Quando Ariel Sharon morreu ontem, o Estado de Israel
perdeu um de seus líderes mais carismáticos e influentes de sua história. Um
que através toda sua carreira nunca deixou de causar controvérsia.
Odiado por muitos e adorado por muitos mais, de todas
as emoções que Sharon causava, indiferença nunca foi uma delas. Mesmo entre
seus críticos havia sempre uma ponta de afeição por este filho nativo, um
verdadeiro sabra e herói, que insistia em ser chamado por seu apelido Arik.
Desde cedo, Arik era visto como ousado e armador de
confusão. Sua coragem e brilhante mente estratégica estão impressos nos anais
da história: na Guerra da Independência, com apenas 20 anos, ele lançou um
ataque à base do contingente Iraquiano em Kfar Malal e mais tarde como
comandante da unidade 101 conduziu espetaculares missões contra-terroristas. Suas
ações arrojadas geravam adulação e censura, especialmente do primeiro-ministro
da época, David Ben-Gurion.
A glória veio para Sharon na Guerra dos Seis Dias,
quando comandou as forças no Sinai e sua fama chegou ao seu ápice na Guerra de
Yom Kippur quando ordenou a travessia do Canal de Suez em meio à dura oposição
e crítica dos outros generais.
Seu espírito combativo não mudou durante sua vida
política. Foi ele quem orquestrou a fusão do Partido Liberal com o Herut para criar
o Likud.
Como ministro da agricultura de Menachem Begin, energizou os assentamentos mas
como ministro da defesa entre 1981 e 1983, evacuou o Sinai dos judeus e
destruiu muitas das colônias que ele havia ajudado a erguer.
Durante a Primeira Guerra do Líbano, foi acusado de ter enganado Begin
sobre os objetivos reais da campanha. Depois do incidente de Sabra e Shatilla, Arik
foi censurado pela comissão de investigação e removido do seu posto.
Após anos de ostracismo, em 1999 Sharon ganhou a liderança do Likud. Sua
visita ao Monte do Templo em Jerusalem em Setembro de 2000 foi tido como o
evento que causou a segunda intifada.
Sua vitória na eleição para primeiro-ministro em 2001, causou a união a
esquerda de Israel que lançou suspeitas de contribuições ilegais para a sua
campanha. Estas acusações ganharam força em 2003 quando Arik anunciou sua
intenção de unilateralmente retirar os judeus de Gaza.
Muitos desconfiaram que este ato teria sido um gesto para angariar
simpatia e apoio da esquerda e da mídia. Sharon então submeteu o desengajamento
de Gaza ao referendo do Likud e perdeu. Isto causou sua saída do partido e da
criação do partido Kadima.
Em Agosto de 2005 ele levou ao cabo o desengajamento. A direita o chamou
de traidor mas a esquerda também não lhe economizou críticas, principalmente
porque a retirada dos judeus fora feita sem uma negociação e sem obter qualquer
comprometimento de paz dos palestinos em retorno.
Acostumado com críticas, a atitude de Sharon não mudou e o bulldozer acelerou
para a frente. Sua vida, repleta de inconsistências e do inesperado, demandou
uma personalidade desafiadora e temerária.
O desengajamento de Gaza, alguns meses antes de seu catastrófico AVC,
foi sem dúvida seu ato mais audaz e arrojado. A imposição de sua vontade tomava
qualquer precedente, mesmo o dos fatos e da lógica.
Mas sua crença que os palestinos transformariam a Faixa de Gaza na nova
Cingapura, tampouco lhe trouxe amigos entre os árabes que ontem comemoraram sua
morte chamando-o de criminoso de guerra.
Apesar de seus excessos, as ações de Sharon sempre se beneficiaram de
uma curiosa indulgência por parte da mídia e do mundo político israelense,
negado a outros heróis de Israel. A nação continuou a abraçar Sharon, como um
pai que enlaça seu filho, sem se importar de quantas regras ele havia
transgredido ou do quão rebelde ele se mostrava.
Num momento triste de nossa história em que os maiores líderes do mundo
não contam com a confiança dos próprios povos que governam, em que decisões de
colocar a vida dos seus em perigo depende tão-somente de considerações
políticas, pessoas como Arik Sharon são os que fazem a diferença.
Ele era uma pessoa decisiva,que se mantinha atrás de suas decisões e arcava
suas consequências. E mesmo aqueles que não concordavam com ele, reconheciam
que acima de tudo Arik amava e velava pelo povo de Israel e sua terra.
Pessoalmente Sharon era caloroso, um dos líderes políticos mais
cativantes da história de Israel. Ele tinha um senso de humor contagioso, um
amor à vida que faziam seus piores críticos gostarem dele.
Certo ou errado, amado ou odiado, herói ou traidor, Sharon foi um grande
homem e seus sucessos e falhas foram tão grandes quanto ele. Ele nos fará
falta. Em alguma parte do nosso coração haverá sempre algo que nos trará nostalgia
do seu caráter, de sua força, do seu amor.
É uma pena que tenhamos que dizer adeus.
Boa viagem
Arik. E continue a velar por seu povo de onde estiver.
Shalom!
ReplyDeleteEu tambem escrevi sobre isso, veja: http://israelemportugues.blogspot.com/2014/01/a-morte-de-ariel-sharon-e-futura.html
Deus te abencoe!