas cada vez mais difíceis. Na Líbia, depois de ajudarem militarmente a queda de Khadafi, os Estados Unidos estão tendo que lidar com um regime ainda mais radical, islâmico, que já está transferindo armas para grupos terroristas e proliferando armas não convencionais. Como fica o apoio americano aos insurgentes se ao final, a administração do presidente Obama reconhecer a natureza hostil deste novo regime?

Na Tunísia, depois de sua revolução, o partido islâmico venceu. O mesmo aconteceu ontem no Marrocos. No Yemen a luta não envolve só Shiitas e Sunitas mas também a Al-Qaeda. Depois de 33 anos no poder e 10 meses de protestos, o presidente Ali Abdullah Saleh assinou neste final de semana um acordo com a oposição marcando eleições para fevereiro.

E aí temos a Síria. Não só os Estados Unidos não tomaram qualquer atitude contra o presidente Bashar Assad pelo seu apoio aos insurgentes no Iraque, a América também falhou em cultivar qualquer relacionamento com a oposição do país. Hoje a queda de Assad é só uma questão de tempo e os Estados Unidos se vêem perante uma oposição apoiada pela Irmandade Muçulmana turca. As forças liberais pro-América na Síria, como os Curdos, viram a porta da oposição se fechar em seu nariz e vão continuar de lado na era pós-Assad.

Hoje no Egito, depois de abraçar a “democracia” e chutar seu aliado Mubarak, os Estados Unidos podem escolher ficar do lado da junta militar para quem manda mais de um bilhão de dólares anuais ou pode ficar do lado dos radicais islâmicos que objetivam a destruição de Israel com o apoio do povo egípcio.

Como viemos parar aqui? Como é possível que hajam tão poucas opções no mundo árabe depois de todo o dinheiro e vidas investidos na região para promover o desenvolvimento e a democracia?

Depois de 11 de setembro, a esquerda nos Estados Unidos se levantou em peso para negar que o islamismo radical havia declarado a guerra ao ocidente. Em vez disso, sairam apregoando que eram as políticas americanas que haviam causado a hostilidade dos árabes e portanto era preciso apaziguá-los. Na época, Bush estava ocupado em derrotar os terroristas escondidos no Afganistão e no Iraque e não se preocupou em defender suas posições ao público americano.

Isto pavimentou o caminho para  a eleição de Barack Obama que em vez de defender os interesses do ocidente, continuou a guerra com outro objetivo: o de transformar um mundo árabe permeado de uma oposição religiosa extremista para um no qual os extremistas serão eleitos democraticamente.

Desde que Obama assumiu a presidência dos Estados Unidos, promoveu sua ideologia de esquerda até os limites, retirando tropas e apaziguando seus piores inimigos. Obama apoiou a Irmandade Muçulmana no Egito e fechou os olhos para quem estava apoiando na Líbia. Apaziguou os governos do Irã e da Síria e apoia o governo islâmico da Turquia. E acima de tudo, é hostil a Israel.

Com a chegada do próximo dia 31 de dezembro e a retirada total das tropas americanas do Iraque, o ocidente irá rapidamente sentir a enorme irresponsabilidade das políticas de Washington no Oriente Médio.

Todos nós sabemos que há um preço a pagar quando chamamos um inimigo de inimigo. Mas se há uma lição a ser aprendida na história é que o preço é sempre maior quando não o fazemos.

No comments:

Post a Comment