Sunday, August 6, 2017

As Lições da Venezuela, Turquia e Israel - 6/8/2017

A Venezuela chegou ao fundo do poço. Nicolas Maduro, o ex-motorista de ônibus virado sindicalista e hoje presidente do país conseguiu afundar de vez o país antes próspero, desenvolvido e livre. Mas o processo não começou com ele e sim com seu predecessor Hugo Chavez que se apoderou das reservas de petróleo do país (uma das maiores do mundo) para enriquecer os seus comparsas, distribuindo migalhas aos pobres em forma de bolsas para se manter no poder. A classe média foi esmagada, o pequeno e médio empreendedor caçado e as poucas indústrias do país nacionalizadas e sucateadas. O sistema despencou junto com o preço do petróleo mundial. Soa familiar?

Dois milhões de venezuelanos deixaram o país, praticamente toda a comunidade judaica, mais uma vez demonstrando que o socialismo só funciona até acabar o dinheiro. Maduro prendeu líderes da oposição, empossou uma nova Assembleia Constituinte que lhe dará poderes ilimitados, destituiu a procuradora-geral enfim, tomou todas as instituições do país como reféns como todo ditador que se preze. A imagem do país exótico, aonde pessoas dançavam salsa nas ruas já não existe. Hoje a Venezuela é realmente única: um buraco negro econômico, com hiperinflação, filas gigantescas para comprar comida, falta de remédios e produtos básicos; um desastre social e um campo político minado com eleições roubadas, protestos diários e desordem. Direitos humanos, liberdades civis, já não existem.

Já no começo desta onda, em 2009, Caracas expulsou o embaixador de Israel acusando o Estado judeu de “perseguir” os palestinos.

O mesmo está se passando com a Turquia. Antes o país mais avançado do mundo islâmico, esperando ser aceito a qualquer momento como membro da União Europeia, a Turquia está regredindo a passos largos para se tornar o centro da intolerância e ditadura islâmica. Recep Tayyp Erdogan, seu presidente, está concretizando sua afirmação de que “a democracia é como um trem. Você desce dele quando chegou ao seu destino”. Um após o outro, ele tem removido os guardiões das instituições democráticas do país: as forças armadas, o judiciário e a mídia.

Ele organizou o suposto “golpe” no ano passado para em menos de dois dias eliminar ou neutralizar milhares de seus opositores que hoje estão sendo julgados “em massa”. Como a resposta do mundo foi fraca, Erdogan se tornou confiante e hoje nem finge mais que a Turquia seja uma democracia. Erdogan posicionou o país como um bastião muçulmano em primeiro lugar procurando restaurar a glória passada do Império Otomano e do califado islâmico. Ele quer restabelecer a lei islâmica como a imposição do uso do véu e vestimentas que cobrem todo o corpo. Milhares de mulheres marcharam esta semana pelo direito de se vestirem como quiserem depois de uma onda de expulsões e violência contra algumas que usaram shortes e regatas em transportes e espaços públicos.

A economia da Turquia também está em frangalhos, mas apesar de depender da ajuda internacional, seu comportamento só piora. Depois de supostamente vencer um referendo popular, Erdogan restabeleceu a pena de morte e continuou a prender acadêmicos, jornalistas, comerciantes, políticos e membros da polícia e do exército. A Alemanha anunciou que nesta situação não dará à Turquia a ajuda de 4.1 bilhões de dólares prometidos. Outros países também estão questionando a participação da Turquia na OTAN.

Na situação atual de impasse entre a Arábia Saudita e o Irã, a Turquia fez sua escolha, se aliando aos aiatolás e ao Qatar. Ela importa gás natural do Irã e Qatar prometeu mandar milhões de dólares em compensação . Como sabemos, este eixo é extremamente anti-Israel e recebe apoio da Rússia.

Com a crise dos detectores de metal no Monte do Templo, a Turquia adotou uma retórica antissemita especialmente agressiva incitando a população contra a comunidade judaica. O próprio Erdogan conclamou os turcos para marcharem contra Jerusalem para defender a mesquita da Al-Aqsa das botas imundas dos soldados israelenses.

Como a Venezuela, as relações da Turquia com Israel começaram a deteriorar em 2010 com o incidente do navio Mavi Marmara que tentou violentamente quebrar o bloqueio naval israelense de Gaza.

Antes do famigerado acordo de Obama com os mulás de Teherã, o Irã também estava à beira do precipício econômico. Isto porque o governo dos clérigos escolheu a busca por armas nucleares e a hegemonia xiita no mundo islâmico sobre o bem estar econômico do povo. Em vez de usar a renda do gas natural e petróleo para fomentar a economia e a indústria, Teherã usou de todos os seus recursos para construir usinas nucleares subterrâneas e aumentar o volume de sua retórica contra Israel. Esta semana, com a reeleição de Rouhani, não há qualquer mudança pela frente e a relação desta ditadura com os Estados Unidos e Israel só tende a piorar.

É preciso notar que a Venezuela, a Turquia e o Irã mantém laços muito estreitos entre si, e em todas as esferas. O que podemos aprender deles?

A primeira lição é sobre autoritarismo.

Desde 1989, quando o mundo se dirigiu para a democratização, houve uma reação muito forte liderada pela China, Rússia e Turquia. Mas mesmo a China foi obrigada a abrir sua economia e substituir os uniformes sem gosto de Mao por ternos feitos sob medida. A Rússia teve que adotar uma postura democrática para dar a Putin legitimidade antes dele tentar restaurar a União Soviética. E a Turquia supostamente adotou valores ocidentais para se juntar à União Europeia só para voltar atrás.

Mas o autoritarismo não dura para sempre e seu fim é duro. A segunda lição que aprendemos destes países é sobre o antissemitismo.

Em 1655, o judeu holandês Menasseh Bem Israel pediu, numa carta para Oliver Cromwell, que voltasse a admitir os judeus que haviam sido expulsos em 1291 da Inglaterra. Ele argumentou que todos os que maltrataram os judeus foram “punidos”, mas seus benfeitores foram “recompensados e seus países começaram a florescer”.

Ele citou a Espanha que fora à falência quatro vezes nas décadas seguintes à expulsão dos judeus enquanto que o Império Otomano, que os recebeu, progrediu. Quando a Antuérpia atacou os judeus, perdeu seu status de centro financeiro para Amsterdã que os recebeu.

Este fenômeno foi tão prevalente na Europa que o sociólogo nazista alemão Werner Sombart declarou que “Israel passa sobre a Europa como o sol: com a sua chegada surge nova vida; quando se vão, tudo declina”. Colocando o supernatural de lado, lideres como Hugo Chavez usam os judeus como tradicionais bode expiatórios acusando-os de todo o mal. Mas a natureza do judeu é empreendedora e inovadora e é isso que os países perdem quando perseguem ou se livram de seus judeus.

A terceira e mais importante lição, fica com Israel. Ela não pode subestimar os que usam os judeus e o Estado judeu para consolidarem seu poder e não pode se dobrar às suas demandas para restabelecer relações ou outro ganho qualquer a curto prazo. Orgulho nacional é algo muito importante nesta região. Quando Israel se rende em disputas aparentemente pequenas com países autoritários, faz com que seus inimigos se fortaleçam e continuem a ataca-la implacavelmente. Isto mina sua capacidade de dissuasão e de forjar alianças com países que têm os mesmos objetivos como a Arábia Saudita, por exemplo. Israel tem que primeiro pensar em proteger seus interesses estratégicos como um país soberano e independente. Se dobrar para obter resultados imediatos não é uma política de governo nem a longo e nem a curto prazo. 

Não é se o Estado judeu quiser manter o poder de dissuasão e o respeito que lhe cabe.  


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